Regnum Viperarum - Interativa escrita por Lu au Andromedus


Capítulo 4
Capítulo 3 - O Herdeiro da Rússia


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá. Demorei bem menos que da última vez, não? Esse capítulo é o meu favorito até agora. Eu amei escrevê-lo e espero que amem lê-lo. Mas antes disso, queria só esclarecer uma coisa quanto a monarquia russa. Czar é o título dado ao rei de lá, ok? Assim como czarina é o título dado a rainha, czarevich o título dado ao herdeiro homem e czarevna o título dado a primeira filha mulher. Os demais filhos do casal real são designados por grão-príncipe ou grã-princesa.

Espero que tenham entendido direitinho. Outra coisa. As fotos do palácio russo já estão no site e logo, logo eu vou colocar lá também as selecionadas que faltam. Sem mais delongas, boa leitura.



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Capítulo 3

O Herdeiro da Rússia

 

Os olhos de Aleksandr lampejavam enquanto ele examinava seu oponente, um homem apenas alguns centímetros mais alto, porém dezenas de anos mais velho. Seus movimentos eram lentos, cautelosos, técnicos. Isso até suas explosões de energia, quando ele atacava Alek com seis movimentos por set. O garoto lutava com dificuldade para se defender, gotas de suor escorrendo de sua testa e escurecendo as pontas de seus cabelos dourados.

O silencio reinava no ambiente, a luta sendo a única coisa a o romper. O canto dos pássaros, o estalar dos sapatos dos guardas e o bruxulear do vento se perdiam em contato com as paredes grossas da Sala de Treinamento. Alek gostava disso. Não tinha o tipo de mente que se distraía com facilidade, mas a quietude era calmante, e o ajudava a examinar seu oponente com mais atenção. Ouvia os seus passos no chão de madeira, mesmo quando ele não queria que fosse percebido que se movia, e ouvia a sua respiração se elevar quando ele sentia o cansaço o invadindo, mesmo quando essa não era sua intenção. Sons leves, mas suficientes para aumentar a confiança de Alek

Ele deu um giro completo em torno de seu oponente, numa tentativa de o confundir, e o atacou na cintura, na perna e na altura do ombro. Golpes extremamente rápidos, que uma pessoa que não tivesse sido treinada exaustivamente jamais teria condições de amparar. Mas esse não era o caso do czar da Rússia. Ele defendeu todos, e ainda levantou sua espada em direção ao rosto de Alek, fazendo um talho em sua bochecha. O garoto sentiu o sangue escorrendo, e sem se preocupar em levantar a mão para limpa-lo, encarou o pai com frustação.    

— Você luta muito na ofensiva, Aleksandr – disse o czar Stanislav, devolvendo sua espada de prata ao arsenal – Quantas vezes já te falei isso? Precisa melhorar sua defesa.

— A melhor defesa é um bom ataque. Não é isso que dizem? – perguntou Alek, despreocupadamente, não demonstrando nenhum sinal da dor pulsante em sua bochecha.

— Não. Só os tolos dizem isso. O melhor ataque é uma boa defesa, é essa filosofia que deve seguir quando está numa luta.  

 - Bom, não vejo porque alguém diria a sua versão. Aí lutar não teria graça nenhuma – comentou Alek, finalmente limpando o sangue com a barra da camiseta quando ele ameaçou invadir sua boca. Considerando todos os ferimentos que já havia sofrido, devia ter se acostumado com o gosto de sangue, mas ainda o odiava.  

— Não seja arrogante – repreendeu-o Stanislav – Não fazemos coisas só porque são divertidas ou tem graça. Agora vá se limpar. Sua mãe e seus irmãos estão vindo para o jantar.

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Aleksandr segurava com força o espaldar de uma das dezenas de cadeiras do Salão de Jantar, observando as juntas de seus dedos longos ficarem brancas. Se sentia ansioso, mais do que gostaria de admitir, um sentimento que parecia persegui-lo sempre que se encontrava com a mãe. Os dois não eram nada parecidos, nem fisicamente nem psicologicamente. Alek puxara praticamente tudo do pai, tanto as coisas boas quanto as ruins. Mas Amélie só parecia ver as ruins. Ela não gostava do marido, não mais, e ter um clone em miniatura dele parecia incomoda-la imensamente. Por isso que quando saiu da corte russa e foi morar nas planícies mais quentes do sul, levou a filha e os gêmeos recém nascidos, mas deixou Aleksandr para trás, deixou-o para ser criado por Stanislav. Ekaterina acabou por voltar alguns anos mais tarde, mas não Amélie e não os gêmeos.

E agora estavam vindo visita-los, e Aleksandr tinha que fingir que estava animado por isso, quando na verdade se sentia como se algo estivesse preso em sua garganta, dificultando sua respiração. Ekaterina entrou no Salão de Jantar aparentando muito mais empolgação que o irmão. Trajava um vestido cinza escuro com uma longa fenda que subia por sua perna direita e deixava suas botas de cano alto a mostra. Olhos verdes e cabelos negros deixando visível que puxara muito mais os traços da mãe do que do pai.

— Pai – cumprimentou Ekaterina, fazendo uma leve reverência em direção a Stanislav, que estava sentado à cabeceira da mesa bebericando um copo de conhaque. Ele assentiu, mas não disse nada. Ekaterina então se virou para Aleksandr e sorriu – E então irmão, o que achou do meu vestido?

Aleksandr levantou uma sobrancelha, antes de examinar a irmã de cima a baixo.

— É bonito, mas eu não usaria. Não combina com meu tom de pele.

— E nem eu deixaria. Você ficaria pavoroso vestido de mulher.   

— Sou Aleksandr Zhernakov. Poderia vestir um saco de batatas que não ficaria pavoroso – comentou ele, em tom brincalhão.

— Somos dois – disse Ekaterina, abrindo um sorriso sedutor. O estalar das portas do Salão de Jantar se abrindo chamou a atenção dos dois, e delas emergiram Amélie com seu casal de gêmeos, cada um segurando uma de suas mãos. Ela era uma mulher bonita, com olhos verdes vibrantes e nenhum fio branco para macular o negro de seus cabelos, mas enquanto adentrava o ambiente, parecia extremamente desconfortável de estar ali. Seus olhos se moviam ansiosamente de um lugar para o outro, parando somente quando o marido lhe dirigiu a palavra.

— Amélie. Como você está, querida? – perguntou ele, educadamente, olhando para a esposa com adoração. Stanislav a amava, mesmo agora, quando ela não mais o amava. O fato de ela o ter abandonado o dilacerava, e Alek não tinha dúvida que caso ele achasse que houvesse algo que pudesse fazer para tê-la de volta, não hesitaria, independente do que fosse. Mas não havia. Amélie o deixou por não gostar do homem que ele era, e mudar totalmente de personalidade era impossível.

— Stanislav – murmurou ela, os olhos verdes tão frios quanto as esmeraldas que usava penduradas no pescoço, e sem mais uma palavra, voltou-se para Ekaterina. Enquanto isso, Alek se abaixava para cumprimentar seus irmãos mais novos, que abraçaram seu pescoço com carinho. Fazia mais de seis meses que não se viam, e o tanto que cresceram o surpreendeu. Crianças mudavam rápido demais, e incomodava Alek o fato de ele não poder estar ao lado deles todos os dias para vê-los envelhecer. Não guardava grande afeição por crianças em geral, mas os gêmeos eram exceção. Tinham seu sangue, e como todo bom russo, Alek valorizava enormemente sua família.

— Aleksandr – ouviu seu nome ser sussurrado de forma hesitante, e quando levantou as cabeça, seus olhos se encontraram com os de Amélie – Comment êtes-vous, mon fils?

— Francês, mãe? Não sei se sabe, mas está na Rússia agora – disse Aleksandr, com neutralidade, se levantando para encarar a mãe cara-a-cara. Ela era mais baixa do que ele, mesmo com os sapatos de salto que usava.

— Você sabe que eu me sinto mais confortável falando francês. É minha língua mãe – respondeu ela, com uma pontada de irritação. Amélie, antes de se casar, era uma Devereaux. Sangue real francês corria por suas veias, garantido pelo seu parentesco direto com o rei, que era seu irmão. O casamento, porém, não foi uma imposição para ela. Dizem que estava apaixonada por Stanislav, e ele por ela. Porque isso mudou, Alek não sabia, o que sabia era a ânsia que Amélie tinha por voltar para a França. Não gostava da Rússia, o clima lhe era rigoroso demais, a comida sem graça demais. Mas o povo nunca que permitiria ser governado por uma czarina que morasse fora do país, de forma que ela era obrigada a ficar.

— Não ligue para ele, mamãe – se pronunciou Ekaterina – Está mal-humorado porque perdeu na luta para o papai. De novo.

— Eu não poderia ganhar sempre, certo? Tenho que deixar as coisas interessantes – disse Aleksandr.

— Se você diz – Ekaterina falou, num tom de quem não acreditava nem um pouco no irmão.

Stanislav franziu os lábios com impaciência e convidou todos para se sentarem. Aleksandr se acomodou à direita do pai, mas Amélie não se sentou à sua esquerda, como mandava a tradição. Invés disso ficou a duas cadeiras de distância.

— Então – começou ela – Vocês estavam treinando luta? É por isso o corte em sua bochecha, Aleksandr?

— Luta é um ótimo exercício físico – disse Stanislav - Aumenta a flexibilidade do corpo, desenvolve a coordenação motora, fortalece diferentes grupos musculares ao mesmo tempo, melhora a agilidade e aguça os sentidos.

— Assim como o futebol, que tem a vantagem de ser bem menos perigoso. Não é mesmo, Igor? – perguntou Amélie para seu filho mais novo, lançando-lhe um sorriso doce que nunca havia dirigido a Alek. Sequer uma vez.  

— Eu gostaria de aprender a lutar – respondeu Igor, e o sorriso sumiu imediatamente do rosto da mãe.

— Não. Luta é uma coisa violenta e sem sentido, que só serve para causar nas pessoas a sede de matar.

Ekaterina olhou para Amélie, seus olhos arregalados e a boca aberta em choque, em seguida para Aleksandr, e de novo para Amélie.

— Como você pode dizer isso?!

— Não, ela está certa – disse Aleksandr, num tom de total e completa calma - Já perdi a conta de quantas vezes me aventurei na floresta para saciar minha sede de matar. E agora os cadáveres dos esquilos que matei me assombram a noite.

Ekaterina riu, mas se calou quando Stanislav lhe lançou um olhar de fúria.

— Claramente temos distinções com relação ao modo de criar nossos filhos – disse o rei para Amélie.

— Claramente – respondeu ela, e olhou para Alek com desapontamento. O garoto lhe deu um sorriso felino, e ela rapidamente desviou o olhar. Voltou-se novamente para o marido – Soube que convocou uma seleção. É realmente uma ótima ideia. E você, Aleksandr, como está se sentindo? Está ansioso?

— Por que estaria? As futuras selecionadas é que deveriam estar. Afinal, elas é que vão ter a chance de conviver comigo – disse Alek.

Amélie perdeu a paciência e quando se pronunciou de novo, sua voz estava vários tons mais alta.

— Por que você nunca responde de forma séria nada que eu te pergunto?

Alek encarou a mãe diretamente nos olhos. Eram verdes, como os dele. Praticamente a única coisa que tinham em comum.

— Porque não acho que esteja realmente interessada em saber nada sobre mim.

Amélie abriu a boca, chocada, e ficou assim por vários segundos. O silêncio era desconfortável, e permeado por palavras não ditas e velhos ressentimentos. Foi Stanislav o responsável por finalmente o romper.

— Já chega, Aleksandr. Ela é sua mãe, e você lhe deve submissão.

Alek abaixou a cabeça, um suspiro imperceptível escapando de seus lábios. Respeitava o pai, ou no mínimo o temia. Stanislav inspirava isso nas pessoas. Era um homem imponente com mais de 1,90 de altura, olhos duros e mão firme em suas ações. Seu maior valor era a disciplina, e era baseado nela que criava Alek, com treinamentos de artes marcias e esgrima começando em sua tenra infância. Foi moldado para ser um guerreiro, para matar um inimigo com a mesma facilidade com que mataria um inseto. Os momentos amorosos eram poucos, mas exatamente por isso, extremamente significativos para Alek. Já as surras vinham com mais frequência. Punições por seu mau comportamento, que iam de simples beliscões até socos e chicotadas.   

Foi a ameaça de apanhar que calou Aleksandr durante todo o resto do jantar. Se concentrou na comida, tentando evitar reparar nos sorrisos que Amélie dirigia a Ekaterina e aos gêmeos. Tentando evitar notar a satisfação de Stanislav por estar junto da esposa, mesmo que por pouco tempo. E tentando evitar o desejo de sair correndo dali e se refugiar nas armas que a mãe tanto odiava. Nada era tão eficiente para acalmar seus nervos quanto uma boa luta.

Quando terminaram finalmente de comer e lhe foi dada permissão para ir embora, Alek se levantou rapidamente e se dirigiu a passos rápidos para a porta. Ouviu, porém, a voz do pai o chamando, e parou no meio do corredor. Stanislav segurou o pescoço do filho com uma mão e o empurrou dolorosamente para a frente.

— O que foi isso? Espero que quando as selecionadas chegarem, você as trate melhor do que aquilo. Entendeu bem?

Aleksandr murmurou um sim, e o pai o soltou. O pescoço estava dolorido, mas tinha experiência o suficiente para saber que dali a meia hora não estaria mais.

— A Europa é um balde de pólvora – continuou Stanislav – Uma palavra errada, uma ação mal calculada e tudo vai pelos ares.

— Não sabia que tinha tanto interesse em manter a paz.

— Ela é necessária. Não irei à guerra até meus exércitos estarem devidamente preparados.

Alek arregalou os olhos.

— O quê?

— Meu pai era um péssimo rei. Não finja que não sabe o mal que ele trouxe a nossa família. Não tinha gosto por conflitos, ria de insultos que fariam a maioria das pessoas gritar por seus guardas, e logo muitos viram em sua fraqueza a oportunidade de enriquecer. Pediam empréstimos milionários, os quais não havia como serem cobrados porque seu avô não os oficializou por escrito. Resolveu ficar de fora da Terceira Guerra Mundial, e deixou que a Nova Ásia abocanhasse um terço de seu território, e quando mandou exércitos para recupera-lo, foi amargamente derrotado. Atualmente está morto, ainda bem. Mas as marcas de sua incompetência ainda persistem. A Europa não nos considera como seus iguais, não nos respeita tanto quanto deveria. E que melhor jeito de mudar isso do que conquistando e esmagando seus países? Mas não agora. A guerra irá acontecer sim, é inevitável. Porém quando eu tiver certeza de que irei vencer.  


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Notas finais do capítulo

E então? Estou muito ansiosa para saber o que acharam, mais do que o normal.

Logo vou responder os comentários do capítulo anterior, ok? Desculpem não ter respondido ainda.

Bjoos e até os comentários!!



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