Congelante escrita por Alex Jackalope


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Depois do time skip de alguns anos entre o prólogo e o capítulo I, temos um time skip de uma semana entre o capítulo I e o II. E vem mais por aí. 8D Sorry.



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Ezriel estava parado na frente da sala do clube de artes, confuso.

Havia sobrevivido à primeira semana de aula, mas na semana seguinte a professora do último tempo o havia chamado no final da aula para perguntar se estava tudo bem, tendo notado uma redução considerável de sua participação na aula, e recomendado que se inscrevesse em algum clube mais artístico para descontrair.

Primeiro, havia ido ao clube de fotografia, mas foi intimidado pela ideia de congelar alguma daquelas câmeras caras e a possibilidade de ter que posar seminu para os outros inscritos em algum momento do ano letivo.

Depois, seguiu para o clube de música, mas não sabia tocar instrumento algum e preferia sumir em uma nevasca pessoal antes de ter que cantar algo com sua voz rouca e pouco usada.

O que acabou sobrando, antes do Teatro, foi o clube das Belas Artes. Sabia que também havia modelos nus e seminus, segundo os rumores, mas pelo menos naquele clube eram outras pessoas tirando a roupa e não ele.

Estranhamente, o clube parecia vazio. Apenas cinco alunos haviam se inscrito e o dia já estava no fim. Não parecia haver mais ninguém interessado e, embora tivesse certeza de que não conseguiria tocar em pincéis sem inutilizá-los com seu gelo, talvez fosse capaz de produzir trabalhos artísticos com seus poderes.

Entrou no clube um pouco receoso e encolheu os ombros ao perceber que todos dentro da sala haviam se virado para ver de onde viera a rajada de vento frio. Seu primeiro instinto foi recuar para fugir, mas um garoto segurou seu braço pelo sobretudo e parou na sua frente.

— Olá. Você está aqui para se inscrever para o clube de artes?

— Sim… Eu acho – respondeu Ezriel, incerto. – Estou considerando a possibilidade.

— Ótimo. É mais do que a maioria das pessoas faz, para ser sincero. – O garoto sorriu. Tinha os dentes muito brancos e alinhados, a pele morena como dos latinos e cabelos pretos levemente ondulados. Era mais alto do que Ezriel, mas parecia muito mais simpático e extrovertido. Meio que o oposto do que esperava do clube de artes. – Então, já fez algum tipo de trabalho artístico antes? Tem interesse em algum tipo específico de arte? Pintura a óleo, com carvão, aquarela, modelos feitos com argila…? – O garoto ia puxando-o pelo braço pela sala, como se tentasse dar um tour e fazer perguntas ao mesmo tempo, o que deixava Ezriel meio perdido sobre o que responder primeiro.

— N-Na verdade.... Não. Nunca fui muito de desenhar… – “Porque eu congelava todos os lápis que tocava”, concluiu, na cabeça.

— Oh? Mas que pena! Mesmo assim, está interessado no clube, não está? – Ele pareceu um pouco decepcionado por um momento, mas logo recuperou a postura otimista.

— S-Sim… Acho que pode ser uma boa experiência. Fazer parte de um clube, quero dizer. Do clube de artes.

— Ótimo! Se quiser mesmo participar, só preencher a ficha. Meu nome é Daemon, muito prazer. E você? – Estendeu a mão para que Ezriel apertasse.

Encarou a mão de Daemon por um momento e acabou apenas cumprimentando com a cabeça.

— Prazer, Daemon. Meu nome é Ezriel.

Daemon ficou um pouco desapontado, ainda com a mão estendida e por um momento pareceu que ia recolhê-la amuado, porém logo puxou o outro pela manga do sobretudo e tocou de leve sua palma.

Ezriel ofegou, uma nuvem de vento frio saindo de sua boca pelo receio, mas apesar de ser claro o lento congelamento de sua pele, Daemon não soltou sua mão imediatamente, como a maioria das pessoas fizera quando era criança e seus poderes estavam começando a se manifestar cedo demais. Olhou para o garoto moreno com confusão nos olhos e foi retribuído com um sorriso caloroso.

— Acho que, se trabalharmos juntos, podemos criar belas obras de arte. – Com a mão livre, Daemon criou um unicórnio de água na palma da mão e o aproximou de Ezriel. Assim que chegou a poucos centímetros do albino, o unicórnio rapidamente congelou e virou uma estátua de gelo.

Ezriel ficou mesmerizado. Era a primeira vez que alguém conseguia fazer algo de bonito com seu poder. Que alguém que não fosse seus amigos se aproximava logo de cara sem receio algum.

Pegou, com a mão livre, o unicórnio de gelo da mão do outro e segurou bem perto do rosto. Era lindo. Daemon tinha um controle tão grande sobre as próprias habilidades que conseguira não apenas fazer uma escultura de água simples de um unicórnio, ele havia acrescentado alguns detalhes que apareciam ainda mais uma vez que estava congelado.

Sorriu timidamente e olhou para a mão do outro ainda entrelaçada de leve na própria e então puxou-a para si imediatamente. Havia deixado a mão do outro coberta por uma fina camada branca de geada, mas o garoto não parecia muito incomodado. Parecia mais orgulhoso consigo mesmo por ter conseguido lhe arrancar um sorriso do que qualquer coisa.

— Está mais animado para o clube de artes agora?

Ezriel sorriu de novo, desta vez tentando parecer mais simpático e perguntou, casualmente:

— Onde eu preencho a ficha mesmo?

Os olhos de Daemon brilharam e ele se atrapalhou todo puxando uma ficha da pequena pilha de papéis em cima de sua mesa, afoito como uma criança que vai ganhar o doce preferido.

— Aqui. Quer uma caneta?

— Sim… Sim, por favor. – Usou o máximo de concentração que tinha para concentrar o gelo de uma mão na outra. – Só preciso de algo que eu possa congelar.

— Ok – respondeu Daemon e prontamente criou uma bola de água do tamanho de uma bola de basquete com as duas mãos e entregou para Ezriel.

Ao chegar perto da mão que agora concentrava o poder gelado de seus dois braços, a bola rapidamente congelou e foi necessário tocá-la para ter onde descarregar a energia. Pegou com a mão livre a caneta, preencheu a ficha o mais rápido que pôde e ao devolvê-la a Daemon, ficou orgulhoso ao perceber que o plástico só estava um pouco gelado.

Soltou então a bola de gelo, que havia começado a rachar por causa da carga de poder que estava recebendo e deixou a energia fluir de volta para o braço em seu curso natural, aliviado.

Era um pouco triste que depois de dez anos praticando, ainda fosse difícil até mesmo fazer coisas simples como usar uma caneta. Tinha permissão para gravar todas as aulas e recebia as anotações de aula pelo computador para estudar; dependia do irmão para usar a maioria das coisas sem estragá-las com seu gelo. E o pior: quando sentia que estava conseguindo compreender seu fluxo de poder para domá-lo, ficava ainda mais poderoso e perdia o controle mais uma vez.

Mas ao olhar o orgulho no rosto gentil de Daemon, seu peito, que costumava parecer gelado e vazio, consumido pela depressão, sentiu um pouco de calor; era esperança de, enfim, se sentir confortável em algum lugar.

Precisava lembrar de agradecer a professora depois.


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Notas finais do capítulo

Segura que lá vem time skip de novo. 8D