Correr era a forma que Andrew encontrava para relaxar, bastava ser rápido a ponto de fazer seus pés doerem para seus pensamentos esvaírem. Porém, não foi o que aconteceu dessa vez, os seus problemas, seus sentimentos estavam falando mais alto do que qualquer esforço feito para calá-los. Passando a mão pelo cabelo, Andrew sentou-se no banco mais próximo e tornou a relembrar o acontecido.

A falta de reação por parte de Alicia o feria. Ele havia se declarado e ela como melhor amiga sabia o quão difícil era para o rapaz se exprimir. Ele sempre teve dificuldade em se expressar e a única pessoa que conseguia quebrar todas essas barreiras era ela, a menina de sorriso doce e olhar inocente. Sentiu-se idiota por ter começado a briga, deveria ter percebido que de cabeça quente ele acabaria confessando a verdade que ele ocultava com cautela: Ele a amava, não da forma que dois amigos se amam, o tal do amor philos, e sim como um homem ama uma mulher.

Ele precisava achar uma forma de tirar esse episódio da cabeça, iria surtar se continuasse revivendo tal momento. Decidiu-se pelo mais sensato: ir para casa. Afinal, estava suado e com roupas nada propicias para exercitar-se. Correu até o carro em mais uma tentativa vã de livrar-se de todas as lembranças daquela fatídica tarde de quinta-feira. O caminho para o seu apartamento fora rápido e ele preferiu não ligar o rádio, o universo já não estava à seu favor e ele não queria ter que ouvir nenhuma música melosa.

Enquanto destrancava a porta, Andrew planejava tomar banho, ingerir um calmante e dormir. Queria apenas apagar e que se danasse a faculdade amanhã. Entretanto, ao adentrar o apartamento foi surpreendido por uma morena descabelada e de rosto inchado.

— Andrew, precisamos conversar!

Isso foi o suficiente para o rapaz sentir o coração acelerar.

***

Alicia andava de uma lado para o outro em sua pequena sala de estar. Ainda estava chocada com a declaração de Andrew, não poderia imaginar nem por um segundo que ele a via como mulher. Deixou-se ser bombardeada pela lembrança da Alicia de dezessete anos que desejava mais do que tudo ser notada pelo melhor amigo. Não podia dizer que ela o havia esquecido, pois seria mentira. Alicia sabia que toda vez que ele a abraçava seu estômago embrulhava e a sensação de não querer sair nunca de seus braços a inundava.

Contudo, também recordava-se de que nessa história existia uma terceira pessoa, Peter, seu atual namorado.

Seu melhor amigo nunca fora com a cara de Peter porque como Andrew dizia o namorado dela era um babaca. Sim, ela concordava, mas ainda agarrava-se a ele como uma oportunidade única de esquecer Andrew, já que Peter era a única pessoa, além de Andrew, que conseguia mexer um pouco com ela. O moço sabia e até mesmo por esse motivo, aproveitava-se da situação: Saia para beber e paquerar com os amigos e muitas vezes a tratava com indiferença. Andrew sempre ficava irritadíssimo pelo papel de trouxa o qual a moça protagonizava, ela via que se ele pudesse a sacudiria pelo braço até fazê-la tomar juízo. O namoro dela, no final, fez com que o rapaz se afastasse dela. Ela percebia que a situação o cansava e que ele odiava vê-la com os olhos marejados após ser destratada pelo namorado. Andrew até brigou com Peter uma vez, todavia ao reparar que ela não iria acabar com aquele namoro totalmente explosivo, deixou de lado a tentativa de ajudar a amiga, soltando uma piadinha ácida sempre que podia, comportamento que não era de seu feitio.

Andrew possuía uma personalidade calma e tranquila, perfeita para ser o porto seguro de alguém, apesar de sempre dizer que um relacionamento deveria transbordar as pessoas e não completa-las, o rapaz acreditava que o amor da vida de qualquer ser humano era ele mesmo. Um taurino nato, o mocinho adora comer e procurava sempre por constância e estabilidade, motivos os quais muitas vezes dizia ser irônico a amizade com Alicia, a inconstante pisciana. Toda sua personalidade era abrigada por uma fisionomia bastante agradável. Andrew era alto e possuía um físico normal, não era gordinho, apesar de possuir uma barriguinha típica de universitário. Moreno, dos olhos castanhos, conseguia arrancar suspiros pelo maxilar e mandíbula bem diagramada. Em suma, ele era maravilhoso, bonito por dentro e por fora e exalava a sensualidade dos escorpianos, culpa do seu ascendente.

Alicia sempre pensava que ele era demais para ela, enquanto Andrew achava-se insuficiente para a amiga e para o rapaz isso se comprovava a cada vez que presenciava sua amiga chorando pelo namoro fracassado. A exata situação daquela tarde de quinta-feira, a qual a briga começou com ele pedindo-a para que arranjasse uma solução para o namoro dela e terminou com uma declaração. Alicia recordava-se de cada palavra.

— Eu amo você, ursinha, amo tanto que chega a doer! Odeio ver como aquele cara te faz mal, não te dá um pingo de valor. Ele não te merece e me machuca saber que eu posso ser melhor do que ele, mas o grande problema é que você gosta dele e não de mim.

Quando ela viu Andrew sair de seu pequeno apartamento, entrou em pânico. Ele disse tudo o que Alicia deseja ouvir há anos, entretanto ela não estava nem um pouco preparada e o uso do apelido carinhoso que ele a deu quando descobriu sua fixação pelo Ursinho Pooh, apenas intensificou tal sentimento. Parou de andar de um lado para o outro ao deduzir que aquilo não iria leva-la para lugar nenhum. Optou, primeiramente, por pegar o celular e fazer algo que já queria a muito tempo.

"Peter, acabou. Não me procure mais!"

Após a mensagem, colocou o celular no bolso e com a chave extra, correu até o apartamento de Andrew. Necessitava se declarar para ele.

***

Andrew observou Alicia, mesmo uma bagunça a garota continuava linda. Observou-a morder os lábios nervosa, uma mania. Ele a conhecia por inteiro, sabia decifrar se ela estava triste, alegre, magoada ou animada, reconhecia todos os trejeitos dela. Sempre esteve apoiando-a, desde de acompanha-la ao show de sua banda predileta até estar presente no enterro do seu tão querido avô. Na época do Ensino Médio, quando ela ficou de recuperação em Química, foi ele quem passou a noite inteira estudando com ela. Ele simplesmente a venerava. A devoção que ele tinha por ela era explícita para qualquer pessoa.

Andrew adorava a personalidade meiga e impulsiva de Alicia, a qual dizia que a impulsividade era culpa de seu ascendente em Áries. Sonhadora como uma típica pisciana, a garota adorava astrologia e já havia enchido o saco de Andrew para fazer o tal do mapa astral, o moço implicou com ela por dias, mas no fim cedeu. Os olhos amendoados e expressivos eram a marca registrada da menina e a parte que Andrew mais amava nela.

— Eu acho que já conversamos o suf...

O rapaz foi interrompido por Alicia que entrelaçou suas mãos no pescoço de Andrew e o surpreendeu com um beijo onde esperava conseguir demonstrar todos seus sentimentos, entretanto ao sentir os lábios macios, acabou desligando-se de qualquer objetivo e aproveitando cada segundo. Sentia-se como se o mundo estivesse acabando, mas quem se importa? Tudo o que importava naquela instante era a boca fina que encaixava-se com perfeição na sua.

Sem fôlego, Andrew encerrou o beijo e a olhou bastante surpreso, nunca imaginaria que ela o beijaria. Em anos esse era o seu maior desejo que se tornou realidade no momento mais peculiar. No entanto, tinha adorado cada segundo do momento desde a sua peculiaridade, já que eles estavam brigados, até sentir os doces e amorosos lábios de Alicia.

— Drew, eu também te amo e sempre soube que você é o cara certo para mim— A menina viu um sorriso bobo surgir no rosto do rapaz - Me desculpa por te passado tanto tempo num relacionamento fracassado fazendo nós dois sofrermos, mas, pelo menos, esse problema já foi resolvido.

— Como assim? – disse o rapaz com as sobrancelhas erguidas

— Eu terminei com Peter, não faz sentido continuar insistindo nisso que eu e Peter tínhamos, pois é você quem eu quero.

Ao terminar sua fala, Alicia observou o moço aproximar-se e pôr as mãos na cintura da garota, inclinando seu rosto em direção a boca de Alicia.

— Então quer dizer que você me quer? – ele deu um meio sorriso convencido – Sempre soube que você não resistiria ao seu melhor amigo bonitão – colocou o dedo na boca da parceira quando a mesma fez menção de retrucar – Nada de falar, mocinha, agora você vai usar sua cavidade bucal para me beijar... bastante.

Vendo que Alicia aprovava a ideia, o garoto colou os lábios e acariciou o cabelo da garota, sentindo-se imensamente feliz. Até que fim estavam juntos e não iria deixar nada, nem ninguém separar a garota dele.