Os póneis bonzinhos vão para o Inferno escrita por Maurus adam


Capítulo 17
Livro 2 Capítulo 6 - Um novo começo




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E foram séculos o que fora necessário para finalmente conseguir um avanço útil. Não simplesmente um avanço qualquer mas na realidade Arenito tinha conseguido engendrar uma solução minimamente satisfatória. Era realmente impossível alterar o fluxo temporal mas isso não significava que não existisse outra opção. Outra opção que lhe permitisse ter uma segunda chance na vida, uma segunda possibilidade de ter uma família.
Nos seus estudos, Arenito tinha desenvolvido um feitiço que permitia criar tempo e espaço a partir do nada. Uma simples e pequena bolha extradimencional, minúscula no seu tamanho mas grande no potencial que poderia ter, originava temporariamente um mundo entre as pregas da realidade. O melhor é que poderia ser criada à imagem de qualquer coisa, e Arenito sabia suficiente sobre magia temporal para criá-la à imagem de qualquer coisa que já tivesse acontecido.
Levou o tempo que achou necessário. Os feitiços envolvidos eram tão complicados e perigosos que simplesmente não valia a pena Arenito arriscar-se a uma catástrofe por ser impaciente. Usando uma panóplia de tintas encantadas, desenhou um elaborado pentagrama no meio de uma pequena clareira que em tempos tinha sido a praça onde em Inferno se organizavam as feiras e os festivais. Usando a sua própria magia para fornecer todo o poder necessário a um encantamento daquela magnitude, Arenito bombardeou o pentagrama com emanações massivas de energia mágica quase pura. Uma tarefa cansativa, mas ele não poderia correr o risco de se esgotar, pois ainda precisaria de lançar um feitiço poderoso antes daquele ritual estar terminado. Alimentado com o poder cedido por Arenito, o pentagrama ganhou vida e as suas linhas e símbolos místicos inflamaram-se com uma chama lilás. Um portal enevoado manifestou-se à frente dele. Através dele Arenito conseguia ver uma escuridão desoladora. Era o vazio primordial, um lugar onde não existia ainda qualquer lugar.
Usando as poucas forças que lhe restavam, rapidamente Arenito lançou um feitiço de ligação temporal. E então começou a formar-se uma nova dimensão, como um reflexo do seu passado. Pelo portal ele podia ver as paredes, o tecto e o chão do seu quarto de infância. Surgindo do nada, alguns armários e cómodas povoaram aquela divisão, peças de mobiliário de que ele já nem se lembrava. Porém, a peça mais importante da mobília encontrava-se a um canto, mesmo por baixo da janela. Chamou imediatamente a atenção de Arenito. Era apenas um vulgar berço de verga, mas o que importava era o que continha, um pequeno bebé recém-nascido dormindo. Sabendo que a magia não sustentaria aquela existência por muito tempo, Arenito não hesitou em voar pelo portal adentro. Se bem que o seu quarto tenha sido relativamente grande para ele quando era novo, no seu presente estado parecia-lhe exageradamente pequeno. Felizmente ele não precisou de se mover muito. Abocanhando o bebé pela cauda, tirou-o do berço à pressa. Este acordou estrebuchado e desatou imediatamente a chorar. À volta deles a dimensão artificial onde se encontravam começou a desfazer-se. Arenito não se fez rogado para sair de lá, e num salto voltou a atravessar o portal, regressando ao mundo normal.
Atrás de si a dimensão de bolso colapsava de volta ao nada, mas Arenito não estava interessado nela. Toda a sua atenção havia-se voltada para a sua versão mais nova que mantinha a levitar à frente do seu focinho. Se não tivesse sido ele próprio a planear e a conjurar toda a magia que serviu para o trazer àquele ponto, provavelmente acreditaria que tinha havido um engano e aquela criança minúscula, chorona e extremamente frágil não poderia ser de maneira nenhuma ele próprio. Mas Arenito tinha passado bastante tempo a rever todas as partes do processo. Simplesmente era impossível ter ocorrido qualquer tipo de erro.
E para o caso de existir qualquer duvida, mesmo no meio do seu flanco estava a sua marca, apesar de Arenito só ter-la ganho quando chegou aos dez anos de idade. E a marca não era somente igual à de sua como possuía um curioso defeito, estava constantemente a surgir e a desaparecer a intervalos de tempo irregulares. Espantado com aquele fenómeno, Arenito tentou comparar a marca do bebé com a sua para ter a certeza de que eram realmente iguais e o que descobriu deixou-o pasmado. A sua própria marca tinha adquirido o mesmo defeito, piscava como a do seu jovem duplicado. Mais curioso ainda, uma desaparecia quando a outra se manifestava, como se só houvesse uma delas e estivesse constantemente a saltar entre os dois póneis. Durante uns momentos Arenito interrogou-se sobre tal anomalia. Teria sido um efeito secundário por terem cruzado dimensões? Ou seria um defeito por existirem dois dele simultaneamente? No fim de contas não importava. Arenito deixou de se preocupar com aquela pequena anomalia quando chegou à conclusão de que nenhum dos dois parecia estar a sofrer qualquer tipo de malefício à conta dela. A única coisa que era importante era que se encontrava ali, mesmo à sua frente, uma parte de si que se encontrava intocada pelo mal e pela opressão. Uma parte de si, que mesmo não sendo verdadeiramente ele, tinha uma hipótese de ter uma vida feliz.


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