A noite estava quente, andava pelas ruas com a camisa molhada de suor e com cheiro de bebida, sorria e brincava com alguns amigos quando paramos num bar, lembro-me que ela estava olhando para a entrada, talvez estivesse esperando alguém, caminhei até ela tentando não parecer tão determinado – o que eu estava, muito- para conseguir agrada-la.

— Posso sentar ao seu lado?

— Claro, é sempre bom ter uma companhia. – Ela sorriu observando meus movimentos e eu olhando ela.

— Desculpe-me a cantada horrível que estou prestes a dizer, mas estou meio bêbado. A senhorita me permite?

— Se precisa de uma cantada horrível para me conquistar, prefiro apenas que me beije.

— Tem certeza que quer me beijar? Bem, eu estou bêbado!

—E eu estou precisando disso.

***

Em meios os lençóis brancos da manhã, foi a primeira e a última vez que estive com ela, ali. Ela estava suada, seus cabelos revoltos estavam como um mar negro em sua pele rosada e arrepiada, qualquer toque que eu desse nessa mulher seria como um choque de realidade, porque aquilo ainda me parecia um sonho e dos melhores, porém eu não a tocava, nossos corpos estavam cansados, largados naquele colchão duro, e nossas mentes flutuando em constante harmonia, sorriamos um para o outro e logo desviávamos o olhar. Eu pensava que se estivesse no meu escritório escrevendo, não haveria palavras para descrever um momento como aquele, a sintonia entre dois corpos que nem ao menos se conheciam e que estavam se descobrindo, centímetro por centímetro.

— Vamos nos ver de novo? -Ela havia me dito segundos depois da minha mente voar e relembrar cada detalhe daquela noite.

— Você quer me ver de novo? – Disse após fitar seus olhos cor esmeralda. Que mulher. Deus!

— Seria extremamente gratificante, senhor. - Um sorriso sincero dançou pelos seus lábios, no entanto, em poucos minutos ela já estava de pé, procurando seu vestido azul e seu lingerie. Observei a cena toda até ela me acenar um tímido tchau e sair pela porta laranja.

Alguns dias depois, já me via farto de esperar por aquela mulher, queria senti-la perto de mim de novo, porém ela saiu sem me deixar seu telefone, e também não ligou para mim. De vez em quando pensava em ir atrás dela, mas se eu fosse e ela estivesse com outro homem? Tudo o que havia entre nós era pura atração, tesão, nada além disso. Eu costumava pensar assim na maioria das noites, quando eu recusava outras garotas, ou ia me consolar nas que se pareciam com ela, qualquer coisa que me fizesse lembrar ela já me deixava animado e isso era uma coisa que me fazia pensar mil vezes antes de sair na rua.

Certa vez fui ao mercado e pensei tê-la visto andando por aí com aquele mesmo vestido azul com o qual eu tirei dela delicadamente, mas era apenas um devaneio, lembro-me que naquele dia a procurei como se a vida dependesse disso. Eu desejava vê-la, ás essa oportunidade nunca surgiu novamente. Agora mesmo eu ainda a procuro, mas ela não passa de um sonho no meu mundo.