Zootopia 2 - As regras de Nick Wilde escrita por Untitled blender


Capítulo 19
Despertar


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi a coisa mais difícil que eu já fiz, então se você não comentar depois de lê-lo...
eu não vou fazer nada.
só queria que vocês soubessem que eu passei os últimos quatro dias tentando achar palvras pra esse cap. sério.
boa leitura!



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Dizer que Nick Wilde perdeu a noção do tempo era eufemismo. Ele perdeu a noção de tudo. Não fazia a mínima ideia de quantas eras haviam passado. Não saberia dizer quem fez o curativo que fazia seus pés coçarem. Ele até gostou da sensação, mas sentir algo que não fosse ansiedade era impossível, e por isso não durou muito.

Dizer que ele estava em silêncio absoluto seria uma mentira. Os corredores e salas ao redor estavam repletos dos mais variados sons. Passos abafados. Conversas entre enfermeiras e pacientes. De vez em quando uma cama sobre rodas passando ou uma enfermeira entrando para perguntar pela enésima vez se ele precisava de alguma coisa.

Ele havia ouvido tantas vezes o bipe monótono que acompanhava os batimentos daquele coração. O coração que havia parado cinco vezes. Cinco paradas cardiorrespiratórias, e ainda está lutando. Ela é uma guerreira. A enfermeira havia dito, tentando tranquilizá-lo. Cinco mortes consecutivas. O bipe continuava constantemente repetindo as lentas sequências e cadências. A linha vede na tela subia e descia.

Nick sabia que os efeitos do tranquilizante já deviam ter passado. Os médicos não conseguiam explicar o porquê da demora em acordar, e ao invés disso diziam que o quadro dela estava estável. Como se Nick sequer se importasse com essas palavras. “Estável” pode significar um monte de coisas quando sai da boca de um médico.

O rosto de Judy completamente imóvel. Parecia tão calma. Como se estivesse cochilando. Algumas eternidades mais tarde os pais de Judy chegaram, agitados. Queriam saber, queriam comprovar. Queriam ter esperança. Nick nem sabe de onde tirou forças para tranquilizá-los.

— Ela é a coelha mais forte que eu já conheci.

Depois de dizer isso, o mundo voltou à monotonia. Nick atravessou outra eternidade. Os pais de Judy saíram e voltaram. Nick foi ao banheiro e voltou. As luzes artificiais da sala foram acesas, e Nick nem se mexeu até que as luzes fossem apagadas. Tempo era líquido, fluindo pela sala e seguindo os movimentos dos mamíferos que entravam e saíam, até que eles viraram meros borrões atravessando o branco.

Nada. Nenhum único movimento, até a mão em seu ombro.

— Você já está aí há um dia e meio – era a mãe de Judy. – você precisa descansar.

Somente o ato de virar o pescoço custou a Nick três estalos audíveis e uma fisgada de dor.

— Acha que eu estou com cara de quem consegue descansar?

Bonnie sorriu.

— Está com cara de quem precisa descansar, e isso já basta.

Nick não respondeu. Ele tomou coragem para levantar, ainda dolorido. Deu alguns passos, mancando, e se aproximou lentamente da cama onde Judy repousava. Sabendo que era provavelmente a coisa mais difícil que já fizera, ele começou lentamente a falar, colocando sua mão delicadamente sobre a mão da coelha.

— Judy Hopps. – as primeiras duas palavras foram as mais difíceis de sair – Eu sei que você está ouvindo. Você sempre está ouvindo, mesmo quando eu não quero. Eu... Eu quero dizer que você precisa acordar. Já se passaram quase dois dias. Já deu a soneca, né?

Judy não respondeu.

Nick tomou coragem com uma respiração profunda, antes de tirar do bolso uma pequena caixa forrada de veludo azul.

— Cenourinha, você não me dá outra escolha. – ele parou pra checar se ela havia reagido à sua piada. Ao ver que não, ele suspirou – Eu levei todo esse tempo pra perceber isso, mas eu não entrei na polícia pra fazer do mundo um lugar melhor. Nunca foi o meu sonho. Eu não tinha sonhos. Não até que você chegou. A única coelha capaz de confiar a sua vida a uma raposa. Capaz de ver além do golpista e enxergar Nick Wilde.

Nick sorriu ao relembrar os acontecimentos do último ano. Ele podia sentir os pais de Judy fitando as suas costas, mas se concentrou em apenas terminar de falar.

— Fazer do mundo um lugar melhor sempre foi a sua tarefa. Eu entrei na polícia por outro motivo. Por que, em apenas dois dias, a minha vida mudou. Eu entrei pra polícia por que existia alguém que me via como eu realmente era, e esse alguém era você.

A raposa ergueu a pequena caixa até deixá-la delicadamente ao lado da mão imóvel de Judy Hopps.

— Eu esperei demais. Nós dois esperamos. Eu só queria ter certeza se... Se você sentia o mesmo que eu. Esperei demais por medo de estragar uma amizade que nunca poderia acabar. Acho que está na hora de admitir que... Você sempre foi mais esperta que eu, cenourinha.

Nick deixou a caixa ali e saiu do quarto, passando pelos dois coelhos mudos de surpresa sem dizer uma única palavra.

Ele caminhou sem rumo por um tempo indeterminado, sentindo o ar frio da manhã em seu pelo, sua respiração formando pequenas nuvens de vapor. O sol estava ainda próximo do horizonte, e o dia havia acabado de começar. A Savana central podia ser um lugar frio durante a noite. Mas nada se comparava ao frio que Nick sentia em seu peito.

Quando deu por si, estava subindo as escadas até o seu apartamento. Girou a chave na fechadura e chutou uma caixa para fora do caminho ao entrar. Nem se deu o trabalho de trancar a porta quando a ouviu bater. Se algum assaltante entrasse ali, que se servisse. Nick tomou um banho demorado e quente.

É engraçado como o cansaço é relativo. Até Nick entrar em casa, a simples ideia de dormir o apavorava. Mas assim que saiu do chuveiro e secou o corpo dolorido, a única coisa que conseguiu fazer com os olhos ainda abertos foi se arrastar até debaixo dos cobertores.

Nick sonhou com muitas coisas. Cacos de vidro caindo do céu como pequenas estrelas dolorosas. Sonhou com o gotejar eterno do soro antes de ir para as veias de Judy. Sonhou com caminhões vindo na sua direção. Com bondosas coelhas de meia idade que diziam frases reconfortantes. Sonhou que Judy Hopps havia acordado e corria entre plantações de cenoura acompanhando pequenos coelhos que a chamavam com insistência. Nick sorriu e acenou judy sorriu de volta enquanto se afastava.

Nick acordou já totalmente desperto, como se seu corpo simplesmente houvesse decidido que já era hora de parar de dormir.

Por mais que a claridade do dia lá fora dissesse que ele não havia dormido muito, a sensação em sua língua dizia que já haviam se passado muitas horas desde que fechara os olhos. Ao tentar se mexer, descobriu que esquecera de por novas ataduras em seus pés, e eles haviam grudado no lençol.

Ele estava tentando dar um nó na atadura de seu pé esquerdo quando o telefone tocou. Era um número desconhecido. Nick demorou um momento para atender, terminando o nó.

— Alô?

— Ela acordou! – a voz era a da mãe de Judy – e quer falar com você!

Nick nem se perguntou como a coelha havia conseguido aquele número. Vestiu a primeira roupa que achou – coincidentemente uma calça bege e uma camisa verde com estampa de palmeiras – e correu para a porta.  O caminho até o hospital foi apenas mais um borrão.

Ele não conseguiu aguentar a ansiedade quando entrou no quarto silencioso. quase começou a falar algo, quando viu a cama levemente erguida para a posição sentada. E... Judy estava com os olhos fechados, dormindo. Mas agora a atmosfera era outra. Bonnie estava sentada na poltrona ao lado da cama de Judy, parecendo ocupada com algo em seu celular. Ela levantou os olhos ao vê-lo entrar na sala.

— Oi, Nick, que bom te ver. Dormiu bem, querido?

Nick não fazia ideia do que responder, então simplesmente fez que sim com a cabeça. Então perguntou:

— Então... o que...

— Ah, sim, ela acordou rapidamente alguns minutos atrás, falando um pouco enrolado, mas bem. Ela mesma me deu o seu número, antes de dormir de novo. Os médicos falaram que é uma reação normal. Ela vai voltar a acordar logo.

Nick puxou uma das cadeiras para perto da cama e esperou. Era uma espera diferente, agora. Não era mais a impotente espera de quem não pode fazer nada para mudar algo. Era pura ansiedade de ver com seus próprios olhos a boa notícia.

As horas ainda se arrastaram, mas dessa vez de outra forma. Ele começou uma conversa agradável com Bonnie, falando de alguns casos cômicos que haviam acontecido durante investigações. Quando a pequena oficial acordou novamente, eles já eram íntimos como amigos de infância.

— E então ela disse “o gato comeu a sua língua?” foi hilário...

— Se bem me lembro – disse uma voz sonolenta – você não achou tão hilário na hora.

Nick saltou na cadeira.

— Judy!

— Por quanto tempo eu dormi? – ela disse.

Nick não cabia em si de felicidade. Ele checou um relógio invisível em seu pulso e fez uma careta de indignação.

— Tempo suficiente para ir daqui até marte nas costas de uma preguiça.

Bonnie não fez caso da resposta de Nick e disse:

— Dois dias.

— Sério?

Judy parecia pronta para levantar a qualquer momento. Aquela era a Judy que Nick conhecia.

— É, cenourinha. Deu tempo de sobra pra prender o Rhino convencido e ainda ficar entediado.

Judy ainda não havia entendido direito como havia ido parar ali, então Nick explicou o mais brevemente possível. Ela ficou muito feliz ao saber que todos estavam bem, e riu do relato de Nick contando como aprendera a dirigir. Tudo estava indo bem, até que Judy notou a caixa. A caixa que ele havia deixado ali de manhã.  

— O que é...

Nick se saltou na direção da coelha, mas não conseguiu chegar antes de ela abrir a pequena caixa.

— Nã... - Nick interrompeu a palavra antes mesmo de terminar de abrir a boca.

Judy Hopps arquejou, chocada.

Nick estacou na metade do caminho até a coelha sentada na cama. Ela segurava a caixinha sem palavras.

— Judy... Eu... Eu...

Mas nada poderia explicar o par de alianças dentro daquela caixa. Fora um momento de fraqueza, Nick admitiu para si mesmo. Judy não pensava nele daquela forma. A amizade já era. Nick havia estragado tudo logo de cara.

— Nick...

A raposa não era capaz de mover um músculo. Até Bonnie parecia surpresa com a reação de Judy.

A pequena coelha retirou a menor das alianças da caixa e a olhou como se analisasse seu valor, antes de devolvê-la à caixa e fechar a tampa. Ela respirou fundo várias vezes e então encarou Nick.

—Nicholas Wilde, - Judy disse, com um fio de voz – você está preso.

Uma das primeiras vezes que conversaram. A primeira discussão que Judy ganhou. Nick se lembrava muito bem do que dissera naquele dia. E foi o que falou. Abandonou toda a cautela e falou.

— Por quê? Por te magoar? – ele disse, apoiando o queixo no punho fechado e dando um sorriso sarcástico.

Judy levantou alguns centímetros na cama para falar.

—Tentativa de suborno. Tentar subornar um oficial para coagi-lo a realizar quaisquer afazeres que negligenciem os seus deveres como defensor da lei, se enquadra em... – ela parou para respirar profundamente antes de continuar – Crime federal... Dez anos de cadeia ou mais, dependendo do valor do suborno e... Da ação a ser realizada pelo subornado.

— Tá cenourinha, já chega.

— Pensando no quanto essas alianças custaram, eu lhe daria prisão perpétua.

Nick endireitou a postura. Havia uma pequena parte dele que acreditava que aquela piada levaria a algum lugar.

Perpétua? Isso quer dizer que aceita?

 

Judy apenas sorriu. Não precisava de palavras para expressar o que sentia naquele momento. Nenhuma palavra era necessária. Nenhuma além das quatro palavras que ela usou.

 

— Eu aceito, raposa boba.

 

 


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Notas finais do capítulo

e aí, o que acharam?
acharam lindo?
clichê?
fofo demais pro resto da história?
Não, eu não costumo escrever nada romântico, por isso se a cena pareceu um pouco tosca, mil desculpas.
quem acha que nick e judy são melhores como amigos provavelmente está certo, mas eu não pude evitar.
mas calma, não é o fim!
ainda haverão alguns caps à frente!
( é, eu sei que esse negócio de explorar o preconceito com namoro entre diferentes espécies é batido. não tenho culpa se tive a mesma ideia que outros fãs! )
mas, sinceramente, eu não vou me estender muito nesse tópico, porque a história meio que já acabou, e não faria sentido ficar colocando mais problemas pra resolver agora.
e eu vou continuar mantendo as personalidades de nick e judy, não se preocupem!
[ afinal, não é sempre que um romance estraga uma amizade, principalmente quando estamos falando de Nick Wilde e Judy Hopps!]

podem respirar agora, Shippers de plantão.

e não fiquem bravos comigo, #friendzoners de plantão.

como eu disse, eu não sou muito de romances, então não vai ficar meloso.

Até o próximo capítulo, Sly foxes!