CHAPTER EIGHT — PARTY ROCK!

“E vamos fazer você perder a cabeça; nós queremos apenas te ver.”
— LMFAO, Party Rock Anthem

Tessa não sabia ao certo o que a havia levado até ali, até aquela casa, especificamente. Quer dizer, ela sabia quem havia a levado até lá, afinal ela mesma havia pedido para Dean a levasse até o local, mas com que propósito? Lá estava ela, Theresa Adams, na porta da casa de uma de suas melhores amigas, na porta da casa da filha da mulher que ela havia matado aquela noite, mas com que propósito? “Contar a verdade”, Dean provavelmente aconselharia. “Consolar sua amiga”, sua mãe diria. Mas o que ela queria fazer? O que Tessa Adams queria fazer ás duas da manhã na casa de Allison?

Pois bem, ela não fazia ideia.

E foi com esse pensamento que ela caminhou decididamente até a porta e, sem nenhum tipo de pressa, tocou a campainha, pensando se a melhor ideia não seria sair correndo ou abrir um portal — coisa que ela não sabia fazer — para sua casa. Percebeu que nada disso adiantaria no exato momento em que viu a porta abrir, revelando um Chris Argent com um enorme e sincero sorriso no rosto.

— Olá — cumprimentou — É Tessa, não é?

— Sim — Tessa respondeu, os olhos verdes focados no patriarca Argent — Desculpe-me a hora, a Allison está?

— Ela deve estar voltando de uma festa ou algo assim — Chris deu de ombros — Se quiser esperá-la...

Tessa pensou por um segundo em entrar na casa, sentar no sofá e esperar. Estava lá para contar que havia matado a mão de Allison, mas antes disso iria tomar um café com o seu pai e confraternizar amigavelmente com seu avô; talvez, se fosse possível, ouviria mais algumas histórias sobre como as bruxas são seres raros e, normalmente, nada assassinos. Definitivamente não era uma boa ideia.

— Ah, não, muito obrigada — sorriu — Eu a verei amanhã na escola, não vou incomodá-los mais. Até logo, Sr. Argent.

Chris acenou com a cabeça para ela antes de fechar a porta, um pequeno sorriso ainda em seus lábios. Tessa sabia que Derek havia optado por deixar o corpo no armazém, afinal uma mulher havia sido morta e não demoraria muito para que o corpo de Victoria fosse encontrado e identificado, não seria necessário que ele corresse risco de vida por um erro que Tessa cometeu, porém, ver Chris recebê-la também e ter a ciência de que falaria com Allison no dia seguinte como se nada tivesse acontecido a faria se sentir pior do que antes.

E também havia Isaac. Ele não parecia arrependido do que havia feito, mas também não parecia levar a sério o que havia feito, como se não tivesse significado nada para ele; ela não sabia o que havia significado, sequer sabia se queria saber, mas ela precisava conversar com ele antes de ter um veredicto sobre o relacionamento dos dois. Não que ela achasse que conseguiria continuar com ele após ter se tornado a assassina de um Argent, mas, independente disso — não que não fosse importante e amedrontador —, eles precisavam conversar sobre o que havia acontecido, e precisava ser rápido. A lua cheia estava próxima, e Tessa não sabia se isso era um bom ou um mau sinal.

Esperava, do fundo de seu coração, que fosse um dos bons.

...

— Como assim a sua mãe desapareceu?

Tessa desviou o olhar para Allison e Lydia que examinavam um vestido florido. Tessa havia parado de prestar atenção na conversa das duas há pouco mais de dez minutos, quando o rosto de Victoria Argent voltou á sua mente, a dor se mostrando explicitamente em seus olhos; balançou a cabeça tentando tirar aquela imagem de sua mente e sorriu para as duas, como se estivesse prestando atenção na conversa desde o início.

Observou Allison — que segurava o vestido — e sorriu ao perceber que, ainda que o assunto parecesse sério, ela ainda parecia um pouco feliz; Lydia, por sua vez, parecia estar mais estranha do que o seu normal de estranheza — o que não era pouco, desde que as duas haviam se conhecido. Ainda assim, as duas pareciam mais felizes do que nunca. Talvez, apenas talvez, Tessa estivesse procurando falhas nas pessoas para justificar a sua própria falha. Uma delas, pelo menos, já que sua primeira falha era não estar ajudando Scott a localizar Jackson — assunto que já havia discutido com Allison — e sua segunda falha (a menos preocupante) era não estar na estação abandonada ajudando Derek com Isaac, Boyd e Erica; poderia soar ridículo — e ela queria que soasse — mas tudo o que ela não queria era se sentir parte da Alcateia naquele momento.

— Eu não sei — Allison respondeu, por fim, dando de ombros — Papai acordou hoje e disse que ela não havia voltado do jantar com as amigas, noite passada. Ele está um pouco aflito, mas não vai demonstrar isso.

— Ela deve estar bem — Lydia garantiu, virando-se para Tessa ao pegar outro vestido — Não fique com ciúmes, comprei um para você também.

O vestido era simples, porém lindo; não chegava até os joelhos e seu tom de azul combinaria perfeitamente com os olhos dela. Se combinado com a joia perfeita, o vestido a faria ficar tão linda quanto nunca antes. Sentiu-se péssima por aceitar — afinal ainda havia um peso enorme em sua consciência —, mas sorriu para Lydia ao pegar o vestido, abraçando-a e desejando-lhe seus votos de felicidades. Após isso não demorou muito para que o assunto fosse de “a festa do ano” para “o namoro do ano”. Ás vezes Tessa odiava o modo como Lydia conseguia mudar de assunto tão rapidamente.

— Ah... Eu não sei — Tessa deu de ombros — Eu acho que nós precisamos conversar, mas... Eu queria passar o dia com vocês e ele meio que entendeu.

— Meio que entendeu? — Allison questionou, os olhos fixos em Tessa — Com isso você quer dizer ‘eu nem mesmo perguntei pra ele’ ou ‘eu perguntei e ele não ligou’?

— Gosto da opção número um, soa melhor — Tessa mordeu o lábio — Ah, eu sei lá. Eu o vi fazendo uma coisa que não me agradou e, bem... Não sei como estamos.

— Tentou falar com ele sobre isso ou só o ignorou? — Lydia perguntou, os olhos saindo do vestido e pousando no olhar culpado de Tessa — Tess, pelo amor de Deus! O Isaac é seu primeiro namorado e você é, provavelmente, a primeira dele; quando um faz uma besteira vocês conversam, não se ignoram! — voltou a analisar o vestido — Romeu não morreu no primeiro erro que Julieta cometeu.

Tessa e Allison desviaram o olhar para Lydia; Tessa pensava se devia iniciar uma discussão sobre como não queria que seu romance com Isaac fosse comparado com Romeu e Julieta considerando seu trágico final. Allison, por outro lado, pensava em como o romance dela era como Romeu e Julieta; esperava, pelo menos, que nenhum dos dois morresse por causa disso.

Elas definitivamente deveriam ter se mantido longe de Beacon Hills.

— O que ainda está fazendo aqui? — Lydia desviou seu olhar para Tessa, os olhos verdes brilhando em reprovação — Vá atrás do seu namorado, pergunte-o se ele sente muito! — Tessa riu — Ah, e mais uma coisa. Pergunte á Isaac se ele e os amigos esquisitos, com todo respeito, vão ir à minha festa.

— Vou passar seu recado — e, deixando o quarto, disse — Até mais tarde!

...

Tessa não acreditava em destino, mas, se acreditasse, poderia dizer que seu destino estava conspirando para que seu dia fosse o mais estranho possível. Primeiramente havia cruzado com Dean — que havia ficado incrivelmente próximo dela desde a revelação do dia anterior — no exato momento em que entrou em seu carro, pronta para ir até a estação de trem em busca de Isaac; depois disso, os dois tiveram uma sábia discussão sobre os motivos pelo qual Tessa não podia contar para Allison que ela havia, de fato, matado a sua mãe (sendo que o primeiro motivo plausível apresentado por Dean havia sido a vontade de Tessa de manter-se viva); depois disso, como numa conspiração, Dean havia lhe contado sobre o quão mal Anastácia estava naquele momento, sofrendo torturas mentais por ter ensinado Tessa a fazer um feitiço da morte, ainda que indiretamente. Á princípio Tessa não entendeu o que ele quis dizer com torturas mentais, mas depois de uma demonstração interessante — e perturbadora — decidiu que preferia não ter ficado sabendo. E isso tudo ocorreu antes da discussão que ela teve com seu tio — que ela nem sabia que era seu tio até alguns dias atrás — sobre a sua vida amorosa.

Esse havia sido o ápice da esquisitice.

— Eu não sou seu pai — Dean ressaltou — Mas eu jamais deixaria você namorar alguém que te traiu.

— Eu não sei se ele me traiu, Dean — Tessa ressaltou, os olhos brilhando na cor roxo — E até que nós tenhamos uma conversa sobre isso, ele não o fez.

Dean limitou-se a bufar enquanto Tessa estacionava na frente da estação de trem, acenando com a mão para que Dean sumisse de seu carro. Pegou-se pensando em como ele fazia aquilo — e como ela queria aprender a fazer aquilo — mas desistiu rapidamente ao perceber que sua vontade — ou falta dela — de aprender magia havia matado a mãe de Allison.

Sentiu um frio subir por sua espinha ao pensar nisso e pegou-se pensando mais uma vez em quais motivos tivera para matar Victoria Argent; quer dizer, sabia que ela estava tentando matar Scott — isso parecia um motivo bom o suficiente para ela —, mais quais outros motivos a haviam levado a tomar aquela decisão?

Pois bem, não sabia.

— Pensamos que não viria.

Tessa levantou o olhar rapidamente e encontrou o olhar alegre de Erica. Pensou em andar uma resposta atravessada, mas estava lá para tirar as coisas a limpo e não acabar ainda mais com resto de respeito que ela sentia por Erica. Tendo isso averiguado, apenas deu de ombros e respondeu:

— Não venho essa noite — deu de ombros — Lydia me quer na festa dela. O que me lembra que eu vou ter que dizer pra ela que nenhum de vocês poderá estar lá — respirou fundo — Isaac está?

— Estou aqui — Isaac respondeu. Tessa não havia visto de onde ele havia saído, mas sentiu-se surpresa ao ver que havia algo mais além do trem quebrado — O que você...?

— Preciso falar com você — Tessa mexeu no cabelo, os olhos focados em qualquer lugar, exceto em Isaac — Podemos ir para outro lugar ou você tem que ficar aqui?

Isaac pareceu ponderar por um segundo antes de assentir, rumando até a escada que dava para a saída do local. Tessa decidiu por não ir de carro, não conseguiria manter o foco na direção e em Isaac ao mesmo tempo; por isso os dois rumaram a pé em direção ao norte, sem sequer se importarem para onde estavam indo. Não tardou para que Isaac se pronunciasse, sentando-se em um banco velho que havia ali:

— E então, sobre o que quer falar?

Tessa respirou fundo ao pensar se essa era, de fato, uma boa ideia. Precisava falar com ele, mas sentia que estava cometendo o mais grave pecado ao estar ali falando com ele e não com Allison, a pessoa que havia machucado de verdade. Ainda assim, sentou-se ao lado de Isaac e manteve seu olhar em uma loja de conveniência fechada que havia ali perto, respondendo logo depois:

— Há uma longa lista de coisas que eu quero falar com você. A primeira delas é sobre o que eu vi na festa.

Isaac respirou fundo, os lábios crispando ao ouvir o comentário de Tessa. Ele havia conversado com Erica após o ocorrido e os dois haviam concordado que, de fato, não existia nenhum sentimento entre os dois; ou melhor, nenhum sentimento além da amizade completamente disfuncional dos dois. Dito isso, eles se abraçaram e concordaram em não lembrar daquilo nunca mais em suas vidas.

Tessa havia acabado de estragar o plano — não tão — infalível deles.

— Aquilo não foi nada — Isaac falou, por fim — Precisávamos colocar o plano em andamento e foi o modo que achamos de fazê-lo — fixou seus olhos nos dela — Eu juro que isso nunca mais vai acontecer, Tess.

— Eu sei — Tessa falou, dando de ombros — Lydia me disse que você provavelmente diria isso. Ela também disse que Romeu não morreu no primeiro erro que Julieta cometeu — revirou os olhos — De qualquer maneira, esse é apenas o primeiro item da lista.

— Derek nos contou.

Tessa prendeu a respiração; é claro que ele teria contado. Derek, apesar de tudo, parecia ser completamente fiel á Alcateia e ela não sabia ao certo como ela não havia adivinhando que eles provavelmente já estavam sabendo. Sentiu, pela primeira vez, que não deveria estar ali.

— Eu tenho que...

— Posso te dar uma dica? — Isaac perguntou, os olhos fixos na (talvez ex) namorada que assentiu — É melhor você se aliar á Anastácia e todo mundo.

— Mas Derek...

— Esqueça o que o Derek disse, Tess! — Isaac parecia alterado — Você não é um lobisomem, você é uma bruxa! Nossas regras não se aplicam á você, e se você estiver mais segura com eles do que conosco... É melhor você tentar. Tenho certeza que seu tio não vai tentar te matar — Isaac segurou o rosto dela — Eu não sei como estamos, mas antes de sermos namorados, nós somos melhores amigos e eu não tenho interesse em perder a minha melhor amiga.

Tessa respirou fundo e absorveu as palavras que Isaac havia jogado sobre si. Ela queria viver, mas também queria a amizade de Allison e, infelizmente, ter os dois não era uma possibilidade. No final das contas, Isaac tinha razão: sua vida era mais importante que qualquer coisa no mundo.

Infelizmente, naquele momento a festa da Lydia era mais importante que sua vida.

...

— Viu o Jackson por aí?

Tessa virou-se rapidamente, os olhos fixos em Scott e Stiles que vinham em sua direção. Caminhou lentamente até eles e, ainda que a pergunta não fosse direcionada para si, permitiu-se respondê-la:

— Ele não vem — deu de ombros — Lydia me ligou, disse que foi falar com ele e ele rudemente disse que ela não iria querê-lo na festa. Não acho que ele vá ter coragem de aparecer depois disso.

— Mas que droga! — Stiles xingou, chutando a parede logo depois — Precisamos te contar o que descobrimos, mas primeiro nós precisamos achar a Allison para não termos que repetir.

— Repetir o que?

Tessa virou-se para Allison, seu corpo se arrepiando completamente no mesmo momento. Olhou ao redor para disfarçar o nervosismo e continuou:

— Bem, eu disse que o Jackson não veio, mas... — mordeu o lábio — Parece que ninguém veio, na verdade.

— Talvez seja cedo — Scott comentou.

— Ou talvez ninguém venha porque a Lydia virou a pessoa mais maluca da cidade! — Stiles falou, ao que Scott bufou em concordância.

— Temos que fazer alguma coisa já que ignoramos ela completamente nas últimas duas semanas.

— Ah... Eu não! — Tessa falou, virando-se para Allison — Na verdade, eu acho que eu nunca falei tanto com a Lydia quanto nas duas semanas — Allison fuzilou-a com o olhar — Mas não tá mais aqui quem fez esse comentário ridículo.

— Eu posso usar meu prestígio de cocapitão para trazer o time de Lacrosse — Scott comentou — Tessa poderia tentar o mesmo com as líderes de torcida.

— Eu não faço parte das líderes de torcida — Tessa comentou, estreitando os olhos.

— Ouvi elas falando que queriam que você fizesse — Scott sorriu — Mande uma mensagem pra abelha-rainha e os zangões virão junto.

— E eu também conheço uma galera que pode bombar isso aqui — Stiles falou, tirando seu celular do bolso — Eu to falando sério.

— Quem? — Allison perguntou.

— Eu conheci esses dias, e acho que eles vão dar um colorido aqui.

Tessa tirou o celular do bolso e procurou o número de Âmbar — a chefe das líderes de torcida — no local. Elas haviam, realmente, comentado que a queriam na equipe, mas Tessa havia amorosamente dito que não tinha o menor interesse em entrar numa equipe composta pelas Patricinhas de Beacon Hills; não sabia se ainda tinha algum prestígio no meio delas, mas rapidamente pensou em alguém que ainda lhe dava algum prestígio. Felizmente seu número foi mais fácil de achar do que o de Âmbar.

— Dean? É a Tessa — sorriu — Preciso de um favor.

...

Tessa já podia entrar para a lista de pessoas que não aguentavam mais tomar ponche. Pensou rapidamente em dispensar o que Lydia trazia, mas percebeu que não precisaria fazer isso no exato momento em Dean e Alicia — uma menininha de dez anos (ou mais, talvez) aproximaram-se dela, sorrisos dançando em seus rostos. A aproximação repentina dos dois foi o suficiente para fazer Lydia recuar, como se não quisesse chegar perto dos dois.

Tessa sentiu-se extremamente satisfeita com isso. Sua satisfação partiu, porém, ao sentir seus olhos tomando a coloração roxa sobrenatural que já lhe era tão familiar, logo não estava mais na festa de Lydia, com todo aquele som alto, estava em outro lugar.

Tessa não fazia a menor ideia de onde estava, mas sabia que era uma mansão; um lugar queimado, deixado para que as traças fizessem seu trabalho. Havia um buraco no chão e um ponto vermelho dentro da casa poderia ser facilmente visto; não tardou para que Tessa reconhecesse Lydia como o ponto vermelho destorcido na imagem. E isso foi apenas o que conseguiu ver até o momento em que acordou, os olhos fixos em Dean.

— Eu não posso...

— Ficar — Tessa cortou-o — Preciso achar Derek, sinto muito, Dean.

— Ah não! — Dean segurou-a pelo braço, os olhos fixos nos dela. Apesar de tudo, ele parecia um pouco impressionado com o que estava vendo — Vou ligar para sua mãe, nós precisamos conversar. Nós todos.

— Conversar? Sobre o que?

O sorriso de Dean se abriu ainda mais, como se esperasse que Tessa fizesse aquela pergunta; soltou o braço da garota e arrumou a roupa que usava, os olhos voltando rapidamente para Tessa.

— Sobre as suas habilidades.