CHAPTER THREE – THE BEAST

“Porque quando eu canto, você grita; eu respiro em voz alta; você sangra, nós rastejamos como animais. Mas quando acabar, eu ainda estarei acordada.”

— Of Monsters and Men, Silhouettes.

Tessa estava sentada na escada ao lado de Boyd. Quando chegou na estação abandonada não pôde deixar de rir do fato de que estava novamente lendo sozinha em uma escada, sendo a garota solitária que costumava ser.

Não se sentia bem. Sentia-se imensamente culpada.

Derek havia dito que ela havia feito o que era necessário – isso foi antes de ele dizer que eles precisavam explorar seu poder e ela dizer que Allison a estava ajudando com isso – e que não deveria se preocupar com o que Scott ou qualquer um de seus amigos diriam depois. Ela estava no bando, sua lealdade deveria estar com o bando. Em qualquer situação.

Ouviu quando Isaac caiu no chão e levantou a cabeça, olhando para ele. Sorriu quando Isaac levantou a cabeça, seu rosto demonstrando toda a sua dor.

— Essa é a décima vez — Tessa falou — E sim, eu estou realmente contando — Erica caiu no chão — Quinta, Érica — sorriu ao vê-la levantar a cabeça em sua direção — Foi uma boa quinta tentativa. Talvez dê certo na sexta.

A verdade única e inevitável era que Tessa estava morrendo de tédio. Derek havia pedido para que ela ficasse no treino, para tentar aprender algo com a observação já que ele não poderia jogá-la longe com a esperança de que ela se curaria. Tessa aceitou, imaginando que seria uma boa ideia e que seria divertido ver Erica e Isaac apanharem.

Não era. Nem um pouco.

— Será que alguém quer tentar não ser completamente previsível? — Derek perguntou, virando-se na direção dos dois.

Foi tudo realmente muito rápido. Quando Tessa olhou pela primeira vez, podia ter certeza de que Erica estava no chão, tentando se recuperar de uma queda dura, porém, no segundo seguinte lá estava ela agarrando – tipo, de agarrar de verdade – Derek. Tessa arregalou os olhos e trocou um rápido olhar com Boyd antes de deixar seu queixo cair. Pensou em rir, mas seu nervosismo não permitiu.

Derek estava correspondendo.

Ou pelo menos foi o que pareceu antes que ele a jogasse novamente no chão, com uma cara categórica de poucos amigos que Tessa associava perfeitamente ao nome Derek Hale.

— É a última vez que faz isso — Derek repreendeu, limpando os lábios.

— Por quê? — Erica perguntou — Por que sou uma Beta?

— Não. — Derek respondeu — Porque tenho outra pessoa em mente pra você.

Tessa estreitou os olhos rindo baixo, esperando que isso passasse despercebido pelo Alfa. Viu que ele a olhou e abaixou a cabeça, fingindo que estava concentrada o suficiente no livro para não perceber as trocas de farpas que aconteciam no local.

— Por que a Tessa não tem que treinar? — Isaac perguntou do chão, olhando para Derek — Ela é como qualquer um de nós, não é? Também precisa de treinamento.

— Eu não tenho interesse em ter todos os meus ossos quebrados, Isaac — Tessa respondeu sem tirar os olhos do livro — E, acreditem, eu cansei de ver vocês dois pagando mico — olhou para cima, fingindo pensar — Mico não, foi quase um King Kong.

Erica fuzilou-a com o olhar antes de olhar novamente para Derek, parecendo minimamente preocupada após a declaração dele. Pensou que Boyd falaria algo quando ouviu a voz de Isaac ecoar pelo local, tirando-a a concentração novamente.

— Terminamos? — perguntou — Porque eu tenho cem ossos que precisam de algumas horas pra sarar.

Tessa revirou os olhos sem levantar o olhar do livro em nenhum segundo. Pensou que Derek havia se compadecido e resolvido ajudar Isaac com a habilidade de cura, mas percebeu que havia se enganado ao ouvir o som de ossos quebrando e o grito esganiçado de Isaac. Levantou a cabeça, vendo Derek entortando seu braço de uma forma que apenas um contorcionista conseguiria.

— É cento e um — Derek falou, os olhos fixos nos olhos de Isaac — Por acaso acham que eu estou ensinando você a lutar? Em? Olha pra mim! — Tessa abaixou a cabeça, encolhendo-se no lugar — Eu estou ensinando você a sobreviver!

Derek soltou Isaac, virando as costas pra ele e caminhando até a porta do trem. Tessa levantou, parando ao lado de Isaac que segurava o braço quebrado.

— Se eles querem nos matar, por que não vem atrás da gente? — Isaac perguntou — O que estão esperando?

— Eu não sei — Derek respondeu, simplesmente — Mas estão planejando alguma coisa e você, mais do que ninguém, sabe que temos outro problema. Seja lá o que matou o pai do Isaac, acho que matou mais alguém ontem á noite. E até eu descobrir o que isso é, vocês tem que aprender tudo que eu sei. O mais rápido que eu puder ensinar.

Derek entrou no trem sem sequer olhar para trás e Tessa abaixou, tocando o braço quebrado de Isaac. Olhou novamente para o trem analisando toda a situação. Primeiro ela era algo que ninguém sabia que existia; segundo, Derek estava disposto a ensiná-los tudo o que sabia mesmo que alguém morresse no caminho – ou ficasse sem algum osso e, em terceiro lugar ela precisava falar com a Allison.

O mais rápido possível.

...

Tessa abriu a porta da escola e, pela primeira vez, todos aqueles olhares virados para ela não significavam nada. Pensou em todos os lugares onde possivelmente poderia encontrá-la e, ao descartar a maioria deles, rumou até o armário da garota na esperança de que seu pedido de desculpas fosse o suficiente para que ela não mais estivesse brava.

Tessa sabia que ela não tinha que pedir desculpa para Allison e sim para Scott, mas não sabia como olhá-lo após o que havia feito. Ela havia praticamente tentado matá-lo e, logo após isso havia impedido que Derek o matasse. Ela havia feito um favor e, ao mesmo tempo, colocado a amizade deles em risco.

— Tessa?

Fechou os olhos com força antes de se virar na direção da voz, um pequeno sorriso dançando em seus lábios. Lá estava Allison, os braços cruzados e um olhar de reprovação no rosto. Mas, apesar de tudo, não parecia brava.

— Oi Allison — falou, tímida — Imagino que Scott já tenha te contado sobre...

— A briga no ringue de patinação? É, ele contou — Allison falou, descruzando os braços — E eu não estou brava com você.

Tessa piscou, os olhos fixos nos de Allison. Pensou em protestar, dizer que estava tudo bem ela estar brava com ela, mas, no fim, a única coisa que saiu foi um simples:

— Não?

— Não. — Allison sorriu — Não foi culpa sua. Você tem que ser leal ao Derek, assim como o Scott deveria ser leal ao Alfa dele... Se ele tivesse um. Eu te entendo, e está tudo bem.

— Está?

— Sim, Tessie, está.

Tessa olhou para o chão por um segundo, pensando no quão estranho seria pular no pescoço de Allison sem motivo. Ao perceber que seria deveras estranho, apenas acenou com a cabeça. Não sabia o que falar.

— Meu pai me emprestou alguns livros sobre as bruxas, se quiser nós podemos ver se descobrimos mais algumas coisas. Pode ser?

Tessa pensou um pouco, os lábios crispados, mas sorriu.

— Claro.

...

Anastácia sorria, ao seu lado Dean segurava sua mão com firmeza, como se estivesse com medo de tudo e de todos que estavam ali. Anastácia não pode deixar de rir com esse pensamento.

Dean – assim como ela – não era nada novo. Ele havia nascido no século XVII, e, desde então, havia amado tantas pessoas que para ele era sempre um peso quando elas morriam e seus anos se convertiam em anos a mais de vida para ele. Ele odiava a ideia de que a morte de alguém que ele amava o transformava em alguém imortal.

— Isso não é uma boa ideia — Dean falou.

— Tem razão, é uma ótima ideia — Anastácia sorriu — Precisamos nos misturar, ou nunca vamos encontrá-la — segurou sua mão firmemente — E eu amo a ideia de ter que ir pra escola. Sabe quanto tempo faz que eu não me sinto normal?

— Deixe-me pensar... Desde o último Halloween?  — Anastácia revirou os olhos — Ana, sabe com quantos anos eu tive a minha primeira carga de imortalidade? Vinte e três! Eu não pareço um estudante.

— Mas você é meu namorado, Dean — Anastácia falou — Só me acompanha até a diretoria pra eu fazer a matricula e aí você volta e cuida da Alicia, tudo bem?

Dean olhou fundo nos olhos de Anastácia. Ele havia a conhecido no século XVIII, enquanto ele tentava se afastar o máximo possível de sua esposa, na esperança de que sua morte não fosse convertida em imortalidade pra ele. Naquela época Anastácia não estava interessada em montar um Coven. Ela apenas queria ser normal.

Bem, não havia dado muito certo.

— Tudo bem — deu de ombros — Vamos logo com isso.

...

— Você disse...?

— Não! — Stiles respondeu, bravo — Eu falei Bestiário. E eu não quero saber o que vocês dois tem na cabeça.

Tessa riu, os olhos fixos no livro que Allison havia trazido.

— Ah, ok... — Allison parou — Pode descrever isso?

— É tipo um livro — Stiles falou, ao que Tessa revirou os olhos. Qual deles? — Velho. Usado.

— Com... Capa de couro? — Allison perguntou, ao que Tessa levantou a cabeça e Stiles assentiu — Acho que eu já vi esse livro.

Tessa estreitou os olhos, incrédula. Um Bestiário – na melhor das definições – era um livro que continha todos, todos mesmo, seres sobrenaturais existentes. Desde os que ninguém sabia que existiam até os mais populares, como vampiros, lobisomens... E bruxas. Ter um livro como aquele em mãos era como um trunfo para ela descobrir tudo o que fosse necessário.

Ou melhor, tudo o que fosse necessário para ela.

Sequer percebeu quando Stiles saiu correndo em direção á escola, enquanto Allison apenas se virou, folheando outro dos livros que seu pai havia lhe dado. Pensou em questioná-la, mas considerando que ela sequer sabia o nome do livro, era de se esperar que ela não soubesse nada sobre ele.

— Achou alguma coisa? — perguntou.

— Não. — Tessa respondeu, respirando fundo — Só a mesma coisa de sempre. Olhos roxos, protegem seus guardados... Nada que seu pai já não tenha dito — levantou a cabeça, sentindo seus olhos tomarem uma coloração diferente — O Stiles está voltando.

Allison levantou a cabeça e Stiles apoiou-se na mesa, cansado. Sua respiração estava pesada.

— Onde... Ele... Guarda?

— Deve ser na sala dele — Allison respondeu antes de Stiles correr novamente para a escola.

Tessa levantou a cabeça, olhando para Allison que deu de ombros antes de voltar seu olhar para o livro. Analisou o espaço ao seu redor e sorriu para uma garota morena que se encontrava sentada em uma mesa mais afastada. A garota sorriu de volta e acenou antes de abaixar a cabeça voltando sua atenção para o livro que lia.

Tessa olhou novamente para frente ao ouvir a voz de Stiles.

— Traficantes de drogas vem usando celulares descartáveis há anos — Stiles falou.

— Meus pais checam toda ligação, e-mail e mensagem de texto que eu envio — Allison falou — Sério, eles descobrem.

— Tá, consegue pegar o livro? — Stiles perguntou, apoiando-se novamente na mesa.

— Não sem as chaves — Allison respondeu e Stiles sorriu.

— Eu tenho um plano.

...

Tessa sentou em seu lugar, tirando o caderno da bolsa. Allison havia permitido que ela ficasse com alguns livros sobre as bruxas e disse que perguntaria ao seu avô se ele sabia mais alguma coisa sobre isso. Tessa não sabia se deveria ficar aliviada ou sentir o dobro de medo que estava sentindo no momento.

Olhou pra trás encontrando o olhar da garota que havia visto do lado de fora da escola enquanto conversava – lê-se estudava seres sobrenaturais – com Allison. Pensou em ir falar com ela, mas tudo o que queria no momento era manter-se em um silêncio mórbido enquanto o professor não entrava na sala, gritando por algum motivo completamente equivocado enquanto procurava inutilmente um motivo para gritar com Greenberg.

A solidão era, definitivamente, sua melhor amiga.

Infelizmente, a garota nova não via um motivo concreto para que isso continuasse dessa maneira.

— Com licença?

Tessa mordeu o lábio, olhando nos olhos da garota. Pensou em dizer que ela estava atrapalhando seu momento de reflexão ou sua nova descoberta de uma vida completamente anormal, mas, ao invés disso, simplesmente sorriu.

— Olá — Tessa cumprimentou, vendo a garota sentar ao seu lado — Posso ajudá-la?

— Sou Anastácia — a garota estendeu a mão, sorrindo — Sou nova, mas acho que você já havia percebido isso — Tessa sorriu, assentindo — Eu ouvi falar que vocês tem um time de Lacrosse aqui, certo?

— Yep — Tessa respondeu, sorrindo — Eles vão jogar essa noite.

Anastácia sorriu, parecia realmente animada com a ideia de um grande jogo de Lacrosse acontecer essa noite. Animada até demais, por sinal. Estava prestes a perguntar o motivo do interesse da garota quando o Treinador entrou na sala, a mesma carranca de sempre e os olhos fixos em Greenberg.

— Tudo bem, fracassados. Quem fez a tarefa?

...

Gerard trancou a porta, usava uma boina que não favorecia em nada o tamanho de sua cabeça. Tessa manteve um sorriso amigável no rosto apenas para fingir que não estava com a mínima vontade de rir até sua barriga doer.

Ela realmente estava bem mais animada do que realmente parecia.

— Eu tenho que avisar-lhes uma coisa — Gerard começou, guardando as chaves no bolso — Vocês precisam ter um pouco de paciência comigo.

— Por quê? — Allison perguntou.

— Eu tenho a impressão de que vou ter algumas duvidas já que eu nunca vi um jogo de Lacrosse — Gerard falou, enquanto Allison entrelaçava seu braço com o dele.

Tessa arrumou o gorro, seguindo-os de perto enquanto atravessavam o corredor. Pensou em fazer algum tipo de pergunta ou até mesmo de puxar algum tipo de assunto com os dois, mas sabia que poderia ser completamente inútil, afinal, Gerard não parecia ser o tipo de cara que adorava adolescentes.

Sorriu quando viu Anastácia parada em frente ao seu armário, um homem ao seu lado, segurando algumas coisas que ela tirava do local. O homem não parecia muito velho, mas com certeza não tinha dezessete anos. Tessa acenou antes de perdê-los de vista e continuou acompanhando Allison e Gerard.

Teve a impressão de ter visto um pequeno sorriso no rosto do acompanhante de Anastácia, mas não teve tempo de voltar e admirar o belo sorriso do homem. Precisava continuar acompanhando Allison, já que Lydia não parecia nem um pouco interessada em aparecer para o jogo, como havia prometido.

Sentou-se na arquibancada ao lado dos dois enquanto esperava o jogo iniciar. Mordeu os lábios algumas vezes, sua vontade de conversar falando mais alto do que sua vontade de ser uma dama solitária no meio de toda aquela balburdia de pessoas correndo e conversando. Pensou em pegar sua bolsa e caçar um dos vários livros que carregava dentro dela quando Allison se pronunciou. Não parecia a vontade, mas, mesmo assim, falou:

— Eu posso te fazer uma pergunta?

Gerard olhou para ela, um pequeno sorriso dançando em seu rosto e assentiu. Allison olhou com o canto do olho para Tessa antes de prosseguir.

— Tessa e eu estamos fazendo uma pesquisa sobre seres sobrenaturais e acabamos nos deparando com um em especial — Gerard assentiu, esperando que ela prosseguisse — Pensei que poderia saber algo que meu pai não sabia. Elas se chamam de as bruxas.

— Ah, sim, história antiga! — Gerard parecia animado. Seus olhos brilhavam de uma maneira incrivelmente feroz — Imagino que vocês já saibam que elas são protetoras de seres sobrenaturais, estou certo? — Allison assentiu — Pois bem, é basicamente o que precisam saber. Mas existe uma lenda. Lenda esta que diz que a primeira bruxa pode estar viva ainda, espreitando por todos os lugares.

— A garota da foto que o Senhor Argent nos mostrou — Tessa falou ao que Gerard assentiu — Mas é só uma lenda, não é? Nos livros havia clareza ao dizer que a primeira havia morrido. Havia sido vista quando morreu.

— Bem, é apenas uma lenda — Gerard deu de ombros — Mas é como dizem: todas as lendas tem um fundo de verdade. Parece que o jogo vai começar.

Tessa trocou um rápido olhar com Allison, dirigindo o olhar para o campo logo depois. Se havia uma coisa que Tessa sempre havia odiado era Lacrosse. Nunca soube ao certo o motivo, mas reunir vários garotos para se espancarem num campo enquanto corriam atrás da bola não lhe parecia um jogo muito divertido.

Isso havia sido uma das coisas que haviam mudado com o tempo.

Quando era menor adorava jogar Lacrosse no quintal de casa com seu meio-irmão, porém, após sair de Nova York em uma mudança drástica para Beacon Hills, Tessa acabou parando de praticar já que Olivia preferia mil vezes shopping e beleza a esportes. Isso era uma das várias coisas que odiava em sua irmã.

Sentia falta de seu irmão. Muita, mas muita falta. A última vez que havia ouvido falar sobre ele fora quando o divórcio da mãe dele e do pai de Tessa saiu. Desde então, a família dele não havia sequer feito questão de dar algum sinal de vida. E, lá no fundo, Tessa tinha medo que o motivo disso ter acontecido era eles estarem mesmo mortos.

—Tessa.

Olhou para Allison, sorrindo. Tentou tirar todos os pensamentos ruins de sua cabeça, mas eles voltaram com toda força quando Allison apontou para o campo, onde Boyd se posicionava. Virou-se para Erica, que a olhava preocupada e pensou em como quebraria as pernas de Boyd com magia sem Gerard perceber que ela estava usando magia e que ele havia se curado. Olhou novamente para Allison e levantou-se, indo em direção á escola.

Não poderia ajudar Erica, mas tinha a obrigação de ajudar Stiles. Principalmente depois do que havia feito com Scott.

Encontrou Stiles no estacionamento conversando com Lydia. Revirou os olhos ao ouvir o apito do treinador e ver Stiles olhando pra ela. Fez sinal para que ele andasse logo e ouviu quando o mesmo se despediu de Lydia, correndo com ela até a sala de Gerard. Pensou em perguntar sobre o que eles falavam, mas ficou quieta até chegarem á sala do Diretor.

— Procura na gaveta — Tessa mandou, ao que Stiles assentiu enquanto ela procurava nas estantes.

— Não tem nada aqui — Stiles falou, digitando algo em seu celular.

Tessa olhou para a porta, arregalando os olhos ao reconhecer a cabeleira loira que em poucos dias havia ficado mais famosa do que a dona dela. Ouviu uma exclamação de susto saindo dos lábios de Stiles e revirou os olhos ao perceber que mesmo depois de tanto tempo ele ainda se assustava com as aparições repentinas de Erica.

— Olá Stiles — Erica virou-se para Tessa — Tessa.

Tessa acenou com a mão, os olhos fixos em cada um dos movimentos de Stiles que parecia categoricamente nervoso. Mais até mesmo que o normal. Erica caminhou até ele, segurando-o pela orelha até a piscina, fazendo com que Tessa – como sempre – fosse atrás. Tessa não entendeu exatamente o motivo de sua surpresa quando encontrou Derek brincando com uma bola de basquete.

Ela realmente deveria ter imaginado.

— Stiles — Derek cumprimentou.

— Derek — Stiles cumprimentou de volta — Imagino que já conheça a Theresa, certo? Ah é! Ela faz parte do seu bando — Stiles virou-se para Tessa — Sabia disso?

— Estou tão surpresa quanto você — Tessa respondeu, olhando fixamente para Derek — O que quer aqui?

— Eu quero saber o que foi que o Stiles viu na Oficina Mecânica — Derek respondeu, dirigindo seu olhar á Stiles.

— Ah... — Stiles iniciou — Várias violações ambientais graves que estou considerando denunciar.

Tessa sorriu para Stiles e Erica deu uma de suas várias risadas afetadas antes de Derek estourar a bola de boliche com as garras. Tessa mordeu o lábio, endireitando-se atrás de Stiles enquanto mantinha os olhos fixos no garoto.

— Ah meu Deus — Stiles murmurou e Derek jogou a bola murcha no chão.

— Vamos tentar de novo — Derek falou — O que você viu na Oficina Mecânica?

Tessa segurou o braço de Stiles, desejando saber usar seus poderes para descobrir se havia algum feitiço de teletransporte que poderia ser facilmente usado naquele momento. Tentou visualizar a cena, assim como havia feito quando foi na Delegacia atrás de Isaac, mas até para ela aquilo pareceu bizarro demais.

Mais bizarro até que atear fogo com a mente.

— Tá bem, a coisa era meio gosmenta e a pele era escura, meio padronizada — Tessa levantou a cabeça, olhando para Derek — E eu acho que eu vi escamas. Já deu? Porque eu tenho muito que falar com alguém — Derek olhou pra ele — Tá, beleza. Os olhos. Os olhos são... Amarelados e com fendas. Tem vários dentes. Ah! E tem uma cauda também. Satisfeitos?

Tessa revirou os olhos e levantou a cabeça, olhando para cima deles. Abriu a boca e deu um passo para trás, soltando o braço de Stiles que a olhou, confuso.

— O que foi? — virou-se para Derek e Erica — Vocês já viram? Estão com um olhar de quem sabe exatamente do que eu estou falando.

Um sibilo pôde ser ouvido e Stiles virou-se olhando para cima. E então a criatura rugiu. Ou tentou fazer algo próximo de um rugido, era difícil dizer. Stiles se afastou junto com Tessa, indo para o lado de Derek no exato momento em que a criatura pulou, parando na frente deles.

Derek rugiu para a criatura, que apenas jogou Erica para longe. Tessa trocou um rápido olhar com Stiles antes de correr para o outro lado da piscina onde demoraria mais para a criatura chegar.

Pensou que Stiles estaria atrás dela, mas, quando olhou para trás em busca de qualquer sinal do garoto encontrou-o servindo de apoio para Derek onde antes os quatro se encontravam. Viu quando Stiles deixou o celular cair no chão e abaixou-se para pegá-lo. No segundo seguinte, Derek estava dentro da piscina enquanto Stiles tentava decidir se usava o celular ou salvava Derek.

Felizmente Stiles ainda tinha um pouco de bom senso.

Tessa olhou ao redor procurando a criatura. Nada. Correu até a borda da piscina onde Derek e Stiles estavam e pensou em entrar. Isso é, antes de lembrar de que ela nunca havia realmente investido nas aulas de natação que sua mãe queria que ela fizesse.

— Ele foi embora? — Tessa perguntou, olhando para os dois.

E então veio outro rugido e Tessa virou-se, procurando a origem do som. Não tinha ninguém lá. Não havia ninguém.

— Eu acho que não.

...

Tessa estava sentada ainda na borda da piscina. Não sabia o que fazer, mas sabia que ficar sentada ali não era a melhor das ideias.

— Me tira daqui antes que eu me afogue.

Olhou para Derek e Stiles que ainda estavam dentro da piscina e levantou-se com cuidado, olhando para todos os lados antes de se dirigir até o local onde o celular de Stiles estava. Pegou-o do chão e olhou para os dois novamente.

— Está preocupado em se afogar? Reparou que aquela coisa tem dentes afiados como facas? — Stiles perguntou ironicamente.

— E você reparou que eu estou paralisado do pescoço pra baixo em três metros de água?

Derek 1x Stiles 0.

— Está bem — Stiles falou, por fim — Não estou vendo ele.

Stiles estava perto da borda quando Derek gritou. Tessa olhou para o local onde ele estava olhando e deu alguns passos para trás ao ver a criatura caminhar calmamente em direção á ela. Naquele momento ela esqueceu que não era um lobisomem e sim uma bruxa super poderosa que poderia facilmente transformá-lo em pedaços de lobiscobra.

Naquele momento, ela era apenas a Tessa que tinha medo de tudo e de todos e que não queria morrer. Estava com medo. Estava com muito medo.

“E quando uma bruxa está com medo... Ela se torna uma arma contra seu medo.”

Agradeceu mentalmente pela existência de Chris Argent antes de parar de andar pra trás. Observou quando a coisa veio em sua direção e sorriu, levantando sua mão com um sorriso macabro no rosto. Quem a olhasse daquela forma provavelmente pensaria que ela não era a mesma garota medrosa de dois segundos atrás.

Olhou no fundo dos olhos da coisa e sorriu, antes de falar.

— Pode vir quente... — uma bola de fogo surgiu em sua mão — Que eu estou fervendo.

...

Anastácia olhou ao redor procurando por qualquer sinal de Tessa. Virou outro corredor e se deparou com a porta da sala do Diretor aberta e caminhou lentamente até a mesma, os olhos desconfiados rodando por todos os lugares.

Havia pedido para que Dean fosse atrás de Tessa em outros lugares da escola, mas sabia que para ela ter sumido daquela forma algo estava errado.

Isso e os vislumbres que ela vinha tendo desde que Tessa saiu da arquibancada no campo de Lacrosse.

Entrou na sala do Diretor, olhando atentamente ao redor e encontrando as chaves ainda na porta. Ouviu passos e virou-se com rapidez, sentindo algo rasgar seu braço. Olhou para a criatura e sorriu, sequer se importando com o arranhão em seu braço. Estendeu a mão e uma bola de fogo apareceu, seus olhos mudando a coloração para o roxo.

— As garras de um Kanima não afetam bruxas, noob — Anastácia sorriu — Você deveria saber disso antes de mandar o seu Kanima me atacar.

E então ela soltou a bola de fogo.

...

— Tessa!

Tessa virou-se vendo a criatura correr até ela, parecendo minimamente afetada. Não se sentia forte o bastante para mais uma investida. Pensou em correr, mas sabia que com o tanto de magia que havia usado nos últimos minutos poderia cair dentro da piscina e morrer afogada. E a ideia de morrer afogada não lhe parecia nem um pouco atraente.

E por isso permaneceu parada, esperando ansiosamente que a coisa fosse até lá e lhe paralisasse assim como havia feito com Derek.

Tessa podia ouvir os protestos de Derek e Stiles e os pedidos insistentes dos dois para que ela se mexesse e entrasse na piscina, ou iria morrer. Na realidade, pelos cálculos dela, ela morreria de qualquer maneira.

Sentiu as garras da criatura em seu braço e fechou os olhos, sentindo um pouco de dor. Pensou que começaria a convulsionar, que cairia no chão e que morreria instantaneamente assim que estivesse indefesa. Mas nada aconteceu. Ela permaneceu em pé, ali, no meio do lugar enquanto a criatura a olhava, curioso.

— Primeira coisa que você deve saber sobre uma criatura como essa, Theresa — Tessa virou-se com pressa, os olhos fixos no homem que a olhava da entrada do ginásio. Reconheceu-o, por fim, como o homem que estava com Anastácia no corredor — Seu arranhão não nos afeta — o homem estendeu a mão em direção á piscina e Tessa admirou-se quando um pouco da água foi até a mão dele — E, como eu pude perceber, ele tem medo de água — Tessa virou-se para a criatura que olhava para o homem com a mesma curiosidade que Tessa estampada no olhar — Abaixe quando eu disser três. Um... Dois... Três!

Tessa abaixou e ele estendeu a mão na direção da criatura, que correu ao sentir a água tocando-lhe a cabeça. Tessa levantou e correu o mais rápido que pôde até o outro lado da piscina, onde o homem se encontrava.

— A propósito — o homem começou, puxando-a para trás de si — Sou Dean Donovan, namorado da Anastácia.

— Theresa Adams — Tessa falou — Mas imagino que você já saiba disso.

O homem sorriu e viu quando a criatura se recuperou. Estendeu a mão para a água novamente e virou-se para Tessa, os olhos antes azuis brilhavam em um tom incrível de roxo.

Assim como os dela.

— Está fraca, Ana logo irá nos encontrar — Dean falou — Ajude seu amigos, eu atraso ele.

Tessa assentiu, correndo novamente até a borda da piscina. Tirou os sapatos e desceu a pequena escada que havia ali, entrando na piscina. Estava com medo, mas ninguém precisava realmente saber disso. Nadou da melhor maneira que pôde até onde Stiles e Derek estavam e ouviu quando Stiles pediu a toalha branca.

— Eu acho que eu não consigo mais.

Aproximou-se dos dois e pegou o braço livre de Derek, apoiando-o em seu pescoço. Olhou para fora da piscina onde Dean e o Kanima travavam uma batalha animada e apenas nesse momento percebeu que havia um celular jogado na borda.

Passou a mão por seus bolsos e percebeu que o celular de Stiles e o dela ainda estavam ali e não entendeu de quem era aquele celular. Até virar-se e dar de cara novamente com Dean. Ela estava fraca, era uma questão de tempo para que ele enfraquecesse também.

Em algum momento ele ia precisar de ajuda. Mas ele apenas havia percebido isso após Tessa entrar na piscina, o que não deu brechas para que entregasse o celular para ela. E Tessa duvidava que o celular dela ainda estivesse funcionando.

— Dá pra um de nós dois pegar o celular — Stiles falou, olhando para Tessa.

— Não! — Tessa gritou — Não ouse nos soltar! Eu não sei nadar.

Stiles olhou-a incrédulo, logo depois olhando para Derek. Tessa pensou por um segundo que Stiles provavelmente tinha um cérebro e que não soltaria uma Tessa com nenhuma habilidade para natação e um Derek paralisado dentro da piscina. Infelizmente ele não tinha.

E a última coisa que Tessa ouviu antes de apagar foi uma voz feminina gritando seu nome.

...

Tessa tossiu, recobrando seus sentidos. Respirou fundo e levantou-se rapidamente, encontrando o sorriso de Anastácia. Pensou em gritar, perguntar onde estavam Derek e Stiles e como ela havia saído da piscina, mas logo encontrou-os perto de um carro, conversando.

— Bom dia, Bela Adormecida.

Tessa olhou para o lado encontrando o sorriso presunçoso de Dean. Sorriu de volta e colocou a mão no coração, agradecendo mentalmente o fato de ainda estar respirando.

— Está de noite — falou, olhando para ele — E eu não gosto do conto da Bela Adormecida.

Dean sorriu, ajudando-a a se levantar, logo depois virando-se para Anastácia e estendendo a mão para que ela levantasse. Os dois mantiveram suas mãos juntas mesmo após ela se levantar.

— Fico feliz que esteja bem — Anastácia falou — Quando eu cheguei você estava quase morrendo afogada. Dean precisou entrar na água e resgatar você.

— Ah... Obrigada — Tessa falou, olhando para Dean — Fico feliz por não ter morrido — virou-se para Anastácia, inclinando um pouco a cabeça — Você é a garota da foto. A bruxa do lobo branco.

Anastácia sorriu.

— É, sou eu. E não precisa ressaltar quantos anos eu tenho, não preciso me lembrar disso cada segundo da minha longa vida.

Tessa fez silêncio por um segundo enquanto observava a conversa de Derek, Scott e Stiles ao longe. Pensou em ir até eles, mas virou-se para Anastácia que a olhava com expectativa, e respirou fundo antes de, por fim, perguntar:

— Você sabia, não sabia? — Anastácia olhou-a, confusa — Sabia que era eu quando foi falar comigo.

— Sabia — Anastácia respondeu — Eu fui a primeira, Tessa. Eu sei quem cada um de vocês é. Só não sei onde estão, na maioria das vezes. E eu sei que você precisa de ajuda para se controlar.

Tessa mordeu os lábios e viu que Derek a olhava, aguardando-a na frente do Camaro preto.

— Sei que ele não confia em mim — Tessa virou-se para Anastácia, que falava — E eu realmente não me importo. Eu não simpatizo muito com ele — respirou fundo — Mas existem outros, Tessa. Outros como nós.

Tessa desviou o olhar para Derek, voltando-o novamente para Anastácia.

— E o que eles querem? — perguntou — Por que eles não estão com vocês?

— Já estiveram, mas decidiram que não nasceram pra isso e nos abandonaram — Anastácia falou — E eles estão em busca de uma coisa em especial. Uma pessoa.

— Quem?

O silêncio reinou por alguns segundos. Tessa olhou de Anastácia para Dean, sem sequer chegar a uma conclusão. E foi então que ouviu a voz de Dean, o sotaque inglês incrivelmente carregado.

— Você, Theresa. Eles querem você.