How To Save A Life escrita por LLPotterhead


Capítulo 3
Until I Fall Asleep Spilling Drink On My Settee


Notas iniciais do capítulo

Hello, it's me :)
Esse capítulo ficou curto mas tá valendo.
Obrigada a todos que estão lendo e comentando, sempre incentiva muito a continuar ♥
Xoxo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/702742/chapter/3

“A interação social é uma parte essencial para a recuperação de qualquer transtorno”, disse meu psicólogo. E ao invés de optar por qualquer outro jeito normal de me ajudar, Ruby, Killian, Belle e Graham concluíram que me levar a minha cafeteria favorita depois de um bom tempo sem ingerir quantidades significativas de cafeína contava como uma forma de socialização.

Já disse e repito que é injusto ser considerada louca perto desse tipo de coisa.

Estava chovendo desde de manhã, um tempo completamente não favorável para sair, mas eu andei sete quarteirões para encontrar Belle e Graham com um guarda-chuva estúpido nas mãos que insistia em ficar fechando sozinho, quando a Netflix poderia estar me oferecendo muito mais e eu nem precisaria levantar da cama.

Bem, o lado bom é que o interior da cafeteria era aquecido.

Algo que normalmente se sente depois de acordar de um coma é o deslocamento. Eu quero dizer, é como se uma força invisível te arrancasse do seu mundo, da sua vida e você se desligasse tempo o suficiente para que tudo estivesse diferente quando você estivesse de volta. As coisas mudam o tempo todo, mas quando não se acompanha essa transição é sempre um tapa na cara quando já está feito.  

Foram só três meses, mas Henry cresceu e eu não estava aqui. E alguma coisa criava uma barreira entre meus amigos e eu. Eu sentia uma necessidade de me isolar, de ficar sozinha com a única pessoa que entendia todas as maluquices que se passavam na minha cabeça: eu mesma. O Dr. Hopper disse que isso era um sintoma de depressão, mas ele também disse todas as maluquices que foram o motivo pelo qual acabei saindo na chuva.

— Emma, me explique uma coisa – Graham se inclinou na minha direção por cima da mesinha redonda do café. Pelo seu sorriso, eu já podia esperar alguma piadinha – Você está comendo esse donut ou esse donut está comendo você?

Belle ergueu os olhos de seu livro e deu uma risadinha. Olhei meu reflexo no vidro da janela e notei que meu rosto estava totalmente coberto de creme e açúcar.

Revirei os olhos, pegando um guardanapo para me limpar.

Graham fez algum comentário sobre eu precisar levar as coisas com mais bom humor e eu me limitei a bufar e balançar a cabeça para Belle.

No geral, Belle French era bem tímida. Andava sempre carregando um livro, mesmo que não fosse lê-lo, porque isso a fazia se sentir segura. Eu Graham levamos bem menos tempo para falar um com o outro do que para começar a manter diálogos com ela. Quase sempre que fazíamos uma noite de garotas, Belle pegava um livro, eu meus fones de ouvido e simplesmente sentávamos uma ao lado da outra, sem realmente conversar. Dependendo do ponto de vista é estranho, mas ela é estranha, eu sou estranha, somos todos estranhos.

— Gold está fazendo daquela redação um inferno – Graham reclamou, debruçando em cima da mesa e fazendo um bico patético para mim.

Ri baixo, atirando um guardanapo nele.

— E antes já não era?

— Agora é pior, porque ele fica no escritório desfilando de um lado para o outro e dizendo que você é uma preguiçosa que dorme demais.

Não era difícil de imaginar a cena. Gold era o tipo de pessoa que quando alguém morre, é o primeiro a dizer que não vai pagar o enterro.

— Ele não admite, mas sente sua falta – Belle concluiu, fechando o livro – Eu quero dizer, não que ele tenha sentimentos, um coração ou alguma coisa parecida, mas você era de longe a melhor colunista do jornal.

Era. Quase tudo na minha vida agora era uma afirmação no pretérito perfeito.

Eu rodava o guardanapo nos dedos, tentando fazer a pergunta soar despretensiosa.

Não funcionou.

— Vocês acham que posso ter meu emprego de volta?

E aí vieram aqueles olhares. Aqueles que eu já estava acostumada a receber de no-momento-não-porque-você-não-tem-nem-memória-suficiente-para-achar-seu-apartamento-sem-a-ajuda-do-google-maps.

— Se eu fosse você aproveitava a oportunidade para fugir da escravidão e se tornar um elfo livre – Graham disse, me fazendo sorrir pela primeira vez naquela cafeteria irritantemente longe do meu apartamento.

Belle optou por mudar de assunto, vendo que aquele me incomodava. Primeiro uma discussão sobre quem me levaria para o consultório do Dr. Hopper, ao que eu apenas respondia mecanicamente que não precisava de uma babá. Depois, vendo que aquele assunto estava simplesmente me fazendo despedaçar o guardanapo, começou a falar sobre sair comigo e com Ruby, como na Era Pré-Acidente. Graham se auto convidou para se juntar a nós, sugerindo a presença de Killian. Eu apenas concordava, já que minha frustração tinha feito com que eu encarasse o vidro da janela e me desligasse da conversa. Eu só me concentrava realmente em sujar a cara de donuts, até que a voz de Belle me trouxe de volta a realidade:

— Emma, o que eu peço para você, café ou chocolate quente?

 

Meus sentidos já eram razoavelmente bons para que eu identificasse as visitas sem poder abrir os olhos para enxerga-las. Principalmente a dela.

A voz rouca era dura com quase qualquer um. Com os enfermeiros, com os médicos e até mesmo pelo telefone com o que pareciam ser funcionários, mas se tornava carinhosa ao falar com Henry e levemente irônica ao falar comigo.

O conhecido perfume de maçã atravessava o quarto até parar do meu lado. Então um toque suave sobre a minha mão, seguido de um :

— Como pode ser tão idiota a ponto de se colocar em uma situação dessas, Miss Swan? Seria tão mais fácil se você simplesmente... - e deixava a frase no ar sem completa-la. Nunca completava.

E eu era sempre Miss Swan. Desde que tinha descoberto meu nome com meu irmão arrumou uma maneira de descobrir o sobrenome também, e daí para frente era como se o “Emma” não existisse.

Quase sempre segurava um copo de café na mão que não segurava a minha, eu podia imaginar por causa do cheiro. Vivia de cafeína.

— A gente precisa de alguma coisa para nos manter com os olhos abertos durante o dia quando não encontra motivo nenhum para acordar todas as manhãs – resmungava, no tom amargo ao qual eu havia me acostumado. Podia imaginá-la dando de ombros e forçando um sorriso. Quase tudo que ela me dizia tinha um toque de humor negro, frases mal-humoradas com tom de casualidade. A maioria filtrava o que dizia perto da garota em coma, mas não ela.

Era um inferno não ter a possiblidade de falar para perguntar seu nome.

— Você gosta de café, Swan? – ela me perguntou uma vez – Sabe, eu fico imaginando você acordada. O que você bebe? Café ou chocolate quente?

 

A lembrança me assustou, assim como todas as outras que eu tinha tido com uma frequência irritante ultimamente. Lembranças com a presença dela, sempre, e quando eu menos esperava. Que tal um aviso em um letreiro de neon, do tipo “Agora você vai ter uma lembrança, Emma”?

O que foi que eu fiz para merecer ser atormentada por uma pessoa que nem conheço? Eu devo ter cometido uns erros inofensivos, tipo colar no ensino médio, mas o universo não precisava retribuir com tanto.

Se ao contrário do que pensa o Dr. Hopper, eu ainda não estivesse louca, ficaria logo.

— Emma? – Belle tocou minha mão para me chamar – Aconteceu alguma coisa?

— Nada – menti – eu vou querer café.

[...]

O consultório do Dr. Hopper parecia muito mais uma sala de pré-escola do que qualquer outra coisa. Colorido demais, enfeitado demais, e feliz demais para o meu humor macabro de hoje.

Me afundei em uma das poltronas alegres de Archie com uma postura completamente errada, as mãos nos bolsos e os fones nos ouvidos, uma linguagem corporal bem clara de “Não quero conversar”. Irônico, considerando que era para isso que eu estava ali. Não tinha muito o que dizer a Archie, na verdade. "Como você está?”, ele perguntaria, e eu daria de ombros e responderia “Sem memória”. Era uma conclusão a qual eu poderia chegar sozinha, de preferência dentro de casa.

Mary devia ter uma espécie de sensor da minha presença, porque eu mal entrei e ela já me achou. Acenou pelo vidro que separava o consultório de Archie do resto do hospital, gesticulando para que eu fosse falar com ela, e fiquei bem satisfeita em ter uma desculpa para fugir daquele lugar.

Levantei disfarçadamente, fugindo do olhar acusador que a recepcionista me dirigia, provavelmente por causa da minha fama de fugir, e dei um jeito de escapar da recepção.

Acho que finalmente entendi o significado de “No lugar errado, na hora errada”.

Não foram nem dois passos para fora da porta antes que eu sentisse meu corpo colidir com o de outra pessoa, uma mulher menor que eu, espalhando café pela minha blusa e pelo jaleco branco dela. Uma médica. Parabéns, Emma.

— Eu sinto mui... – comecei a ensaiar um pedido de desculpas que acabou ficando preso na minha garganta quando a encarei.

A mulher tinha cabelos castanho escuros, curtos, acima dos ombros, e fez uma careta engraçada ao notar que até eles tinham ficados molhados de café. Tinha traços latinos, um rosto que poderia facilmente pertencer a alguém da realeza, mas não foi sua beleza que me fez olhar por tanto tempo. Foram os olhos castanhos, que eu tinha certeza de conhecer. Sua primeira reação foi me olhar com desprezo e raiva antes de uma expressão de reconhecimento cruzar seu rosto.

 

Minha respiração falhava e meu corpo entrava em colapso. Eu tentava focar nos olhos, os olhos escuros que me vigiavam.

— Não feche os olhos –  a dona dos olhos me pedia, enquanto segurava meu rosto de um jeito que me obrigava os olhar para ela – Não desista. Fique viva.

 

— Você devia olhar por onde anda – ela tentou se recompor, e apesar de um bom observador conseguir notar uma nota de nervosismo em sua voz, ela também era seca. Desci o olhar até o nome no seu crachá: Dra. Mills. Em um movimento automático, me entregou o copo agora vazio de café, virou as costas e foi embora, me deixando plantada como uma batata no meio do corredor.

— Tudo bem, o que foi aquilo? – Mary se aproximou – Aposto que se Ruby estivesse aqui diria que é tensão sexual.

Três meses e ela já conhecia Rubs suficientemente bem.

— É ela, Mary – sussurrei, tentando convencer a mim mesma de que não estava alucinando.

— Ela quem?

— A mulher que apareceu nos meus sonhos – respondi, olhando fixamente para o copo – Eu tenho certeza.

— Você não pode estar falando sério – agora Mary estava prestando atenção de verdade no que eu dizia – A Dra. Mills?

— É sério, Mary – suspirei – Eu nunca estive tão próxima de lembrar. Nos últimos dias apareceram cenas que fazem sentido, flashes, insights...

— E porque você não entra naquela sala e fala tudo isso para o Dr. Hopper? – ela resmungou.

— Porque quem pode me ajudar é você Mary – ela abriu a boca para protestar, mas eu continuei implorando antes que ela tivesse essa oportunidade – Me diz o primeiro nome dela, qualquer coisa. Eu olhei para ela e reconheci. Se eu não descobrir nada vou acabar ficando louca.

Mary Margareth me encarou em silêncio por alguns segundos e realmente pensei que ela fosse negar, mas disse, por fim:

— Você não tem como ficar louca se você já é, Emma.

Virou as costas para mim e seguiu na direção contrária a que a Mills tinha ido.

—´Aonde você vai? – eu estava pronta para continuar implorando – Por favor, Mary.

— Não olhamos os registros de suas visitas. Se você realmente a ouvia enquanto estava no coma, ela tem que ter estado lá.

— Você vai me ajudar – não era uma pergunta, era uma afirmação.

— Desde que você prometa que depois volta aqui para fazer sua sessão – ela deu de ombros e eu abri um sorriso gigantesco, do tipo que mal cabe no rosto.

— Vamos mesmo olhar os registros? – perguntei.

— Vamos, câmeras de segurança também, talvez.

— Deveríamos fazer isso?

— Com certeza não.

— E vamos fazer mesmo assim?

Mary abriu um sorriso para mim, um sorriso encorajador de quem demonstra que vai estar lá sempre que você precisar.

— Vamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém tem algum palpite sobre como Emma e a Dra. Mills se conheceram? Ainda vamos ter muitos flashbacks sobre isso u.u
Se você gostou, favorite, comente e compartilhe com os amigos ♥
Um beijo e um queijo, e eu fui.
Xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "How To Save A Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.