O mundo do quarto de baixo escrita por Arthur Araujo


Capítulo 2
Capitulo D.O.I.S.




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Lily parece desapontada, sinto como se eu tivesse sido culpado por cortar uma relação rara de amizade entre irmãos. Lily continua me olhando até que sai do quarto.

Não há chances de algo assim ter acontecido, mas a incerteza me mata, tento imaginar, o chão amarelo da grama seca, um milharal ressecado, em uma mistura entre um resto de morte e trigo, uma casa velha caindo em pedaços.

Paro meus devaneios, e me disponho à tentativa de sair da cama. Livro-me da coberta e ponho os pés no chão, tento levantar a perna, mas ela não estica completamente, tento me levantar, mas acabo caindo sentado na cama.

— Lily!

Grito seu nome, a porta do quarto dela está fechada, não acredito que ela esteja dormindo, apenas me evitando por um tempo, chamo outra vez, e mais uma. Minha avó não veio me ajudar, então provavelmente está tirando o sono da tarde deitada no sofá da sala. Consigo imaginá-la com a televisão ou rádio ligados, sendo acompanhando pelo barulho da sua respiração.

— Lily! - Grito outra vez, ela abre a porta do quarto, ela ainda esta irritada, posso ver no modo que ela respira, mas seus olhos mostram culpa.

— Eu estava ocupada. – Ela se aproxima de mim, sem olhar diretamente nos meus olhos, se põe do meu lado e pega meu braço e envolve em seu pescoço, com sua mão em minha cintura tentamos caminhar até a cozinha.

Lily faz algumas caretas, sinto que estou sendo um fardo pra ela, tento me apoiar nos moveis que encontro no caminho até a cozinha. Chegando lá me sento em uma das cadeiras de madeira. Minha cozinha é nua, tem uma mesa, um fogão, geladeira e uma pia, alguns poucos e vazios armários. Minha mãe ficou algum tempo desempregada, tentando novamente recomeçar, a amo por isso, e tento nunca desistir.

Lily não espera que eu peça, ela começa a por algo para eu comer, o gosto do chá ainda está em minha boca, observo a dança de Lily na cozinha apertada, ela liga o fogão para esquentar a comida, então vai buscar um prato, pega os talheres e põe sobre a mesa, pega um pouco e enche com algo para eu beber, sinto-me em dia feliz, semana onde temos suco de frutas na geladeira é uma semana feliz.

Começo a comer tirinhas de dedo de peixe com um pouco de purê congelado. Lily senta de frente para mim e fica me encarando.

Seu rosto é bonito, seu cabelo é liso com algumas ondulações, um tom entre o castanho e o preto que se diverge do meu, no sol seu cabelo parece ser uma armada de fios vermelhos. Lily tem lábios finos, e sorriso grande, somos parecidos, sei que tentamos não sorrir, tentamos apenas não parecer infelizes demais por estar nessa situação, mas também não queremos parecer felizes demais para parecer contentados com o que estamos vivendo.

Minha mãe intende o recado, ela diz está a procura de uma casa na cidade, estou quase entrando em uma faculdade, tenho fé de que Lily faça seu ultimo ano morando na cidade, difícil prestar atenção na aula quando minha cabeça esta condensada em pensar como voltarei para casa. Não quero que Lily passe por isso.

Vovó também é uma desculpa que minha mãe usa para não nos mudarmos, ela diz que vovó está idosa demais para morar sozinha, aposto que minha avó está mais bem de saúde que todos seus herdeiros juntos.

Lily se ajeita na cadeira varias vezes enquanto me observa comer, ela esta com as pernas cruzadas, ela quer dizer algo, ela balança o pé, provavelmente está incerta sobre minha reação. Encaro-a também, sem tira os olhos dos seus. Ela entende como um desafio.

— Eu não sou louca.

— Tenho esperanças que não. – Digo, friamente, Lily não parece incomodada, ela age como se eu estivesse apenas brincando de alfinetá-la. – Como era a casa?

— De madeira.

— Parecia ter alguém morando lá?

— Com certeza não.

— Você estava com sono?

— Eu... Não, não estava.

Sorrio.

— Então como pode saber que não estava dormindo?

Antes que a Lily responda, alguém bate na porta, , ela se levanta e vai atender. Escuto as vozes e algumas risadas, tenho visitas, contorço-me para ver quem está aqui.

Oliver, Meg e Alex então na cozinha seguidos da Lily que sacode a chave da porta nas mãos. Meus amigos vieram me ver, não consigo evitar sorrir. Oliver era meu vizinho, começamos a estudar juntos na terceira serie agora estou aqui finalizando o colegial sendo mais novo que ele alguns meses.

Oliver tem uma definição meio termo, nem gordo, nem extremamente magro, com pele clara e cabelos cacheados que lhe cobre as orelhas. Ele é bonito, eu acredito, mas por ter sido abençoado com a capacidade de ler e ouvir boas musicas ele foi poupado de ser como um dos jogadores de futebol americano do time do colégio.

Meg e Alex são irmãs, Meg mais velha estudando na mesma turma que eu, sinto que ela tem meio que uma paixão pelo Oliver, porém ela é durona demais para deixar essas coisas transparecerem. Alex é amiga da Lily, estudam juntas. Alex vem aqui em casa junto com a Lily sou se não a Meg a traz e passamos a tarde aqui.

Éramos como o clube do cinco com os gêneros invertidos.

— Você está bem? – Pergunta Oliver. Ele coloca a mão em meu ombro, seus dedos são longos e ele tem certa força.

— Se não levar em consideração o fato que não andar, eu estou em um estado maravilhoso. – Digo.

Oliver me observa com repudio. Acabo rindo.

— Seu excesso de alegria e positividade me faz ter pensamentos suicidas. – Oliver tira mão do meu ombro e se senta onde a Lily estava. Meg sorri para mim e se senta sobre um banco giratório, ele não faz sentido nenhum de estar ali, deveria funcionar como incentivo para que minha mãe colocasse um balcão na cozinha, mas a trajetória parou no banco.

Alex fica junto com a Lily na porta da cozinha. Lily está descalça e com a mesma roupa da manhã, não posso julga-la, estou de pijamas. Alex está com cabelo trançado, sapatilhas, calça moletom e uma camiseta com desenho de margaridas.

Meg tem um cabelo que não chegam a altura dos seios, com as pontas salpicadas com uma tesoura sem corte, obra de arte protestante feita no próprio banheiro das irmãs Montgomery .

Oliver está com casaco de couro e camisa de manga comprida, e calça jeans, Oliver é um amante da morte, com seus poemas tristes e pensamentos depressivo passamos quase dez anos juntos.

— Você não foi para aula hoje...

— Então ficamos preocupados e viemos lhe ver. – Meg completa a frase do Oliver antes dele acabar de falar.

— E trouxemos...

— Eu trouxe. – Meg termina a frase dele novamente. – Um presente adiantado para a Lily.

Meg desce do banco que é alto e deixa seus pés flutuando e vai até a Alex, ela tira uma caixa mediana de trás das costas, e Meg segura em frente ao corpo o presente embalado com papel verde claro e o entrega a Lily.

— Para você usar até quando estiver roubado um banco, eu achei adorável.

Lily vorazmente rasga o papel sobre a caixa de papelão, em seguia abre e tira um prato de tecido de dentro, não reconheço até que ela põe na cabeça, mas não há muita diferença, Lily agora está usando a mesma boina que usará em meus sonhos.


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