Já havia passado dois meses que usava a capa e caçava pessoas na cidade. Os jornais me chamavam de vigilante, e policiais diziam que eu era perigosa, e que precisava ser impedida. Não consegui passar na faculdade, na verdade, nem fui para a prova. Estava perdida em meus pensamentos quando uma toalha suada acetou meu rosto.

— Então. — Ray falou, chamando minha atenção enquanto jogava a toalha no chão. — Quando iria me falar? — Olhei confusa para ele, que me encarava com seus olhos castanhos. 

— Falar o que?

— Sobre esta tal de Ghost.

— O que tem ela?

— É você. — Ele disse, se aproximando. Eu sorri, e então fingi estar surpresa.

— Está brincando, certo? Acha mesmo que eu seria ela? Não consigo nem vencer você em uma luta.  — Eu sorri, bebendo um pouco de água da garrafa.

— Fora. — Eu o olhei confusa, e ele sério, se aproximando de mim. — Cai fora. — Ele parou na minha frente, apontando para a saída. — Eu não crio assassinos. 

Peguei minhas coisas, e saí sem olhar para trás. Não precisava mais dele para me ensinar. E não preciso de amigos, não sei porque me iludi em pensar que tinha um amigo.

As gotas frias e finas da chuva me acertavam como pequenas navalhas. Esqueci meu casaco com Ray. Meu corpo tremia com o frio, enquanto eu tentava me esquentar. Parei e me sentei em uma escada coberta. Fiquei encarando a escuridão da rua, e senti algo me cobrir. Olhei para cima, e Ray arrumava meu casaco em mim. Ele se sentou ao meu lado e me abraçou. Eu não gostava de abraços e nenhum tipo de contato com ninguém, mas aquele abraço foi tão relaxante, que apenas aceitei, e por vários minutos ficamos juntos, dividindo calor naquela cidade fria.

— Pensei que não queria mais me ver. — Eu disse, quebrando o silencio. Ele saiu do abraço, e me encarou.

— Eu quero ajudar você. — Ele disse de forma calma e gentil.

— Eu não preciso de ajuda. — Me levantei, e o encarei ainda na escada. — Não preciso da sua ajuda. — Disse, antes de sair enfrentando a chuva e o vento gelado.