É dessa vez! escrita por Nathalia S


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oláááá,

Muito obrigada a abelhinha que comentou e favoritou a história. Isso foi motivador!

Boa leitura =D



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Terminei de prender meu cabelo num coque desajeitado e cheio de fios no topo da cabeça e me olhei no espelho. Eu realmente estava necessitando de passar algumas horas ao ar livre e, de preferencia, com um pouco de sol. Minha pele estava tão sem cor que até o tom da minha base que eu havia tentado passar no meu rosto era escuro demais - uma pequena observação para o fato de que era o tom mais claro existente da marca que eu sempre utilizava.

Suspirei, saindo de meus devaneios sem sentido e vestindo um casaquinho por cima do vestido, ao que tudo indicava as cidades “interioranas” conseguiam ser abafadas e ventosas ao mesmo tempo, o que me irritara de leve na hora de me vestir, mas me acalmara quando imaginei a narrativa de um livro tendo tal cenário como principal.

Desci as escadas do hotel obstinada a andar pelo centro da cidade, quando passei pela porta pensei em ligar para Arlindo o taxista (Isso me soou interessante, nota mental sobre um possível futuro livro, talvez, erótico ou de terror, ambos parecem lucrativos), porém decidi caminhar. Eu tinha uma boa memória e com certeza acharia o centro da cidade com facilidade, mesmo tendo de caminhar um bom trecho em uma rua sem asfalto cercada por mato - e quando digo mato não quero dizer uma bela plantação de árvores nem nada do gênero, quero dizer...mato mesmo, aquele que está ali e ninguém sabe como nem porque.

……

 

Ok. Eu admito. Mesmo que minha memória pareça ser ótima o meu físico não se encontra no mesmo estado. Após 20 minutos caminhando - devagar e sempre, eu finalmente avistava os primeiros indícios de cidade. Entretanto o suor já se fazia presente em meu corpo, meus pés doíam por todas pedras pontiagudas que os espetaram pela sola do meu sapato oxford e meu cabelo deveria estar semelhante a o de uma indigente. E eu, sempre cética quanto ao fato de existir a roupa perfeita para exercícios físicos começa a acreditar, definitivamente ter de segurar o vestido o tempo todo era muito irritante.

Quando avistei a farmácia que vira no dia anterior me deu um alívio. Estava começando a me incomodar com as -poucas - pessoas que andavam pela rua e me encaravam. Cheguei a cogitar a possibilidade de serem fãs, até que entendi que os olhares eram apenas por eu ser uma desconhecida. É, e eu pensava que isso era coisa de literatura. Mas meu alívio pela farmácia não era exatamente por ela, mas sim porque ao lado eu lembrava de ter visto uma pequena lancheria, que me salvaria.

Eu realmente preciso de um suco” - foram meus últimos pensamentos antes de abrir a porta do estabelecimento e sentir algo gelado em contato com meu corpo.

Gostaria de dizer que uma bala atravessou meu corpo enquanto bandidos assaltavam o lugar ou que um tiro disparado por policial errara o alvo de foragidos de um presídio de uma cidade vizinha e me acertou em cheio no peito ou até mesmo que índios estavam invadindo o local e uma flecha me atingiu ceifando minha vida. Seria tão poético, embora eu fosse ficar eternamente infeliz por não ter deixado meu suspense publicado.

Mas não. O destino só estava querendo brincar comigo, como ele quase sempre gostava de fazer e, no futuro eu saberia, iria fazer ainda mais daquele dia em diante. Porque não fora nada poético, nem louvável, e não se encaixava em nenhum adjetivo próximo a isso, o que ocorreu comigo. Eu estava coberta de um líquido laranja. Suco. Suco de laranja que eu estava desejando beber segundos antes. Minhas roupas, meu corpo, até minha bolsa tinha resquícios da bebida.

—Você é cega?

Este é o momento em que você imagina que tenha sido eu a fazer tal afirmação. Afinal a única pessoa ali que estava coberta de suco era EU, euzinha, Gabriella, a famosa escritora Ella (Qual é, assim aumentava o glamour). Mas não, quem ousou pronunciar tal frase foi uma voz grossa demais para ser feminina que pertencia ao lindamente imbecil e moreno a minha frente. Que trajava uma camisa azul clara que, só para demonstrar ainda mais minha irritação, não tinha nenhum pinguinho sequer.

—Mas é claro que não! - Afirmei, sem controlar a indignação em minha voz. - Quem deveria estar perguntando isso sou eu! Afinal não você que terá de ficar andando por ai com roupas molhadas e grudentas.

—Se você prestasse atenção antes de simplesmente se enfiar por uma porta você não estaria nessas condições. - Ele insistiu, como se fosse o dono da razão. Eu odiava quem se achava dono da razão.  

—Você é realmente um...um...cavalo! - Falei enquanto bufava, o que me fez pensar que eu poderia ser um touro fêmea (Sim, touro fêmea, porque nenhuma vaca bufaria daquele jeito).

O homem apenas gargalhou, e abaixou ligeiramente o chapéu preto estilo cowboy que trazia em sua cabeça, como se estivesse me cumprimentando enquanto debochava de mim. Aquilo me deixou ainda mais possessa. Eu já não estava mais com cede. Nem fome. Nem dor nos pés. Aquela raiva havia me feito esquecer qualquer coisa. Eu com certeza poderia escrever um livro em que uma mulher dominada por seus instintos matava o vaqueiro bonitão e ficava com todo seu dinheiro, mas isso seria fútil demais.

Virei as costas enquanto cerrava os punhos, tentava me controlar para não socar aquela covinha linda naquele queixo que pertencia a um idiota que comprava suco de laranja para virar em turistas.

—Você só veio até aqui para tomar um banho de suco de laranja? - Perguntou ele, mudando do estado raivoso para o estado debochado.

Apenas ignorei e continuei caminhando enquanto pensava que todos palavrões existentes nesse universo não seriam o suficiente para xingá-lo.

—Você tem uma maturidade impressionante! - Afirmou ele, rindo.

Não consegui mais aguentar. Virei de volta para ele mostrando aquele dedo. O pior de todos. Aquele gesto obsceno. Eu realmente estava irritada e o suco na minha pele ao sol piorava tudo. Ele gargalhou. Eu desisti e voltei a andar.

—Onde você vai?- Perguntou ele, e percebi que havia chegado mais perto, tentando me acompanhar em passos rápidos e grandes.

—Onde você acha? -Respondi a pergunta, sem parar de caminhar.

—Testar se consegue se bronzear mais fácil com suco de laranja?

—Nossa! - Falei, parando e sorrindo ironicamente. - Seu senso de humor é realmente maravilhoso. Por que mesmo você não está se apresentando em seu próprio show de humor?

—Porque estou esperando você pagar o suco que ficou me devendo! - Respondeu.

Olhei bem em seus olhos, buscando qualquer indicativo de que ele estivesse brincando e não, não encontrei nenhum. Ele realmente falava sério. Aquilo me fez questionar se seria possível que o vento que fazia na cidade afetasse o cérebro dele de alguma forma.

—Você é realmente ridículo! - Foi apenas o que me dignei a falar, enquanto voltava a caminhar rapidamente em direção a trilha que levaria ao mato que levaria ao hotel.

—Ei, moça do hotel! - falou ele, e pela voz percebi que eu deveria estar a mais de 10 metros de distância dele. Finalmente. Virei para olhá-lo enquanto mantinha-me caminhando, com passos mais reduzidos, parece que todo mundo naquela cidade sabia quando alguém era completamente...ET naquelas terras. -Eu ainda vou lhe mandar a conta desse suco.

Eu não duvidava que ele falasse sério e, se não fosse por suas boas roupas eu até voltaria e perguntaria se, quem sabe, ele não estivesse passando necessidades financeiras. Entretanto preferi ignorar aquela última provocação e aumentar meus passos.

Pela segunda vez naquela manhã pensei em ligar para o taxista, porém meu orgulho me impediu. Eu não daria àquele homem do mato o gostinho de me ver parar como uma donzela fraca e esperar por seu “cavaleiro” para ir até sua moradia provisória. Iria com minhas próprias pernas, mesmo que agora eu estivesse voltando a sentir a dor nos pés.

Tudo que eu desejava era um banho, daqueles bem morninhos. E, quem sabe, de um suco de maracujá. Não, melhor não. Nada de sucos por hoje.


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