“Por pensar demais eu preferi não pensar demais

Dessa vez”.

—Nando Reis

Capítulo 1

“Era uma vez…”

Não. Droga. Eu estava fazendo tudo errado de novo. Eu precisava aprender a perder o foco que eu havia adquirido há anos. Tudo bem que eu era fantástica naquilo que eu fazia, uma das melhores do mundo - sem querer parecer egocêntrica, apensas realista, mas eu estava cansada. Queria inovar. Fazia 6 anos que eu escrevia romances profissionalmente, mais 6 anos que eu postava em sites...Isso totalizavam 12 anos. E eu não era dada a monotonia de fazer sempre a mesma coisa. Desde criança sonhara em ter uma profissão ousada que me fizesse sentir a adrenalina todos os dias trabalhando. Algo como pertencer ao Corpo de Bombeiros talvez. Eu definitivamente gostaria disso.

Mas por um acaso, destino ou sorte, eu me tornara uma excelente escritora. Romances. Daqueles clichês. Ontem o casal improvável fica junto. E, tudo bem, admito que gostava desse tipo de história, mas elas nunca foram meu sonho. Eu queria ser a próxima grande rainha do crime, queria escrever romances policiais, que foram meu sonho desde que eu ingressara nessa carreira de escritora. Porém, por mais que eu tentasse eu não conseguia. É como se eu tivesse um bloqueio. Que eu estava disposta a ultrapassar.

Levantei da minha cadeira estofada e confortável, calçando minhas pantufas com a cara do Pateta, e me dirigi até a cozinha. Eu precisava de cafeina, sempre que ficava muito ansiosa por culpa de meus livros o café era meu fiel amigo.

Minha casa estava inteiramente escura, fazia alguns dias que eu não abria as janelas. Quando focava em trabalho isso era tudo que eu conseguia fazer. Suspirei frustrada tomando um gole do café fumegante. Eu sentia que precisava de algo inspirador. A editora já estava me incomodando pedindo minha próxima obra, eles haviam me dado um prazo maior que o normal porque eu prometi que meu próximo livro seria inovador, no entanto eu não conseguira escrever nem o prólogo, quem dirá um livro inteiro.

Olhei em cima da minha bancada, onde acumulavam-se cartas e jornais. Estavam ali há alguns dias já, eu não tinha paciência para abri-las, cuidava apenas das que eram contas a pagar, as de fãs...Apenas quando eu estava sem mais nada para fazer, algo muito raro.

Peguei um dos jornais que eu assinava, não sei porque eu ainda pagava por isso sendo que quase nunca os lia. Comecei a passar pelas paginas aleatoriamente, até que uma notícia me chamou a atenção. Era sobre uma pequena cidade no interior do Estado, onde havia acontecido o assassinato de um grande dono de terras, plantador de fumo e soja, e, aparentemente, seu corpo havia sido colocado no lugar do espantalho no meio de suas terras.

Terminei de ler a matéria e senti como se uma lâmpada se acendesse em minha mente. Era disso que eu precisava! Inspiração. Uma cidade nova, ares novos, um lugar onde, provavelmente, ninguém me conheceria. Onde eu poderia andar livremente e onde havia ocorrido um crime criativo que podia me inspirar - eu sei o quão psicótico isso soava, mas...Não era sempre que na “cidade grande” ocorria algo como o descrito naquele veículo de comunicação.

Larguei a xícara dentro da pia e corri para meu computador. Compraria as passagens instantaneamente e partiria o mais breve possível para minha nova aventura. E só voltaria quando tivesse meu livro concluído.