Faces de Pedra escrita por Agatha Wright


Capítulo 1
1- O Primeiro Passo


Notas iniciais do capítulo

Vulcanos! Vulcanos everywhere! Botei muito amor e nerdisse nessa fanfic, espero que gostem.

Boa leitura!



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Agora era totalmente oficial: A vida dela era uma droga.

Seis anos de formação médica e mais quatro na Academia da Frota Estelar. Formação com honrarias em todas as suas graduações, recomendações dos melhores professores, um currículo acadêmico invejável e toda a expectativa de um futuro brilhante.

Tudo isso para ser jogada de posto em posto nos últimos dois anos, sempre com a desculpa de “comportamento divergente” e por “não se adaptar a vida no espaço”. Ela sabia que suas maneiras não eram muito agradáveis de se lidar, mas seu trabalho sempre foi entregue em absoluta perfeição. Ela era uma oficial médica da Frota, sabia trabalhar com toda e nenhuma tecnologia, sabia lidar com a anatomia de mais de uma centena de espécies, era genial com um tricoder ou um bisturi.

Mas era péssima com pessoas.

Ainda mais com o ego dessas pessoas.

Quando fora chamada juntamente com o oficial médico chefe à sala do capitão, ela sabia o que estava por vir.

Agora, duas semanas depois, ela estava fazendo a sua conhecida caminhada entre a baia de lançamento e os dormitórios da Frota em São Francisco. Talvez ela realmente não fosse feita para viver no espaço. Talvez a Terra seja o lugar dela mesmo.

Estava cogitando seriamente pedir um posto no Centro Médico da Frota, talvez ensinar algo na Academia ou abdicar de sua comissão e arranjar algo em algum hospital civil. Fora muito feliz durante a sua residência em Seattle, talvez ela poderia usar seus contatos lá para arranjar alguma vaga...

Com esses pensamentos pseudo-esperançosos, ela chegou no seu quarto e notou o PADD brilhando com uma nova mensagem. Ela inspirou surpresa ao ver o assunto.

“Tenente Dra. Robin C. Wolf – Nova designação”

Faziam menos de três dias que ela fora descomissionada da USS Altar, como ela poderia ter sido atribuída a outra nave em tão pouco tempo e sem precisar praticamente implorar por um novo posto após alguns meses de castigo na Terra? Era muito bom para ser verdade, havia algo de errado nessa história.

As suspeitas de Robin foram confirmadas assim que ela leu o nome da nave.

A partir da próxima semana, ela seria a mais nova oficial médica da nave T’Partha. Uma nave cuja tripulação era 100% vulcana e que estava sob comando de um dos capitães mais competente e também mais infame de toda a Frota. Capitão Sevel cujo desprezo por todas as espécies emocionais, principalmente humanos, era bem conhecida. Nenhum oficial não-vulcano fora aceito desde que Sevel assumiu o posto como capitão.

Essa transferência a fez se questionar se ela não estava realmente sendo castigada de alguma forma. A T’Partha se orgulhava de seu status como uma nave de tripulação completamente vulcana. Não havia nenhum motivo claro para fazer o capitão desistir de manter tal status.

Era um castigo! Com toda a certeza era uma tentativa de se livrar dela. Ela jamais fora retirada de um posto por alguma infração dos regulamentos, então não havia como expulsa-la da Frota. O modo mais fácil era fazê-la pedir para sair.

E pensar que ela tinha cogitado isso minutos atrás.

Mas agora uma centelha de indignação inflamou o orgulho da Dra. Wolf.

Ela iria aceitar esse posto! A T’Partha era uma das melhores naves de exploração científica da Frota, suas missões eram ótimas e eles obtinham resultados extraordinários. A próxima missão da tripulação levaria quase um ano para ser completa e era nas fronteiras com o quadrante beta, eles não poderiam chuta-la estando tão longe da Terra.

Além de que ser uma oficial médica em uma nave tripulada por uma única espécie fazia seu trabalho ser bem mais fácil.

A única dúvida que ficou pairando na sua mente era como o capitão havia aceitado uma humana em sua tripulação. Ele já fizera vários relatórios bastante ácidos e de certa forma bem preconceituosos quando se tratava de espécies “emocionais” em suas equipes de trabalho.

Mal sabia Robin que o mesmo questionamento estava sendo feito não muito longe dos alojamentos.

“Almirante, eu não vejo a lógica de alterar minha tripulação as vésperas de uma missão de tamanha importância.”

O Almirante Johanneson observou com um leve toque de diversão o capitão lutar para permanecer perfeitamente estoico frente ao fim de sua amada tripulação 100% vulcana. Ele sabia o quanto Sevel tinha uma aversão por seres humanos e essa sua atitude estava influenciando toda a sua tripulação. Isso ia de encontro com os mais primordiais princípios da Frota Estelar e cabia a ele evitar que tais atitudes se espalhem. A Dra. Wolf estava tendo problemas em se integrar com as tripulações que já trabalhou e ele sabia que a Frota estava prestes a perder uma das mais capacitadas médicas que já passaram pelos corredores da Academia. Integra-la na T’Partha em uma missão tão longa iria força-la a se adaptar em uma nave bastante incomum e em conjunto iria fazer a tripulação conviver um pouco com uma presença recorrente de uma outra espécie.

E obviamente, era uma pequena vingança pessoal após ler dúzias de relatórios ofensivos desde que Sevel se juntou a sua frota.

“A decisão está tomada, sua tripulação necessita de um oficial médico e a Tenente Wolf é a única oficial disponível que cumpre com as suas... altas exigências. Além de que é bom para o espírito da Frota Estelar que os nossos oficiais tenham a experiência de trabalhar com colegas de diferentes espécies.”

Johanneson poderia jurar que ele viu as orelhas do capitão assumirem um tom leve de verde.

“Como quiser, senhor. Mas devo alertar que não irei mudar meus padrões de excelência em prol das... particularidades de um oficial. Provavelmente a Dra. Wolf estará disponível nos próximos seis meses.”

O Almirante sorriu com o discurso bastante inflamado, para padrões vulcanos, do capitão.

“Isso apenas o tempo dirá. Dispensado, capitão.”

Sevel manteve sua expressão perfeitamente neutra, mesmo que tal assunto exigisse muita disciplina para evitar uma reação ilógica. Por dois anos ele tivera o contentamento de comandar uma tripulação de sua espécie, uma equipe perfeitamente lógica, eficiente e impecável. Sem surpresas desagradáveis, sem surtos emocionais, nada de egos para inflar e ânimos para manter. Vulcanos são educados desde a infância para respeitar autoridades, manter o foco no trabalho e se dedicar totalmente ao seu dever. O que os tornara em poucas missões, uma das mais eficientes, quiçá, a mais eficiente nave da Frota Estelar.

Tal equilíbrio e eficiência agora estava sob risco.

Ele abriu o PADD que o Almirante lhe havia entregado e leu novamente a ficha de sua nova tripulante.

Robin C. Wolf

A foto na ficha mostrava uma humana de traços bastante comuns de sua espécie. Ele ergueu uma sobrancelha de forma crítica ao notar o comprimento bastante não profissional de seu cabelo. As orientações para a fotografia da ficha deixavam bem claro que a expressão deveria ser neutra, mas ele podia reparar um sorriso e as sobrancelhas da mulher levemente arqueadas, uma óbvia expressão de excitação reprimida segundo suas análises.

Ele continuou lendo sua ficha e relutantemente teve que admitir que as qualificações da oficial eram impecáveis. Notas impecáveis em todos os testes durante todo o seu tempo na Academia e boas recomendações de seus professores. Mas havia um detalhe incomodo. Ela tinha uma grande quantidade de transferências durante seus dois anos como membro da Frota.

Era bastante claro para ele que o Almirante aproveitara uma brecha em sua tripulação para acrescentar um oficial não vulcano, mas ele não esperava que tal oficial fosse um causador de problemas. Todos os capitães das naves em que ela fora designada a dispensaram com justificativas bastante vagas o que tornava a situação mais perturbadora. Ele seria obrigado a acrescentar a tarefa de manter uma vigilância nela na sua rotina diária.

E nada era mais desconcertante que ser obrigado a alterar sua rotina.

 

***

Uma semana após receber sua nova designação, Robin estava segurando a alça de sua bolsa com seus pertences pessoais com uma força bastante desnecessária para evitar que suas mãos tremessem. Ela estava na baía de lançamento esperando o shuttle que a levaria para a Estação Espacial onde ela iria embarcar na nave que seria sua casa pelos próximos meses. Ela estava tão apreensiva que demorou para notar o grupo cada vez maior de seres de orelhas pontudas que se aglomerava na mesma estação que ela.

A tripulação da T’Partha havia recebido uma licença de uma semana após concluir sua última missão. A grande maioria havia decidido permanecer na Terra, então todos estavam lá para embarcar também.

E a notícia de que uma oficial humana iria se juntar a eles já havia se espalhado.

E todos os olhares estavam focados na tal oficial humana.

E Robin estava rezando para que um buraco surgisse nos seus pés para ela se enfiar dentro.

Era uma situação violentamente desconfortável ter dezenas de rostos completamente inexpressivos voltados para ela. Era como estar sendo observada por um grupo de estátuas.

“Olá, você é a Dra. Robin Wolf?”

A pobre garota deu um salto quando do nada uma das estátuas decidiu ganhar vida e falar com ela. Era um vulcano que aparentava ter a mesma idade dela e a fitava com grandes olhos cor de ardósia, algo que fugia do padrão castanho da maioria da sua espécie.

O rapaz a fitou estoicamente por alguns segundos até ela gaguejar uma resposta.

“S-sim sou eu. E você é...”

“Eu me chamo Varen.” Respondeu ele tranquilamente, parecendo ignorar o nervosismo óbvio da sua interlocutora.

“É um prazer conhece-lo, Varen.” Robin forçou um sorriso simpático após conseguir se tranquilizar um pouco. O jovem apenas inclinou a cabeça levemente em resposta.

Ela nunca fora uma pessoa tímida, tanto que seus comentários ácidos, sinceros e espontâneos eram uma das razões pelas quais ela não se encaixou em nenhum posto até agora. Sua atitude frente a esse rapaz e o grupo que a circundava era bastante estranha e ela não conseguia encontrar um motivo real para tamanho nervosismo.

A conversa com Varen infelizmente não pode continuar, pois ele foi chamado por um grupo de tripulantes e precisou se despedir rapidamente. Uma das pessoas desse grupo era uma moça pálida de cabelos bastante negros que parecia medir a médica dos pés à cabeça e apenas ergueu uma sobrancelha quando os olhares das duas se encontraram e voltou sua atenção para a conversa que estava tendo com seus colegas. Robin sentiu uma súbita antipatia pela garota.

Todo o momento de troca de olhares, cochichos e desconforto fora finalmente interrompido quando o sinal para o embarque fora emitido. Robin colocou seu saco nas costas e encarou o horizonte decidida a ignorar todos a sua volta.

Ela tentou não pensar em como seria sua recepção na T’Partha após essa pequena prévia de como seriam seus novos colegas. Ela passou a última semana com o nariz enfiado em livros sobre a anatomia e fisiologia vulcana e em todos os esquemas na nave para garantir que ela não estaria nem um pouco atrás do resto da equipe médica. Se vulcanos eram, segundo o que era dito por aí, uma espécie puramente lógica e prática, ela não queria deixar margem para que pudessem criticar seu trabalho e com certeza ela não teria que se preocupar em reclamações sobre sua personalidade se suas tarefas estivessem bem feitas.

Era necessário manter alguma esperança de que tudo isso não era uma grande e elaborada tentativa de fazê-la desistir da Frota Estelar. E caso fosse, ela não podia se deixar abater por um bando de duendes pontudos estoicos que provavelmente não iriam simpatizar com ela.

Com esse pensamento, Robin Coral Wolf deu o primeiro passo em direção a missão que mudaria sua vida.

Para todo sempre.


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Notas finais do capítulo

Primeiro capitulo feito. A clássica apresentação dos personagens.

Estou montando as fichas dos nossos amados OCs no decorrer em que eles serão apresentados. Vocês podem ver as fichas da Robin, Sevel e Varen no link abaixo:

https://www.pinterest.com/thayfortes/fanfiction-faces-de-pedra/