Harry abriu os olhos assustado e levantou, sobressaltado, da cama que a Sra. Weasley havia preparado para ele, no quarto de Rony.

Na ocasião, Harry tinha tido outro sonho com Voldemort, mesmo sabendo que seu inimigo tinha partido havia dias, levando com ele Fred Weasley, Ninfadora Tonks, Remo Lupin, Olho Tonto Moody, entre outras pessoas queridas de Harry.

“O fato de ter um inimigo tentando te assassinar por sete anos não é fácil de esquecer” pensou Harry, buscando um consolo para o fato de que não conseguia ter uma noite tranquila de sono, mesmo sabendo que não tinha mais motivos para temer.

Quando percebeu que dormir novamente seria um esforço inútil, levantou-se da cama e desceu as escadas para buscar um copo de água.

Na cozinha, Harry encontrou Gina Weasley, a irmã mais nova de Rony, que outrora fora sua namorada. A questão era que Harry havia evitado a garota por dias, temendo que ela o culpasse pela morte de Fred.

— Perdendo o sono outra vez, Harry? – perguntou Gina.

— Acho que vou demorar um tempo para voltar a dormir tranquilamente – disse Harry, usando do tom mais descontraído que conseguiu encontrar.

— Compreensível. Imagino como deve estar sendo difícil para Jorge... Sinto muita falta de Fred, sabe? Os gêmeos sempre me deram muito mais atenção do que qualquer outro dos meus irmãos...

— Sinto muito pela perda, Gina. Todos sentimos muita falta de Fred.

— Para Jorge deve estar sendo mais difícil do que para todos, afinal de contas, os dois faziam tudo juntos. Ouvi dizer que Lino Jordan irá ajudá-lo com a loja de logros... Acho que é até saudável que Jorge não fique muito tempo sozinho.

Harry não sabia o que responder. O que se pode dizer a uma garota que perdeu um de seus irmãos? Diante da ausência de palavras, Harry limitou-se a acenar com a cabeça e encher um copo com água utilizando sua varinha.

— Ter permissão para usar magia fora de Hogwarts deve ser a melhor coisa do mundo – disse Gina.

— É mesmo. A primeira coisa que fiz ao acordar no dia do meu aniversário de dezessete anos foi usar magia para tudo, até mesmo para pegar meus óculos e amarrar os sapatos... – acrescentou Harry, apressando-se em sair do assunto “Fred”.

Gina deu um sorriso, mas manteve o olhar distante. Então, virou-se para Harry e disse:

— Iremos voltar?

O garoto claramente não esperava esta pergunta, pois quase cuspiu toda a água que tinha acabado de colocar na boca, e apoiou-se no balcão. Gina, que não falava realmente sobre os dois, e sim sobre a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, apressou-se em alterar a frase já dita.

— Quero dizer, para Hogwarts, sabe? Arrumar toda a bagunça que foi feita por lá...

Isto porque, nos dias que se sucederam à batalha, todos os alunos haviam saído da escola para ver os parentes, de modo que todos os exames e aulas pendentes foram cancelados, até para que a escola pudesse ser reconstruída.

— Eu pretendo voltar. Preciso auxiliar a Professora McGonagall na reconstrução do lugar, uma vez que ela, como atual diretora, certamente terá diversos problemas para lidar.

— Eu pretendo voltar também. – acrescentou Gina, afastando-se do balcão - Agora vou me deitar novamente. Permanecer de pé não irá me ajudar em nada. Boa noite, Harry.

— Boa noite, Gina.

Harry observou-a subir as escadas. Tinha estado no quarto da garota havia aproximadamente um ano, no dia de seu aniversário de 17 anos, quando Gina lhe deu um beijo de presente.

Quando Gina chegou ao topo da escada, ela parou e olhou pra trás. Abriu a boca para começar a falar alguma coisa, mas claramente desistiu, pois tornou a dar as costas para Harry e entrou em seu quarto.

Harry saiu d’A Toca e foi caminhando pelo jardim que, na ocasião, estava cheio de gnomos correndo, e, de vez em quando, trombando uns com os outros.

O sol começou a nascer quando Harry decidiu que deveria considerar morar na antiga casa dos Black, junto com Monstro, o elfo doméstico que herdara do padrinho, Sirius.

Ocorre que Harry esteve evitando pensar em morar na casa de seu padrinho, uma vez que lá estava o quadro falante da Sra. Black, que só sabia falar grosserias, e diversas cabeças dos elfos domésticos que não apresentavam mais utilidade para os Black. Mas Harry não poderia viver na casa dos Weasley para sempre.

De qualquer forma, o sol não acompanhava os pensamentos de Harry, de modo que, quando o garoto finalmente colocou a mente de volta no lugar, o sol já estava no alto, o que deveria significar que eram aproximadamente 8h da manhã.

A Sra. Weasley acordou antes que todos, e começou a preparar o café da manhã da família. O Sr. Weasley foi o próximo a acordar, seguido por Rony e Hermione, que, misteriosamente, acordaram exatamente no mesmo horário, e desceram as escadas juntos.

A Sra. Weasley tinha realmente aprovado o namoro dos dois, uma vez que a vida toda tinha gostado de Hermione e sabia que a garota não levaria o filho para longe dela.

Para Harry, entretanto, o namoro de Hermione e Rony não era algo tão agradável, pois, o fato de os amigos estarem sempre de mãos dadas e constantemente se beijarem – apesar de sempre tomarem o cuidado de dar atenção à Harry para que este não sentisse ciúmes – fazia Harry se sentir só.

Harry não podia deixar de pensar que, uma vez que a Sra. Weasley aprovara o relacionamento dos amigos, esta não faria qualquer objeção ao relacionamento de Harry e Gina.

Os devaneios de Harry foram interrompidos pelo chamado da Sra. Weasley, intimando o garoto à comparecer na mesa do café.