The Game of Life escrita por anabfernandes8


Capítulo 8
Capítulo 7 - O dia livre e o ataque da Aliança


Notas iniciais do capítulo

Oi mores, tudo bem? Estou de volta com mais um capítulo novinho em folha. Críticas, sugestões, elogios, estou aceitando todos. Espero que gostem do novo capítulo. Nos vemos nas notas finais. :*



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Abri os olhos de repente, me perguntando em que momento havia caído no sono. Sentei-me e olhei em volta. Estava sozinha, mas estava ouvindo um barulho de água corrente. O quarto estava claro, o que me permitiu ver tudo com uma precisão que estava inexistente no dia anterior. Era todo pintado de preto, com os mesmos móveis dos meus. O barulho cessou e meu coração gelou. A porta do banheiro abriu e ela saiu com uma roupa normal demais para combinar com sua expressão. Uma calça branca de pano leve e uma camisa laranja de manga curta.

— Você acordou. Pode tomar banho se quiser. Tenho duas toalhas e aposto que minhas roupas servem em você.

— Acho melhor tomar banho no meu próprio quarto. - Levantei-me, evitando olhar sua expressão sombria. Não sei o que era pior, ficar de frente pra ela e ver a sede de sangue em seus olhos ou ficar de costas e correr o risco de ser morto de repente. - O que temos para hoje?

— Dia livre. Nenhuma atividade programada então podemos fazer o que quisermos.

— Parece ótimo. Então eu vou…

— Vou com você. Vamos para o café da manhã e depois passamos no seu quarto.

— T-tudo bem. - Tudo bem é uma ova. Eu não queria sua companhia macabra, mas percebi que era uma afirmação e não uma pergunta. É, parece que eu não tinha escolha quanto a isso.

Chegamos ao refeitório, andando o caminho todo em silêncio. Eu estava começando a me acostumar com os corredores deste local. Colocamos nossa comida e ela foi sentar-se ao lado de cabelos vermelhos. Revirei os olhos internamente, sabendo que daquela vez não conseguiria me esquivar dele.

— Bom dia, Temari. - Cabelos vermelhos abriu um sorriso preguiçoso, e cabelos cor de areia ignorou, como se não fosse com ela que ele estivesse falando. - Tudo bem, dia ruim. Bom dia, cunhada.

— Cunhada? - A mulher ao meu lado olhou-me de um jeito curioso, e me senti irritada. Kami, logo de manhã isso.

— Eu já disse, não sou sua cunhada.

— Ela era namorada do Kankuro. - Revirei os olhos, agora abertamente, perante aquela fala dele. Que pessoa mais estúpida. Aquilo não era possível. - Falando nisso, ele não para de olhar para cá. Deve estar achando que estamos falando mal dele para você. Mas me diga, há algo que você queira saber sobre ele?

— Olha, eu não… - Comecei, pensando na maneira mais fácil de fazer esse idiota cuidar da sua própria vida.

— Gaara… Por que não cala a boca? - Cabelos cor bege falou em um tom de voz baixo, assustador. Fiquei paralisada, e com certeza cabelos ruivos também, porque ele parou de falar na hora.

— Desculpe Temari. - Haha, quem é que está rindo agora idiota? Comi o resto da minha comida o mais rápido que consegui e me levantei. A “loira” me olhou como se eu tivesse acabado de ofendê-la.

— Eu… Hum, eu preciso ir para o meu quarto, tenho algumas coisas importantes para fazer. Não precisa me acompanhar. - Disse, quando ela fez menção em levantar-se. Tudo o que eu menos precisava no momento era dessa louca psicopata e estranha me seguindo para todos os cantos. - Nos vemos por aí. - E sai, sem olhar para trás. Cheguei rapidamente em meu quarto, entrei e fechei a porta, encostando minhas costas na madeira gelada. Caramba. O dia mal começara e já estava sendo exaustivo.

Suspirei. Hoje era dia livre. O que eu deveria supostamente fazer em um dia livre? Me divertir? Treinar? Dormir? Comer? O que diabos era um dia livre afinal? Encaminhei-me para o armário e o abri, esperando que o universo me desse alguma ideia. E foi justamente o que aconteceu. Dentro, havia um biquíni e um vestido. Piscina? Sério isso? Tinha uma piscina nas dependência de um lugar que treinava ninjas para se matarem em um campo de batalha? Ok, estranho. Mas tudo bem. O The Game era estranho.

Troquei de roupa ali mesmo, sem me importar em ir ao banheiro. Caramba, eu estava no meu quarto e ninguém poderia me observar ali, certo? Já vestida com meu traje e com minha animação habitual, encaminhei-me para o corredor. Agora o dilema era, onde era a piscina? Poderia ficar rodando durante tempo a esmo, ou poderia dar um jeito de perguntar a alguém. Meu primeiro pensamento foi ir ao refeitório. Com sorte, todos estavam lá. Na verdade, não precisava ser todos. Só precisava ver uma pessoa, seja ela quem fosse. Não fazia muito tempo que eu tinha ido ao quarto. As pessoas não sumiram de repente, creio eu.

Ao chegar lá, fiquei surpresa ao ver que apenas cabelos marrons versão feminina estava lá, com seus muitos pratos, comendo loucamente como se não houvesse amanhã. Ela nem notou minha presença quando cheguei perto, tão concentrada estava, por isso tive que tocá-la de leve no ombro. Ela se virou para mim com um ar culpado, e a encarei com uma expressão pacífica.

— Ah, oi Ino, é você. Eu fiquei com medo de que fosse… Ah, não importa. Sente-se. Aceita comida? - Balancei a cabeça, negando, e ela abriu um sorriso simpático. Não me sentei também, não tinha necessidade já que não pretendia ficar muito tempo ali com ela.

— Eu gostaria de saber se você sabe onde fica a piscina. - Perguntei no tom mais educado que consegui, o que até mesmo para mim soou meio rude.

— As piscinas, você quis dizer. Sei sim, ficam lá em cima, meio que na cobertura do setor três. Se você quiser eu posso levá-la lá. Eu só preciso terminar… - E fez menção à comida.

— Tudo bem. Fique a vontade.

Levou muito tempo para ela terminar sua refeição, tanto tempo que eu já estava começando a questionar se ficar em pé tinha sido realmente a melhor opção. Então finalmente ela se levantou, e acariciou sua barriga, como se houvesse um bebê lá dentro. Talvez tivesse mesmo. Por que do tanto que ela comia, só podia estar comendo por duas pessoas.

— Tudo bem, tudo bem. Vamos lá, siga-me. - Ela começou a andar para fora do refeitório e imediatamente fui atrás dela. - Bem, eu não sei se você sabe, mas a sede do The Game é dividida em quatro setores. O primeiro, que é onde estamos, abrange nossa alimentação e nossas acomodações. O segundo setor é o setor administrativo, e eu acredito que esse eu não precise explicar a você, certo? Lá estão localizados os organizadores das lutas e alguns membros do governo. O setor três é a área de recreação, ele não é muito grande em si, mas você verá quando chegarmos lá. No setor quatro fica a ala médica. Eu acredito que você já deva ter passado por lá mesmo sem ter reparado que ficava em um setor diferente. O prédio é regido e habitado inteiro pelo clã Haruno, e eu acho que isso é bem óbvio já que eles são os melhores na saúde, certo? - Ela fez algumas perguntas com respostas provavelmente bem óbvias, mas para alguém que mora no Mercado Inferior e que tinha um contato mínimo com a civilização, acho que não era tão óbvio assim. Mas resolvi não questionar, ela poderia levar isso para o pessoal, e começar a achar que eu estava interessada em algo como isso. Na verdade eu só queria relaxar e curtir um pouco a piscina, além de sair dessa aura estressante que me rodeava desde que cheguei aqui.

Continuei seguindo-a, enquanto ela falava mil e uma coisas que eu não fazia a mínima noção do que era, por isso fiz o máximo para ignorar minha compreensão sobre as palavras que saíam de sua boca. Caminhamos uns bons dez minutos, ela não parando de falar um momento sequer, e logo chegamos em uma cobertura com uma vista sensacional. Havia algumas piscinas, pelo que pude contar umas quatro, de tamanhos e formas diferentes. Uau, isso era tudo o que eu precisava no momento. Ignorei cabelos castanhos e seu blá blá, e corri para uma cadeira banhada de sol. Tirei meu vestido e deitei-me, disposta a tirar ali toda a tensão dos últimos dias. Eu iria conseguir. Ia acabar aquele dia no estado mais zen possível.

***

O dia acabou passando extremamente rápido. Eu pude descansar e renovar minhas energias, apesar de toda a faladeira de cabelos castanhos versão feminina. Sentia-me pronta para recomeçar e enfrentar aquilo de cabeça erguida. Perder ou ganhar, bem, isso eu poderia resolver depois. No momento eu só conseguia pensar em como me sentia bem comigo mesma.

Como já estava de noite, fomos para a sala de jantar com a roupa de banho mesmo, apenas vesti as roupas que estava usando por cima, não me incomodando de ir ao quarto trocar só porque ia jantar com outras oito pessoas que provavelmente já me viram em estados piores.

Desta vez, porém, quando chegamos lá, Hio-Sama estava sentado em uma mesa do lado, com alguns instrutores e seguranças. Não parei para cumprimentá-lo, como fez cabelos castanhos versão feminina, porque claramente não sou obrigada. Ele praticamente acabou comigo e acha que sou obrigada a agir como se nada tivesse acontecido? Não mesmo!

Fui direto para a mesa de comida, e comecei a fazer o meu prato. Todos os outros participantes já estavam sentados, alguns conversando animadamente e outros apenas comendo silenciosamente. Quando virei-me para ir até a mesa, o chão começou a tremer. E quando eu digo tremer, eu realmente quero dizer que começou a tremer.

— O que está acontecendo? - A comedora compulsiva se agarrou em meu braço, fazendo-me quase deixar minha comida cair. Quase.

Coloquei o prato em cima da mesa de comida, sem saber também o que estava acontecendo. De repente, o tremor parou e então tudo silenciou-se. Ninguém se atreveu a dizer nada, e todos se olharam em busca de respostas. E então, quando todos pareciam estar começando a se acalmar, gritos agonizantes foram escutados do lado de fora, no caso, no jardim.

— SENHOR, É UM ATAQUE! - Alguém entrou gritando na sala de jantar, indo diretamente para a mesa em que o Hio-Sama estava. Espera, um… Um ataque? O que era esse ataque? Por quem era comandado? E por que diabos não fomos avisados que poderíamos sofrer um ataque?

— Atenção, todos! - E então ele, Hio-Sama,  se levantou, e todos olharam em sua direção. - Nós estamos sendo atacados. Peço a todos que mantenham a calma. Nós vamos encaminhá-los para um local seguro, não se preocupem. Sem tumulto, por favor, peço que todos sigam Kakashi. - E apontou para cabelos cinzas. Ele então foi na frente, com alguns seguranças, no caso guardas, e todos os outros que estavam na mesa com ele. Em seguida, cabelos cinzas foi atrás deles, e todos começaram a se levantar e a seguí-los.

Ficamos por último eu, Nara, cabelos castanhos feminina e cabelos loiros masculino. Os garotos me olharam assustados e dei de ombros. Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu nem sabia que era possível sermos atacados.

Continuamos prosseguindo lentamente por um caminho até então desconhecido, até que eu comecei a sentir aquele incômodo na cabeça novamente. Não, Kami, isso agora não. Comecei a caminhar mais lentamente do que estava instantes antes, como se isso fosse possível, até que a dor começou a ficar insuportável. Não, eu não conseguiria ir por esse caminho.

Por esse motivo, eu me virei e reuni todas as minhas forças para correr para o lado contrário ao que todos estavam indo. Alguém pareceu perceber que algo estava errado, acho que havia sido cabelos castanhos comedora louca, e então ouvi sua voz em meio ao caos que estava minha cabeça.

— INO!

E então uma segunda voz, um segundo depois, ecoou a mesma palavra.

— INO!!! - Era Hio-Sama. Ele nunca me chamava assim, então alguma coisa estava errada. Muito errada. Mas no momento não me importei. O único objetivo no momento era me livrar dessa dor de cabeça assustadora para que as lembranças não pudessem vir. - NÃO! NÃO VÁ POR...

Corri mais rápido e então as vozes ficaram distantes demais para serem ouvidas. Diante de toda a euforia, eu não conseguia prestar atenção em nenhum dos corredores, ou seja, não sabia para onde estava indo, só sabia que precisava me livrar daquela dor. Corri por mais alguns minutos, até que sai do prédio.

Parei, ofegante, olhando ao redor. Por Kami, onde eu estava? E o que era todo esse verde e plantas e árvores? Eu não podia estar no… Não. Kami, isso não estava acontecendo. Eu saí correndo pro jardim? Qual era o meu maldito problema? Eu saí correndo justamente pro local onde estava acontecendo o ataque? Virei-me para voltar ao conforto e segurança das paredes quando uma mão segurou meu braço. Abri a boca para dar um grito de surpresa e de susto, quando outra mão veio diretamente para calar minhas palavras.

— Nenhuma palavra e nada vai acontecer com você. Entendeu? - Era uma voz masculina bem grossa e gelei com a frieza de suas palavras. Como minha boca estava tampada, assenti freneticamente. Ele me puxou abruptamente, forçando-me a andar em uma direção desconhecida, ainda segurando uma de minhas mãos, mas livrando minha boca. Cerrei os lábios com força. Tudo bem, Ino, tudo bem. Você está bem. É só ficar calada que nada vai acontecer com você.

Andamos mais um pouco e olhei ao redor para constatar que ainda estávamos no jardim. O homem parou, então, perto de uma árvore, onde mais três outras pessoas estavam. Não, Kami, não. Que tipo de ataque é esse? E por que diabos não fomos avisados que isso ia acontecer? E onde eu fui me meter?

— Mestre, eu encontrei essa garota do lado de fora do portão. - O que parecia ser o chefe de todos os eles, um cara mais alto que estava com a face inteira coberta, mostrando apenas os olhos, suspirou, parecendo frustrado. - O que fazemos com ela?

— Deixe-a aqui comigo, eu vou cuidar dela. Eu preciso que vocês três estejam no perímetro norte, eu não sei o que está acontecendo lá. - Os três homens olharam-se, sendo que todos eles estavam com apenas os olhos de fora, assim como seu mestre. Não sei por que eles hesitaram, mas isso pareceu deixar o mais alto ainda mais impaciente. - Vocês não me ouviram? Vão. Agora.

Eles desapareceram rapidamente, sem mais nenhuma troca de olhares ou hesitação. Relaxei um pouco, mas não muito. Era apenas um deles. Talvez eu pudesse atacá-lo e correr? Eu sei, pensamento idiota. Mas não custava nada tentar, certo? E o que ele quis dizer com eu vou cuidar dela? Quão arrogante! Quatro deles eu não daria conta nem nos meus sonhos, mas um só? Talvez eu tivesse uma chance.

Tudo a nossa volta ficou em silêncio e olhei ao redor, analisando o local. Eu precisava de um lugar pra correr quando o atacasse. Isso tinha que ser bem rápido. Se eu errasse por um milímetro que seja, eu estava ferrada. Virei-me para ele, pronta para desferir o meu golpe, quando fui surpreendida com o contato entre minhas costas e a madeira da árvore. Aconteceu tão rápido e a próxima coisa que senti foi lábios pressionados contra os meus. Meus olhos arregalados em choque enquanto meu cérebro tentava registrar o que estava acontecendo. Braços se fecharam como ferro ao meu redor e então senti algo macio acariciando meu lábio, provavelmente o toque de língua. O que estava acontecendo? Que diabos é isso? E como de repente ele estava sem a maldita máscara?

Voltei aos meus sentidos e tentei empurrá-lo com toda a força que possuía. Ele não se moveu nenhum músculo, como se uma formiga estivesse tentando empurrar alguém daquele tamanho. O que aconteceu foi que seus lábios deixaram os meus e ele puxou-me para mais perto, enterrando meu rosto em seu pescoço. Eu odiava admitir, mas ele cheirava bem. O que eu estou fazendo? Ele é o inimigo aqui!!! Volte aos seus sentidos, Ino, você está ficando louca!!!

Ele havia tirado a máscara para me beijar e eu não havia conseguido ver o seu rosto, já que estava envolvida demais no que havia acabado de acontecer. Quão estúpida eu sou?

— Sua sorte é que Sasori é um subordinado muito fiel. Qualquer outra pessoa nem mesmo a teria trazido, você estaria morta antes de poder encontrar sua voz para gritar. De qualquer forma, o que você estava pensando vindo aqui fora? - Sua voz me pegou de surpresa, assim como sua fala. Não era para ele falar assim. Não era para ele ser tão gentil e cuidadoso. Não era para ele agir como se eu tivesse que me sentir agradecida a ele, de qualquer forma. Nem era para ele ter me beijado.

— Quem é você? - Tentei me livrar de seu aperto novamente, sem sucesso. Ele apenas me afastou o suficiente para poder olhar em meus olhos.

— Ino, eu preciso que você saia daqui. Assim que eu te soltar, eu quero que você corra e não olhe para trás. O portão do setor 1 é logo ali, e então corra em direção ao setor 4, a ala médica. Provavelmente todos estão lá, ou na sala do Hio-Sama. Encontre alguém e fique protegida. Você me entendeu? - Ele olhou no fundo dos meus olhos, esperando um sinal afirmativo. Fiquei parada, olhando-o de volta, sem saber se devia ou não dar uma resposta a ele. Eu nem conhecia o cara. Sua voz soava meio familiar, apesar de eu não me lembrar onde já a tinha ouvido, mas com a máscara de volta ao lugar e minha total desatenção aos fatos, não havia como eu saber quem ele era. - Tudo bem. Vou presumir que você entendeu. Uma última coisa: se alguém perguntar o que aconteceu, você vai dizer que se perdeu entre os corredores. Eu não sei como você veio aqui, mas ninguém, repito ninguém, pode saber que você me encontrou e aos meus homens. Entendeu? - Dessa vez ele não esperou minha resposta e logo me soltou.

Assim que percebi que estava livre, virei-me e corri o mais rápido que pude em direção ao portão pelo qual havia sido. Apesar da vontade, não olhei para trás. Em nenhum momento.

E então havia um fato que eu não havia percebido na hora, mas que era tão estranho como tudo que havia acontecido ali. Como ele sabia meu nome?

***

Nunca corri tão rápido. Quando parei, estava em frente à ala médica. Meu coração batia acelerado e eu estava muito ofegante. Coloquei a mão nos joelhos, me dando um momento para recuperar meu fôlego o suficiente pra procurar alguém. Quando me levantei, deparei-me com as luzes todas apagadas e as portas fechadas. Eu não posso acreditar que isso está acontecendo... É sério?

Quando fui virar para ir para outro lugar, provavelmente o meu dormitório, encontrei Hio-Sama de braços cruzados atrás de mim. Tomei um susto, mas fiz o máximo para esconder minha reação. Eu o odiava e ele não vai ter nada de mim. Eu não vou deixar ele pensar que eu estava com medo dele. Se isso acontecesse, eu sabia que ele usaria isso para me colocar pra baixo. Isso, e sua autoridade.

— Onde você estava? - Sua voz estava equilibrada, nenhum pouco alterada, nem raivosa, ou nada do tipo. Se eu não tivesse ouvido ele gritando de forma tão estranha quando virei e saí correndo, eu não acreditaria que ele estava realmente preocupado. Ah, é, se eu morrer sem ser nos jogos, a audiência será ruim. De forma alguma ele estava preocupado com o meu bem estar e sim no dinheiro que ele estaria deixando de ganhar.

— Eu me perdi… - Fiz minha maior cara de inocência e esperei que ele acreditasse. Bem, eu nunca havia precisado mentir, então isso era um pouco complicado para mim.

— Você se perdeu? Você está aqui há quase uma semana e vem me dizer que você se perdeu? Você acha que vai me enganar com essa desculpa idiota? - Uma parte da minha mente estava pensando em desistir de mentir e abrir o jogo ali mesmo, mas depois dessas palavras dele, resolvi que não, ele não precisava saber a verdade. Eu não ia dizer a verdade a alguém tão asqueroso.

— Eu fui arrancada da minha família e do conforto da minha casa e posta num lugar onde eu praticamente sei a data da minha morte. Me perdoe se eu estou sendo rude, mas todo esse trauma pode ter bloqueado a parte da minha mente que arquiva memórias. Você pode me culpar? Não, você não pode, porque a culpa disso tudo é provavelmente toda sua. Então não venha me culpar por coisas tão estúpidas.

— Yamanaka, eu só estou tentando entender aonde você estava. Nós estamos no meio de um ataque da Aliança do Norte. Eu sei que provavelmente isso não significa nada pra você, mas isso significa muito pra mim. Eu sou o dono daqui e eu cuido das coisas, o que significa que se você está aqui, então eu estou cuidando de você. E me perdoe se estou sendo rude, mas eu sei que você não se perdeu. Então, eu pergunto novamente, onde você estava?

Pense, Ino, pense. Você não vai lhe dizer a verdade. Bem… Posso dizer apenas parte da verdade. Isso! Você não vai me pegar de novo no papo de punição por coisas que eu nem ao menos me lembro, idiota!

— Tudo bem, tudo bem, você venceu. - Fingi suspirar de frustração e ele adquiriu um ar de superioridade. Às vezes as pessoas são pegas pelas próprias armadilhas e nem percebem. - Quando você começou a levar todo mundo pra algum lugar, eu comecei a sentir uma coisa ruim. Eu não sei dizer o que é, eu sinceramente não sei dizer, mas eu não podia mais continuar. Tudo o que eu tinha na cabeça era afastar essa dor e correr para o mais longe possível dali. Então eu saí correndo para o outro lado. Eu corri descontroladamente sem destino e quando dei por mim, já estava do lado de fora no jardim. Eu ouvi umas pessoas conversando e corri para me esconder atrás de uma árvore que tem ali. Não me pergunte quem eram as pessoas porque eu não parei para reparar nelas, eu apenas ouvi algumas vozes e também não sei sobre o que eles estavam conversando. Logo que eles se afastaram um pouco, eu saí correndo de volta para o prédio. Eu acho que algum deles me ouviu, porque ouvi alguns gritos, mas a essa altura eu já estava distante e correndo com toda a minha velocidade. Eu não sei se eles me seguiram, mas o mais provável é que não, já que não é tão seguro para eles aqui dentro, eu presumo.

— Que tipo de coisa ruim você sentiu? - De toda a história que eu contei, ele só focou nessa parte. Ótimo.

— Eu não sei, ok. Talvez você devesse me mandar para o médico para fazer novos exames. Provavelmente eu sou anormal.

— As lutas estão tão próximas… Eu não sei se é bom você passar tanto tempo na enfermaria. As pessoas veem coisas e então elas supõem coisas baseadas nas coisas que elas viram. Eu não quero que as pessoas pensem que você está com defeito ou algo assim. - disse ele, coçando o queixo com um semblante pensativo.

Com defeito? Ele está dizendo que eu sou um maldito robô? Certo. Ele é o Hio-Sama. O comandante do The Game, a competição que mata pessoas por coisas como “honra” e “tradição”. Todos os anos. É claro que todos somos robôs aos seus olhos. Se não, como ele conseguiria deitar a cabeça no travesseiro todas as noites com um pingo de tranquilidade?

— Eu estou cansada. - disse eu, realmente cansada de toda essa conversa que não estava me levando a lugar nenhum. Percebi que minha mentira sobre como havia fugido se perdeu no mar de confusão que era o assunto "minha anormalidade". Naquele momento. - Será que posso ir para o meu quarto agora?

— Claro, Yamanaka. Eu lhe acompanho. Não queremos que você se perca em um lugar tão grande.

Revirei os olhos, sem a mínima paciência para argumentar com alguém que tinha disposição zero para ouvir. Tudo bem, vamos lá. Direto para o quarto. Sem que eu me perca, palavras dele, não minhas.

Saí na frente, fazendo questão de deixar bem claro que eu sabia exatamente o caminho até o meu quarto. Ele já havia desmascarado a minha mentira mesmo, então não fazia sentido me passar.

Caminhamos em silêncio durante todo o trajeto, nenhum dos dois se esforçando nenhum pouco para manter um mínimo de comunicação um com o outro. Chegamos rapidamente nos dormitórios e abri logo a porta, com vontade de entrar e dormir.

— Está entregue. Pelo que parece você conhece muito bem o caminho, a possibilidade de se perder aqui é… - Ele começou a falar, irônico, mas o cortei antes que isso pudesse ir longe demais.

— Boa noite. - E fechei a porta atrás de mim, não dando nenhum espaço para ele terminar sua fala. Respeito com os “superiores”? Que se dane. Vou morrer de qualquer forma.

Fui direto para o banheiro, disposta a limpar todos os acontecimentos desse dia terrível. Depois da tarde maravilhosa que tive, eu achei que o dia terminaria bom. Doce ilusão. O ataque, a dor, o beijo… Não, Ino. Não. Esqueça esse maldito beijo! Eu me recusei a pensar se tinha sido bom ou ruim. Apenas foi. Apenas.

Tomei uma ducha rápida e vesti roupa íntima, não me incomodando em vestir o resto da roupa. Bem, os planos era de que apenas eu ficaria neste quarto, então para quê se preocupar com vestimenta?

Deitei e me enrolei nos lençóis, ficando apenas com a cabeça de fora. Respirei fundo, tentando me preparar para o fluxo de imagens que eu sabia que viria no instante em que fechasse meus olhos. Como eu previra, não me decepcionei quando fui teletransportada por um caminho pintado de sangue e dor.

— Ei, o que você está olhando? - O garoto de cabelos marrons rosnou, literalmente rosnou, seu rosto agressivo e assustador.

— Uh, desculpe. Eu não tinha a intenção de ofendê-lo. - Abri um sorriso simpático, esticando meu corpo para falar melhor com ele. - Só achei você bonito.

— Hum. - Resmungou, tomando todo o seu copo de suco cheio em um único gole. Uau. - Eu sinto lhe informar, mas qualquer tipo de relação amorosa é estritamente proibida no The Game, então não perca seu tempo.

— Quem aqui falou de relação amorosa? Eu só disse que você era bonito. 

Ele terminou o resto de seu café da manhã e levantou-se da mesa, estampando um sorriso de canto quase imperceptível. Quase.

— Boa, Yamanaka, com certeza essa foi uma boa jogada. - Ele foi saindo e eu me levantei de repente, confusa com sua fala.

— Ei! - Ele parou e virou a cabeça para o lado, mostrando que estava prestando atenção, mas não olhando diretamente para mim. - Como você sabe meu nome?

 — Eu só presto atenção. - Deu de ombros, como se o fato fosse insignificante, deu um aceno, ainda de costas e saiu.

Observei suas costas até ele sair pela porta do refeitório. O que eles quis dizer com só presta atenção? Eu também presto atenção nas coisas e mesmo assim…

Bem, eu só tinha certeza de duas coisas ali. Umas delas era que realmente, não importa o quão rude ele fosse, definitivamente ele era um cara bonito. E a outra? Ah, eu estava em desvantagem ali, já que não fazia a mínima ideia de qual era o seu nome.


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Notas finais do capítulo

E então, amores, este é o sétimo capítulo. Espero que tenham gostado e espero que estejam gostando do desenrolar da história. Dois beijos a todos que me acompanham e que estão comigo desde o começo e até o próximo mês! :*



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