The Game of Life escrita por anabfernandes8


Capítulo 19
Capítulo 18 - O encontro fracassado e um visitante surpresa


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Voltei, sim, como combinado um mês depois. Todo final de mês eu venho sim postar o capítulo, sem falta! Ou no começo às vezes né, porque tem mês que é complicado. Enfim, capítulo novo fresquinho para quem ainda me acompanha nessa saga. Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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— Vai ficar tudo bem, aliada. Você pode confiar em mim. Tudo bem? Vou conseguir ganhar o bônus para você. Por isso, não se preocupe. E também, esse babaca é peso leve. Você vai derrotá-lo em um piscar de olhos. Apesar de que… Não importa. Eu tenho fé que… - O Sabaku não para de falar. Minha testa está encostada em meus braços, que estão encostados na mesa. Estou de cabeça baixa, tampando meu rosto, enquanto encaro o chão. É a minha luta e eu não posso acreditar que ela chegou tão rápido. Meu coração está batendo de uma forma irregular, mas não completamente acelerado. Estou ouvindo a voz do ruivo ao meu lado e fecho os olhos, esperando me desligar desse mundo. No momento, eu só quero sumir.

— Cala a boca, Gaara. - A irmã do Sabaku chama a atenção dele, sua voz agressiva e instantaneamente ele para de falar. Comprimo ainda mais meus olhos, de forma a evitar as lágrimas. Eu não vou chorar. Eu não vou chorar. Eu não posso ser afetada por isso. Tenho coisas a fazer e organizar e preciso me recompor agora se quiser que elas sejam bem feitas. Odeio o fato de que minha luta é amanhã, mas não perco a pequena ajuda do destino que vem com esse fato. Por causa disso, tenho motivos para ir à sala do Hio-Sama e implorar a ele que me deixe sair pela última vez, que preciso visitar minha família pela última vez antes de continuar o meu caminho direto para a morte.

Um plano se constrói em minha mente. Ele já não se encontra mais na sala, nos deixando sozinhos no recinto. Eu posso fazer isso. Posso ir até ele e fazer todo um teatro para tentar. É um fato trágico, mas é o que tenho e preciso trabalhar nisso. Levanto a cabeça, uma meta a ser cumprida piscando sem parar em minha mente. Levanto e saio do recinto, sem me dirigir a qualquer um dos irmãos Sabaku. Tem algo que preciso fazer sozinha.

Apesar de só ter ido ali uma vez, me lembro exatamente onde fica a sala dele. Ando por um tempo, já que fica em outro prédio e assim que chego lá, imediatamente bato na porta. Não consigo ouvir barulho nenhum, mas não demoro para ser atendida. Ele me atende pessoalmente e assim que me vê ali fora, abre um sorriso que devia ser simpático, mas aos meus olhos, está mais para malicioso.

Ele abre mais a porta e aponta para dentro, me convidando a entrar. Faço o que ele me diz para fazer e assim que ambos estamos acomodados, começamos a nos falar.

— O que te traz aqui, Yamanaka? Acredito que você parece estar um pouco afetada com o anúncio de mais cedo. Estou certo? É isso que te traz aqui? - Sua voz é infestada de veneno. Ele está querendo me provocar, mas eu tenho um plano e nada vai me tirar do centro hoje.

— Eu gostaria de fazer um pedido. - Ele me olha interrogativo, como se não esperasse isso.

— Vá em frente. Se for algo que eu puder fazer…

— Eu quero que me conceda permissão para ir ao mercado inferior. - Ele parece incrédulo e decepcionado ao mesmo tempo. Como se não estivesse acreditando que eu era tão ousada a ponto de fazer um pedido como esse e ao mesmo tempo como se esperasse que eu fizesse alguma outra exigência que não fosse essa.

— Você está brincando comigo? - Diz ele, em uma voz irônica. Eu estava pronta para isso. Pronta para ser ridicularizada por causa de um pedido aparentemente idiota. É claro que para ele não era algo tão importante. Eu precisava forçar mais.

— Não sou igual aos seus bebês que vêm de clãs completamente estruturados. Pessoas que nasceram para isso e se prepararam durante toda a sua vida. Que nasceram para morrer aqui. Eu venho de um local completamente sem estrutura nenhuma, um lugar que vocês sabem quais são os problemas mas fecham os olhos completamente para o que estão vendo. Eu vim completamente despreparada, sem qualquer tipo de base emocional. A minha luta é amanhã e tudo o que estou pedindo é uma última chance de visitar a minha família, antes que eu continue no caminho que leva direto para a minha cova. - A essa altura, lágrimas já estão caindo pelo meu rosto. As palavras não são nenhum pouco falsas. Elas são total e completamente verdadeiras. Eu sinto por todas as coisas que falei anteriormente e as lágrimas são apenas um bônus, que forço para que minhas intenções pareçam mais reais.

— Você... Desculpe, Yamanaka. Compreendo tudo o que falou, mas você não pode sair. São as regras. Não há nada que eu possa fazer. - Sua expressão é de decepção total. Estou pronta para dizer mais um monte de coisas a fim de tentar convencê-lo a me deixar sair, quando o homem de cabelos cinzas, Hatake, aparece ao lado dele e sussurra algo em seu ouvido. Não entendo a interação entre eles e não consigo pegar as palavras sussurradas. Tudo o que sei é que o Hio-Sama endurece e sua expressão se torna uma pedra.

Ele me olha, como se estivesse decidindo o que devia fazer, entre duas escolhas muito ruins, escolhas que ele não queria ter que tomar nenhuma das duas. Ele suspira ruidosamente, antes de dizer alguma coisa.

— Yamanaka, Kakashi vai te acompanhar até o mercado inferior. - A fala me intriga. É tudo o que eu queria, mas isso parece estranho. Há dois minutos atrás, ele estava dizendo que não podia por causa das regras e de repente, eu estava liberada para ir? O que será que ele havia ouvido que havia feito ele mudar de ideia? Havia sido aquele sussurro. O que estava acontecendo? - Kakashi, tome cuidado. Não quero que ninguém os veja. Estejam de volta, no máximo, até o final de tarde. Irei lhe conceder essa permissão, Yamanaka, mas esta é sua única chance. Nunca mais me peça nada parecido. Vocês podem ir.

— Me acompanhe, Yamanaka. - Diz o recém chegado. Levanto-me atordoada. Gaguejo ao agradecer, ainda sem entender o que está acontecendo e saio da sala. O homem me leva por um caminho desconhecido, por dentro do prédio administrativo e não tenho tempo de prestar atenção em nada; estou muito preocupada pensando no que havia acontecido para que eu pudesse sair.

— Eu preciso pegar uma coisa no quarto. - Digo, para testá-lo. Preciso saber o que está acontecendo.

— Se você voltar, não poderemos mais sair. Vamos, não temos tempo a perder. - Diz ele e começo a desconfiar que há algo lá dentro que eles não querem que eu veja. Tudo bem, posso lidar com isso depois. No momento, tenho outras prioridades. Paro de falar e sigo-o pelos corredores silenciosos.

***

Avisto ao longe a entrada do mercado inferior. Lembranças me invadem, lembranças boas de uma semana atrás. Uma semana. Um tempo tão pequeno, mas que para mim pareceram anos. Muitas coisas ocorreram de lá para cá e não posso deixar de perceber o quanto é estranho voltar ali. Um sentimento me pega, traiçoeiro e a emoção toma conta de mim.

O homem designado ainda está ao meu lado, olhando ao redor com desconfiança. Noto que ele repara em tudo, não perdendo nenhum detalhe. É praticamente hora do almoço, então não há muito movimento, principalmente na parte que faz fronteira com o resto da humanidade. Não costumamos ficar muito perto de onde possamos ter alguma interação com uma pessoa do mundo ninja.

— Aonde é a sua casa, que você precisa tanto ir? - Hatake, se não me engano esse é seu sobrenome, se dirige a mim mesmo sem me olhar. Isso porque ele está absurdamente ocupado analisando tudo o que está à nossa volta enquanto continuamos andando. Eu não estava tão preocupada quanto ele, mas não podia negar que estava ansiosa. Por esse fato, também olho um pouco ao redor para ver se não estou perdendo nada sobre a pessoa que vim encontrar.

A única coisa que separa, no momento, o meu mundo do clã Yamanaka, e de outros clãs, é uma cerca, por onde daria para ver tudo o que fazemos. Foi com essa intenção que eles a construíram, mas não contavam com o fato de que seríamos mais espertos. Construímos nossas casas e nosso comércio um andar abaixo, colocando escadas de acesso nos lugares que precisava e teto sobre todos os nossos estabelecimentos. Dessa forma, era quase impossível, dali de cima, mesmo pela grade, ver o que fazíamos. Até mesmo as ruas tinham “tetos” de lona para impedir a visão.

— Me siga. - Digo, simplesmente, começando a andar mais rápido. Meus olhos estão em todos os lugares possíveis, a procura de qualquer pessoa desconhecida. Qualquer pessoa. Não há um desconhecido que nos passe despercebido. Como dividimos todo o espaço em pequenos bairros, todos dentro deles se conhecem. Qualquer pessoa de fora que esteja andando por ali é facilmente reconhecível.

Vou em direção às escadas. São dois lances, paralelos, de forma que temos que fazer a curva para continuar descendo. Não perco tempo, sabendo que preciso arrumar uma forma de tirar o homem de perto de mim. Não há nada que eu possa fazer ou descobrir com ele colado à mim. Desço de forma imprudente, pulando dois, três degraus de uma vez. Não olho para trás para não gerar mais desconfiança. Preciso confiar nos meus instintos.

No meio do último lance, paro repentinamente ao ver, de relance, um par de olhos marrons me encarando. Ele está em frente uma barraca de doces, conversando com um comerciante. Sua boca se move, mas seus olhos estão totalmente em mim. Não demoro a reconhecê-lo, mas tento não fazer nenhuma expressão. Esperança começa a borbulhar em meu coração, mas murcha um pouco quando ele desvia o olhar e percebo que é porque o homem Hatake está exatamente ao meu lado, olhando ao redor agora com curiosidade. Aposto que ele nunca veio aqui embaixo e está surpreso ao perceber que somos iguais aos outros e não o bicho de sete cabeças que nos pintam lá em cima.

Volto meu olhar para a frente, esperando ver o membro da Aliança, mas me surpreendo ao perceber que ele não está mais ali. Meus olhos varrem o que está ao meu alcance, mas não o encontro. Chateação toma conta de mim, mas eu não o culpava. Eu não estava sozinha e sabia que seria extremamente difícil ficar. Dou uma respirada funda, começando a andar em direção à minha casa, ex-casa, totalmente derrotada, com o homem de cabelos cinza ao meu encalço.

Estamos andando, sem trocar palavras entre nós, quando uma criança vem correndo em minha direção. Percebo-a, mas não mudo meu caminho. Ela está olhando diretamente para mim, não havia como batermos, o garoto com toda a certeza iria desviar. Estou completamente enganada, ao ver a forma como ele tromba em mim, levando ambas as nossas bundas ao chão. Ele faz uma careta aborrecida, como se me culpasse por não ter desviado.

Sou a primeira a levantar, minhas sobrancelhas arqueadas em direção a ele, esperando-o fazer o mesmo. Mas o menino permanece sentado, encarando uma das mãos, que havia tido contato com o chão durante a queda. Fito-o, sem  entender muito bem o que acabara de acontecer. Estendo a mão para ele, em um gesto de bondade e seus olhos brilham para mim. Logo sua mão pequena está na minha e gelo quando não sinto sua pele em contato com a minha. Há algo entre nossas peles, um tipo de papel e de repente percebo que ele provavelmente esbarrou em mim com alguma intenção.

Puxo, rápido, pegando o bilhete de suas mãos e escondendo-a entre a minha, colocando-a em punho para que o homem a meu lado não visse. O menino, que antes estava no chão, limpa suas roupas e abre um sorriso grande para mim, curvando-se antes de partir. Aperto o bilhete em minhas mãos, continuando a andar para não parecer que alguma coisa estava errada.

Vejo o bar de Tadao se aproximar conforme continuamos andando. Nada havia mudado ali e o fato me orgulha ao mesmo tempo em que me deixa bastante triste, por saber que aquela não é mais a minha casa e também ao perceber como eu sentia falta da vida maçante que tinha.

Adentramos o local e avisto os poucos clientes que temos aqui, nada fora do normal. Matsuri está conversando com um dos homens sentado em uma mesa, um bloco de notas em suas mãos e seu pai está do outro lado de balcão, servindo uma bebida aos que o pedem. Os olhos dele se voltam para mim assim que entramos, as orbes castanhas se arregalando ao me verem ali de pé na sua porta. Sua boca emite um arquejo assustado, tanto que todos param o que estão fazendo para olharem para mim.

Reconheço alguns rostos presentes, mas não tenho muito tempo para analisar porque o próxima coisa que me dou conta é de que estou sendo sufocada por minha amiga. Ela me abraça tão forte, seus cabelos castanhos sobre meu rosto, que não posso deixar de dar um pequeno sorriso. Eu também estava morrendo de saudades dela, de tudo, por isso abraço-a de volta da melhor maneira que posso. Não somos muito acostumados a demonstrar afeto dessa forma, mas a emoção que nos invade é demais.

Ela só me solta porque seu pai provavelmente a cutuca, atrás dela, na fila para me abraçar também. Um a um, abraço as pessoas que me reconhecem, minha família. Meus olhos se enchem de lágrimas por um par de vezes, mas controlo-as para que não desçam por todo o meu rosto. Pessoas que não reconheço também me abraço, mas não me importo. Todos são bem vindos, exatamente porque são daqui. Porque são pessoas novas que, por mais que eu não tenha oportunidade de conhecer, são, agora, parte da minha eterna família.

Depois que toda a comoção causada pela minha chegada passa, todos começam a reparar que há uma pessoa a mais no recinto e que essa pessoa não é daqui. Olhares desconfiados vão em direção à ele, que parece alheio a tudo. Seus olhos estão em mim, mesmo que estejamos perto um do outro. Em voz baixa, ele diz, apenas para mim.

— Você tem trinta minutos para conversar. Depois disso, iremos embora. - E então ele se encaminha para uma das mesas, ao canto, sob o olhar de todos. O tempo que ele me dá é pouco, mas aproveito para aproveitar ele ao máximo.

Sento em um dos bancos, Matsuri ao meu lado junto com outros, que agora não se importam de não estarem sendo atendidos. Tadao está do outro lado do balcão, colocando um copo de água na minha frente que aceito com prazer. Tomo tudo em um gole e todos riem da minha euforia. Sinto-me bem ali, tranquila, como se eu fosse apenas Ino, a Ino que trabalhava ali uma semana atrás.

— Como você está? Por Kami, faz tão pouco tempo, mas parece uma eternidade. Você está mais bonita. Estão cuidando bem de você lá dentro? Você já lutou? Eu gostaria de acompanhar sua luta, mas papai não deixa eu ir lá em cima saber o que está acontecendo. E como não temos uma tv ou um telão por aqui… - A voz de Matsuri vai abaixando conforme ela fala, como se tristeza tivesse tomando conta dela. Afago um de seus braços, balançando a cabeça. Não havia motivo para estar triste e mesmo se tivesse, não era a hora de pensar nisso.

— Como se eu fosse deixar você ir lá em cima, querida. Sabemos o que há lá. - Ela dá de ombros perante à fala de seu pai, que também considero como pai. Desde que meu pai havia morrido, Tadao era a única pessoa que havia cuidado de mim de forma tão bem, que havia me acolhido, diferente de todas aquelas pessoas estúpidas daquele clã idiota. - Também não queria deixar Ino ir, mas sabemos as consequências.

— Estou bem. Não é tão ruim quanto parece. - Digo, antes de dar a chance a todos de entrarem em um clima ruim por conta da minha partida, especialmente para onde eu havia ido. - As pessoas não são as melhores do mundo, mas eu fiz alguns amigos legais. Eles estão me alimentando bem e a comida é boa e farta. Eu costumava treinar pela manhã e tarde, mas agora que começaram as lutas eu não tenho mais essa possibilidade. Minha luta é amanhã….

— Como é o seu clã? - Essa foi a única pergunta que ouvi da enxurrada que fizeram sobre mim. Cada um perguntou uma coisa diferentes, inclusive os membros da minha família. Ri, observando o quanto todos estavam animados com a minha presença ali. Eu também estava, apesar de notar que sentia um pouco de falta do The Game e de todos os acontecimentos que sempre me rodeavam. Engoli uma bola de culpa, não querendo pensar em nada que não fosse aqui.

Respondi calmamente todas as perguntas, tentando explicar da forma mais simples que conseguia como tudo o que funcionava e o que eu fazia ali dentro.  Deixei umas coisas de fora, como o dia em que eu havia saído. Por um momento, eu quase havia me esquecido que havia alguém que não fazia parte do nosso grupo ali e depois disso passei a policiar ainda mais o que falava. Depois de um tempo, todos passaram a ignorar o homem de cabelos cinza, como se ele nem ao menos estivesse ali.

Matsuri me colocou por dentro do que havia acontecido no tempo em que eu estava fora e ri mais do que havia rido durante todo esse período que estava em outro lugar. Não havia acontecido muita coisa, como eu já esperava. Nada muito empolgante acontecia ali, todos corriam suas vidas da forma mais pacata que conseguiam, por mais que isso fosse um pouco entediante, na maioria das vezes.

Estamos conversando sobre história do passado quando vejo pelo canto do olho o homem do Hio-Sama vir em minha direção. Ele me avisa que já está na hora de ir, que temos o que fazer e todos o olham com uma careta perante sua fala.

— Ela não pode ficar mais tempo? - Minha amiga, e irmã, questiona, os braços cruzados sob o peito. Eu sei que poderia ficar aqui, que todos que estavam presentes me defenderiam, mas sabia que tinha coisas a fazer. Como Tadao havia dito, todos sabíamos as consequências. Eu mesma estava sofrendo por causa disso no momento.

— Tudo bem, Matsu. Eu devo ir. Mas, primeiro, vou ao banheiro, tudo bem? - Não espero uma resposta, por mais que tivesse pedido por uma. Vou direto para onde sei que está meu destino e assim que entro, tranco a porta. Abaixo a tampa no vaso e sento-me nele, finalmente tendo tempo e privacidade para olhar o bilhete que ficou amassado em minhas mãos durante todo esse tempo. Eu já estava craque nessa arte de esconder papeis em minhas mãos.

A próxima lembrança te aguarda na área de lazer, na piscina pequena, com a insígnia no fundo. Boa sorte.

Pisco várias vezes, tentando entender o que havia lido. Releio, não acreditando o que estava escrito naquele pequeno pedaço de papel. Era com certeza com a mesma letra do último bilhete. Uma lembrança… Como essa pessoa sabe sobre minhas lembranças? Ela até mesmo sabe em que lugares posso ter acesso a elas?

Quero sair correndo para o The Game, para ter a certeza de que o homem do bilhete está certo. Levanto-me e jogo o papel no vaso, dando a descarga para que ele vá embora e ninguém tenha contato com ele. Lavo as mãos e saio, tentando reprimir a ansiedade que novamente me invade. Hatake Kakashi já está na porta, longe de todos, à minha espera. Sinto-me um pouco deprimida ao saber que estou indo embora, mas a essa altura do campeonato já estou completamente conformada com o meu destino.

Abraço cada uma das pessoas que estão no bar, com medo de nunca mais vê-las. Principalmente a minha família, que abraço mais forte e demoradamente. Sei que eles não terão notícias de mim, nem eu deles. Matsuri diz para eu me cuidar e me dá vários conselhos antes de me soltar. Seu pai, nosso pai, diz algumas coisas sem sentido, mas há entendimento entre nós. Sei muito bem o que ele está querendo dizer. Ele sabe, todos sabem, na verdade, que não tenho a chance de ganhar, mas mesmo assim ele diz que torce por mim. E, no fundo, sei que única maneira de vê-los de novo é ganhando.

Por fim, vou embora, o coração apertado. No entanto, ao mesmo tempo sinto minhas energias renovadas, porque vi pessoas que realmente estão ao meu lado, que sempre estiveram e sempre estarão. Gente que tenho orgulho de dizer que amo. Gente que vou sentir falta.

***

Estar de volta ao The Game é como estar em um sonho. Um sonho ruim. A diferença entre minha casa e aqui é gritante. Não sei como, por um momento, senti falta disso. Sei que tem coisas que eu quero fazer, mas, primeiro, há coisas que eu tenho que fazer. Por isso, a primeira coisa que faço quando piso ali é sair correndo para sala de Shizune. Para a minha sorte, ela está lá, sentada em uma cadeira que não existia antes, e levanta os olhos quando eu apareço, eufórica, a sua frente, com a respiração pesada da corrida.

— Ino? Tudo bem? - Balanço a cabeça positivamente, tentando controlar minha respiração para poder falar. Sento-me na maca que ainda está ali e ela aguarda, paciente, enquanto me acalmo. - O que está fazendo aqui?

— Eu vim porque não conversamos direito ontem. Eu gostaria de esclarecer todas as coisas e conversar sobre isso. - Seus olhos se comprimiram ao olharem para mim, como se ela estivesse se lembrando da noite anterior, assumindo uma careta aborrecida. - Bom, vou começar dos acontecimentos recentes. Acabei de voltar de casa, com uma mensagem estranha sobre…

— Você acabou de voltar de onde? - Shizune soltou, afiada, seus olhos como os de gaviões em mim. Nada era perdido por ela, que perguntava todas as coisas possíveis para extrair todas as informações de mim.

— Do Mercado Inferior. Hio-Sama me deixou ir. - Ela me olhou desconfiada e surpresa ao mesmo tempo, como se duvidasse que algo assim aconteceria. Suspirei, porque eu mesma também duvidava. - Eu sei que parece sem noção. Também não sei o motivo, mas aquele cara, que fica do lado dele, chegou e disse uma coisa em seu ouvido e aí ele me deixou sair tranquilamente.

— Por que queria sair? - Como eu disse, nada podia ser escondido de Shizune. Suspiro mais uma vez, sabendo que ela não vai gostar nada do que vou dizer.

— Eu recebi um bilhete. Foi o primeiro bilhete. - Tenho toda a sua atenção, mas ela não parece nenhum pouco surpresa. Parece furiosa, seus lábios tremendo enquanto ela faz força para mantê-los fechados. Coço a garganta e continuo a falar rapidamente, - No dia que eu saí com os meninos, eu vi o Itachi na festa. Antes do ataque da Armada Verde. Eu sei, você quer saber como eu sei que foram eles e não a Aliança. Bem, como faz tempo que não conversamos, eu acho que não te contei sobre o homem da Aliança que eu encontrei no dia do ataque…

— Eu sei sobre isso. Prossiga.

— Ah, tudo bem. - Não pergunto sobre isso, porque sei que não vou ouvir uma resposta boa. Isso se ela me der uma. - Eu encontrei este mesmo homem quando começou o ataque na boate. Na verdade, ele me salvou, me entregou a flor que eu precisava e o bilhete, que dizia para eu encontrá-lo no Mercado Inferior hoje.

— E você foi. Foi por isso que saiu. - Sua expressão ainda era a mesma e engoli em seco. Sabia que ela não ficaria nada feliz com a história.

— Sim. Eu não o encontrei hoje, mas recebi um novo bilhete dizendo que eu devia ir à piscina menor se quisesse ter uma nova lembrança. Isso é tudo.

Ela suspira e se levanta, passando as mãos pelo rosto enquanto caminha calmamente pela sala. Parece frustrada com alguma coisa, como se algo estivesse fora do seu controle e a deixasse bastante estressada.

— Tudo bem, vamos lá. Muitas coisas fazem sentido agora que contou essa história. A primeira delas é que tem um motivo para você ter conseguido sair tão facilmente. - Ela para e suspira de novo, olhando diretamente nos meus olhos em seguida. - Ouça, Ino, estou fazendo de tudo para que as coisas do passado não a incomodem, mas você tem algum tipo de ímã em si que está atraindo-as. Você, por acaso, viu o Itachi quando saiu ontem? Porque ele veio para cá hoje, procurando-a. Foi por isso que você saiu.

— O Itachi… veio? - Estou em choque. Tantas oportunidades diferentes, e mesmo que Shizune tenha dito que estou atraindo as coisas do passado, sinto que estou repelindo-as. Por mais que eu vá atrás, o destino sempre dá um jeito de não me deixar ter contato com elas. O destino, ou algumas pessoas. Shizune bagunça os cabelos róseos, um bufo sinistro saindo de seus lábios. Observo-a enquanto ela ri de algo que não faz sentido pra mim.

— Veio. Ele só não fez um escândalo maior porque Sasuke, o irmão dele, o impediu e o levou para a porta. Hio-Sama deve ter sabido disso e ter deixado você sair. O que, na verdade, não deu muito certo já que você encontrou outro alguém do lado de fora. Alguém com os mesmo propósitos que o Itachi, se não piores.

— Você o conhece? Sabe quem é ele que tem me entregado todos esse bilhetes?

—Sei. - Ela riu novamente, mas não era uma risada feliz. Era uma risada maldosa, como se ela estivesse realmente com muita raiva dessa pessoa ou da situação em si. - Espero que ele esteja torcendo para que eu não o encontre, porque se acontecer vou matá-lo.

Ficamos em silêncio depois de sua fala. Eu pensando em tudo o que havia acontecido e ela também. Itachi havia vindo, mas eu havia saído para encontrar alguém da Aliança. Duas esperanças, ao mesmo tempo. As duas eu havia sido impedida de ver. Estou começando a acreditar que não podia fazer nada, já que tudo o que eu fazia era praticamente em vão.

— Ino, ouça. Provavelmente você deve estar muito confusa, mas quero te fazer um pedido. Por favor, não vá até o Hio-Sama tirar satisfações. Ele não sabe que você sabe que o Itachi veio. Eu estou do seu lado, mas eu sou a única. Foi dada uma ordem de que ninguém deveria contar isso à você, e você sabe que todos a cumprirão. É assim que as coisas funcionam por aqui. E também eu não quero ele ou ninguém sabendo das nossas coisas. Ninguém sabe o que fazemos aqui e eu não quero que isso mude. Você me promete?

Não é o que quero fazer e ela sabe. Quero me levantar daqui e chutar a porta do babaca estúpido para questioná-lo porque ele está se empenhando tanto em foder com a minha vida. Porque ele se importa tanto com o que eu lembro ou não. Porque ele se esforça pra expulsar da minha vida qualquer pessoa que tenha a ver com o meu passado.

Entretanto, Shizune está me fazendo um pedido e no fundo sei que ela está certa. Não é sensato expor o que estamos fazendo aqui e não vou correr o risco. Por isso, balanço a cabeça em um movimento de aceitação. Vou fazer o que ela está pedindo.

— É o único pedido. Vamos, eu a acompanho até as piscinas. - Arregalo os olhos, vendo-a sair porta afora. Sigo-a, ainda assustada com sua atitude. Andamos em silêncio enquanto penso porque ela não está me impedindo de ter essas lembranças, ou brigando por causa da minha irresponsabilidade. Ela disse que conhece o homem da Aliança e eu estava muito curiosa sobre isso, mas por causa do seu estado de espírito, resolvi deixar pra lá. Ela também não me questionou sobre qualquer outra coisa, como se estivéssemos em um acordo velado sobre o fato.

Chegamos rapidamente à área das piscinas e ela me acompanha todo o caminho até a piscina que eu nunca tinha reparado. Passo pela qual eu me afoguei, olhando suas águas claras iluminadas pelo sol. Há várias delas e quanto mais nos aproximamos daquela que preciso, mais começo a ficar nervosa. Como será que isso vai funcionar? Precisarei entrar na água ou daqui de cima posso conseguir ter acesso à lembrança?

Paro assim que Shizune para. Olho para a insígnia ao fundo e de volta para ela, que parece alheia a tudo ao seu redor, como se também já estivesse em sua própria lembrança sobre o lugar. Dou um passo à frente e não preciso de muito tempo para descobrir que o cara do bilhete estava absolutamente certo. Estou a um passo de cair na água quando uma lembrança me puxa do presente, arrastando-me para a última vez que eu havia estado no The Game.


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Notas finais do capítulo

Tá no começo ainda, mas jájá tem a tão aguardada luta de Ino! Vou me esforçar pra fazer uma coisa linda, espero que não achem que estou enrolando esse tempo todo, porque não, tudo que tá escrito contribui para a continuação dessa história. Se alguém ainda lê e me acompanha, kkk, espero de coração que tenha gostado! E se quiserem comentar, fiquem à vontade, sem pressão. ^^ Um grande beijo, nos vemos no próximo capítulo.



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