Eu nunca dei muito trabalho para os meus pais. Sempre fui a melhor aluna da sala, a mais inteligente. Nunca bebi, nunca usei drogas, nunca sai sem avisar. Tudo bem, eu era mimada e me irritava fácil, mas isso não justifica o que ela fez.

Olho ao redor e isso só serve para me deixar mais frustrada ainda, não conseguia entender como de uma hora para a outra minha vida se transformou nisso, não conseguia entender como vim parar aqui, não conseguia entender porque ela me colocou nesse lugar.

Sentia saudades do meu irmão, pensar nele partia meu coração. Sempre quis saber o que ela disse para ele, o que disse para explicar minha ausência, talvez tenha dito que fui viajar, ou que fui morar com algum parente distante, ou talvez tenha dito que eu morri. Sentia saudades do meu pai também, se ele estivesse aqui nada disso teria acontecido, ele morreu de câncer oito meses atrás, quatro meses depois fui jogada nesse lugar.

Minha relação com meu pai era incrível, pode ser o luto falando por mim, mas eu não me lembro de nenhuma vez que ele tenha gritado comigo e quase nunca brigávamos.Já com minha mãe era diferente, brigávamos o tempo todo, mas sempre acabávamos fazendo as pazes logo em seguida, não era das melhores, mas a gente se entendia razoavelmente bem. 

Isso mudou depois que meu pai morreu, ela passou a me evitar, só falava comigo quando necessário e essas conversas sempre resultavam em brigas enormes. Com o tempo aprendi a não me importar - ou ao menos fingir que não me importava -, mas ainda assim não aguentava ficar no mesmo cômodo que ela, por isso meu quarto se tornou meu refúgio e meus livros se tornaram minha válvula de escape.

Sempre gostei de ler e, naqueles quatro meses, os livros foram meus melhores amigos, quando eu lia eu podia ser quem quisesse, fazer o que quisesse, estar onde quisesse, podia ser um hobbit a caminho de lutar contra um enorme dragão, podia entrar em um armário e ir parar em um mundo completamente diferente, podia ir para uma escola de bruxaria e lutar contra o lorde das trevas e podia ser um semideus e lutar em uma guerra contra Cronos ou contra Gaia. Sim, eu amava fantasia, quanto mais longe da realidade melhor!

Já tinha terminado a escola e tinha tirado um ano de folga para estudar pro vestibular, mas minha mãe não entendia isso, na visão dela eu era preguiçosa e inútil porque não fazia nenhuma faculdade ou trabalhava, esse era um dos motivos que nos fazia brigar constantemente. Meus amigos? Me isolei tanto que acabei perdendo o contato com eles ao ponto de passar reto ao vê-los na rua.

Acho que não ter tido ninguém lá fora durante esses meses me ajudou quando cheguei aqui, não existiam muitas pessoas de quem eu pudesse sentir saudades. Mas claro que foi um choque quando os enfermeiros chegaram com uma camisa de força e minha tia apontou para mim chorando, nem ao menos me deixaram tomar um banho para tirar o sangue do corpo antes de me levarem. 

Meu nome é Madison e, não importa o que digam, eu não matei minha mãe, quem matou foi a Mad.