Não era sempre que ele tinha tempo para sair com sua namorada, então quando havia uma pausa entre suas missões suicidas e ele podia relaxar, chamava Cassy para irem ao cinema ou a algum restaurante. Ele não era como os outros detentos de Belle Reve, foi um agente da ARGUS que havia sido preso e condenado pelos crimes de sua outra personalidade, então Waller não fazia questão de deixá-lo preso, mas ele ainda não podia entrar em muitos países por ainda ser procurado neles.

Naquela noite havia recebido uma ligação da Wayne, pedindo que eles fossem assistir algum filme porque ela estava com saudades, e ele não recusou. Assim que chegou no cinema, estacionou sua moto na frente do local e ficou esperando pela morena. Reparou que, apesar de ser uma noite de sexta-feira, as ruas estavam quase vazias, apenas algumas pessoas transitavam pela calçada.

Greg deu uma olhada para um ponto de ônibus do outro lado da rua, vendo uma jovem de cabelos longos e negros sentada ali. Ela parecia ter uns dezesseis anos, usava óculos de grau azuis e escutava música com fones grandes, parecendo completamente distraída.

Olhou para alguns cartazes do lado de fora do cinema e quando deu mais uma olhada na garota, viu uma vã preta parar na frente dela. Quando o carro arrancou em alta velocidade, ela tinha sumido. Tudo aconteceu tão rápido que nem mesmo ele teve certeza do que havia acabado de ver. A garota podia ter sido sequestrada, mas também poderia conhecer a pessoa dentro da vã, o que na opinião dele era muito pouco provável em Gotham. Ele nem pensou suas vezes, só acelerou sua moto e começou a seguir a vã de forma discreta. Cassy provavelmente o mataria por se atrasar, mas algo lhe dizia que aquilo era muito suspeito.

“O que você acha que está fazendo?” — Mark questionou, dentro de sua cabeça.

— A garota pode ter sido sequestrada.

“E daí? Temos um encontro com nossa namorada gata e você pensa em salvar garotas aleatórias na rua?! Acha que só porque virou coleguinha daqueles heróis tem que sair por aí ajudando os outros, idiota?”

— Não tem nada a ver com o DS, sou um agente da ARGUS e não vou deixar aquela garota ser sequestrada na minha frente sem fazer nada — ele continuou a seguir a vã, indo para uma parte deserta da cidade e tomando cuidado para não ser notado.

“Ex-agente, fracote! Se lembra que foi demitido depois que foi preso? Então deixa de querer dar uma de herói, dá meia volta e vamos assistir um filme.”

— Vou começar a te ignorar agora. Não sinta-se ofendido, não é pessoal, só te odeio — Greg estacionou sua moto na esquina de uma rua ao ver que a vã havia entrado em um galpão antigo.

Ele andou até os fundos e subiu por uma escada de incêndio, indo até uma janela que havia no terceiro andar e abriu a mesma, olhando para dentro antes de entrar completamente. Haviam passarelas de metal escuro e enferrujado espalhadas por toda a extensão do galpão, deixando que ele circulasse por ali o quanto quisesse. Encontrou a vã parada em uma parte e viu duas pessoas saindo de dentro dela, pareciam ser um homem alto e uma mulher, ambos usando máscara de ski, óculos escuros e coletes aprova de balas.

— Quanto você acha que o pai dela vai pagar? — a mulher perguntou.

— Ela é filha de um dos empresários mais ricos de Gotham, com certeza vale muitos milhões — o homem respondeu e abriu a porta da vã.

Mais um homem e duas mulheres saíram dali, um deles carregando a jovem de cabelos negros que Greg vira parada no ponto. Ela estava amarrada e tinha uma fita cobrindo sua boca para não gritar, e parecia extremamente assustada.

“Por que alguém que é filha de um cara rico estaria em um ponto de ônibus? Isso não tá cheirando bem, dá meia volta agora!” — Mark gritou em sua cabeça, Greg prontamente o ignorou.

— Se ela tentar alguma gracinha, pode fechar a boca dela com alguns socos — o homem que saíra da vã falou e as duas mulheres assentiram, levando-a para um canto do galpão repleto de caixas velhas e a deixando sentada perto das mesmas.

— Cuidado com o rosto, não podemos danificar tanto a mercadoria — o mais alto comentou.

Greg trincou o maxilar e sentiu sua raiva aumentar. Se tinha uma coisa que odiava, era ver pessoas sendo tratadas como objetos. Era como seu pai costumava tratar sua mãe, e isso era algo que ele não consegui tolerar. Sem esperar para ouvir mais, o moreno andou devagar até mais perto dos sequestradores usando as passarelas acima deles, escondendo-se nas sombras e aproveitando-se que o local era pouco iluminado.

— Ouviu alguma coisa? — uma das mulheres perguntou, a que Greg apelidou carinhosamente de alvo 1 em sua mente.

— Ninguém nos seguiu — o homem mais alto, alvo 2, respondeu.

— Tinha um cara do outro lado da rua, ele pode ter visto alguma coisa — a mulher mais baixa, alvo 3, se afastou da jovem sequestrada.

— Se ele aparecer aqui, o que eu duvido muito tendo em conta que essas pessoas de Gotham são extremamente covardes, matamos ele — a mulher alvo 4 sacou uma arma.

— Fiquem de olho — o homem um pouco mais baixo que o alvo 2 falou. Esse seria o alvo 5.

“São cinco contra um.” — Mark comentou.

— Que desvantagem para eles — Greg sorriu.

“É estranho, mas a voz daquela alvo 3 me parece familiar… Não mata só ela e tira a máscara para eu saber se já peguei ela.”

— Não vou matar nenhum deles.

“...”

— Ficou calado de repente?

“Estou tentando lembrar o número do hospital psiquiátrico que costumávamos frequentar, porque você ficou maluco!” — Mark berrou. — “Me deixa assumir!”

— Não posso matar ninguém sem que a Waller mande, estou em condicional, se lembra? A última coisa que quero é passar mais tempo com o Esquadrão de retardados, e minha pena aumenta sempre que faço merda... Ou que você faz merda.

“Que seja… Não pense que vou aparecer pra salvar sua vida dessa vez, cada hora inventa um meio novo de suicídio e eu estou ficando velho!”

— Fique caladinho e me deixa trabalhar.

Greg andou sem fazer nenhum barulho sobre a passarela até chegar mais perto de onde a jovem estava amarrada. Viu que os sequestradores não estavam tão preocupados com alguém aparecendo e salvando a garota, então dois deles ficavam de olho na porta enquanto os outros conversavam perto da vã. Ele esperou para ter certeza de que não estavam olhando e pulou, caindo bem atrás das caixas velhas onde a jovem estava sentada.

Ao sentir a presença de alguém ali, ela quase deu um salto e certamente teria gritado se sua boca não estivesse coberta, mas Greg tratou de acalmá-la.

— Não se preocupe, eu vim ajudar — ele sussurrou. A garota não se virou para ele, apenas continuou encarando seus sequestradores, assentindo levemente com a cabeça. — Vou soltá-la e quando eu disser, quero que corra até a saída e vá chamar a polícia com isto — ele pôs o próprio celular no bolso dela.

A morena assentiu novamente, logo sentindo-o desamarrar as cordas que a prendiam, sempre ficando bem atrás dela para que não fosse visto e não fazendo nenhum som se quer. Quando terminou, ele pulou para frente das caixas e correu para longe da garota.

— Posso ter a atenção de vocês por um momento? — Dent gritou e todos os sequestradores, ou alvos, se voltaram para ele. — Obrigado.

— Matem esse idiota! — a alvo 1 falou, e no mesmo instante os alvos 4, 5 e 2 começaram a andar até Greg.

Qualquer um nessa situação correria para o lado oposto, mas o ex-agente correu na direção dos seus oponentes, indo primeiro na mulher que segurava a arma e a apontava em sua direção. Saiu da linha de fogo e, antes que ela apertasse o gatilho, conseguiu segurar seu braço e derrubá-la no chão com um chute nas pernas. Ele sabia que não conseguiria lutar contra três ao mesmo tempo sem armas, então resolveu deixar aquela incapacitada, acertando um chute forte em sua barriga e a deixando sem ar.

Os alvos 5 e 2 o atacaram ao mesmo tempo, como previsto, e Greg desviou dos primeiros golpes, apenas recuando até que se abaixou rapidamente e fez o mais alto, alvo 2, acertar um soco no 5.

— Você me acertou, seu imbecil! — ele gritou, e o alvo 2 deu de ombros.

— Foi mal, nem vi você aí.

"Acho que conheço essa voz também!" — Mark disse, e Greg pensou a mesma coisa, mas precisava abrir caminho para a jovem sequestrada poder fugir e chamar a polícia, então resolveu ignorar aquela sensação.

Dent acertou um chute circular no rosto do alvo 5 e o fez cambalear para o lado, em seguida trocando alguns golpes com o alvo 2 e acertando uma cotovelada em seu queixo com força. Isso o fez cair para trás.

Greg correu até a vã e subiu em cima da mesma, olhando para a jovem sequestrada e vendo que ela ainda estava sentada onde ele a havia deixado.

— Por que não fugiu ainda? — ele berrou.

— Você não deu nenhum sinal! — ela retrucou.

— O sinal era basicamente eu distrair eles para você sair corrend... — ele não conseguiu terminar a frase, pois recebeu um chute nas costas, provavelmente dado pelo alvo 5 que ele não havia derrubado.

O chute o fez cair do teto da vã e por pouco não bateu com o rosto no chão. Foi puxado para cima pela alvo 1 e recebeu uma joelhada forte no estômago. Ela tentou acertar um soco no rosto do moreno, porém ele segurou sua mão e a jogou em cima da alvo 3, que estava prestes a atacá-lo por trás.

Ele olhou para o lado e viu que a garota que fora sequestrada estava mexendo em seu celular e andava na direção da saída mais próxima, mas naquele ritmo ela só chegaria lá depois de meia hora. Sem mais paciência, ele correu até ela, a colocou sobre seu ombro direito e correu até a porta.

— Tirei umas fotos legais com seu celular! — ela disse, sorrindo e passando o braço por cima da cabeça dele para que o Dent visse as fotos.

— Por que você não correu?

— Porque eu queria ver a luta! Duh — assim que ela disse isso, ele parou, colocando-a no chão um pouco antes de chegar até a saída.

— Eu conheço você? — ele estreitou os olhos enquanto olhava para ela, tentando se lembrar onde ouvira aquela voz antes.

— Já nos vimos uma vez há alguns meses, mas acho que não vai se lembrar de mim.

— ...Você é aquela garotinha que corre rápido... — ele concluiu e ela sorriu, quase dando um pulo.

— Você se lembrou! Nossa, ainda bem, porque essa peruca está me dando coceira — a jovem retirou a peruca preta e deixou seus longos cabelos loiros caírem por seus ombros.

Greg levou alguns segundos para processar o que havia acontecido, então se virou para onde os "sequestradores" estavam.

— Cassandra! — ele gritou e a jovem mais baixa, a alvo 3, levantou a mão.

— Oi, amor — ela acenou. — Fez um ótimo trabalho!

— Poderia ter moderado nos golpes — o alvo 2 disse, aproximando-se de Cassy, que já retirava a máscara.

— Pegamos leve com ele, teria apanhado muito se quiséssemos — a alvo 1 disse, e retirou os óculos e a máscara, revelando ser a irmã de Cassy, Melissa.

"Ainda estou tentando entender o que aconteceu..." — Mark disse, porém não obteve resposta, pois Greg estava sem palavras.

— Acho que devem uma explicação para ele, porque eu estaria apavorada ao ver essa cena — a alvo 4 também retirou sua máscara. Era uma jovem loira que Greg também havia visto quando ajudou o DS a enfrentar os meta-humanos.

Cassy fez sinal para o namorado chegar mais perto deles, mas foi preciso que Grace o empurrasse até seus amigos.

— Eu sei que parece estranho, mas foi tudo uma encenação — ela explicou.

— Não foi nossa ideia — Tony disse, e só quando ele retirou a máscara de ski e os óculos Greg viu a segunda pele que cobria o rosto do detetive.

— Foi da Cassy, não fica bravo com a gente! — Grace apontou para a Wayne mais jovem.

Dent respirou fundo e olhou na direção da namorada. Devia mesmo ter escutado Mark e ido embora.

"Aprenda a ouvir, perdedor!"

— A resposta é não — ele disse, não para Mark, mas para os heróis a sua frente.

— Você se saiu tão bem na iniciação, foi até melhor que o Damian... Sem querer ofender, maninho — Cassy se virou para o alvo 5, que apenas encarava Greg em silêncio.

— Não, não, não! Qual é o problema de vocês comigo? Não sou tão especial assim para todos me quererem em suas equipes.

— Você é. E também nos ajudou muito na luta contra os meta-humanos, por isso o queremos no time — Kate disse.

— Olha, o Tony e a Cassy acham que você vai ser de grande ajuda, então concordamos em ver com nossos próprios olhos — Melissa começou. — Você concordou em salvar uma garota aleatória na rua e arriscou sua vida para ela fugir, isso já mostra que não é tão ruim quanto eu pensava. E depois lutou contra cinco pessoas, sabendo que estava em desvantagem, e não matou nenhuma delas. Sempre pensei que essa seria a primeira coisa que você faria.

— Eu poderia ter matado vocês! Caramba, estou com uma dor de cabeça infernal porque o Mark quer sair e se ele conseguisse, vocês estariam todos mortos! — Greg indagou, ainda irritado. 

— Por isso usamos os coletes — Tony explicou. — Mas a Cassy nos disse que você quer diminuir sua pena, então não está matando, então ficamos mais tranquilos.

— Greg, você sabe que seria um ótimo herói. É a pessoa mais incrível que já conheci, e não estou fazendo isso porque quero te obrigar a passar para o nosso lado, mas porque te amo e quero que use suas habilidades para fazer o bem — Cassy aproximou-se do namorado e o abraçou.

"Ahh, ela está usando chantagem emocional! Sai correndo antes que funcione!" — Mark gritou dentro da cabeça do moreno.

— Eu realmente não me importo se você está dentro ou fora, mas quero que esses dois parem de encher o meu saco sobre você — Melissa disse, referindo-se a Tony e Cassy.

Greg afastou-se da namorada, encerrando o abraço e ficou algum tempo pensando.

"Não, nem pense nisso! Concordamos que não nos meteríamos nesse assunto" — Mark disse. — "Sabe o que o Jeffrey quer fazer com eles, se ficar nessa equipe vamos acabar na linha de fogo e vamos ser mortos."

— Eu não sou um herói — Greg respondeu, não apenas Mark, como os outros também. — Mas aprecio o esforço e agradeço por quase me darem um ataque do coração... Se precisarem de ajuda podem me falar, só que não quero ser parte dessa equipe, nem de nenhuma. Não quero me envolver no que está prestes a acontecer.

Com isso, Greg pegou seu celular com Grace e andou na direção da saída.

— Felizes? — Melissa perguntou para Cassandra e Tony.

— Ele vai mudar de ideia — Cassy afirmou.

— E ele disse que nos ajudaria se precisássemos, é melhor do que nada — o detetive viu que Damian o estava encarando com uma expressão séria e nada amigável. — Para com isso, nem soquei tão forte.

— Ele já matou pessoas por muito menos — Kate disse, dando dois tapinhas nas costas do maior.

— Ainda vamos comer pizza mesmo sem ele, não é? — Grace perguntou, fazendo bico.

— Claro — Cassy sorriu, entrando na vã pela parte de trás e sendo seguida pelos outros, exceto por Melissa que iria dirigir. — Ah, e essa vã é alugada, então Tony vai no banco da frente porque não quero que o Damian bata nele e suje ela de sangue!

— Não tenho medo dele — o detetive tentou entrar na parte de trás, mas Kate o impediu.

— Devia ter. Vai na frente — a loira disse, e o moreno revirou os olhos sob a máscara, fazendo o que ela mandou.

— Ok, ele está seguro... E nós? — Grace se encolheu ao lado de Cassy, ficando o mais longe possível do Wayne.

Cassandra suspirou, pensando que aquela seria uma longa noite.