Downtown High escrita por LeArtiste


Capítulo 1
The First of Many


Notas iniciais do capítulo

Segunda-feira, primeira semana.
Este capítulo é narrado por três personagens: Jullie, a cheerleader; Carol, a gênia musical, e Anna, a hipster alternativa. Cada um dos subcapítulos é escrito por uma autora diferente.
Recomenda-se a leitura do capítulo acompanhado da reprodução das seguintes músicas:
Ellie Goulding - Love Me Like You Do (parte da Jullie)
Katy Perry - Roar (parte da Carol)
Taylor Swift - Shake it Off (parte da Anna)
Boa leitura!



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Jullie

Ah, ano passado foi tão bom. Estou tão animada porque esse ano sou a capitã das cheerious e vou poder fazer a seleção de entrada das meninas, mas agora eu estou no segundo ano e espero que dê tudo certo.

Meu dia começou quando eu busquei a Andy em sua casa, e finalmente fui para o colégio. Chegando lá encontrei as plásticas (superficiais como sempre). A Alice me olhou como se fosse me matar, mas mesmo assim chegou com toda a falsidade possível e falou:

— Nossa, Jullie, como você está bonita hoje.

E eu, do mesmo jeito que ela, respondi:

— Você também está linda hoje, adorei seu penteado.

— Muito obrigado, eu adorei essa sua maquiagem, mas acho q você não cobriu bem essa sua espinha.

Então as três saíram rindo. Eu não sei por que ela me odeia tanto, nós éramos tão amigas, eu gostava tanto dela. Será que foi por causa daquela história da Andy? Espero que não, eu não fiz por mal. Bom, isso não importa, foi há muito tempo. Então o sinal bateu. Minha primeira aula era de história e eu fui correndo para a sala. Assim que entrei, olhei quem eu ia ter que enfrentar: um pessoal do clube de xadrez; Carol, a melhor compositora que eu já vi, e as plásticas - até que eu vi aqueles lindos olhos verdes refletindo a luz do sol.

Eu e Andy sentamos perto dele. Eu de longe senti um perfume maravilhoso e fiquei determinada a descobrir quem era aquele lindo de olhos verdes. A aula foi um tédio, mas no meio do período ele olhou pra mim e disse:

— Onde que o professor está? Perdi-me assim que olhei para o campo.

Olhei para o livro dele e indiquei:

— Aqui, mas posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Você joga?

— Sim, eu adoro futebol.

— Serio? O teste é amanhã. Você vai participar?

— Não sei se vão me aceitar.

— Vão sim, aposto que você joga muito bem. Amanhã às três horas é o teste. Vai para o campo que eu vou estar lá.

— Você faz algum esporte?

— Na verdade sou capitã da cheerleaders, então tecnicamente vou torcer por você... E pelos outros, é claro - Nesse momento acho que fiquei vermelha, não sei se ele estendeu errado.

Ele deu uma risada e voltamos a prestar atenção na aula. “Meu deus que sorriso” - era só isso que eu pensava, era só isso que eu conseguia pensar.

Assim que a aula acabou, dei tchau pra ele e fui saindo com Andy logo atrás de mim. Não deu um segundo, e ela disse:

— Amiga, que homem era aquele?

— Pois é, nem me fale. Aquele sorriso...

— Sorriso? Aquela bunda! Amiga, você não viu?

— Vi sim, era linda também. Pacote completo, hein.

E saímos dando risadas.

Na aula de inglês eu fiquei ouvindo a Christy falar do seu novo peguete e a Andy de seu velho crush. Quer dizer, eu não prestei muita atenção no que elas estavam dizendo, pois a única coisa que vinha na minha cabeça eram aqueles olhos. Será que ele estava pensando em mim? Isso é uma coisa que eu nunca vou descobrir. Aí meu Deus Jullie, para de pensar nisso, você está parecendo uma menininha fútil.

No próximo período fui sozinha para minha aula de marcenaria, mas quando estava entrando esbarrei nele:

— Me desculpe, não acredito que mal cheguei e já estou sendo desastrado.

— Não foi culpa sua, não se preocupe.

— Ah, você é a menina da aula de história. Desculpe, mas não sei seu nome.

— Jullie, e o seu?

— Alex.

— Bom, Alex, parece que temos marcenaria juntos.

Passamos a aula inteira conversando e descobri que temos muitas coisas em comum. Algumas eu não podia revelar, mas só de saber que ele também gosta já valeu a pena.

Meu Deus, ele era perfeito. Cabelo, olho, voz, personalidade... Por mais que os outros achem que sim, eu nunca gostei de ninguém. Já tive uns namorados, é claro, mas nenhum que eu estivesse realmente apaixonada, e acho que esse vai ser o cara perfeito para mim.

Quando a aula acabou perguntei se ele queria comer comigo e com a Christy. Ele disse que por ele tudo bem, já que não tinha com quem comer. Pegamos nossa comida e perguntei se eles queriam ir para o jardim. Alex disse sim na mesma hora, já Christy tinha outros planos com seu peguete, e deixou nós dois sozinhos.

— Bom, vamos então?

— Claro.

Ao chegar lá, sentamos e comemos tudo o que nos tínhamos.

— Então, está gostando do colégio?

— Sim, muito.

— E das pessoas?

— A maioria é bem legal, mas você e a Carol foram as únicas que realmente falaram comigo. Você a conhece?

— Sim, ela organiza o coral da escola. Ela é bem talentosa, mas acho que não gosta muito de mim.

— Por quê?

— Também não sei, é só uma coisa q eu desconfio.

— Hum. Bom, Jullie, eu adorei a companhia, mas terei q ir pra casa mais cedo hoje.

— Ah sério? Mas como você vai pegar a matéria?

— Ainda não sei, mas dou meu jeito.

— O que você tem nos próximos períodos?

— Inglês e geografia.

— Bom, geografia e inglês as minhas amigas tem com você, então posso te passar amanhã.

— Ok, muito obrigada, mas eu realmente tenho que ir.

Ele deu um beijo no meu rosto e saiu.

 

 

Carol

Era o primeiro dia do sophomore year (2° ano do EM americano). Eu estava nervosa. Por quê? O ano anterior tinha sido péssimo. O musical fora monopolizado pelas cheerleaders e suas capangas e eu não pude fazer nada para mudar, mas esse ano vai ser diferente. Esse ano eu, Carol, vou dirigir o musical e o coral da escola e eu juro que vou dar um basta naquelas ridículas.

Sempre fui aquela pessoa que ficava por trás, tímida. Ficava cantando no fundo do coral, não me apresentava no show de talentos, era a árvore na apresentação de teatro... Sempre fui muito envergonhada, mesmo querendo participar mais.

Já me disseram que eu sou talentosa, me destaco pelos arranjos que componho, porém nada mais que isso. Poucas pessoas sabem quem eu realmente sou.

Não interprete mal, isso não quer dizer que eu sou uma daquelas pessoas que fica prestando atenção na aula de uma maneira super quieta e admira os professores ou algo do tipo. Não sou (tão) nerd assim. Na verdade, sou bem agitada quando estou com meus amigos, só eles conseguem captar o meu “verdadeiro eu”.

Mas isso tinha que mudar.

Eu estava com 16 anos, as coisas não iam continuar desse jeito. O professor encarregado dos musicais e do coral, Sr. Osman, estava se aposentando e gostaria de “passar o bastão” para mim, portanto ele me deixou como encarregada das apresentações artísticas naquele ano, e eu não ia decepcioná-lo.

Enquanto eu andava no corredor da escola, percebi como nada havia mudado naquele verão, como os grupos haviam permanecido os mesmos. Encontrei logo de início Lauren, que estava mexendo no seu armário.

— Oi, como foi seu verão? - perguntei.

— Péssimo.

— Por quê?

— Minha mãe queria acabar com a banda. Ela disse que atrapalha meus estudos. Da pra acreditar nisso?

— Nossa, que droga. Isso me lembra de que você tem que me ajudar esse ano.

— A fazer o que?

— Vamos reorganizar o coral. Esse ano o musical vai ser realmente bom, precisamos de novos talentos.

Com um olhar de aprovação em seu rosto, eu e Lauren continuamos a andar e procurar nossos outros amigos. Falei um pouco com a Amanda e a Catherine antes da aula começar, mas logo o sinal tocou e tive que ir pra aula de história.

Ok, minha turma de história estava uma bosta. As Plásticas e as JAC - melhor impossível. Eu não sei por que, mas simplesmente não consigo gostar daquela Jullie. Cabelo perfeito, corpo perfeito, capitã das cheerleaders, só namorado que não tem. Sério, não a aguento.

A única coisa que me chamou atenção naquela turma foi um aluno novo que estava sentado no fundo da sala. Cabelos pretos e olhos verdes - tem como ser melhor? Ele olhava vagamente para a janela com aquele rostinho lindo. O nome dele é Alex. Infelizmente, as cheerleaders já estavam de olho nele. Conformei-me que não adiantava tentar, nada nunca aconteceria entre mim e ele, e eu só iria pagar mico.

A aula acabou e eu estava a caminho da porta, desanimada, quando alguém coloca a mão no meu ombro - era Alex. Fiquei com uma cara de surpresa esperando ele falar alguma coisa.

— Hm... Pode me dizer onde é a sala de matemática? - disse ele, envergonhado.

— Você está fazendo cálculo I? É no final do corredor.

— Na verdade é cálculo II.

— Sério? Então nós estamos na mesma turma. É do lado do auditório, eu te acompanho.

Eu não acreditei no que estava acontecendo. Lá estava eu, caminhando para a minha segunda aula seguida com o cara mais lindo que eu já tinha visto em muito tempo - que ainda por cima era um doce. Alex me contou que veio de uma escola na periferia da cidade e quando perguntei o porquê da troca ele disse que estava procurando uma educação melhor.

— Aqui está. - disse eu, apontando para a porta e nós dois entramos.

Graças a Deus as Plásticas e as JAC não estavam lá. Se você não sabe o que isso significa, aqui vai uma explicação: as Plásticas são um grupinho composto pela Alice Clarkson, a Stephanie Houston e a Megan Stuart, todas líderes de torcida que mais fúteis e superficiais impossível (daí que vem o nome). As JAC são Jullie, Andy e Christy, outras líderes de torcida. A diferença entre elas? Se odeiam. Pode parecer estranho dois grupos de cheerleaders se odiarem, mas pois é, isso acontece. O fato é que Julie e Alice eram amigas até o nono ano, depois algo horrível aconteceu - coisa que eu nem quero comentar agora. Como esperado, elas se separaram e viraram líderes de seus respectivos grupinhos, com formação de triângulo nos corredores e tudo mais. Para agravar a situação, no fim do ano passado houve as audições para o cargo de capitã das líderes de torcida e Jullie ganhou - lembro-me dos olhares penetrantes entre as duas nos corredores como se fosse hoje. Enfim, não são flores que se cheire.

Continuando, a aula foi um misto de emoções. Não sabia se ficava confusa com a matéria ou encantada com o sorriso mais lindo desse mundo. "Ah, Alex, por que tão perfeito?" era tudo que eu conseguia pensar. Enfim, a aula acabou e aquele silêncio estranho de "vamos sair juntos daqui ou não" ficou no ar, até que Alex o quebrou perguntando:

— Qual é a sua próxima aula?

— Hm.. Deixa-me ver - peguei meu horário - piano, e a sua?

— Marcenaria. Sabe onde fica?

— Descendo as escadas, primeira sala depois do refeitório.

— Ótimo, obrigado. Bom, vou indo então. Boa aula.

Melhores dois períodos - sim ou com certeza?

Enquanto ia em direção à sala de música tudo o que conseguia pensar era em qual devia ser seu número de telefone. "Não Carol, o ano mal começou, te aquieta e esquece ele" disse para mim mesma.

Cheguei à sala de música com olhares vagos, que atraíram a pergunta:

— Oi? Está aí? - Era Will, meu amigo da banda.

— Que? Ah, oi... O que foi?

— Parece que você está viajando, está tudo bem?

— Sim... - conto sobre o Alex ou não? Melhor não. - Tudo ótimo.

Com um olhar desconfiado, a observação foi deixada de lado.

— Então Carol, como foi seu verão? - Perguntou Will.

— Bem legal, na verdade. Fiz várias composições para o coral, olha só. - Dei as partituras para Will, que não teve tempo de ver, já que o professor Carson já estava entrando na sala.

— Ah, bom dia alunos! Tiveram um bom verão? - perguntou Sr. Carson.

E assim se foi mais um período e já era horário do almoço. Na saída da sala de música, Will perguntou:

— A Lauren já falou contigo sobre a festa na casa dela?

— Ela já vai dar uma festa? Que apressada hein.

— Pois é... Enfim, vai ser a festa de abertura do ano, você vai?

— Vou pensar. Falo com ela no almoço. Tchau Will! - Disse quando tentava o dispensar para procurar Alex. Will ficou me olhando com uma cara estranha, mas foi em direção aos seus amigos.

Será que eu deveria ir nessa festa? As festas da Lauren são bem, vamos dizer, "agitadas", e a única coisa que eu me preocupava era se iria ou não poder levar Alex.

Peguei minha comida e fui sentar numa mesa com Lauren, Amanda e Catherine. Infelizmente não tinha visto Alex na fila. Será que as cheerleaders já haviam tomado conta dele? Espero que não.

— Gente, festa na minha casa sexta pra comemorar o início do ano letivo. Vocês vão, né? - Disse Lauren.

— Não sei, provavelmente. - respondeu Cat.

— Acho que eu também. - disse Amanda.

Ok, aquela era a minha brecha.

—Lauren... Hm... Eu posso l-levar alguém??

Todas me olharam com curiosidade.

— Quem? - Perguntou Lauren, rindo.

— Ah, só um cara que eu conheci na aula de história...

— Aí Meu Deus Miga! Conta tudo! - gritou Amanda.

— Calma, calma. O nome dele é Alex. Imaginem um anjo com o melhor sorriso. Não há como descrever melhor.

 - Ele é gato? Só entra na minha casa se for gato. - disse Lauren.

Fiquei vermelha e elas já começaram a rir de novo.

— Se vocês não pararem de rir eu não o levo. Querem conhecer ele ou não?

Ficaram quietinhas e o assunto não foi abordado de novo até o fim do almoço.

— Lauren, a festa vai ser como da última vez? - perguntou Amanda.

 - Como assim "como da última vez"?

— Bem, você sabe... Rolou umas coisas lá...

— Está falando da bebida?

— É.

— Aquilo foi culpa dos meus primos e você sabe disso, não vai acontecer de novo.

Digamos que a última festa não tinha sido muito agradável com todo mundo. Amanda ficou bêbada na casa da Lauren e acabou ficando com Ted, o cara mais sem noção da escola - coisa que se arrepende até hoje.

 - OK. - E todas nós nos dirigimos para aula de geografia, única coisa que tínhamos juntas.

 

 

Anna

Primeiro dia de aula, a mesma escola, as mesmas pessoas que eu vejo nos corredores a anos, porém nunca conversei, alguns “olás” tímidos e abraços sinceros. Chato, chato, chato. Ao ver certas pessoas nos corredores eu agradeço a Deus por não ser mais a nerd que eu era a alguns anos. Agora eu tenho mais amigos, não sou a garota quieta que senta sozinha na última fileira e conversa apenas com poucas pessoas. Eu com certeza não sou mais essa garota, sou espalhafatosa demais para isso. Claro que eu não mudei completamente, e ainda tenho uma ou duas bengalas emocionais, como uma forma de manter a velha Anna viva, talvez. Eu canto desde os oito anos de idade, e já tive todo o tipo de aula de técnica vocal que existe, desde as usuais às que envolvem dança moderna... Depois de oito anos estudando música digamos que eu sou muito boa nisso, e mesmo assim nem mesmo meu melhor amigo sabe disso. Cantar para estranhos é moleza, mas enfrentar Downtown High é demais para mim.

                Finalmente vejo, no fim do corredor, um rosto conhecido.

                - Will! Seu lindo, que saudade! Você conseguiu ficar mais nerd durantes as férias ou é impressão minha?

                - Oi! Quanto tempo, eu não sou nerd, sou músico. Você é nerd, Anna.

                - Nerd não, e não gosto de títulos assim, mas se for escolher um, os mais usados no meu caso são “hipster estranha que usa tweed no dia-a-dia” ou “geek sarcástica impiedosa”. Pode escolher.

                - Okay, senhora hipster. A volta as aulas merecem um toca aqui lá em cima.

                - Com certeza!

O toca aqui lá em cima é um hi-five que nós fazemos em momentos especiais, e, sempre que fazemos todos os alunos, professores e funcionários viram-se e nos olham com pena, por sermos tão estranhos. É basicamente um hi-five em que saímos correndo um em direção do outro e gritamos “LÁ EM CIMA” enquanto, em um pulo, o toque acontece.

                - Vou para a aula de química, até.

                - Boa aula. Boa sorte para não dormir no primeiro período do ano.

                P.S.: Gente, ele não é meu namorado, nem será, eu não gosto dele, somos apenas, e nada mais que amigos, com isso entendido, podemos prosseguir.

                Os próximos dois períodos eram aula de química. Mas antes mesmo que eu chegasse no laboratório, Lauren apareceu, ela é minha amiga desde o ano passado, mas já sabe muita coisa sobre mim, e, quem me chama de hipster é por que nunca conheceu a Lauren. Alternativa é apelido para ela.

                - Oi gata! – Disse ela, gritando, como sempre – Alguma novidade das férias? Algum namorado? Eu sei que sim, fala tudo!

                - Lauren, desiste, namorar não deve ser o meu forte, e os caras nem notam que eu existo... Mas quem sabe esse ano, afinal, eu tenho dezesseis anos.

                - Apoio. Esse ano vamos te arranjar alguém. Falando nisso, eu vou dar uma festa sexta, quero te ver sendo super extrovertida, quem sabe não conhece alguém... Um cara... Ou pode ficar com o Will, vocês nasceram um para o outro, mesmo.

                - Lauren! O Will não é meu tipo, e além disso é meu melhor amigo... E ele me disse depois de muita tortura da minha parte que está gostando de uma garota aqui da escola, só não sei quem ela é. Quanto a qualquer outro, se for para ser será, e nem vem dar uma de cupido.

                Depois disso me dirigi ao laboratório, passando pela sala de marcenaria, que eu realmente nunca entendi por que existe, e tive uma desagradável surpresa: Jullie... Uma garota popular, daquelas que acordam com o cabelo perfeito e sem mau-hálito. Ela nem deve saber que eu existo, e pelo jeito não notou quando eu passei pela sala. Ela continuava na escola, claro, já que esse é o reino dela, e já estava se esfregando em um cara novo, um tal de Alex, que é exatamente o garoto pelo qual todas se apaixonam, todas menos eu, que nunca gostei de verdade de ninguém... “Anna, a eterna BV, solteira e deslocada”. Começo a temer que essa seja eu de verdade. Dezesseis anos e nenhum antecedente amoroso, um caso raro, admito. Com esses pensamentos na cabeça me sentei na carteira, larguei a mochila, esperando por dois períodos de uma tortura, também conhecidos como aula de química. Para agravar a situação, nenhum dos meus amigos estava lá. “Essa aula vai ser insuportável..." pensei.

                 Não podia estar mais errada.

                A professora escolheu as duplas, e eu fiquei com um garoto lindo que teve aula de literatura comigo por uns dois anos seguidos, Peter. Ele tem lindos olhos que ficam entre o verde e o azul, cabelo loiro ondulado e um maravilhoso sorriso inocente.

                - Prazer, meu nome é Anna. – Disse, no caso de ele não ter me reconhecido. Eu odeio quando as pessoas não se lembram de mim, me faz sentir diminuída, por isso sempre me apresento para quem talvez não saiba quem eu sou.

                - Oi, sou Peter, você deve se lembrar, eu fiz literatura com você no ano passado.

                Agora eu estava envergonhada. Claro que ele se lembrava de mim, eu não sou exatamente uma pessoa discreta... Algo no fato de ele ser tão lindo me fez pensar que talvez eu não fosse boa o suficiente para ele recordar, e esse é exatamente o sentimento que eu estou tentando deixar de lado daqui para frente.

                - Desculpa, é claro que eu lembro de você. Você declamou Shakespeare na aula com perfeição.

                - Duvida da luz dos astros, de que o sol tenha calor, duvida até da verdade...

                - ... Mas confia em meu amor... - completei automaticamente, sem perceber o quanto isso era estranho. Ninguém sai citando Hamlet assim, na primeira conversa com alguém.

                - Sim! Exatamente assim! Eu adoro Hamlet, mas acho que Sonho de Uma Noite de Verão é o meu favorito. – Falou, de repente super animado.

                Vai ser bom ter alguém para conversar durante as aulas. Alguém lindo, culto, com um sorriso maravilhoso.... E foi para aquele sorriso maravilhoso que eu olhei durante os dois períodos de química, e apesar de eu não ter prestado atenção nenhuma na aula, química era o que não faltava ali.

                Falamos sobre livros, filmes, séries e música e eu pude perceber como realmente temos gostos parecidos.

                - Você percebeu que durante esses dois anos nós passamos um pelo outro sem nem pensar em conversar, e aqui estamos nós agora... - disse enquanto guardava meus materiais no fim da aula.

                - Eu realmente queria ter notado antes que você não era só mais uma daquelas garotas bonitas e sem conteúdo.

                Apesar de ele estar claramente me cantando - claro que eu notei, não sou idiota -, eu posso sentir que há um quê de verdade nisso tudo.

                Eu, como parte da narração, deveria saber explicar o que estou sentindo, então me perdoem por isso... Eu não faço a menor ideia.

                Durante os próximos períodos eu analisei o que eu sabia sobre ele: Seu nome é Peter Rambolt, tem dezessete anos de idade, ama Shakespeare, sorvete e Red Hot Chili Peppers, acha crocs a pior peça de roupa já inventada, porém páreo com pochetes, mora no mesmo bairro que eu, ama história, detesta matemática. Leu todos os livros de Crônicas de Gelo e Fogo, porém nunca assistiu Game of Thrones. Mas há também coisas que eu descobri recentemente sobre mim mesma: Eu acho Peter lindo. Estou com medo de me apaixonar por ele.

                Até hoje eu me vi com a garota que não se apaixona, e, apesar de não querer ser uma velhinha solitária com doze gatos, eu tenho medo de deixar de ser essa garota. Eu tenho medo de fazer alguma coisa idiota por amor e quebrar a cara, tenho medo de me apaixonar pela pessoa errada, e, acima de tudo isso, eu tenho pavor de que a pessoa certa não se apaixone por mim. Sendo como eu sou eu provavelmente não aguentaria muito tempo e iria acabar contando logo para o garoto que eu gosto dele, e alguma das três coisas acima aconteceria.

                Quando a aula acabou eu voltei para casa com Izzie, a diretora do jornal da escola e falei para ela sobre o garoto da aula de química.

                - Bem, esse garoto parece ótimo, tirando o fato de que você o conhece a algumas horas... Mesmo assim eu tenho que me cerificar. Lembra daquela promessa que você me fez três anos atrás?

                - Você será a primeira a saber quando eu gostar de alguém...

                - Não! Eu serei a primeira a saber quando você beijar alguém. Não tente me enganar, pois eu me lembro perfeitamente.

                - Combinado, eu não quebro promessas. Tchau Izzie, até amanhã.

                Nos afastamos e eu fui para casa, envolta em pensamentos confusos sobre Peter, crocs e sobre mim mesma.


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