No Fim escrita por Flávia Monteiro


Capítulo 13
Novo Habitat




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# 17 de Outubro, 8:23 AM#

     Ao chegar à cidade, o carro parou em frente a um enorme prédio luxuoso. – Pode descer – disse DP saindo do carro.

     – Não quero. – respondeu Jenny com uma voz gélida.

     DP voltou-se para ela com a voz calma como sempre.

     – Se você não descer desse maldito carro por bem, vai descer por mal.

     Os olhos dela foram encontrar os dele lentamente.

     – Eu-não-vou. – sibilou

     – Tudo bem. Paty! – gritou DP para a garotinha ruiva que já estava entrando curiosa no prédio.

     Ela voltou-se para o carro com seus olhos ainda ardendo de curiosidade.

     – Ela não quer. – explicou DP à garotinha.

     Ela entrou no veiculo e sentou-se na frente de Jenny que, não desviou os olhos da janela. Paty levou uma de suas mãos até a cabeça de Jenny, que respondeu com um tapa em seu pulso, antes mesmo de a mão encontrá-la. Paty ficou um pouco constrangida. Resolveu não ligar para Jenny e manteve sua mão no ar enquanto pousava a outra em sua têmpora. 

     Jenny sentiu seu estômago revirar e sua cabeça pesar uma tonelada. Ela balançava a cabeça para ver se a sensação passava, mas sentia como se seu cérebro estivesse sendo jogado de um lado para o outro. Estava prestes a vomitar. Saiu do carro e, ainda se agarrava à porta dele quando aquela sensação passou. Ergueu a cabeça e viu DP ao seu lado. Ele apertou seu braço e a guiou pelo interior do prédio, enquanto Paty circulava livre por aí.

     Ele a levou ao elevador que, pelo que Jenny pode perceber, parou no terceiro andar. Era um enorme salão branco, dividido em salas menores por paredes de vidro. Ao meio, um longo corredor levava á uma mesa com pernas prateadas e tampo também de vidro. Ali, estava um homem sentado entretido com seus papéis que, levantou os olhos deles apenas quando Jenny e DP se aproximaram o suficiente.

     – Aqui é horrível! – murmurou Jenny para si mesma.

     – Calada. – ralhou DP – Olá, Mestre Ivan.

     A mudança para a voz calorosa ao dirigir-se ao homem, irritou Jenny. Aquele homem aparentava mais ou menos 30 anos, era novo demais, na opinião de dela, para ser chamado de Mestre.

     – Olá, meu jovem. Veio em busca de o quê?

     – Esta moça, precisa aprender a se controlar melhor.

     – Quanto tempo?

     – De uma semana a um mês.

     – Só isso? Tem certeza?

     – Ela é rápida. Eu juro.

     – Minha jovem, - Ivan se virou para Jenny – o que você faz?

     Jenny aproximou-se mais da mesa de Ivan até conseguir apoiar as duas mãos nela. Os olhos de DP ficaram ligeiramente arregalados. Ela sorriu sem mostrar os dentes para Ivan. No segundo seguinte as ultimas salas de vidro explodem, curiosamente espalhando apenas vidro e fumaça ao redor. As salas seguintes repetem a ação, cada vez chegando mais perto do lugar onde eles estavam. DP se agachou protegendo o rosto e Ivan jogou-se embaixo da mesa. Jenny nem sequer se moveu de onde estava, apenas fechou os olhos quando as salas ao seu lado a banhavam com estilhaços de vidro.

     Tudo ficou em um silêncio profundo enquanto a fumaça baixava. DP ficou em pé e mediu a devastação ao seu redor e Mestre Ivan se apoiou nas bordas da mesa e deu uma espiada por sobre ela. Quando encontrou Jenny analisando sua reação bem à sua frente, se pôs em pé rapidamente, escorregando nos pedaços de vidro aos seus pés e apoiando-se na mesa para não cair. As pessoas que estavam dentro das salas de vidro saíram de trás de suas proteções improvisadas ou se levantaram para ver o que tinha ocorrido.

     – Você vai ter que dar um jeito nisso, Jenny. – lembrou DP

     – Claro que vou. – e virou-se para Ivan – Você está pronto?

     – Para o quê?

     O vidro que estava espalhado pelo chão se derreteu e se arrastou para várias direções. As pessoas se assustaram e algumas quiseram sair de onde estavam.

     – Não se movam! – avisou DP, sua voz ecoando pelo salão.

     Como naquele dia no quarto de Jenny, o vidro ia se solidificando só que, desta vez, formando as paredes que separavam as salas individuais. Lentamente as paredes de vidro iam se levantando e, algumas pessoas as tocaram para se garantir que estavam como antes. Ivan estava de olhos descaradamente arregalados passando de Jenny para DP.

     – C-como fez isso? – gaguejou Ivan.

     – Prática. – riu Jenny.

     – Ela pode fazer com que tudo faça o que ela quer. – disse DP revirando os olhos. – Se ela quiser chuva, chove; se ela quiser invadir os sonhos de alguém e acabar com a noite, ela faz; mas ela não brinca de dominar os cérebros das pessoas, não mais.

     – Qual é o problema então?

     – O temperamento rebelde a faz usar os poderes contra os outros.

     – Quantas vezes - disse Jenny entre os dentes – eu tenho que falar que ela me atacou primeiro?

     – Em frente aos humanos a gente se vira como pode e, não utiliza os poderes!

     – Ele já devia saber disso, e eu disse que vou contar! – rugiu ela.

     – Você está... – interrompeu Ivan apontando para Jenny.

     Ela passou a mão em sua testa e viu o liquido vermelho entre seus dedos.

     –... Sangrando.

     –Droga de evolução! – Jenny murmurou.

     – Você é uma... Uma...

     Ivan gaguejava enquanto via Jenny tentando secar o sangue com a manga da blusa.

     – Ela só tem um pequeno problema! – explicou DP.

     – Mas ela é uma guardiã! – admirou-se Ivan

     Jenny se sentiu um pouco encabulada, sem saber o que dizer a Ivan.

     – Ela precisa de suas aulas com urgência! – lembrou DP.

     – O que você está fazendo, meu jovem? – Ivan continuava impressionado com eles – Guardiões não precisam de treinamentos. Eles têm dons naturais de adaptação dos poderes.

     – Uma ajuda não seria rejeitada, seria?

     Jenny corria os olhos de Ivan para DP e para Ivan novamente.

     – Claro que não, mas...

     – Então a deixo em suas mãos. Tenho que fazer uma coisinha. Com licença.

     DP saiu da sala a passos largos, sem se despedir de Jenny ou de Ivan.

     – Minha jovem, - disse Ivan – pode me acompanhar, por favor?

     Ao lado do elevador em que Jenny havia chegado, tinha outro que ela não notou quando chegou. Eles entraram ali e quando as portas se fecharam Jenny perguntou:

    – Por que o senhor estava impressionado por eu ser uma Guardiã?

    Ivan pigarreou e respondeu:

    – Guardiões não estão em cada esquina, entende? São muito raros e são conjurados apenas em casos extremos. Imagino que você saiba por que foi conjurada, não?

    Jenny encarava os botões que indicavam andares ao canto.

    – Eles não confiam no governo. – respondeu.

    – Isso é obvio. Por quê?

    – Não têm rei atualmente e, eu tenho que encontrar e proteger o rei deles que está nessa dimensão. Não é tão difícil assim.

    – Pode não parecer difícil, mas, é uma responsabilidade e tanto, mocinha! Imagino que seja do reino de Tyfer, estou certo?

    – Não.

    – Que pena. Então é de Cynah?

    – Sim.

    – Humm, você vai conhecer a princesa de Tyfer um dia. Ela é parte de um acordo com seu reino.

    – Que acordo?

    – Jenny virou-se para Ivan, interessada.

    – Você não sabe? Ela vai te substituir quando você morrer.

    – Aposto que o senhor está pensando que eu não sei que morrerei em dois anos, e que penso que viverei até ficar velhinha.

    – Então você sabe? – ele trincou os dentes.

    – Eles me contam tudo desde que eu tinha menos de um metro. Mas como o senhor sabe dessa história que eu não sei?

    – As histórias mais importantes dos reinos são conhecidas por quase todos eles. E, digamos, a sua é uma das mais comentadas e lembradas entre eles. Você não sai muito dessa dimensão, não é?

    Jenny não entendeu a pergunta de Ivan. 

    – Quase sempre estou em Cynah. – respondeu.

    – Eu me refiro aos outros reinos. Aos mais de 200 reinos espalhados por aí.

    – Eu não possuo as chaves deles. – disse indiferente.

    – Mas sem duvida seu Mestre as tem. Porque você acha que ele viaja tanto ultimamente?

    – O que quer dizer? 

    – Ele está viajando de reino em reino buscando uma saída para que seu destino não se cumpra. Para quebrar o pacto entre os humanos e os mutantes de Cynah, entende?

    – Ele não pode fazer nada. E eu já escolhi meu destino há tempos, minha morte será a mais rápida possível.

    O elevador parou e Jenny olhou para o marcador de andares que tinha o numero 13 em vermelho para se lembrar. Eles saíram para o corredor à frente que os rodeavam de portas.

    – Quem disse que você pode confiar no seu governo? – continuou Ivan     – Eles não gostam nem um pouco de você, é o que dizem. Eu acho que vão fazer o contrario do que você pedir. Uma morte lenta e dolorosa para a inimiga deles. Por falar nisso o que você fez para eles te odiarem tanto?

    – Existi. Eu sou mais forte do que eles pensaram e, segundo eles, estou demorando demais em fazer o que devia. Eles não podem tocar ou entrar em contato com o rei antes que eu o encontre e o ponha a par dos acontecimentos. E eu ainda não fiz essa segunda parte.

    – Se eu fosse você não faria isso, eles vão te apunhalar pelas costas.

    As portas do elevador se abriram para uma sala extremamente mobiliada, mas, ao mesmo tempo, aconchegante.

    – Se você não se importar, eu gostaria de ter uma conversa com a senhorita antes de levá-la ao seu quarto.

    – Ok.

    Ivan a levou até o sofá no canto da sala, no qual duas grandes janelas refrescavam o ambiente com uma leve brisa. Jenny sentou-se sobre uma de suas pernas enquanto Ivan sentava-se no outro sofá à sua frente.

    – Então, agora podemos conversar como velhos conhecidos. Prefere começar ou quer que eu comece?


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Notas finais do capítulo

vocês poderão perceber q o nome do reino a ql Jenny se refere é um tributo ao site. eh pq eu amoo esse site!! rs



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