O Último Reino Antes do Fim escrita por Cherry_hi


Capítulo 6
Ato 6 - A Hime faz uma amiga


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Sakura Card Captor e seus personagens pertencem ao CLAMP.



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O Último Reino Antes do Fim

Escrito por: Cherry_hi

Revisado por: Yoruki Hiiragizawa

Ato 6 - A Hime faz uma amiga

— Chegamos!!! - Exclamou a Hime, animada.

Do alto do terreno montanhoso e acidentado em que a cidade se assentava, ela podia ver como Taiyohama era bonita. Composta praticamente de uma rua central que descia a encosta escarpada da montanha até a praia, havia uma coleção de prédios baixos coloridos, com as janelas pintadas de branco. Ela também podia sentir o cheiro fresco de maresia e o som distante das águas batendo nas rochas.

— Watery! Flower-san! Kero-chan! Olha que lugar lindo…

— Elas não estão ouvindo, Hime-sama. - Kero falou, parecendo aborrecido e apontando para um ponto atrás da moça.

Para variar, as duas estavam discutindo. Desde o momento em que a moça ruiva se juntara ao grupo, Watery não parava de implicar com ela. Primeiro foi por causa da provocação em Hanamura. Depois porque Flower, aparentemente, era ainda mais difícil de acordar que a Hime e gostava de dormir até muito tarde. Verdade que acabaram chegando um dia depois do esperado, mas ela sinceramente não via muito problema nisso.

A discussão do dia era sobre a própria Watery. Flower argumentou que seria melhor se a garota ficasse escondida na forma de água, para que não chamasse tanta atenção para a Hime.

— Por que EU tenho que ficar apertada dentro de um cantil enquanto você fica passeando à vontade??? Transforme-se você num vaso de flores!

— Watery, você já foi vista em duas cidades diferentes com a Hime. - Argumentou Flower, pacientemente. - Vai ser fácil associá-la a você. Eu sou nova no grupo e perfeitamente capaz de protegê-la.

— Mas você não pode mudar essa sua cara de sonsa! - Rebateu, Watery, teimosa - Já eu posso mudar minhas roupas, a cor da minha pele, meu rosto e me passar perfeitamente por outra pessoa!!!

— O problema é que você não pode ficar muito tempo em outras formas. Gasta muito da sua magia e você ainda não se recuperou completamente desde que escondeu a Hime de Fly.

— Eu…!

— Flower tem razão, Watery. - A Hime interrompeu o que provavelmente iria virar uma guerra. - Você não diz, mas sei que ainda está cansada. Passar algum tempo recuperando suas forças vai ser muito bom pra você.

Os ombros de Watery caíram e ela olhou para a Hime, arrasada.

— Você também acha que eu… não posso proteger você? - Os grandes olhos negros se encheram de lágrimas.

— Ninguém disse isso, Watery. Você se mostrou muito corajosa e competente até agora. E está na hora de você ter um descanso. - A Hime apertou carinhosamente os ombros da menina. - Pelo que que você me dizia, sempre trabalhou muito no Conselho. Acho que está na hora de tirar umas férias. Vamos fazer o seguinte: em vez de ficar o tempo todo dentro do cantil, vou te colocar nas águas do mar e você vai aproveitar a brisa e a luz do dia, está bem?

Watery ainda não parecia muito convencida, mas acabou concordando tristemente com a cabeça.

— E eu prometo que, na próxima cidade, vou me passar por um colar de flores que vai enfeitar sua cabeça! - Exclamou Flower, toda feliz.

— Mas nem pensar!!

A Hime e Flower dividiram as coisas que Watery carregava e a princesa abriu o cantil, oferecendo para a menina. Ela suspirou.

— Bom… vejo vocês na praia, então.

Ela se transformou em água e entrou no recipiente, que foi fechado logo em seguida.

— Pelo menos ela vai poder ficar livre na água. - Foi a vez de Kero resmungar. - Já eu terei que passar o dia inteiro nessa mochila escura.

— Ou você pode fingir que é meu bonequinho de pelúcia!! - Flower pegou Kero e lhe deu um abraço bem forte, toda feliz. - Levarei você para passear e colocarei um laço lindo na sua cabeça!!!

— Ai, ai!!! Não!!!! Nããããoo!!! Prefiro a mochila!! Socorro!!

Ele conseguiu se livrar de Flower e entrou resmungando no bolso menor da mochila.

— Você tem umas técnicas de convencimento bastante eficientes. - A Hime observou, sorrindo.

— Hahahahaha! Pode até ser, mas se você não tivesse interferido, estaria até agora tentando dobrar a teimosia de Watery-chanchan!!

— Eu ouvi isso!!!!! - Elas escutaram a voz abafada e zangada através do cantil de couro.

 

 

Depois de algum tempo de caminhada, chegaram à cidade. Logo na entrada, onde havia um grande arco com o nome da cidade, dois adolescentes cumprimentavam efusivamente as pessoas que chegavam. Não foi diferente com a Hime e Flower.

— Bem vindas a Taiyohama, a melhor cidade turística de todo o Reino das Flores de Cerejeira!!!! - Falou animadamente o rapaz. - Meu nome é Togure Hideki e sou um dos guias turísticos, juntamente com a minha prima, Setsuna. - Ele apontou para a jovem sorridente que o acompanhava. - É a primeira vez que visitam nossa amada cidade?

— Er… sim. - Respondeu a Hime, hesitante.

— Então precisam ver todos os passeios turísticos que oferecemos. Existe a rota dos pescadores, uma trilha que os fundadores de Taiyohama faziam para chegar ao porto todas as manhãs; a Caverna da Coragem, onde todos os anos, durante o Matsuri de Verão, pessoas de todo o Reino vem colocar à prova sua bravura; existe ainda…

— Desculpe, não quero ser rude, mas… - Flower interrompeu o rapaz, suave, mas determinada. - Não vamos passar muito tempo na cidade. Tudo o que desejamos é uma boa estalagem e, quem sabe, algum lugar que esteja precisando de uma ajuda temporária.

— Puxa, que pena… mas imagino que vocês estejam de passagem para Seitomura?

A hime ia responder que sim, mas Flower foi mais rápida.

— Não, não… estamos indo para Hanamura. Estamos querendo distância da Capital, depois do que aconteceu…

— Entendo… - Falou Setsuna, pela primeira vez, parecendo triste - Depois do golpe que aconteceu em Watashi, é compreensível que as pessoas queiram sair daquelas bandas… vocês são de lá?

— Não… morávamos em Okiyama.

— Já que é assim, temos boas estalagens na cidade. - Explicou Hideki -  Alguma preferência?

— Talvez uma perto da praia… - Pediu a Hime, pensando em Watery.

— Acho que vocês vão gostar da “Hitode” É uma das melhores e possui uma excelente vista.

— Em relação a trabalho, estamos no sábado e o fim de semana é sempre movimentado. - explicou Setsuna. - Talvez alguma das lojas precise que alguém para fazer trabalhos temporários.

— Obrigada.

Hideki deu instruções de como chegar à estalagem e elas desceram a estradinha principal, admirando os prédios bem cuidados. As pessoas tinham a pele mais corada de sol e os cabelos claros, além dos costumeiros sorrisos. Mas, diferente de Hanamura, alí os efeitos dos acontecimentos recentes na Capital do Reino pareciam ser mais visíveis. A Hime conseguiu captar algumas conversas preocupadas sobre a situação de Watashi e com relação ao seu desaparecimento. Flower deve ter notado seu desânimo, pois, a abraçou pelo ombro e esticou suas bochechas para forçar um sorriso.

— Essa cara triste não combina com você, querida!! Anime-se e tudo vai se ajeitar.

Embora ainda se sentisse melancólica, era impossível ficar impassível diante da alegria de Flower.

Chegaram até o final da rua principal, que se abria para uma praia de areia clara e muito fininha, banhada pelas ondas das águas verde-claro. O mar ia gradualmente se tornando azul a medida que se fundia com o horizonte sem nuvens. Era de tirar o fôlego.

— Uau... que lindo!

— Que tal a gente primeiro soltar Watery na água antes de irmos pra estalagem? Aí aproveitamos para dar uma volta pela praia.

A Hime concordou e, tirando os sapatos, as duas colocaram os pés na areia fofa da praia. Havia uma boa porção de pessoas aproveitando o dia bonito, fazendo piqueniques, jogando bola ou simplesmente caminhando pela orla. A praia em si não era muito grande e elas podiam enxergar, à extrema direita da costa, um píer que avançava pelas águas e onde alguns barcos de pesca estavam atracados. Ali o movimento era bem menos intenso e a Hime e Flower caminharam até aquele ponto. Tentando não parecer muito suspeita, a garota fingiu se abaixar para lavar as mãos na água morna e destampou o cantil. Watery imediatamente se derramou na água, de um azul mais escuro que o mar, mas rapidamente se mesclou à água. Ela se ergueu levemente com o rosto sorridente a mostra

— Ah… agora sim!!! Que água maravilhosa!

A Hime aproveitou e abriu um pouco a mochila, para que Kero também pudesse aproveitar um pouco.

— Que lugar bonito!! E esse cheiro… - Ele inspirou profundamente a brisa marítima. - Eu deveria gostar muito daqui, com certeza!

— E gostava, lógico! - Flower disse, animada - Lembra que o Togure-Kun falou de um Matsuri? A Hime-sama e alguns conselheiros vinham todo ano, fazer parte das festividades. Se bem que… - Ela deu uma risadinha marota. - Vossa Alteza nunca quis fazer a prova de coragem.

— E por quê?

— Por causa dos fantasmas.

Pareceu que o sangue dentro de suas veias gelou.

— F-fantasmas??? Existem fantasmas aqui???!!

— Calma, Hime-sama. - Watery subiu um pouquinho mais. - É só uma lenda local e tudo não passa de uma grande encenação. São só pessoas que se vestem de fantasma. Relaxe.

— Ufa! É bom saber que não existem fantasmas no Reino…

— Hã… eu não disse que não existiam fantasmas no Reino. Disse que eles não existiam aqui, em Taiyohama.

A Hime voltou a ficar apreensiva.

— Hoeee??

— Mas não se preocupe… - Flower tratou de tranquilizar a Hime - Todos os fantasmas estão em Kehasai, a cidade dos Espíritos, de onde passaremos bem longe.

— Não sabia que você tinha medo de fantasmas. - Observou Kero.

— Pra falar a verdade… nem eu. Até que elas mencionaram. - observou a Hime, surpresa.

— Deve ser por causa de sua amnésia… - Flower olhou ao redor e então se moveu um pouco, casualmente. - É melhor sairmos daqui. Estamos chamando atenção.

— Certo. Qualquer coisa, Hime, é só assobiar que virei correndo. - Disse Watery, antes de se dissolver na água.

— Kerberus-chan, melhor você também se esconder. - Pediu Flower, abrindo a mochila da Hime.

O Guardião, suspirou, mas obedeceu sem reclamar.

— Vamos, então, procurar a estalagem? - A Hime concordou com a cabeça.

Não foi difícil encontrar o lugar indicado pelos guias turísticos. Era uma grande casa de dois andares, com uma estrela do mar vermelha pintada acima da porta. Lá dentro, uma mulher séria, porém muito atenciosa, alugou-lhes um quarto que tinha vista para o mar. Flower e a Hime colocaram suas coisas nas respectivas camas e Kero saiu da mochila, espreguiçando-se.

— Esse ar gostoso pede um prato com muitos frutos do mar… será que eles servem peixe aqui na estalagem?

— Não sei, mas, de qualquer forma, você vai ter que esperar eu ou Flower voltarmos para comer. - Disse a Hime, guardando suas roupas na cômoda.

— Mas eu estou morrendo de fome!! - Reclamou o guardião, olhando insistentemente para a garota.

— Eu ainda tenho algumas coisas de comer dentro da bolsa, Kerberus-chan! - A moça ruiva entregou um saquinho com doces para ele. - Vai ter que se virar com isso até voltarmos.

— Ah, ele vai sobreviver. - Disse a Hime, apesar dos protestos de Kero. - Se cuida e não deixe que ninguém o veja.

— Onde você vai tentar arranjar emprego? - Perguntou Flower, após saírem do quarto.

— Huuum… talvez em algum restaurante ou numa doceria. Gostei de trabalhar com comida.

— Vou fazer isso também. Podemos nos candidatar juntas.

Era um bom plano, mas, infelizmente, não deu certo. Logo encontraram um restaurante que precisava de assistente de cozinha, mas era apenas uma vaga, que a moça ruiva pegou com facilidade. A Hime tentou vários lugares, mas ou precisavam de alguém que pudesse ficar por mais que dois dias ou pediam mais experiência.

Estava quase desistindo quando viu um anúncio de emprego na vitrine de uma pequena floricultura. Não custava tentar.

Foi recebida por uma ajudante atarefada, que a informou que a dona da loja havia saído, mas que ela poderia esperar, se quisesse. A Hime se sentou num banquinho, observando duas mocinhas da sua idade correrem de um lado para o outro. Elas colocavam rosas, margaridas, flores de pessegueiro, cerejeira, orquídeas e muitas outras flores coloridas em grandes vasos de porcelana, fazendo bonitos e grandes arranjos. A Hime ficou curiosa para saber quem teria encomendado as flores.

Depois de uns quinze minutos de espera, duas mulheres, uma já adulta e com feições determinadas e outra de sua idade, de olhos muito bondosos, entraram na loja. A Hime teve a estranha sensação de já conhecê-las de algum lugar…

— Senhora, essa mocinha veio aqui por causa da vaga de emprego. - Falou uma das floristas, se dirigindo a mais velha.

— Ah, ótimo!!! - A mulher abriu um bonito sorriso. - Que tal conversarmos no meu escritório? Tomoyo-chan, dê uma checada nos arranjos para que esteja tudo certo, sim?

— Claro. - a mocinha de olhos bondosos lançou um olhar curioso para a Hime e começou a conferir o trabalho das floristas.

— Queira me seguir, por favor? - A dona abriu uma porta, pela qual a Hime entrou. Após fechá-la, dirigiu-se até a escrivaninha e sentou-se. - Então, está aqui pela vaga?

— Sim… Embora… Bom, eu ficarei pouquíssimo tempo na cidade, acho que até segunda pela manhã… mas gostaria de trabalhar um pouco.

— Huuum… Tão pouco tempo… Geralmente não contratamos temporários assim.

— Eu entendo. - Retrucou a Hime, sentido-se desanimar. - Todos os lugares nos quais me candidatei falaram a mesma coisa…

— Bom… Na verdade, você está com sorte. Amanhã haverá um grande casamento na orla e precisamos de mão de obra extra aqui. Creio que você poderia trabalhar aqui até amanhã à noite, mas vou logo avisando que vai ser muito trabalho.

— Eu não tenho medo de pegar no batente!! - Hime respondeu, agora animada. - Trabalhei numa taverna e em uma doceria no meio caminho para cá!

— Oras, que interessante!! Já que é assim, vou contratá-la! - A mulher respondeu - a propósito, meu nome é Daidouji Sonomi.

— Sou Maki Hanako. Muito prazer em conhecê-la, Daidouji-san. - A Hime se curvou, respeitosamente.

— O prazer é meu, Maki-chan. - Daidouji-san se levantou e abriu a porta. - Infelizmente, estou ocupada no momento, mas minha filha poderá ensiná-la tudo sobre o seu trabalho. Tomoyo-chan!!!

E lá a garota estava de volta.

— Sim, okaasama?

— Mostre para Maki-chan como se trabalha aqui na floricultura, por favor.

— Claro. - Daidouji-san voltou a fechar-se em seu escritório e Tomoyo sorriu pra ela - Você já trabalhou com flores antes?

— Infelizmente, não, mas trabalhei numa estalagem como arrumadeira e numa doceria como balconista…

— Hum… Acho, então, que você pode ficar no balcão. Geralmente sou eu que faço isso, mas, como pode ver, estamos muito ocupados com essa encomenda.

— Sua mãe me disse que haverá um casamento na praia.

— Sim… De grandes figurões da Capital. Imagine só, o mundo explodindo e a noiva só se preocupa se o vestido vindo de Kasokuma chegará a tempo… - ela soltou uma risadinha divertida.

— Ah… Eu… Soube disso que aconteceu na Capital… - A Hime falou, desconfortável.

— Você não é daqui?

— Hã… Não. Vim de outro continente.

— Entendo… Eu e mamãe tivemos que fugir correndo de lá, embora eu preferisse ficar…

A Hime sentiu uma estranha nota de pesar na voz da garota. Tomoyo percebeu que a Hime a estava olhando, curiosa, e então sorriu.

— Não se preocupe com nossos problemas! Tenho certeza que a nossa Hime-sama vai colocar aquele usurpador no lugar que ele merece!!!

A Hime ficou contente que Tomoyo estivesse do seu lado.

— Bom… Deixa eu mostrar o que você deve fazer…

Enquanto a mocinha ia explicando, a Hime, discretamente, analisou-a. Ela era muito bonita, de longos cabelos negros e pele muito branca e macia. Seus grandes olhos eram azuis escuros, quase violetas, que ornavam perfeitamente com o rostinho delicado, de nariz fino e lábios vermelhos naturais. Era alta, quase tão alta quanto Flower, esguia e estava vestida com muita elegância. Tinha uma voz muito suave e expressão tranquila. A Hime sentia-se muito em paz ao seu lado.

— … E, de vez em quando, será necessário fazer algumas entregas. Isso normalmente é feito por outra pessoa, mas, outra vez, essa encomenda está mudando nossa rotina. Entendeu tudo?

— Sim, sim. Não é muito diferente do que eu fazia em Han… Er… Seitomura.  - Há tempo, a Hime lembrou que era melhor todos pensarem que estava voltando de Seitomura e não indo para lá. Se Tomoyo percebeu seu deslize, não deu pra perceber em sua expressão doce.

— Ótimo. Bom… Vou ajudar as meninas lá atrás, qualquer dúvida, é só me chamar.

 

 

Mas o dia passou tranquilo. Os poucos clientes que entraram na floricultura foram atendidos por uma Hime sorridente e atenciosa. Só pediu ajuda a Tomoyo uma única vez, quando uma senhora pediu uma flor que ela não conhecia. Saiu para fazer duas entregas, aproveitando para observar a cidade e as pessoas. Muitas voltavam da praia com os pés descalços e sujos de areia, rindo, entrando nas várias pousadas e estalagens que existiam em Taiyohama. Ficou muito satisfeita por perceber que seu Reino, até onde o conhecia, era bonito e próspero. Sua determinação em salvá-lo das mãos de Phobos só cresceu.

Após voltar da última entrega, encontrou uma das mocinhas colocando a placa de “fechado” na porta da floricultura.

— Que bom que está de volta, Maki-chan! - Tomoyo exclamou assim que a viu. - Poderia me ajudar? Quando você saiu, uma senhora encomendou um enorme vaso de flores e precisamos entregá-lo antes das oito da noite.

As duas passaram quase duas horas escolhendo e arranjando flores em um grande vaso de flores quadrado. Mas quando terminaram, ficaram satisfeitas com o trabalho.

— Ficou excelente! Agora, só precisamos entregá-lo.

— Eu posso fazer isso, não se preocupe. - Ofereceu-se a Hime.

— Você já tentou carregá-lo para ver se aguenta? Esse vaso é bem grande.

A Hime segurou com cuidado pelas laterais do vaso e quase o deixou cair: estava bastante pesado. Tomoyo soltou uma risada divertida.

— Acho melhor irmos nós duas. A casa onde devemos entregar fica bem no topo da encosta, vai ser bem cansativo.

— Você tem razão. Vou lavar minha mão e…

— Espera, Maki-chan!

A Hime não tinha visto que um pedaço do seu vestido havia ficado presa debaixo do vaso. Quando tentou se afastar, tropeçou e rasgou uma parte da barra de sua saia.

— Ah, não!! - Ela se lamentou. Era o seu vestido favorito, que comprara em Hanamura.

— Deixe-me ver isso. - Tomoyo se abaixou e examinou o tecido rasgado. - Acho que consigo consertar. Rasgou bem na linha da renda. Como estamos com um pouco de pressa, vou só colocar a renda pra dentro e depois substituo o babado.

— Imagina, Daidouji-chan. Não precisa se incomodar.

— Não será incomodo algum. São só alguns pontinhos. E não vai ser bom você chegar com o vestido rasgado na casa da Hitomi-san. Ela é uma senhora muito boa, mas é muito crítica em relação a aparência. Espere um instante que vou buscar meu estojo de costura.

Antes que a Hime pudesse protestar, a garota correu para o escritório da mãe. Voltou instantes depois com uma grande cesta cheia de almofada de alfinetes e grandes rolos de linha. Habilmente, passou uma linha verde por uma agulha e se abaixou para arrumar o vestido da Hime. Demorou menos de dez minutos e a barra do vestido estava como nova.

—Uau!!! Você é muito boa nisso, Daidouji-chan! - A Hime exclamou, muito admirada.

— Hehehehe… Obrigada! - A morena riu, espetando a agulha usada numa almofada. - Se tivesse mais tempo, poderia fazer algo mais elaborado, mas, infelizmente, precisamos correr. Ainda precisamos subir a encosta.

A Hime lavou as mãos rapidamente. Depois, ela pegou de um lado do vaso e Tomoyo do outro e iniciaram a penosa subida. A floricultura ficava exatamente no meio da rua principal  de Taiyohama, o que significava que teria que subir metade da encosta. Porém, como estava dividindo o peso com Tomoyo, foi bem mais fácil carregar o vaso.

Às oito em ponto, as duas chegaram arfantes à porta da boa senhora, que inspecionou criticamente o vaso, e as moças, antes de pagá-las regiamente pelo serviço. Quando se despediu, elogiou o vestido de Tomoyo, que ficou radiante.

— Mas realmente, é muito bonito. - A Hime confirmou, olhando para o tecido fino, de um azul escuro que combinava com os olhos de Tomoyo. - Você tem um gosto muito bom pra roupas.

— Obrigada. - Ela sorriu. Hesitou um pouco e falou, modestamente - Fui eu quem fiz.

A Hime até parou de andar, de tão admirada que ficou.

— Sério?! Imaginei que você tivesse comprado em alguma loja chique! Você realmente é muito boa nisso!!! Parabéns!!!

— Ah, não é nada. Mas obrigada pelo elogio. Sempre gostei muito de costurar. Já fiz algumas peças para algumas amigas, que também ficaram bem satisfeitas.

— Imagino que sim! Você devia trabalhar com isso!

A Hime notou que uma sombra toldou os bonitos olhos da outra garota. Mas, ainda assim, ela sorriu, com doçura:

— É muita gentileza sua dizer isso. Inclusive… Eu ficaria muito feliz se você deixasse eu consertar o seu vestido apropriadamente.

— Ah, eu não quero incomodar…

— Não vai, nem um pouco. - Repentinamente, ela se colocou na frente da Hime e pegou suas mãos. - Ao contrário, vai ser um prazer! Gosto muito de fazer isso.

— C-claro…

— Obrigada!!

A Hime ficou olhando para o rosto bonito de Tomoyo, que sorria. Quando ela segurara suas mãos, sentiu aquela sensação de familiaridade que sentira com Rika-chan, só que muito mais forte. De novo, parecia que estava para se lembrar de algo importante, mas sua mente não cooperava…

— A.. Gente já… Se conhecia antes? - A Hime não conseguiu segurar a pergunta.

— Eu tive a mesma impressão… Desde o momento em que a vi. Mas é estranho, né? já que você veio de outro continente…

Passou pela cabeça da Hime que talvez a garota já a tivesse visto na Capital ou em outro lugar, mas algo bem no fundo do seu espírito dizia que era diferente. Era mais… Profundo…

— Será que você ficaria muito incomodada se eu a chamasse pelo primeiro nome? - Tomoyo perguntou, hesitante. - parece estranho chamá-la de Maki-chan.

— Só se você deixar eu chamá-la também pelo primeiro nome… Tomoyo-chan.

— Claro, Hanako-chan. - ela ficou olhando pensativa para a Hime alguns instantes. - Mas esse nome também parece não encaixar… - A Hime sentiu um friozinho na barriga: Tomoyo era muito perceptiva. - Oras, estou tendo muitas impressões estranhas hoje.

A Hime riu, um pouco sem graça.

— Imagine.

— Bom, já que você deixou que eu arrumasse seu vestido, queria pedir outro favor. - A Hime a olhou interrogativamente. - Tenho uma roupa que costurei recentemente e gostaria muito que você experimentasse… Acho que ficaria perfeita em você.

A Hime sentiu o rosto esquentar levemente.

— Hã…

— Sei que estou abusando um pouco, mas gostaria muito que você fosse minha modelo. Você tem a altura certa e o biotipo perfeito. Por favor!! Tenho certeza que você ficaria linda nela!

O rosto da Hime esquentou mais. Definitivamente, ser modelo não era algo que a agradava muito. Pensava numa desculpa que não magoasse sua nova amiga, quando a moça falou outra vez.

— Nossa… Que gente estranha… Nunca vi esse tipo antes…

Quando a Hime olhou na direção que Tomoyo apontava, sentiu o sangue gelar nas veias. Vindo na direção contrária que elas, três soldados de rostos vazios subia a encosta. Sem cerimônia, a Hime agarrou o braço de Tomoyo e a puxou na direção de uma rua pequena lateral, onde se esconderam à sombra de um grande edifício de alojamentos.

— O que houve? - Perguntou Tomoyo, espantada.

— Aqueles homens… - A Hime sussurrou, levando a mão involuntariamente ao broche de espada - São do exército de Phobos.

— Oh! - Exclamou a outra, também abaixando o tom da voz. - O que eles estão fazendo aqui?

— Acho… Que eles devem estar procurando por… Er… Pela Hime-sama.

— Mas tão longe da Capital? Não imagino que nossa princesa tenha vindo pra tão longe, em tão pouco tempo.

— Sei lá…

— Tá, mas… Por que precisamos nos esconder?

— Eu… er… arranjei confusão com alguns deles a caminho daqui… talvez eles me reconheçam… - E aquilo nem era mentira. Só havia omitido alguns detalhes. - Esses caras são perigosos…

Ela escutaram o clanc clanc das armaduras dos homens se aproximar mais. A Hime se encostou tanto na parede do edifício que parecia querer se fundir a ele. Apertava o broche, pronta para agir, caso a descobrissem, mas pedindo mentalmente, com todo fervor, que não a encontrassem. Tomoyo, ao seu lado, sentia a tensão da moça e ficou calada.

Os homens se aproximaram e elas viram, a distância, os soldados interceptarem os poucos passantes e fazerem perguntas. Ela engoliu em seco. Esperava que nenhuma daquelas pessoas fosse algum dos poucos clientes que atendera.

Depois do que pareceu ser horas, os soldados saíram do campo de visão da moça e os ruídos da armadura voltaram a se perder na distância. Só então ela respirou aliviada.

— Nossa… eles devem ser perigosos mesmo pra você ficar tão nervosa… - Falou Tomoyo, pensativa.

A Hime engoliu em seco.

— Vi… eles fazendo coisas horríveis com quem eles achavam… que tinham informações da Hime-sama…

— Entendo…

— É melhor você ir pra casa. Toma cuidado pra não encontrar esses caras pelo…

Ela foi parando de falar a medida que Tomoyo passava o braço pelo dela, sorrindo.

— Acho que vou acompanhá-la até sua casa.

— Mas…

— Acho que vai ser mais seguro pra nós duas se formos juntas. Além disso, preciso mesmo que você me empreste o seu vestido para que eu possa consertá-lo.

— Eu…

— Não tente me dissuadir. Posso ser bem teimosa quando quero.

Apesar de sorrir, o rosto da garota estava determinado. A Hime sabia que poderia ir sozinha pra casa, até seria melhor, pois, se encontrasse algum dos soldados de Phobos, podia atacá-los com Sword. Se Tomoyo fosse com ela, teria que revelar sua identidade e não queria isso. Mas ela se emocionou com a atitude da moça de olhos azuis. Era realmente uma garota muito boa. Sorriu.

— Obrigada.

— Vamos, então?

Olharam ao redor para ver se os soldados haviam realmente desaparecido e continuaram a descer a encosta, conversando algumas amenidades. Era muito fácil conversar com Tomoyo, parecia até que já se conheciam há muito tempo. Era bom deixar um pouco as preocupações de princesa de lado um pouco e conversar sobre flores e vestidos.

Quando estavam quase chegando a praia, a Hime viu Flower subindo apressadamente a rua, visivelmente preocupada. Pelo visto, ela também vira os soldados. Ela pareceu profundamente aliviada quando viu a Hime e disfarçou imediatamente ao notar que ela estava acompanhada, colocando um sorrisão no rosto. Se Tomoyo percebeu alguma coisa, a Hime não podia dizer pelo sorriso sereno que ela exibia.

— Hanako-chan! Que bom que você chegou! Mizuho-chan queria falar com você, tem algumas novidades pra contar. Quem é sua amiga?

— Essa é Daidouji Tomoyo. Tomoyo-chan, essa é Tachibana-san.

As duas se cumprimentaram, sorrindo.

— Tomoyo-chan gentilmente me acompanhou até aqui. Tenho que entregar o vestido pra ela, que rasgou, sem querer.

— Sério?? Conte-me então como isso aconteceu. - ela pegou no outro braço da Hime e começou a andar junto com as moças. Quem olhasse, pensaria que estava tranquila e descontraída, mas a Hime sentia a mão tensa de Flower lhe apertando o braço.

 

 

Após finalmente chegarem na estalagem e a Hime entregar o vestido, Flower insistiu em acompanhar Tomoyo de volta, com a desculpa de querer dar uma olhada nas flores. A Hime ficou andando de um lado para o outro no quarto, enquanto Kero estava sentado em cima da cama, com os braços cruzados e a testa franzida.

— Era inevitável que isso acontecesse. Até achei que demorou. Provavelmente, os soldados de Phobos devem estar nos procurando pelas cidades vizinhas, agora que sabem que estamos na região.

— Flower falou que Watery queria falar comigo… provavelmente ela também viu os soldados. Ai, Kero-chan… estou preocupada!

— Vamos esperar Flower chegar e iremos falar com Watery. Decidiremos o que fazer então. Tente ficar calma e sente um pouco. Estou ficando tonto com você andando de um lado para o outro.

— Sim, sim…

Mas ela continuou em pé, inquieta, até a ruiva voltar. Ela já não sorria mais.

— Você os viu de novo?! - Perguntou a Hime, assim que ela fechou a porta do quarto.

— Não, mas escutei algumas pessoas comentando que eles foram bastante rudes. Provavelmente é isso que Watery quer nos falar. - Flower ponderou, pegando uma das bolsas e abrindo, para que Kero entrasse e eles pudessem ir.

O trajeto curto até a orla da praia foi feito em um silêncio tenso. A Hime não conseguia parar de olhar para os lados, sempre com a mão no broche. Ela até cogitou em levar Sword em sua forma verdadeira, mas Flower argumentou que chamariam muita atenção se ela andasse armada. Felizmente, a praia estava deserta àquela hora da noite e ninguém viu quando a moça ruiva foi até a beira do mar e colocou sua mão na água, fazendo-a brilhar. Segundos depois, as ondas começaram a se agitar de uma forma não natural e Watery emergiu em sua forma aquática. Seu rosto estava bastante sério.

— Eles estão aqui.

— Nós sabemos. Eu vi alguns quando voltava do meu trabalho. Consegui me esconder deles.

— Também vi dois. Infelizmente eles me viram… não tive muita escolha… - Comentou Flower.

— Alguém viu você fazendo magia?? - Perguntou Watery

— Não… eu consegui correr encosta acima e eles me perseguiram. Quando saí da cidade… bem… eles tiveram o mesmo destino dos outros.

— O que devemos fazer, então? - A Hime cruzou os braços, preocupada - Será que é prudente ficarmos aqui?

— Acho que devemos ir embora. - Opinou Flower - Se ficarmos, fatalmente seremos descobertas…

— O problema é que eles provavelmente estão por toda parte. - Argumentou Kero, flutuando distraidamente entre as três, bastante sério. - Se estão aqui, estarão em Seitomura, Kazokuma e em qualquer cidade que formos. Na minha opinião, devemos ficar e nos esconder. Ao menos enquanto nenhum Conselheiro traidor aparecer.

— Talvez a Hime deva ficar na estalagem, por enquanto.

— Ah, não! Não quero ficar me escondendo feito um ratinho covarde!

— Mas, Hime…

— Do que vai adiantar, de qualquer maneira?! Se eles estão na cidade, eles vão me procurar, sem deixar pedra sobre pedra! Em algum momento, vão entrar na estalagem e me encontrarão.

Ficaram em silêncio alguns segundos, pensando no que poderiam fazer. A Hime sentia-se como num beco sem saída e seu ânimo estava bem baixo.

— Huuuum… - Kero de repente saiu de sua posição concentrada e parecia um pouco menos carrancudo. - Vamos fazer o seguinte: Ficaremos aqui mais alguns dias. Flower, você consegue dar uma uma geral pela cidade para encontrar os soldados de Phobos? - A moça ruiva balançou a cabeça afirmativamente. - Então faça isso e acabe com eles. Imagino que vai demorar um pouco para que sintam a falta deles e venham investigar. Assim, teremos algum tempo.

— Bom… é uma ideia. - Watery disse, lentamente - Também posso ajudar Flower.

— Não, Watery. - Antes que Watery pudesse protestar, a HIme argumentou. - Você ficou muito debilitada e quero que se recupere 100%. Vamos garantir isso, fazendo com que você descanse essa noite. A partir de amanhã, você poderá fazer a ronda juntamente com Flower. Está bem?

O tom que a Hime usara era suave, mas determinado e a garota não teve como contra-argumentar. Flower esfregou as mãos, um pouco mais animada.

— É um bom plano. Vou fazer mais tarde e, logo pela manhã, antes de todos acordarem.  

— Parece bom.

— Bom… acho, então, que é melhor irmos dormir. - A Hime falou, segurando um bocejo. - Estou cansada de hoje e amanhã terei bastante trabalho por causa do casamento.

— Você também está trabalhando pra esse casamento? A doceira do restaurante onde estou trabalhando está, literalmente, arrancando os cabelos por causa do bolo. Vai passar a noite trabalhando. Ainda bem que não fui escalada pra isso…

 

 

Eles se despediram de Watery e voltaram para a estalagem. A Hime ia distraída, chutando a areia da praia levemente. Espantou-se quando Flower a abraçou de lado, apertando seus ombros.

— Não fique assim, Hime-sama!!! Vai dar tudo certo!

— Mas… parece que o cerco está se fechando e Phobos logo vai ter o que ele quer… dá um pouco de… medo.

— Eu sei. - A moça ruiva suspirou. - Mas se ficarmos assim vai ser pior, não é? Temos que ser otimistas!!! Vamos, me dê um sorriso.

Era impossível manter a seriedade quando Flower falava daquela maneira, então a Hime conseguiu dar uma risadinha. Mas também era impossível afastar a sombra da ameaça de Phobos completamente de seu coração.

 

(continua)


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoas lindas!
Espero que estejam gostando da Fic. Finalmente a Tomoyo apareceu (embora vocês só saibam me perguntar onde está um certo rapaz de olhos castanhos… 9.9).
Mais uma vez, tive que dividir os acontecimentos que tinha programado pra esse capítulo em dois, o que estende a fic mais um pouquinho. Sei que vocês adoram isso, mas eu realmente preciso aprender a ser mais direta. :P
Bom… eu creio que tenho uma má notícia pra vocês. Eu arranjei recentemente um emprego fixo (eu trabalhei como freelancer nos últimos anos) e por isso, estou com pouquíssimo tempo para me dedicar a escrever. Isso não quer dizer que vou abandonar a fic as moscas. Mas é possível que, apartir de agora, eu vá demorar mais de quinze dias pra postar. Contudo, vou manter minha promessa de postar ao menos de mês em mês. Vou fazer o possível pra manter a periodicidade de semana sim, semana não, mas não estranhem se atrasar, ok?
Por fim, como sempre, quero agradecer a todo mundo que está lendo a fic. Dúvidas, críticas e elogios, me mandem comentários que ficarei muito feliz em recebê-los. :)

Beijos e até o próximo capítulo.
By Cherry_hi



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