O Último Reino Antes do Fim escrita por Cherry_hi


Capítulo 3
Ato 3 - A Hime e a Cidade das Flores


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Sakura Card Captor e seus personagens pertencem ao CLAMP.



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O Último Reino Antes do Fim

Escrito por: Cherry_hi

Revisado por: Yoruki Hiiragizawa

Ato 3 - A Hime e a Cidade das Flores

 

 

— Só um, Watery.

— Não.

— Poxa, eu comi tão pouco no almoço.

— Você comeu metade da torta sozinho, mais os bolinhos de arroz.

— Ah, vai Watery… só um docinho!

— Já disse que NÃO!!!

— Estou com tanta fome…

— Aguente até o jantar!

— Não vou conseguir voar…

— Você tá no ombro da Hime!

— Vou morrer de exaustão.

— Estou pouco me importando.

A Hime já estava se acostumando com aquela ladainha, embora estivesse na estrada há apenas dois dias. Watery controlava a comida com mãos de ferro e a garota ficava contente que fosse assim: se fosse com ela, com certeza Kero já teria acabado com toda a comida.

— Hime-samaaaaaa…

— Nem vem, Kero-chan! - ela tratou de tirar o corpo fora - Você come por mim e por você e mesmo assim, não se dá por satisfeito.

— Hunf!

— Anime-se, Kero. - ela abriu o mapa - Estamos andando em um ritmo muito bom. Devemos chegar amanhã pela manhã em Hanamura.

— Só amanhã?! - ele pareceu desesperado - Watery vai me matar de fome até lá.

— Que dramático, Kerberus.

Fora os ataques de fome e histerismo de Kero, a viagem estava sendo bem tranquila. Caminhavam para sudoeste, seguindo o conselho de Hisakawa-sama, passando por algumas fazendas e longas plantações de frutas. A Hime ficou triste ao ver um grande pomar com as folhas caídas e sem frutas. Seu Reino parecia, a cada dia, mais decrépito. Ao menos, Watery, que era responsável pela água, estava levando bem a sério seus deveres e tentava remediar, da melhor maneira possível, a situação. Quando passaram pelo rio cujo leito estava quase seco, ela ficou horrorizada.

— Ah, não!! Preciso dar um jeito nisso. Fiquem aqui. Volto daqui a pouco.

Ela entregou a cesta de comida para a Hime, se transformou em água e se atirou no fiozinho prateado que ainda restava do rio. Nos minutos seguintes, eles esperaram, curiosos, no silêncio da floresta. Ouviram então, ao longe, o som do que parecia ser água corrente  ficando alto, mais alto. Viram o fiozinho de água se tornar mais largo, correndo com mais velocidade, preenchendo o leito seco e subindo, espumante e puro, até chegar na borda da margem. Watery emergiu em sua forma líquida bem na frente da Hime, dando-lhe um susto. Transformou-se em humana outra vez e foi dar uma espiada na margem, sentindo-se orgulhosa.

— Agora sim!

— Isso vai durar por quanto tempo? - perguntou Kero

— Algumas semanas. Coloquei um selo mágico na nascente que vai garantir que a água continue jorrando. Só espero que ninguém vá mexer por lá.

A Hime se surpreendia a cada momento com o poder que seus conselheiros, até mesmo nas coisas mais simples. Ao final do primeiro dia de viagem, quando ela pôde finalmente tirar os sapatos ao redor de uma fogueira, suspirou, cansada, mas satisfeita.

— Foi uma ótima caminhada, mas meus pés agradecem o descanso.

— Esses calçados que a dona da estalagem te deu não são lá muito confortáveis. - observou Watery.

— São melhores que os que eu estava calçando antes.

— Acho que sapatilhas delicadas de seda não foram feitas para caminhadas longas.

— Confesso que gostaria também que Sword fosse mais leve. - ela deu umas batidinhas na espada, ainda presa na sua bainha.

— Olha, não posso fazer muita coisa pelo seu sapato, mas com certeza podemos dar um jeito em Sword. - Watery comentou.

— Sério? Mas… Como?

— Sword pode virar qualquer tipo de arma que tenha uma lâmina. A especialidade dele, é claro, são espadas, mas ele se transforma em machados, lanças, punhais…

— Então eu posso pedir que ele se transforme em um punhal bem pequeno, não é? - A Hime se animou.

— Claro que sim. Entretanto… Ele pode fazer melhor do que isso. Me dá ele aqui.

Ela passou a espada para Watery, que empunhou a espada, concentrada. Sword brilhou intensamente e, quando o clarão diminuiu, a Hime percebeu que a longa espada de lâmina dourada e fina havia se transformado em um broche pequeno, elegante e, com certeza, bem leve.

— Fantástico!!! - A Hime exclamou, colocando o objeto nas roupas - Como faço isso?!

— É só desejar com bastante força que ele se transforme e a magia faz o resto. Para transformá-lo em espada, ou qualquer outro tipo de arma, basta se concentrar bastante.

— Excelente! Pena que só fiquei sabendo disso agora: seria bem menos cansativo viajar com Sword em forma de broche. Mais algum Conselheiro faz isso?

— Shield faz. Ele pode se tornar um anel. - A expressão de Watery se tornou sombria - Infelizmente, eu sei que ele foi um dos que se aliaram a Phobos.

Essa havia sido a única menção de Watery, depois depois do embate contra Firey, aos Conselheiros traidores. Lembrando-se disso, ela perguntou a Watery, curiosa:

— Você mencionou alguns conselheiros que tomaram partido de Phobos antes. Existe algum mais que você saiba que também me traiu?

— Eu não tenho 100% de certeza, mas acho que Thunder, Shadow, Illusion e Maze estão contra nós. Eu ouvi um boato que Earthy também aliou-se ao usurpador. - Seu semblante se entristeceu - Espero que não seja verdade ou dois irmãos meus serão traidores.

— Quantos irmãos, afinal, você tem? - Perguntou Kero, surpreso.

— Ah, somos quatro. Eu, Earthy, Windy e o bendito o fruto entre as mulheres, Firey.

— E existem outros irmãos entre o Conselho?

— Não. Em geral, nos damos muito bem, embora, lógico, ocorram algumas rusgas. Por exemplo, Wood vive discutindo com Flower porque ela vive enchendo de flores fora de época seus bosques. Aquela cabeça-oca não entende o conceito das quatro estações. Fora isso, somos bem amigos. E éramos muito leais a Hime e ao Reino. Por isso não consigo entender porque eles…

Ela suspirou e a Hime entendeu que aquele assunto a entristecia. Quanto a ela mesma, sentia-se mais intrigada que magoada. Era estranho que, de uma hora para outra, pessoas que lhe pareciam ser de absoluta confiança se voltassem contra ela e ameaçassem sua vida. O que teria feito ou prometido Phobos a eles? Será que teriam alguma dúvida em relação ao seu comprometimento com o Reino? Teria feito ou dito algo que os fez se voltar contra ela? Lembrou-se de como Firey parecia odiá-la ao atacá-la. Estremeceu.

— Seu irmão sempre foi assim? Er… Intenso? - Perguntou

— De certa forma, sim. Faz as coisas sem pensar, tem um gênio forte. Mas nunca imaginei que tivesse tanta raiva dentro dele.

— Estive pensando nisso… Talvez Phobos tenha feito algo com ele para que ele ficasse assim. Ou… Talvez… eu tenha feito algo… antes de…

— Pare já com isso! Não fique pensando essas bobagens! Olha… eu não sei o que houve, porque eu estava preocupada em salvar a minha vida… Mas quando nos separamos, você estava firme e determinada a lutar.

— Nós nos separamos?! - A Hime colocou as mãos na cabeça e gritou, frustrada - Como eu gostaria de lembrar!!!

— Quando o ataque aconteceu, Firey, Thunder, Sword e Shield foram para a linha de frente deter Phobos. Eu, Kerberus, Windy, Earthy, Light, Mirror e Maze ficamos para te defender. Não sei o que houve, mas escutamos uma grande explosão. Depois, Sword voltou, machucado, dizendo que eles haviam fracassado. Disse também que precisávamos fugir da cidade e nos reagrupar. Falou que o melhor a fazer era nos separarmos  e usarmos uma isca para atrair Phobos, enquanto a Hime fugia. Então Mirror se transformou em você e ela, Light, Maze e Earthy seguiram para um lado e a gente por outro. Sword se transformou nessa espada porque estava bastante ferido.  

“Mesmo assim, Phobos tinha um enorme exército e acabamos encurralados. Eu e Windy ficamos para segurá-los. Depois disso, só nos encontramos agora.”

— E o que aconteceu com vocês?

— Windy e eu resistimos o máximo que podíamos. Mas eles eram muitos. Então ela criou uma enorme ventania que fez os soldados voarem para longe. Infelizmente, eu também voei, bem para leste. Quando dei por mim, estava bem perto de Okiyama, aquela montanha enorme que vai além do céu. Desde então, tenho procurado pelo resto do pessoal.

— Eram 19 Conselheiros, certo? Onde estavam os outros durante a invasão? - Perguntou Kero.

— Dark e Wood estavam viajando pelo Reino cumprindo algumas obrigações do Conselho. O resto eu realmente não sei, mas imagino que tenham conseguido fugir. Pelo menos, eu espero.

A Hime olhou para o broche em formato de espada que estava em seu peito.

— Então Sword sabe o que aconteceu.

— Deve saber, mas olha só… - Watery hesitou, parecendo escolher as palavras - Acho que ele não vai querer falar. Ainda durante a fuga do palácio, perguntei para ele o que tinha acontecido e Sword se recusou a responder. Mandou que eu ficasse quieta e a protegesse. Ele é um cara super durão, mas nunca foi ríspido com ninguém. E também… a expressão dele estava estranha.

— Como estranha?

— Vidrada, chocada… apavorada até. Eu nunca o tinha visto daquele jeito. O que quer que tenha acontecido, foi o suficiente para assustar um cara corajoso como ele. Deve ter sido algo… horrendo.

A Hime engoliu em seco. Embora quisesse saber o que acontecera, admitia que estava com medo do que Sword poderia lhe dizer. Por hora, resolveu mudar de assunto.

— Essa cidade para onde estamos indo, Hanamura… você conhece algo sobre ela?

— Não muita coisa. É a Cidade das Flores, chamada assim por causa dos seus imensos jardins floridos, durante qualquer época do ano. Era um dos seus lugares preferidos, Hime-sama, para passar as férias. Eu nunca fui lá, pois estava sempre atarefada com minhas obrigações do Conselho, mas Flower, Wood ou até Earthy a escoltavam. Elas adoravam esse lugar.  

— Será que vamos encontrar uma delas refugiada lá?

— Quem sabe? Espero que sim.

Pararam durante a noite para descansar e comeram o resto da comida que Rika-chan havia preparado para eles.

— Queria tanto mais uma porção desses bolinhos fritos… - choramingou Kero - Ainda estou com fome.

— Pra variar. - provocou Watery - Se está com tanta fome assim, vá procurar algumas frutinhas para comer.

— Até parece que vamos encontrar algo nessa secura. Espero que em Hanamura tenha muitas coisas gostosas para comer.

— Lembre-se que temos que economizar o dinheiro que Hisakawa-san nos deu. Não vai dar para gastar tudo com comida.

— Hunf!! Não se preocupem com isso, suas egoístas. Vou trabalhar e pagar minha alimentação.

A Hime hesitou e Kero percebeu.

— O que foi?

— Bom… é que… Hisakawa-san me reconheceu porque você estava comigo, além das minhas roupas. E é melhor passarmos despercebidos, por isso… você vai ter que fingir que é um bichinho de pelúcia.

Houve um longo silêncio, em que Kero ficou paralisado, de boca aberta. Então...

— NÃO!!! Nem pensar!!! Ridículo!! DE JEITO NENHUM!!!

— Kero-chan… - gemeu a Hime, mas o guardião estava possesso.

— Eu, um bichinho de pelúcia????!!! Nunca!!! Eu sou seu guardião e preciso estar por perto pra protegê-la!!!! Além disso, não vou ficar imóvel enquanto Watery come um monte de coisas legais na minha frente sem poder saborear nada!!!! NÃO, NÃO E NÃO!!!!!!!!

— Kero, você sabe bem que não pode fazer muitas coisas nessa forma!!! - argumentou Watery - A Hime tem razão. Precisamos passar despercebidos. Não é todo dia que a gente vê um bichinho voador falante por aí. O único que se sabe que é assim é o guardião da Hime! As pessoas vão somar dois mais dois, Kero!

— Mas… mas… - ele cruzou os braços e vociferou - Eu me RECUSO  a me passar por bicho de pelúcia!! Que humilhação!!

— Então a solução é você ficar escondido.

— Eu quero ver a cidade!!

— Kerberus, larga de ser chato!!!! Se você for como você, vai por em risco a segurança da Hime-sama. É isso o que você quer?!

Pela primeira vez, o guardião hesitou. A Hime se aproveitou disso.

— Não faríamos isso com você se não fosse absolutamente necessário. Não é porque não quero ser reconhecida que quero passar despercebida, mas sim para proteger as pessoas. Se não souberem que estou na cidade vai ser melhor pra todo mundo. Infelizmente, você chama muita atenção. Sinto muito, Kero-chan.

— E ela???!!! - Kero apontou para Watery - Ela também chama bastante atenção com essas roupas e essas mãos úmidas!!

— Quem é que tem as mãos úmidas, Kerberus??! - retrucou Watery, zangada.

— Por favor, Kero-chan! Ela tem a forma humana!!

— Quantos as roupas… - Watery falou, ainda aborrecida.

Ela fechou os olhos por dois segundos e seu corpo se liquefez brevemente. Quando voltou ao normal, ela estava usando vestido bem parecido com o da Hime, de corte simples e tecido comum.

— Quando você puder se tornar humano e trocar de roupa assim, deixaremos que você ande por aí. - Watery provocou, cruzando os braços com arrogância.

— Droga!

Apesar da raiva, Kero parecia mais magoado que zangado. Então a Hime apressou-se em dizer:

— Eu prometo a você usarei parte do meu dinheiro para comprar umas coisas bem gostosas, está bem?

Ele suspirou, derrotado.

— Acho que tenho que concordar, não é? Se é melhor para a segurança da Hime, então o farei, mas quero os melhores doces da cidade!!

A Hime apenas riu, concordando.

— Resolvido isso, acho que podemos ir dormir, não? - Watery bateu palmas - Vou reduzir um pouco a luz da fogueira para não chamarmos muita atenção.

Não demorou muito e a Hime mergulhou no seu mundo de sonhos, cheio de Keros gigantes vestindo roupas.

— Não deve faltar muito. - A Hime falou, segurando o mapa - Estão vendo essa árvore bifurcada? No mapa diz estamos a três quilômetros da cidade ao passarmos por ela.

— Ótimo! Estou morrendo de fome. - resmungou Kero, de mal-humor, dentro da cesta que Watery carregava

— Que novidade! - Watery rolou os olhos - Agora, falando sério… Kero, você vai precisar se esconder. Se estamos chegando perto da cidade, pode ser que encontremos mais pessoas pela estrada agora.

— Por favor, Watery. - gemeu o guardião - Você tem ideia de como é ruim ficar dentro dessa cesta quente e sem ar?

— Imagino que seja bem ruim. - Falou a Hime, com meiguice. - Vamos fazer assim: se virmos alguém chegando, você se esconde rápido. Entretanto, quando chegarmos na cidade, temo que terá que ficar o tempo todo aí dentro.

— Tudo bem. - Kero suspirou, resignado. - O que eu não faço por um monte de doces.

— Você devia estar fazendo pela a segurança da Hime-sama.

— Cale a boca!!!

— Watery, não provoque o Kero-chan! A propósito, vamos começar a nos chamarmos por nossos nome falsos.

— Ah, não!!! Vai começar aquela dificuldade de chamá-la de Hanako!

— Com o tempo você se acostuma, Mizuho-chan! - a Hime riu.

— O que é aquilo? - Kero apontou para um ponto mais a frente.

Havia, no meio do marrom e cinza das árvores secas que ladeavam a estrada, uma manchinha rosa que se destacava. Quando chegaram mais perto, viram que era uma flor, de pétalas delicadas que se tornavam gradativamente brancas a medida que chegavam nas bordas.

— Que linda!!! - Exclamou a Hime, maravilhada - Que tipo de flor será essa?

— Não tenho a mínima ideia. - Watery encolheu os ombros - Nunca a vi antes no Reino. Deve ser comum dessa região.

Minutos depois, viram outra flor igual, e mais outra adiante. A medida que prosseguiam em direção de Hanamura, as flores iam se multiplicando nas árvores. O chão estava coberto de pétalas e havia um leve aroma agradável no ar. Watery pegou uma das flores e colocou nos cabelos da Hime que agradeceu, ligeiramente vermelha.

Quando finalmente avistaram o topo de uma das construções da cidade, as flores já eram tantas que não se via mais os troncos das árvores ou a terra batida da estrada.

— Caramba, que exagero! - Exclamou Kero - O nome da cidade não é à toa.

— Também acho que é um pouco demais, mas é bom saber que essa cidade não foi tão afetada como as outras. - Afirmou a Hime.

De fato, quando passaram pelas primeiras casas, os habitantes pareciam bem mais felizes que em Tokei, sorrindo e cumprimentando as garotas com bastante entusiasmo. Notaram de cara que em todas as construções havia bonitos jardins, bem cuidados, com grama verde e grandes arbustos floridos, de todas as cores e tipos. A rua era toda cravejada de pedras de sílica cor de areia, que brilhavam a luz do dia. As casas eram grandes e arejadas, de paredes pintadas de cores suaves e telhados de palha ou telha, onde plantas trepadeiras faziam sua morada, colorindo ainda mais o ambiente.

— Essa cidade é tão linda… - Suspirou a Hime.

— Agora eu entendo porque Wood, Flower e Earthy gostam tanto daqui. - Comentou Watery, sorrindo.

Chegaram bem no meio da cidade, onde havia uma pracinha. Em meio às árvores floridas, barraquinhas de comida e produtos estavam armadas e seus donos gritavam animadamente as ofertas do dia. Crianças corriam de um lado para o outro, preenchendo com suas risadas a sinfonia caótica, mas alegre, da cidade.

— Acho melhor procurarmos um lugar para passarmos a noite antes de qualquer outra coisa. - Falou Watery

— Seria bom também tentar arrumar algum trabalho. Sempre é bom termos dinheiro e a próxima cidade fica a cinco dias de viagem. Vamos ter que nos preparar.

Ela também estava pensando em Kero, que não parava de colocar o narizinho pra fora da cesta quando passavam por alguma barraca de comida. Watery deu um peteleco no nariz do guardião e voltou a fechar a cesta, falando logo em seguida:

— Olhe… Tem uma estalagem bem ali.

Atravessaram a praça, passando por um amontoado de crianças sentadas ao redor de uma palhacinha. Ela usava uma máscara alegre e uma coroa de flores em seus cabelos ruivos. Ela estava fazendo mágica para as crianças e, no momento em que a Hime passou ao seu lado, ela se curvou graciosamente e, com um floreio, fez aparecer uma flor, que lhe ofereceu. A Hime sorriu e agradeceu, mas ficou ligeiramente preocupada: teria ela se curvado por tê-la reconhecido?

— Vamos entrar? - perguntou Watery, que não havia visto o que acabara de acontecer.

A estalagem era bem maior que a de Tokei, com muitas mesas de madeira lustrosa cheias de canecas de cerveja fresca e cidra caseira. Muitas pessoas, a maioria homens, conversavam alegremente enquanto eram servidos por dois atendentes, sob a supervisão severa de um senhor no balcão. Quando as duas moças se aproximaram, o homem abriu um grande sorriso.

— Bom dia, senhoritas.

— Bom dia, senhor. Teria algum quarto vago para duas pessoas?

— Sim, temos. Vão ficar quantos dias?

— Hummm… acho que uns dois dias seriam o suficiente, certo, Mizuho-chan?

— Sim. O suficiente.

— O quarto fica cinco moedas por noite. Dez moedas, se quiserem pagar adiantado.

A Hime pagou ao homem.

— Vou pedir que um dos meus filhos os levem até o quarto. Aqui está a chave. - Ele entregou a Watery a chave prateada e acenou em direção a um rapaz - Ichirou!!!

O garoto terminou de servir algumas canecas de cerveja em uma mesa e se aproximou. Ao olhar para a Hime, enrubesceu levemente.

— Sim, pai?

— Leve essas moças até o quarto 22 para que se acomodem. Se precisarem de algo, falem com Ichirou. A propósito, meu nome é Ueda. Ueda Kenji.

— Sou Maki Hanako.

— E eu me chamo Mizuho. É um prazer conhecê-los, Ueda-san, Ichirou-kun.

— Igualmente.

— Por favor, sigam-me, senhoritas. - Pediu o rapaz, agradavelmente.

Subiram por uma escada ampla até o segundo andar, passando por um corredor cheio de aquarelas penduradas nas paredes.

— Nossa, que bonito! - Observou a Hime, parando para olhar uma que representavam um jardim de flores rosas e lilases.

— Minha irmã, Kaede-chan, quem pinta as aquarelas. - Falou o rapaz, sorrindo - Vai ficar feliz em saber que você gostou, Maki-san.

— Ah, não! Por favor, não me trate tão formalmente. Pode me chamar de Maki-chan ou Hanako-chan! - Ela sorriu para ele.

Ele enrubesceu outra vez.

— Tudo bem… Maki-chan. Er… Este é o quarto de vocês. - Ele abriu a porta de um quarto amplo e limpo, com duas camas de solteiro. As cortinas estavam abertas e a luz do sol iluminava o tapete azul, a cômoda de madeira clara e o guarda-roupa do mesmo material. - Espero que esteja do agrado.

— Está perfeito, obrigada. - Agradeceu Watery.

— O almoço será servido em meia hora, se quiserem. Podem me chamar ou a minha irmã se precisarem de alguma coisa.

O rapaz saiu, fechando a porta. Nisso, Kero saiu da cesta.

— Livre, finalmente!!

— Kero-chan, fale mais baixo. Senão você ficar dentro da cesta o tempo todo não vai ter adiantado nada!

— Eu sei. Desculpe. Mas você também iria gritar de felicidade se ficasse presa tanto tempo. - A barriga do guardião roncou, alto. - Nossa, que fome!! Quero comer!

— O almoço só sai em meia hora.

— Mas você poderia ir em alguma lojinha e me trazer alguns doces. Pode usar minha parte do dinheiro.

— Kero-chan, lembre-se que temos que poupar dinheiro! - disse a Hime, franzindo a testa.

— Sim, eu sei. Mas o dinheiro é meu e quero comer algo gostoso!

Watery e Hime suspiraram de exasperação.

— Está bem. Vou tentar comprar algo pra você. Fique aqui no quarto, escondido.

— Tudo bem.

As duas moças, guardaram seus pertences, lavaram os rostos e saíram do quarto, trancando a porta ao sair.

— Kerberus, mesmo tendo perdido a memória, lembra-se muito bem quando a barriga está vazia! - Resmungou Watery - Nós vamos ter bastante trabalho com ele.

— Dê um desconto, Wa… Mizuho-chan. Ficou boa parte da manhã naquela cesta e vai passar dois dias trancado no quarto.

— É exatamente com essa sua bondade que ele está contando, Hanako-chan! Ele sabe que você é boazinha demais e vai tirar proveito disso. Você precisa ser mais dura com ele.

A Hime se resignou. A Conselheira tinha razão.

— Está bem. Vou comprar dessa vez porque eu já havia prometido. Vou aproveitar e perguntar a Ueda-san se ele precisa de mão de obra. Precisamos de cada centavo que conseguirmos.

— Farei isso depois do almoço. Por hora, vou dar uma checada na cidade para ver como estão os poços e os lençóis freáticos.

Watery saiu da estalagem, enquanto a Hime foi falar com o senhor lá no balcão.

— Huuum… sinto muito, Maki-chan, mas eu, minha esposa e meus filhos damos conta da estalagem. - O bom senhor respondeu - Mas a cidade tem muitas lojas e alguma deve estar precisando de ajuda. Dê uma olhada. Se eu souber de algo, falarei pra você. Já os doces, eu recomendo a doceria da Hanae-san. Ela faz os melhores bolos da cidade.

Após receber indicações de Ueda-san, a Hime ganhou a rua outra vez. A doceria ficava bem perto, uma rua atrás da estalagem e já da esquina ela sentiu o cheiro de algo assando.

— Ainda bem que Kero-chan não veio, senão ele ia fazer um escândalo querendo tudo. - Murmurou a Hime.

Da vitrine da pequena loja, ela pode ver um apinhado de gente se amontoando no balcão. Hanae-san deveria ser muito requisitada. Um sininho tocou assim que ela abriu a porta

— Um momento, por favor!! - Gritou uma voz lá do balcão - Aqui está, senhor. Pães de mel e bolo de morangos com chantilly.

— Eu pedi um bolo de chocolate, Hanae-san. - Uma voz masculina falou.

— Ah, mil desculpas!!! De quem é esse pedido então?!

— Meu. - Falou uma voz feminina.

— Ah, desculpe, desculpe!!! Aqui está…

A Hime ficou na ponta dos pés para tentar ver através daquele pequeno mar de pessoas o que estava acontecendo. Quando a mulher que havia recebido o seu pedido saiu do meio do grupo, a moça conseguiu se infiltrar por debaixo de alguns cotovelos e se aproximou da bancada.

Havia uma mulher no auge de seus vinte e poucos anos andando de um lado para outro, embalando bolos, pegando pães das prateleiras, oferecendo tortas e mousses aos fregueses. Tinha cabelos loiros cacheados e grandes olhos castanhos, que olhava febrilmente para seus clientes e para seus produtos. Parecia aflita e extremamente ocupada. A sineta tocou outra vez e a Hime escutou ela gritar:

— Um momento, um momento!! - Ela colocou as mãos na cabeça, brevemente, depois falou: - Alguém pode, por favor, virar a placa que está na porta da loja?? Vou atender a todo mundo que está aqui, mas não posso continuar assim!!

A Hime se deslocou para fora da multidão e fez o que Hanae-san pediu, virando a placa de “aberto” para “fechado”. Pouco a pouco, as pessoas eram atendidas e iam embora. Depois de uns quinze minutos, só restou a Hime na doceria. A doceira passou um pano pela testa, respirando profundamente.

— Ufa!

— Muito trabalho?

— O mesmo de sempre. O problema é quando sua assistente falta e deixa tudo nas mãos da doceira. - Ela riu, meio sem graça. Então olhou melhor para a moça e suas sobrancelhas formaram um arco de surpresa - Ué, nunca vi você por aqui. É nova na cidade?

— Estou só de passagem… Você disse que sua assistente faltou?

— Sim… precisou viajar com urgência e só volta daqui a três dias… E amanhã é domingo. - ela gemeu.

— Qual o problema de ser domingo?

— É o dia mais movimentado, por causa da feira da pracinha. O que você viu hoje não é NADA comparado ao movimento de amanhã. Sozinha eu não dou conta. Acho que vou precisar fechar a loja.

— E se você encontrasse uma assistente a tempo?! - Perguntou a Hime, ansiosa.

— Bom… Aí eu poderia abrir a loja amanhã. Mas quem toparia me ajudar assim, em cima da hora?

— Eu!!!!

Hanae-san a olhou surpresa pela segunda vez.

— Você? Ah… Mas você tem alguma experiência?

— Eu trabalhei em Tokei em uma estalagem por alguns dias.

— Serio mesmo?! - O rosto dela se iluminou - Mas isso é ótimo! O trabalho em uma doceria é diferente de uma estalagem, mas é bom que você tenha alguma experiência. Vamos fazer o seguinte: você fica hoje pela tarde e vemos como você se adapta. Se der certo, amanhã e depois você continua aqui.

— Ah, bem… Eu vou partir na segunda pela manhã. Mas ao menos no domingo poderei ajudar você.

— Está bem. E, logicamente, pagarei para você o equivalente. Pode começar agora?

— Sim! Quero dizer… Não. Antes preciso voltar e avisar o pessoal com quem estou viajando que arrumei um trabalho. Aliás, eu vim originalmente comprar alguns doces para uma pessoa.

A Hime escolheu alguns biscoitos e correu para a estalagem.

— Nossa, como você demorou! - Resmungou Kero assim que a viu.

— Não reclame, pois acabei de conseguir um bico na loja de Doces.

Os olhinhos do guardião brilharam.

— Sério?!  Lá tem muito bolo?! E rosquinhas?! E sonhos?! Ah!!!! Eu quero ir com você…

— Não. - respondeu a moça, seca e veemente.

— Nossa… Precisava ser tão enfática?

— Ah, precisava sim. Só de pensar em você naquela loja me dá arrepios. - Kero parecia magoado então a Hime completou - Prometo que trarei um monte de doces. Vou pedir para que seja parte do meu pagamento.

— Obrigada, Hime-sama! Você é a melhor!!!

— Por que a Hime é a melhor? - perguntou Watery, que estava chegando naquele momento.

— Ela conseguiu um bico no melhor lugar do mundo!!! - respondeu Kero, sonhador.

— Em um restaurante?

— Quase. Em uma doceria.

— Que excelente! Eu também consegui um emprego.

— Sério?! Aonde? - A Hime perguntou.

— Bem, passei um pente fino pela cidade e encontrei alguns poços quase sem água. Estava terminando de encher o último, que fazia parte de uma lavanderia, quando a dona me viu. Ainda bem que eu mantive minha forma humana. Ela perguntou o que eu estava fazendo e inventei que estava procurando emprego. Surpreendentemente, ela realmente precisava de uma ajudante e me contratou.

— Ótimo! Com isso, teremos mais algum dinheiro extra para a viagem.

— Vim só almoçar rapidinho e já vou pra lavanderia.

— E eu vou voltar pra doceria.

— Ei!!! E o MEU almoço?! - Lembrou Kero

— Er…

— Eu sei o que vamos fazer! - Falou Watery - Vou dizer que você precisou sair com muita pressa e que eu fiquei de levar o almoço pra você. Peço algo e trago pro quarto. Depois finjo que levei.

— Boa ideia!!  Ai, ai… Almoço e depois doces… Que dia maravilhoso… - Kero falou, extasiado.

— Preciso voltar pra doceria. Encontro com vocês mais tarde.

O dia foi incrivelmente puxado. Mesmo com medo de ser reconhecida, a Hime passou quase o tempo todo no balcão, atendendo os clientes. Felizmente, ninguém pareceu reconhecê-la (talvez porque seus cabelos estivessem envoltos por uma touca e seu rosto sujo de farinha). Ela também foi para a cozinha ajudar a sovar pães, untar formas de pães e bolos, tirar grandes assadeiras do forno, varrer o chão. Fazendo tudo com cuidado para não machucar ainda mais a mão ferida.

— Nossa, o que eu faria sem você, Maki-chan!!! - A doceira exclamou, cansada, mas satisfeita, quando finalmente fechou a loja - Você é incrível!!! Fez tudo certinho e me ajudou bastante!

— Então, eu posso voltar amanhã?

— Lógico que sim! Mas fique avisada que amanhã vai ser mais pesado que hoje.

— Acho que posso aguentar!

— Muito bem! É melhor você ir pra casa. Já terminamos por aqui e amanhã preciso que chegue aqui bem cedo.

— Sem problemas.

— Ah! Espere… Antes de ir, você poderia colocar o lixo para fora?

— Claro.

— Tá… Só vou pegar as sobras de hoje.

— Sobras?

— Sim… Dos doces que não foram vendidos e que estarão estragados amanhã. Geralmente Miura-chan, minha assistente, os leva pra casa, mas como ela está viajando…

— Você vai jogar fora aquela forma que está na cozinha inteira?! Será… Será que você poderia me dar?

— Achei que você não gostasse de doces. Não quis nada que eu te ofereci.

— Realmente não gosto muito, mas lembra que vim comprar doces na hora do almoço? Era para um amigo, que vai ficar feliz se eu levar para ele.

— Nossa… - Hanae-san foi até a cozinha e voltou com a forma, que estava entupida de doces e bolos. Daria para alimentar um pequeno exército. Ela olhou a Hime com ar de dúvida. - Mas isso não é muito para o seu amigo? Ele vai ficar com dor de barriga se exagerar.

— Não se preocupe. Ele é um saco sem fundo. Também vou distribuir um pouco com os donos da estalagem. Acho que eles vão gostar.

— Se é assim…

— Eu ia pedir mesmo para que você me pagasse em partes com doces. A não ser… - A Hime corou levemente. - Quero dizer, você pode descontar esses doces do meu pagamento, com certeza.

— Nem esquente com isso. - Hanae-san sorriu, enquanto colocava os doces da forma numa grande sacola. - São sobras das vendas do dia e fico feliz que tenham um destino melhor que o lixo. Aqui está. Espero que seu amigo goste.

— Ah, ele vai gostar sim. Amanhã às cinco da manhã estarei aqui.

— Obrigada, querida.

— Toma, Kero! - Hime falou, assim que entrou no quarto, depositando a sacola na cômoda. - Com os cumprimentos de Hanae-san.

— AHHHH!!! - Gritou o pequeno guardião, voando numa velocidade extraordinária até o móvel e abrindo a sacola com furor. Quando ele finalmente conseguiu e viu a quantidade insana de doces, a Hime achou que ele fosse chorar de felicidade - Aaaaaah!!!

— Kero, fala mais baixo. - A Hime reclamou, mas era impossível ficar zangada diante de tanta alegria.

— ITADAKIMASU!!! - Falou ele, com fúria e, literalmente, mergulhou na sacola.

Bateram na porta. Imediatamente ela olhou para a cômoda, onde a sacola ficou imóvel repentinamente. Quando abriu, viu que era Ichirou. Corando ligeiramente, perguntou:

— Desculpe, Maki-chan, mas acho que ouvi alguma coisa no seu quarto. Está tudo bem?

— Sim, está tudo bem. Não aconteceu nada. Acho que o barulho deve ter vindo de outro lugar.

— Ah, certo… Hã… - ele parecia bem encabulado - Meu pai e minha irmã adoraram os doces. Muito obrigado.

— Ah, sem problema.

— E, inclusive… O jantar vai ser servido em alguns minutos.

— Ah… Sobre isso… - Ela fez uma caretinha de dor. - Estou com uma dor de cabeça daquelas. E também bem cansada. É possível que o meu jantar seja servido aqui, no quarto?

— Claro, claro. - O rapaz esboçou preocupação nos olhos castanhos. - Está tudo bem? Será que não seria melhor chamar um médico?

— Não, imagine. Uma boa noite de sono é tudo o que preciso. E um pouco de sossego.

— Claro… Se precisar de algo, é só me chamar. Ou a minha irmã.

— Obrigada.

— Bem… Vou providenciar o seu jantar. Depois eu volto.

Assim, que fechou a porta, a Hime ficou um tempo olhando para o trinco, pensativa.

— O que foi? - Kero emergiu da sacola, com a boca cheia. - Não vai me dizer que se apaixonou por esse rapaz…

— Não, não. Mas… Ele, de alguma forma, é familiar. Será que eu o conheço de algum lugar?

— Como vamos saber?

— Vou perguntar a Watery.

— Se a gente conhecesse, ela teria falado alguma coisa.

— Mesmo assim, vou perguntar.

Mas quando Watery chegou, quase uma hora mais tarde, cabisbaixa, arrastando-se, tudo o que a Hime perguntou foi:

— O que houve???

—  Apenas um desastre. - Ela falou, cheia de drama, jogando-se na cama.

— Que desastre?!

Eu! Eu sou um desastre! - Ela pegou uma almofada e apertou contra o rosto, abafando a sua voz - Um desastre!

— Que tal você começar do começo? - Pediu a Hime, já preocupada. - O que foi que aconteceu?

— Fui trabalhar na lavanderia. Mas… É… Simplesmente… Difícil demais!

— Difícil?! - Kero emergiu da sua sacola de doces, perplexo. - Até eu, no meu tamanho, tirei de letra na estalagem da Hisakawa-san!!!!

— Mas não era uma lavanderia profissional! - Watery se levantou rápido da cama, derrubando o travesseiro no chão. Começou a andar rápido de um lado para o outro, gesticulando muito rápido - Alvejantes!! Amaciantes!!! Odorizantes!!! Sabões para roupas brancas! Sabões para roupas coloridas! Eu nem sabia que se lavava roupas brancas separadas das coloridas!!!!

Kero e a Hime se olharam, pasmos. Mas a mocinha continuou, sem dar chance de outra pessoa falar algo.

— A Obasan da lavanderia me passou um sermão porque misturei as roupas brancas com as coloridas. Depois ouvi mais ainda quando coloquei o tipo de sabão errado para as roupas de algodão. Logo após isso foi porque eu torci as roupas de seda. Aí eu deixei cair o cestinho de pregadores. Depois deixei cair um dos vidros de amaciante. E ela me demitiu quando derrubei uma pilha recém lavada de roupas na lama que se acumula embaixo dos varais. - Ela gemeu - Disse que nunca mais quer olhar minha cara.

Ela foi até a sacola de doces e catou um pedaço de torta que Kero ainda não havia comido. Colocou praticamente inteiro na boca, deprimida.

— Ah, não fica assim, Watery. - A Hime deu uns tapinhas nas costas dela - Você provavelmente nunca fez isso, então lógico que você se atrapalhou. Depois, você é só uma garotinha.

— Não, Hime-sama!! - Ela falou, num ímpeto - Eu sou uma das Conselheiras do Reino. É meu dever  saber fazer bem as coisas, tanto para ajudar minha regente quanto o meu povo.

— Acho que você está exagerando.

— E, também... - A Hime notou que Watery respirou fundo e corou um pouco, falando bem baixinho. - Eu tenho mais de cento e cinquenta anos.

— HOOOEEE????!!! - Gritou a Hime, aturdida.

— O que ela disse?? - Kero perguntou

— Como assim você tem CENTO E CINQUENTA ANOS, garota???!!!

— O QUÊ????!!! - Kero também gritou.

— Fala baixo, Kero-chan!!!

— Não é preciso ficar tão surpresa, Hime-sama!!! - Watery falou, bem vermelha agora - A maioria de nós do Conselho temos muitos anos de vida. Kerberus mesmo também é beeem velho!!!

— Espera… então… Firey… também é… velho… como… você? - A Hime parecia estar com dificuldades de formular frases inteiras.

— Ah, ele é mais novinho. Tem só cento e treze anos.

— ISSO É SER MAIS NOVINHO???!!! - Gritou a Hime.

— Espera aí!!! Quantos anos eu tenho????!!! - Kero perguntou, abalado.

— Eu não tenho certeza, mas acho que você tem cento e quarenta.

O pequeno guardião parecia ter ficado tonto de horror.

— Cento… e… quarenta… cento e… quarenta… cento e quarenta… cento… e quarenta… - Ele sumiu por debaixo da cômoda, ainda murmurando “cento e quarenta” sem parar.

— Bom… se você tem mais de cento e cinquenta… Kero tem cento e quarenta…  Firey tem cento e treze e os outros Membros tem tanta idade quanto vocês… - Ela engoliu em seco, lançando a pergunta pela qual estava com medo da resposta. - Quantos anos EU tenho?

— Você? Dezessete. - respondeu Watery, tranquila.

Foi bem anti-climático para a Hime.

— Como assim???!!! Eu tenho dezessete?? E como meu Conselho e meu guardião são tão velhos?!!

— Isso é coisa do Ou-sama anterior. Ele, sim, viveu bastaaaaaante tempo, criou o Conselho e, quando ele morreu, você assumiu tudo pronto já.

— Ufa! Até que fico aliviada de saber que tenho a idade que aparento ter. - Ela olhou para as suas própria mãos, refletindo. Depois perguntou. - Quantos anos eu tinha quando assumi o Reino?

— Você sempre foi dona deste Reino, desde o dia em que você nasceu. Mas começou a reger com dez anos.

— Tão novinha assim??

— Foi preciso.

— Mas, por quê…?

— Olha… tem muita coisa que aconteceu que nem eu entendo! - Watery a cortou, parecendo embaraçada. A Hime percebeu que ela não gostava muito de falar sobre aquele assunto. Ela caminhou para a porta. - Vou jantar e depois irei dormir. Sugiro que a Hime-sama faça o mesmo! Amanhã vou tentar procurar algum outro bico pra fazer.

— Ah… tudo bem. - respondeu a Hime, confusa, mas Watery parecia não ter ouvido, abrindo a porta e saindo do quarto.

Mais tarde, quando finalmente se deitou, ainda ficou algum tempo pensando nas revelações que havia tido hoje. Realmente, havia ainda muito a aprender sobre o seu Reino e ela mesma. Tantas perguntas sem resposta ficaram travadas na sua garganta. Quanto tempo o Ou-sama anterior, que deveria ser seu pai, viveu? Será que ela também viveria tanto assim? Por que tivera que assumir o Reino tão nova? Qual teria sido a causa da morte do Ou-sama? Assumira o trono porque ele morrera?

Os questionamentos revoavam na sua mente, como um mantra sem fim, que fizeram seus olhos pesarem. Mas, antes de adormecer, jurou ter escutado Kero, em algum lugar do quarto, murmurar “cento e quarenta anos” uma última vez.

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(continua)

 


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Notas finais do capítulo

Pois é, pessoas... mais um capítulo...

Não teve ação, mas muitas revelações. Agora temos ideia quem tá do lado de quem. E o que teria acontecido para que Firey e os outros se voltassem contra a Hime? Isso só o futuro dirá... ;)

Espero que tenham gostado de mais um capítulo. estou bastante animada com essa fanfic e acredito que se encaminhará com bastante fluidez.

Quero agradecer a todos por terem lido. Qualquer crítica, dúvida, elogios... vocês já sabem, né?

Beijos

By Cherry_hi



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