O Último Reino Antes do Fim escrita por Cherry_hi


Capítulo 15
Ato 15: A Hime e os Yōkai


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Sakura Cardcaptor e seus personagens pertencem ao CLAMP



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O Último Reino Antes do Fim

Escrito por: Cherry_hi

Ato 15 - A Hime e os Yōkai

"Hime-sama"

"Hime-sama"

— Ainda tá cedo, Tomoyo-chan. - Resmungou a Hime, bem baixinho.

"Hime-sama"

Bem devagar, a Hime abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi uma luz brilhante dourada na altura de seu rosto.

— Tomoyo-chan? - Ela chamou, com a voz mais aguda que o normal.

— Hime-sama? - Ela ouviu a voz de Watery em alerta em algum lugar a suas costas. - O que houve?

— Tem… um bicho… uma coisa… aqui.

Ela sentiu Tomoyo, ao seu lado, se mexer ao mesmo tempo que ouviu os passos de Watery se aproximando.

— Ah.

— Calma, Hime-sama. - Flower falou de repente, já em pé. - São apenas Kodamas.

— O que..? - A Hime se levantou, tentando se afastar daquela luz, que se aproximou dela outra vez. - Mas… o que é isso?

— Bom… - Flower visivelmente hesitou. - Não surte, mas isso é um espírito.

— Ah… ok… - Falou a moça, tentando manter um tom calmo, mas visivelmente perdendo a cor do rosto e se afastando mais ainda da luz. Ela viu mais uns cinco brilhos de luz parecidos espalhados pelo acampamento e engoliu em seco.

— Eles são geralmente bons. Protegem as florestas. Com certeza sabem que você é a Hime.

— Eu… realmente… ouvi meu nome…

— Cadê Glow-sam? - A voz alarmada de Tomoyo fez a Hime esquecer os Kodamas.

Ela olhou ao redor. Ainda estava escuro, mas céu negro começava a desbotar para um lilás claro no horizonte. A Fogueira que haviam feito já não existia mais e apenas algumas toras ainda brilhavam laranjas em brasa. Mas os Kodamas tinha uma luz dourada intensa o bastante para iluminar parte da clareira, como uma vela. E a Hime viu a silhueta branca da enorme foice de Glow, mas nenhum sinal da garota.

— Onde ela pode ter ido? - Perguntou Watery, nervosa.

— Já está quase amanhecendo. - Falou Tomoyo, indo até um arbusto e procurando entras a folhas. - Eu deveria ter trocado o turno com ela a mais de uma hora!

— Aconteceu alguma coisa, com certeza! - Flower franziu a testa, preocupada. - Ela não puxou a pulseira que dei pra ela então ela pode estar… bem.

— Ou pode estar tão mal que não deu para puxar a pulseira. - Watery falou, sombriamente.

A Hime engoliu em seco outra vez.

— Então, onde ela pode estar?

Então os Kodamas brilharam mais intensamente e saíram voando em na direção da floresta, agitando-se febrilmente no ar. A luz iluminou uma pequena abertura entre as árvores, por onde se via uma estradinha de terra.

— O que está acontecendo? - Perguntou Tomoyo.

— Eu não sei. Kodamas não costumam agir assim. - Flower respondeu.

As pequenas criaturas se enfileiraram na direção da floresta.

— Parece que elas querem nos mostrar algo. - Watery disse.

— Mas… devemos seguir? - Indagou Kero, desconfiado.

— O que você acha, Flower? - Perguntou a Hime, ainda olhando ressabiada para os Kodamas.

— Elas começaram a agir assim quando falamos sobre a Glow. - Então ela fez uma pergunta diretamente aos Kodamas: - Aconteceu algo com ela?

Em respostas, os pequenos espíritos se agitaram outra vez, inquietos.

— Não temos muita escolha. - Flower franzia a testa, preocupada. - Essa é a única pista que nós temos.

— O que faremos com isso? - Kero falava da grande foice branca da Conselheira do Brilho.

— Temos que levar conosco. - Watery suspirou. - Bem que nós insinuamos para ela não trazer esse trambolho. Agora sobrou para a gente!

— Eu posso levar, Watery-san. - Tomoyo se ofereceu, mas a Conselheira fez que não com a cabeça.

— Só um Conselheiro pode carregar as armas de outro Conselheiro. Mas obrigada pelo oferecimento.

Dito isso, ela levantou a pesada arma e colocou a suas costas, envergando um pouco. Tomoyo e Flower se encarregaram de desarmar as armadilhas e, sem dizer mais nada, eles seguiram na direção indicada pelos Kodamas. A Hime ia mais atrás, apertando com força o cabo de Sword. A luz do dia ia rasgando a escuridão da noite e pintava de um cinza frio as árvores bonitas da floresta. O ar gélido ainda fazia as Conselheiras, Kero e Tomoyo tremerem, mas a Hime tinha outras razões para tremer. Mais do que nunca aquela floresta lhe causava arrepios, com seus sons invisíveis e na parcial escuridão. Somado ao fato que as primeiras criaturas que havia visto, embora pacíficos, fossem pequenos espíritos. E, é claro, toda a situação do sumiço de Glow. Ruminava ininterruptamente como a garota podia ter sumido assim, sem ninguém ter visto ou ouvido nada. No tempo que conviveram com Glow percebera que, apesar de ser uma criança, ela era muito ciente de seus deveres e extremamente responsável, então era bastante improvável que ela tenha saído propositalmente do seu posto. Só conseguia pensar que alguém - ou mais provavelmente, algo - havia apanhado Glow. Ela estremeceu.

— Está tudo bem, Hanako-chan? - Tomoyo perguntou atrás da Hime.

— Sim… só que essa situação… - Ela deixou a frase no ar.

— É ruim, eu sei. Mas vamos nos manter calmos e alertas. Não adianta nada sermos tomados pelo medo.

— Eu sei, mas… não consigo evitar.

— Por que você tem tanto medo de espíritos?

A Hime perdeu o compasso por um instante.

— Eu sinceramente não sei. Quando foi mencionado espíritos pela primeira vez, lá em Taiyohama, eu apenas senti muito medo. Deve ser algo que não me lembro, mas o sentimento existe dentro de mim.

— E deve ser forte o suficiente para que você tenha criado este lugar.

— Como assim? - Ela parou de vez, confusa.

— Como assim o que?

— Fui eu quem criou essa Floresta?!

— Claro que foi. - Tomoyo respondeu com naturalidade. A essa altura, Watery e Flower também pararam e se voltaram, curiosas, paras as moças.

— Mas por que eu faria isso?

— Me parece muito lógico, não é? - Falou Watery, de repente. - Você tem medo de espíritos então criou uma cidade para abrigar aqueles que não conseguiram ir ao Lugar Eterno e, ao redor, uma Floresta onde não se pode usar magia e onde os monstro do Reino se abrigam. Isso desencoraja qualquer um a entrar aqui.

— Incluindo a mim mesma. - a Hime resmungou. Depois de alguns segundos calada, ela perguntou. - Como eu fiz esse lugar?

— Ué, com magia. - respondeu Flower.

— Mas como eu criei a Floresta do Silência se aqui não se pode usar magia?

— Essa é uma pergunta muito boa, embora...

A Conselheira das Flores foi interrompida pelos Kodamas que se puseram a piscar e voar freneticamente.

— Não podemos ficar paradas. Glow pode estar em perigo! - Kero falou e todos recomeçaram a andar.

— Esses Kodamas… - A Hime olhava para as pequenas luzes enquanto falava. - São espíritos, certo?

— Já sei o que você vai perguntar - Flower se desviou de um galho mais baixo enquanto falava. - Você quer saber por que os Kodamas estão na floresta em vez de estarem em Kehasai.

— Bem… sim…

— Eles são diferentes. Não são fantasmas de pessoas que morreram e ficaram presos na floresta ou algo do tipo. Eles são apenas entidades sobrenaturais que vivem em algumas árvores e, em troca, protegem a floresta.

— Olha, está vendo aquela árvore? - Watery apontou de repente para uma grande árvore cujos galhos se projetavam em todas as direções e as folhas avermelhadas eram compridas e finas. - Está vendo aquela corda trançada amarrada no tronco? Aquilo é um Shimenawa e significa que está árvore é o habitat de algum Kodama, o que a torna sagrada.

A Hime entortou o pescoço ao passar pela árvore para reparar melhor na tal corda dourada, com alguns enfeites pendurados no mesmo material.

— Mas então… Os Kodamas não seriam Yōkai? - Perguntou Kero, ligeiramente confuso.

— Não. Kodamas estão aí desde que o mundo é mundo. São criaturas milenares e pacíficas…

— Mas só se você respeitar a Floresta. - Acrescentou Watery, cada vez mais curvada pelo peso da foice. - Ei, Flower! carrega um pouco esse treco também!

— Como eu ia dizendo... - Recomeçou a Conselheira das Flores após colocar a foice na suas costas. - Kodamas são quase sempre pacíficos. Já Yōkai são outra história. Geralmente são fruto de alguma maldição ou feitiço maligno. Embora possam viver muito mais tempo que humanos comuns, geralmente são mortais, hostis e muito fortes.

— Que ótimo. Estou muito mais calma agora. - Ironizou a Hime, tentando não fazer sua voz vacilar de medo.

— Não era você quem queria que fôssemos honestas? Esta é a mais pura verdade. - disse Watery, dando de ombros.

— Embora por causa da Floresta, a grande maioria deles não consegue usar ou se alimentar de magia, o que os torna significantemente mais fracos. - Tomoyo murmurou como se estivesse falando consigo mesma.

— Exato. Infelizmente, ainda são perigosos. - Finalizou Flower.

A Hime fez um som ininteligível e depois continuaram a caminhar em silêncio. Os Kodamas seguiam escoltando o grupo e mostrando a direção que deveria tomar, sempre flutuando ao redor deles. Passaram por mais algumas árvores sagradas de Kodamas até que chegaram em uma área em que havia muitas daquelas cordas amarradas nos mais diversos tipos de árvores.

— Esse é o Jardim dos Kodamas. - Flower falou, de repente. - Isso significa que não estamos muito longe da entrada de Kehasai…

Mas os pequenos espíritos se desviaram da estradinha principal e se embrenharam na direção oposta das árvores. Ali, pela primeira vez desde que entraram na Floresta do Silêncio, viram troncos cinzentos e feios, com galhos que pareciam longos dedos tortos, sem muitas folhas.

— Ai, ai… - Gemeu Flower, olhando preocupada para os Kodamas. - Ela foi por aí? Tem certeza?

O Kodama mais próximo se agitou em confirmação.

— O que foi? - perguntou Kero.

— Olha só o estado dessas árvores. Precisa ser uma criatura com muita raiva e mágoa para conseguir modificar a Floresta do Silêncio. Algo poderoso vive por essas bandas.

Enquanto tentava controlar o medo, a Hime observou em volta e seus olhos focalizaram um pedaço de tecido verde preso em um dos galhos baixos de um matinho cinza. Ela se aproximou e constatou sem dificuldade pertencer a saia de Glow.

— Ela com certeza passou por aqui.

— E por que raios Glow faria isso? - Watery perguntou, consternada.

— Algo deve tê-la atraído até aqui. - Tomoyo falou e a Hime percebeu que a moça estava apreensiva.

— Bom… fiquem de olhos abertos. - Recomendou, Flower, desenrolando o chicote da cintura. - O que quer haja além dessas árvores não pode ser boa coisa.

'

Sempre seguindo os Kodamas, o grupo andou por aquele trecho sinistro. Nem mesmo a forte luz do dia conseguia dar um pouco de vida àquele lugar. Os galhos compridos e finos se entrelaçavam como grades e as árvores se perdiam numa fina névoa branca. Estavam tão entretidos e apreensivos com aquele caminho sinistro que não perceberam que a estradinha começava a ficar tomada de objetos brancos e compridos. Tomoyo foi a primeira a topar com com os pés naquilo e a olhar para o chão. Teve que colocar as mãos na boca para sufocar o grito, os olhos arregalados e apavorados.

— Mas que droga é essa?! - Watery também olhou para o chão, completamente horrorizada.

Haviam ossos espalhados pelo chão, pálidos e lisos, que tintilavam num som oco medonho. Logo a frente, havia um pequeno vale coalhado de ossos de todos os tamanhos e formas. Inclusive, crânio humanos.

— O que… quem… por que…? - Kero não conseguia articular as perguntas, paralisado de terror.

Eles ouviram um barulho nauseante e Watery, mais uma vez, vomitou entre as árvores.

— Glow… - A Hime começou, mas parecia que havia um bolo em sua garganta que a impedia de falar. Engolindo em seco, tentou outra vez: - Glow disse que… muitas pessoas havia desaparecido em Ichigo. Acho que… as encontramos.

— Mas não são só ossos humanos. - Flower lutava para manter a neutralidade na voz. - Vejo ossos de animais também… e… tem alguns muito antigos também.

Ela chutou levemente um dos ossos, muito mais amarelado que os outros e coberto de limo.

— Mas quem fez isso? - perguntou Tomoyo, ainda muito abalada.

Como se respondesse aquela pergunta, um rugido ecoou pela floresta, assustando-os. O grupo olhou em volta, tentando determinar de onde havia vindo aquele barulho.

— Ali. - Sussurrou Kero.

Havia uma espécie de caverna que brotava do chão, como uma boca muito larga e escura. Haviam até estalactites pontudas e negras que pareciam dentes.

— Se a coisa que fez isso está lá dentro, eu quero distância! - Watery, muito pálida foi logo dizendo. Mas para sua consternação, os Kodamas avançaram até a entrada da caverna, claramente dizendo que era por ali que Glow estava. - E se isso for uma armadilha?

— Eu… eu… confio nos Kodamas. - A Hime falou, com dificuldade. - Se eles… quisessem nos matar… teriam feito isso enquanto estávamos dormindo… não é?

— Eu odeio quando você tem razão… - A Conselheira da água respirou fundo. - Vamos logo…

Então outro rugido se fez ouvir, dessa vez mais alto, fazendo o chão vibrar e as folhas caídas tremerem. E o som não vinha da caverna.

A esquerda de Watery, a Hime viu dois enormes olhos vermelhos e brilhantes faiscarem da direção da Conselheira.

— Watery, cuidado!

A Hime só viu um borrão escuro saltar para clareira, com suas pesadas patas chacoalhando e quebrando vários ossos ao derrapar perto de Watery e abrir a grande mandíbula cheia de dentes pretos na direção dela. E tão rápido quanto foi a chegada daquele monstro foi a reação de Flower, que sacou seu chicote de espinhos e amarrou o focinho do bicho.

— Aaaaaaah! - Ela gritou, em pânico quando o bicho tentou se livrar e a puxou para perto dele. Tomoyo então a segurou pela cintura, enterrando os sapatos na terra por debaixo dos ossos, fazendo força para que ele não puxasse Flower…

Enquanto Watery saia correndo de perto, a Hime olhou melhor para a criatura e gemeu: era um cão, com mais ou menos dois metros de altura, quase sem pelos, com a pele seca, olhos vermelhos injetados e boca cheia de espuma amarela. Porém, o mais aterrador era que a cabeça estava visivelmente costurada ao corpo, de maneira grosseira, com uma linha amarelada e puída, onde haviam vários pontos desmanchados ou completamente rasgados. Era uma figura horripilante que se alguém a tivesse descrito para a Hime, ela não acreditaria que fosse de verdade.

— O que que é isso?! - Gritou Tomoyo, ainda ajudando Flower a segurar o cachorro que se debatia.

— Um Inugami! - Gemeu a Conselheira das Flores entre os dentes, usando toda a sua força para manter o chicote em suas mãos. - É… um YōkaAAAAAAAAAAHHH!

Finalmente o monstro conseguiu se soltar, lançando o chicote pra longe e fazendo Tomoyo e Flower se estatelarem no chão. Ao menos deu tempo de Watery se recuperar do susto e puxar sua rapier.

Com uma agilidade inusitada para a Conselheira sem poderes, ela se aproximou do Inugami e os estocou em uma das patas. O bicho soltou um urro de dor e avançou pra cima da garota, que se desviou. Watery tentou atingí-lo outra vez, mas a criatura se moveu, rápida, e evitou o golpe.

— Preciso de ajuda aqui! - Watery gritou ao escapar por um triz de ter a cabeça arrancada pelas mandíbulas do bicho.

— Preciso recuperar meu chicote! - Flower gritou de volta. - Assim poderemos imobilizá-lo e matá-lo.

Mas não seria fácil. Como se tivesse entendido o que havia sido dito, o Inugami usou uma das patas para derrubar Watery e pulou para frente de Flower. Então a Hime se meteu no meio entre os dois, com Sword firme na suas mãos.

— Não, Hime- sama! - Gritaram Flower e Kero ao mesmo tempo.

— Vai logo pegar o chicote, Flower! - Ela berrou de volta, se pondo em posição de ataque. Ela tremia levemente, pois sabia que estava por sua conta, sem o Conselheiro de Armas para lhe guiar. Mas faria o seu melhor e tentava não demonstrar o medo que sentia.

Ela atacou uma das patas do Yōkai, que se desviou com facilidade e quase a atingiu com rabo. Se não fosse por Watery, já recuperada da pancada, que estocou o bicho bem nas costelas, ela com certeza teria sido atingida. Ela apertou o cabo da espada.

— O que eu posso fazer? - Murmurou, angustiada, querendo ajudar seus amigos.

— Hime-sama… - Sword falou com ela, numa voz muito fraca. - Eu… não consigo guiá-la como normalmente faço... mas posso orientá-la.

— Como?

— ABAIXE-SE!

Por uma fração de segundo a Hime hesitou, mas fez o que lhe foi ordenado e assim evitou que uma patada do Inugami a rasgasse no meio. Mas seus vacilo lhe custou alguns fios de seu cabelo.

— Ufa! - ela gemeu, assustada, mas segurando com mais ímpeto Sword.

— Dois passos para a direita…

— Passos normais ou longos? - Ela perguntou, confusa.

— Normais. Vamos, agora!

A Hime fez o que lhe foi ordenado, posicionando-se melhor e flanqueando o Inugami juntamente com Watery.

— Não hesite, Hime-sama! - O tom de Sword, quase sempre calmo, agora estava autoritário e firme - Conte até três e golpeie as costelas!

Numa dança bastante desajeitada, ela foi seguindo as ordens de Sword, tentando atingir o bicho e se defendendo também. Seus movimentos eram crus e desastrados, contudo, eles conseguiam causar algum dano na criatura.

Outra vez, ela teve a impressão que aquele Yōkai era extremamente inteligente para um monstro morto-vivo. Ele parecia entender o que eles conversavam entre si e previa ataques com facilidade, dificultando muito a vida delas. Quando a Hime precisou se esquivar de uma mordida que passou particulamente muito perto de sua cabeça, ela viu uma luz brilhar meio dourada, meio prateada, entre a pele costurada do pescoço do cão.

— HIME-SAMA, CUIDADOOOO!

O grito de Watery veio tarde demais: o Inugami virou mais rápido que seus reflexos e seu rabo comprido acertou a Hime bem no peito, lançando-a longe. Enquanto se recuperava da queda e respirava forte para repor o ar dos pulmões, ela viu Flower gritar de raiva, lançando seu chicote nas pernas do bicho, fazendo-o tropeçar e cair no chão e Watery desferir um golpe certeiro na costura do pescoço, fazendo as linhas se romperem e a cabeça rolar para longe do corpo. Ele finalmente parou de se mexer.

— Ele está morto? - Perguntou Tomoyo, que estivera escondida, se aproximou para ajudar a Hime.

— Ele já estava morto há muito tempo, mas conseguimos pará-lo. - Respondeu a moça, se levantando.

Ela se aproximou da cabeça bem a tempo de ver Watery dar um chute de raiva e fazê-la quicar pelo chão de ossos. Repentinamente, de dentro dela, saiu uma bola de luz muito parecida com Kodama. Mas a Hime logo reparou que era a mesma coisa que vira brilhar minutos antes no monstro, piscando prateado e dourado.

— Um Kodama? - Perguntou Kero, se aproximando.

— Não… não é… - A Hime respondeu quase automaticamente, concentrada naquela estranha criaturazinha.

Houve um flash de luz que quase hipnotizou a Hime, mas ela sacudiu a cabeça, um tanto atordoada.

— Mas que droga é essa? - Perguntou Watery, se aproximando da luz e quase tocando.

Foi quando os Kodamas, que estiveram escondidos na floresta, vieram zunido rápido e se colocaram entre ela e aquela luz desconhecida, brilhando freneticamente como se tentassem impedí-la. Um deles pouso em Sword e ficou ali, tremelicando sua luz.

— Afastem-se! — Sword, embora fraco, soou na mente Hime. - É essa coisa a responsável pelo desaparecimento de Glow! E pelo Inugami!

— Como…?!

Não houve tempo para qualquer pergunta. A luzinha desconhecida passou do prateado para um vermelho pulsante e rapidamente voou frenética pela pequena clareira de ossos até se esconde dentro de uma caveira humana. Imediatamente, o chão começou a tremer.

— Estou com um mau pressentimento sobre isso… - Watery falou, enquanto recuava devagar até a linha de árvores.

A Caveira flutuou no ar e então ossos e mais ossos se juntaram, formando um corpo enorme e disforme, maior que o Inugami, que fazia clics e clacs a todo minuto. Uma mão enorme cheia de dedos agarrou um pedaço de osso grande que ergueu sobre a cabeça como uma clava. E então urrou num som alto e seco.

— AH, MAS QUE MER...!

O palavrão de watery foi encoberto pelos gritos de Flower, Tomoyo e da Hime quando a criatura desceu sua arma improvisada em cima da Conselheira da água. Felizmente, ela se desviou a tempo, mas duas árvores atrás de onde ela estava ficaram completamente destruídas com o impacto.

— Role para a esquerda, Hime-sama! - A voz autoritária de Sword ecoou pela sua mente e a moça fez como lhe foi ordenado, evitando que a outra mão da criatura a atingisse.

— O que é isso agora?! - Ela perguntou para Flower, se levantando.

— Um Gashadokuro! Ou pelo, menos, é o que parece…! - A Conselheira das Flores parecia confusa e transtornada ao mesmo tempo.

— Na verdade, é aquela coisa parecida com um Kodama que está comandando esse monstro! - Falou Tomoyo, raciocinando rápido. - Ela está ou comandando os Yōkai ou se passando por eles! Aaaahhh!

O monstro virou o crânio 180 graus para olhar para Tomoyo e mirou sua clava nela, que fugiu para dentro das árvores.

— Tomoyo-chan tem razão! - Flower falou, se posicionando melhor para lutar. Ela tentou atingir com o seu chicote a mão da clava, mas os ossos simplesmente se rearranjaram e a ponta do chicote atingiu apenas o ar - Minha arma não tem utilidade aqui!

— Nem a minha! - Watery disse, rangendo os dentes, após tentar perfurar vários ossos e não fazer efeito algum sobre o bicho.

A Hime olhou clinicamente para a caveira lá no alto, onde conseguia ver entre os buracos de dentes e das cavidades oculares o brilho dourado e prateado.

— Acho que precisamos destruir aquela coisa que a controla. Você consegue me ajudar? - ela murmurou para Sword.

— Vai ser muito difícil no meu atual estado. Mas não custa tentar. - O conselheiro falou, numa vibração muito fraca.

— Sinto muito te forçar assim.

— Não se preocupe com isso. Apenas não fale nada para que a criatura de luz não perceba suas intenções.

— Certo! - Então erguendo a voz, disse para Flower e Watery - Ataquem a criatura sem dó!

— Mas como, Hime-sama?! Ela desvia de tudo! - Watery teve que pular para o lado a fim de evitar uma pesada do Gashadokuro.

— Só façam o que eu disse!

— Três passos para trás, Hime-sama… - Sword começou a guiá-la.

Aos poucos, a Hime, ajudada pelos ataques constantes de Flower e Watery, foi se aproximando do bicho e tentava atingir a caveira lá em cima. O problema era que o monstro era muito alto e rápido, desviando com facilidade de todas as investidas que ela fazia. Um ponto positivo era que ao menos Tomoyo havia percebido o que ela estava tentando fazer e, usando a frigideira de Flower, bateu com toda força que possuía em uma das pernas do bicho. O impacto da arma improvisada foi bem mais efetivo que as outras armas, fazendo ossos voarem para todos os lados e o bicho tropeçar e cair, espalhando ossos. A Hime correu na direção do crânio, tentando não tropeçar em ossos ou no tecido da sua própria saia…

— É isso! - Kero gritou de repente - Precisamos atingir a caveira e machucar aquele treco de luz!

— NÃO! - Gemeram a Hime, Tomoyo e Flower, ao mesmo tempo.

A Hime ainda tentou estocar a lâmina de Sword na caveira, mas ela saiu voando depressa para longe, tremendo mais do que nunca.

Houve mais tremores e do chão seis caveiras muito parecidas com a original se juntaram a primeira. Ficaram dançando acima do corpo principal, que se remontou em uma forma ainda mais grotesca a fim de acomodar aquele novo arranjo. E, para coroar, todos os crânios começaram a pegar fogo.

— Ah, que ótimo! - Ironizou Watery, desanimada. - Fogo era tudo o que eu queria! Obrigada Kerberus!

— Eu só estava tentando ajudar! - Devolveu o guardião, parecendo mortificado.

— Pelo menos agora sabemos que de nada adianta essas armas! - Flower jogou o chicote no chão e correu até Tomoyo, tomando-lhe a frigideira - Se esconda querida. Está muito perigoso agora.

O bicho urrou e o fogo ardeu com mais intensidade. Ele tentou atingir a Hime, mas ela se desviou com facilidade. Notou que agora o Gashadokuro estava bem mais lento e pesado. Provavelmente, a criatura que o controlava não tinha força ou energia suficiente para manter uma coisa tão grande com o mesmo ímpeto de antes. Ainda assim, ela podia sentir o calor do fogo queimar sua pele sempre que chegava perto demais.

— Flower, tente atingir e desmontá-lo! Kero-chan, vem aqui comigo! Agora!

Todas as cabeças se viraram na direção da hime, que corria para perto da abertura da caverna, o mais longe possível do bicho.

— Lembra quando lutei contra Firey e ele disparou uma bolo da fogo em você? Não aconteceu nada, o que me faz presumir que você a prova de fogo. Precisamos derrubar a caveira certa e então golpear a criatura para pará-la. E é você quem vai fazer isso!

— Mas como vou saber qual é a certa? - O Guardião perguntou, preocupado. - Com esse fogo todo vai ser impossível!

— Não é não! - a Hime falou, com uma confiança que estava longe de sentir - É uma luz diferente do fogo! Prateada e dourada. Essa é nossa única chance, Kero-chan!

— Está bem. Só que estou fraco e não consigo voar por muito tempo. Terei apenas uma chance.

— Eu vou te ajudar! Se eu descobrir qual é, eu vou falar para você.

— Está bem. - A Hime viu quando o guardião engoliu em seco e por isso não falou mais nada.

A coisa não estava indo muito bem. Flower tentava bater no Gashadokuro com a frigideira, mas ele aprendera a se esquivar dos ataques. Watery, por sua vez, pegara um galho grosso de uma árvore que já estava em chamas. De sua cabeça, saía fumaça, indicando que ela estava em maus lençóis.

— EI, COISA FEIA! - A Hime berrou, chegando perto o bastante para bater com força no osso mais largo que viu usando Sword.

Quatros crânios se viraram para a Hime e um de seus braços tentou derrubá-la. Ela Se desviou e começou a cercá-lo, olhando atentamente para os crânios, tentando identificar qualquer coisa diferente…

— O que você está fazendo? - Perguntou Watery, quando elas pararam lado a lado durante uma esquiva de um ataque.

— É melhor não falar nada ou ele pode ouvir e vai fazer algo diferente.

— Então faça logo ou não vamos aguentar! - A Conselheira da Água arfava visivelmente.

A Hime mordeu os lábios e concentrou-se.

— Elimine os crânios que não se viraram quando você chamou a atenção dele, Hime-sama! — Aconselhou Sword. - E role para a direita!

Quando voltou a se levantar, ela se concentrou nas caveiras tal como Sword havia dito e de sete opções, reduziu para quatro. Flower, aproveitando-se de que o monstro estava concentrado na Hime, conseguiu acertar a frigideira em dois crânios. Um deles, que inclusive era um dos quatro, saiu rolando entres os ossos e ficou imóvel no chão. Faltava apenas três.

— O que você acha, Sword? - Ela murmurou entre dentes para o Conselheiro.

— Não tenho como dizer a essa distância, Hime-sama. Infelizmente, precisamos nos aproximar!

A Hime deu um passo pra frente, mas foi obrigada recuar dois em seguida devido a um ataque do monstro.

— Como vou fazer isso? - Ela se perguntou, desanimada.

— Talvez pudesse Flower ou Watery pudessem distraí-lo. Infelizmente, a essa distância, você teria que gritar e ele com certeza iria escutar e mudar de estratégia.

A Hime teve um estalo. ERA ISSO! Precisava fazer o monstro acreditar que ela era a distração e não o contrário. Enchendo-se de coragem, ela voltou a se aproximar, falando como se estivesse falando baixo com Sword, mas num tom de voz audível:

— Está dando certo. Flower vai conseguir, Sword!

O Gashadokuro escutou e imediatamente virou três cabeças na direção da Conselheira, sendo que apenas duas delas eram daquela primeira seleção que havia eliminado. Se conseguisse acertar qual delas era a verdadeira, conseguiria derrotar o monstro!

A criatura voltou-se quase completamente para Flower e a Hime foi se esgueirando, bem devagar por entre os ossos no chão, tentando não fazer barulho e, ao mesmo tempo, ver qualquer coisa que pudesse lhe indicar qual era o crânio certo…

— AAAAAAAAAAAAAAAAHHH! - Subitamente, Watery foi jogada para longe , estatelando-se numa árvore. Uma coisa azul brilhava intensamente em seu braço. E aquilo distraiu a Hime completamente...

— HIME-SAMA! CUID- !

Aconteceu muito rápido. A Hime pisou num osso que rolou e a desequilibrou, além de chamar a atenção do Gashadokuro. Ele virou apenas um crânio para ela, olhando sinistramente para a garota com as chamas lambendo pela boca e um brilho dourado e prateado visível por um dos globos oculares… Antes de uma das mãos com garras afiadas se aproximar rapidamente por trás e se precipitar para rasgá-la ao meio… os gritos simultâneos de Flower, Tomoyo e Kero impotentes e muito longe da Hime para salvá-la…

A Hime sentiu Sword vibrar e também sentiu aquela velha sensação da magia se conectando com seu coração, fazendo com que ele guiasse seu corpo na velocidade e posição corretas para aparar o golpe mortal e cortar ao meio um fêmur que se fazia de braço.

— Hi...me… sama… - Ela sentiu Sword vibrar pela última vez. Então, de alguma forma, ela sentiu que Sword não estava mais ali. O metal dourado empalideceu e as pequenas asas do engaste da guarda-mão pareceram murchar.

— Sword?! Sword…?! - A Hime sacudiu inutilmente a arma, desesperada. - SWOOORD!

— Hime-sama, ele deve ter desmaiado! - Flower gritou, parecendo lívida de horror. - Foque no monstro, precisamos acabar com ele!

Tentando segurar suas lágrimas de raiva e desespero, ela lançou um olhar fuminante para o monstro. Apesar de ter perdido Sword, seu sacrífício valeu a pena: ela sabia exatamente qual crânio estava a criatura…

— KERO-CHAN! DERRUBE A SEGUNDA CAVEIRA DA ESQUERDA PARA A DIREITA! AGORA!

Felizmente Kero foi mais rápido que o Gashadokuro e usou toda força de seu corpinho pequeno e gordinho para atravessar as chamas e derrubar com uma investida a caveira certa. Ela rolou até parar de ponta cabeça, se tremendo e lançando um brilho vermelho quente que refletia no branco do osso. A Hime correu com toda a velocidade que a situação permitia até ela, mas não teria dado tempo se os Kodamas - que até então estavam escondidos na orla da floresta - não tivessem voado na direção da caveira e impedido-a de voar de volta para o corpo do monstro. A Hime chegou derrapando e, usando o corpo inerte de Sword, ergueu a espada no ar e enterrou-a as cegas no crânio. Uma pequena explosão quente de luz a derrubou para trás. Quando voltou a abrir os olhos viu a criatura de luz sair em disparada em direção da floresta. Parecia estar com o brilho mais fraco e talvez mais lenta, só não sabia dizer se havia sido por causa da batalha ou porque a Hime a atingira com Sword. Vários Kodamas saíram atrás dela e a Hime fez menção de se levantar e ir atrás.

— Não, Hime! - Gritou Flower, que foi ajudar Watery a ficar em pé. - Precisamos achar Glow e sair da Floresta o mais rápido possível!

— Mas… - Ela se interrompeu e sacudiu a cabeça, tentando fazer a raiva passar e olhou para a espada. - O que vai acontecer com Sword?

— É por isso que precisamos sair! Precisamos que você dê magia para ele, pois Sword deve ter esgotado a dele para te proteger. E, se ficar assim por muito tempo… pode ser que fique assim para sempre!

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As garotas e Kero seguiam alguns Kodamas que haviam ficado para trás e que agora indicavam o caminho pela caverna subterrânea e escura, iluminando as paredes úmidas com sua luz dourada. O grupo andava o mais depressa que podiam, mas Watery, machucada pela luta com o Gashadokuro, seguia devagar, aparada por Tomoyo.

— Ela vai ficar bem? - Perguntou a Hime para Flower, olhando para o curativo improvisado que fizeram no braço da Conselheira da Água.

— Vai sim. Ela só se feriu. Somos feitos de magia e isso é o equivalente a um sangramento. Contudo... - A Conselheira das Flores mordeu os lábios, nervosa. - Como aqui é a Floresta do Silêncio, não conseguimos regenerar os ferimentos. Ela está perdendo magia a cada minuto. Mais um motivo para acharmos logo Glow e sairmos daqui.

— Mas… não vamos a Kehasai então?

— Vamos sim… - A ruiva passou a mão na testa para aparar o suor. - Não se esqueça que, embora fique no coração da Floresta, Kehasai é fora dela, portanto…

— Conseguiremos usar magia. - A Hime completou, dando um suspiro.

Ela passou a mão no cabo de Sword, que se tornava cada vez mais frio. Ela engoliu em seco e continuou andando, sentindo o estômago embrulhar de ansiedade.

Depois de uns dez minutos de caminhada, viram uma luz do outro lado e desembocaram em outra parte da Floresta, que estava de volta em sua exuberância de cores saturadas e sons invisíveis.

— Estamos indo bastante para oeste. Se andarmos mais acabaremos em Ichigo. - Comentou Flower, preocupada. - Será que Glow…?

A pergunta ficou no ar, pois a Hime de repente de um grito e apontou para o chão, onde um pedaço de pano verde estava caído.

— Definitivamente Glow passou por aqui… - Ela olhou pra frente e viu outro pedaço de tecido a adiante. - Tem outro aqui! Acho que ela deixou uma trilha para nós…!

— Hime-sama, vai devagar! - Flower pediu, enquanto ajudava Tomoyo a carregar Watery, que parecia mais enfraquecida. Mas, com o coração martelando de ansiedade no peito, a Hime nem escutou, avançando pela floresta.

— Hime-sama, temos que esperar os outros! - Falou Kero, sentando em seu ombro.

— Mas também precisamos achar Glow, Kero-chan! - Ela rebateu, parando para examinar mais um pedaço de tecido e logo seguindo em frente - Quanto mais cedo sairmos daqui, mais-!

Um estalo seco de galho quebrando fez a Hime virar para trás com o coração disparado. Ela puxou a espada da bainha, embora soubesse que ela não seria de muita serventia.

— Hime-sama… vamos voltar para os outros… por favor… - Kero pediu em um fiapinho de voz.

A Hime o ignorou e apurou os ouvidos, tentando ouvir qualquer outra coisa. Mas, além dos sons da floresta, não havia nada de diferente.

— Deve… ter sido um galho quebrando. - Ela falou, mais como se tentasse se convencer desse fato - Não deve ser nada…

Ela mal falou isso, uma criatura esquisita pulou de trás de uma árvore e a encarou. Tinha a forma que lembrava um coelho grande, todo cor de rosa, com patas traseiras finas e que acabavam em três grandes dedos afiados. As orelhas delgadas eram quase do cumprimento do bicho e o rabo afilava-se em zigue zague até um pompom de pelos verde. Tinha duas pequenas protuberâncias nas costas que lembravam asinhas e dois bracinhos muito curtos. Contudo, embora fosse uma criatura fofinha e nada parecida com um Yōkai, ela lhe lançava um olhar muito hostil e tremia levemente, mostrando os dentes afiados e retesando o corpo inteiro como se estivesse preparando para atacar…

A Hime gritou, assustada, e avançou para o bicho com Sword em suas mãos e Kero em seu ombro berrando alguma coisa que ela não entendia. O coelho deu um pulo muito longo para o lado muito antes que ela pudesse atacá-lo. Porém, havia algo errado com suas patas pois ele aterrissou errado e caiu no chão, com um guicho de dor. A Hime aproveitou para se lançar outra vez contra ele…

— Hime-sama! Hime-Sa-! NÃO! PARA! PAARAA! - Repentinamente, Glow saiu do mesmo lugar pelo qual a criatura havia surgido, suja e abatida, com as feições pálidas de terror. - PARA! ELE É UM CONSELHEIRO! É O JUMP!

(Continua)

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Notas finais do capítulo

E mais um capítulo que sai. Espero que tenham gostado. Deu um trabalhinho pra escrever porque sempre acho cenas de luta bem difíceis de descrever e tenho que me policiar para não usar termos repetidos e dar bastante emoção. Mas acho que no geral ficou interessante, não acham?

Bom, neste capítulo mencionei uma porção de palavras diferentes. Kodamas, Inugami, Shimenawa… são todos termos da cultura japonesa e vou explicar brevemente o que eles são, caso você tenha ficado curioso mas tenha tido preguiça de perguntar pro Google

Kodamas: “São espíritos que habitam nas árvores, geralmente nas de maior idade ou tamanho, sendo por isso fortes, poderosos e bastante velhos. A maioria dos Kodama é pacífica e serena, partilhando a sua sabedoria com aqueles com os quais são capazes de se comunicar.” (Wikipedia na veia) Ps: ficou confuso pra mim se Kodamas são ou não Yōkai durante a minha pesquisa então descrevi eles como não sendo Yōkai na fic.

Shimenawa: São cordas utilizadas em rituais japoneses. Podem ser de várias espessuras e tamanhos e tem como principal função afastar maus espíritos de lugares. Mas elas também servem como guarda e sinalização de Yorishiros, que são objetos capazes de atrair espíritos. Este é o caso específico das árvores dos Kodamas, portanto, é comum ver Shimenawas amarrados em árvores em que se acredita haver Kodamas habitando.

Inugami: É um Yōkai que existe “de verdade”. Não que existam criaturas vivas em forma de cachorro com pescoço costurado, mas que dizer que é mais um monstro do folclore japonês. Tem até uma “receita” para fazer um Inugami: Enterra-se um até o pescoço um cachorro e faça-o literalmente morrer de desgosto contando todas suas dores e mágoas a ele. Quando ele morrer, corte a cabeça a fora, costure de volta no corpo e Voilá: você terá um Inugami só seu!

Gashadokuro (literalmente “esqueleto faminto”): Outro Yōkai do folclore japonês. Mas, ao contrário de como eu o criei na fanfic, o Gasahdokuro nasce a partir dos ossos de pessoas que morreram de fome e geralmente tem a forma humanoide. Só são gigantes, podendo ter até 15 vezes o tamanho humano normal. Coisinha fofa, não?

E aqui vai um extra: Sabe a mulher que quase fez nossa Glow em pedaços capítulo passado? Pois então, ela também e baseada num Yōkai. A chamada Futakuchi Onna (em tradução livre, Mulher de duas bocas) é uma criatura da mitologia Japonesa que tem a aparência de uma mulher comum, mas na sua nuca se abre uma boca com dentes e língua. Inclusive, há uma lenda em que um homem muito avarento desejava se casar, mas não queria gastar muito com a mulher. Por fim, encontrou uma que não comia quase nada e não perdeu tempo. Só que, com os meses passando, embora a mulher realmente não comesse quase nada nas refeições, seus estoques de comida estava acabando muito rápido. Um dia, ele ficou escondido pra ver o que tava acontecendo e viu sua mulher criar uma boca na nuca e comer o arroz todo. Não fica claro o que acontece com o cara no final das contas, mas ou ele fugiu de terror ou a segunda boca comeu ele. Ah! e essa segunda boca é a que manda no corpo, muitas vezes xingando e maltratando a hospedeira… ai, ai… esses japoneses…

Bom, já falei demais então vou ser breve: capítulo novo? Sem data definida, mas vou me esforçar bastante para entregar em um mês.

Beijos e agradecimentos do fundo do meu coração a todos os meus leitores queridos. Em especial a Tsubasa Valdez pelo comentário (aliás, imagino que a explicação acima sobre a mulher tenha te esclarecido sobre quem ela realmente era… ou não. Huehuehuehue) Qualquer dúvida, crítica e elogios, me mandem comentários.

Um grande beijo a todos,

By Cherry_hi



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