Quando uma gota de água cai sobre a água, ela se dispersa em gotas menores que ricocheteiam contra a superfície da poça. Que ficam menores, menores e menores, mas que ainda são gotas de água.

Foi quando Ele observou essa transformação que percebeu que ela esvaía de seus olhos em algum instante.

Que instante?

Tudo acabava como um três vezes dez elevado à quinta potência. E Ele estava preso em um infinito que acabava quando Ele não conseguia mais enxergar. Como quando andava em uma sala até sua metade, depois percorria outra metade da metade e repetia o processo até que, finalmente, encostava a sola do sapato na parede do cômodo. Ou Ele era capaz de quebrar todas as incontáveis e imperceptíveis metades que caminhou, ou Ele não era mesmo capaz de tocar na parede. Nos objetos. Nas pessoas. No seu próprio coração.

Ele não sabia que tinha olhos, mas via, mas deixava de ver em um determinado instante.

Gostaria de saber até quando Ele mesmo estaria preso naquele fim infinito e questionava-se subjetivamente, todos os dias, o porquê de todo fim ter um infinito, e porque todo infinito tinha um fim.

Seria a esperança ou a falta dela?

Ele crescia e tentava, cada vez mais, polir suas habilidades para se tornar mais sábio. E o conhecimento o desgastava. Seu corpo se tornava mais frágil conforme envelhecia, sua vista ficava mais opaca de tanto ver, suas pernas ficavam mais fracas de tanto andar.

Sua existência se esvaía por ele já ter existido tanto. Por já ter tido expansões tão intermináveis como o amor e a paz e por elas já terem encolhido e inchado tanto, deixando estrias dolorosas no peito.

Aquela era uma tristeza feliz, uma alegria de mágoas. Um pranto sem sentido. Ele era tão perto de si mesmo e tão distante do planeta, compartilhando de átomos com alguns pedaços aleatórios de universos.

E Ele levantava mais uma vez.

Um Ele que conheci na rua.

Um Ele que deixou seu rastro na Terra.

Um Ele qualquer que se encontra em qualquer esquina.

Assim como eu.