Stay with me escrita por Ingrid Lins


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem ♥



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Meus olhos não conseguiam manter-se abertos. Flashes piscavam enquanto eu variava entre a lucidez e a escuridão do pensamento. Caos à minha volta. O casamento de Jo e Alaric. O que havia acontecido, afinal?

 

Dez horas antes...

Finalmente nós havíamos ganhado um motivo para respirarmos ares mais felizes. Um casamento era tudo que precisávamos para esquecer os problemas que vivia pairando sobre nossas cabeças.

Elena não parecia muito satisfeita com o fato de não darmos a Jo uma festa, mas com Caroline sumida e enlouquecendo com a humanidade desligada, ficou meio difícil planejar alguma coisa. Fomos obrigadas a improvisar.

O caminho até o Whitmore Medical Center foi rápido, não precisávamos correr porque Jo ficaria a noite toda no plantão. Escondemo-nos na esquina do corredor, e esperamos nossa deixa. Não demorou muito e nosso oficial a abordou.  

—Dr. Loughlin?

—Sim?

—Eu sou o agente Baker. Há um lugar reservado, que podemos falar?

—Claro.

Jo guiou o policial até uma sala próxima.

—Do que se trata?

—Eu estou aqui pra falar a respeito do Professor Saltzman. Eu entendo que vocês dois estão prestes a se casar?

—Tem algo errado?

Oficial Baker alcançou seu cassetete no cinto e tirou do suporte do cinto, antes de bate em um botão que o fez acender, e piscar em um milhão de cores diferentes. Jo parecia confusa e olhou o relógio, ignorando o agente Baker que começa a sorrir:

—Está tudo bem.

Ele tirou uma caixinha de som de algum lugar, e, de repente, "Ladies Night" começou a tocar. O agente Baker abriu a camisa e começou a girar os quadris, deixando claro que defender os cidadãos de Whitmore não era seu ganha pão.

Os olhos azuis de Jo piscaram, enquanto ela encarava a cena atônita. Se não fosse por Elena me segurar naquela hora, eu teria um ataque de riso.

—Uau, Uau, Uau! Uau!

 Baker tirou para baixo para sua sunga vermelha e continuou a dança. Não aguentando mais a vontade de gargalhar, eu e Elena saímos de nosso esconderijo e pulamos dentro da sala.

—SURPRESA!

—Ah! Meu Deus. Não, eu acho que não! — Ela nos observou e começou a rir. — Não, não, não, isso não pode estar acontecendo.

Nós não ligamos para suas negativas e a enfeitamos com uma coroa e echarpe peludinha rosa. Eu e minha melhor amiga também estávamos a caráter, e quando percebia, estávamos todas dançando com o Agente Baker.

Infelizmente Jo não quis o pacote completo, e uma hora depois, nosso striper foi embora. Levamos a noiva para a lanchonete, nos lambuzando de hambúrguer, milk-shake e refrigerantes. Por causa da gravidez, Jo não podia beber, e naquele momento, nós nem lembramos de álcool.

 —Eu ainda acho que estou sonhando. Não se pode ter tudo na vida, certo? — a voz dela estava aflita e seus enormes olhos azuis, arregalados. — Quer dizer, meu irmão gêmeo foi banido, quase me matou, é um psicopata completo, eu não tenho magia, e agora... Eu tenho o Alaric. E os gêmeos. Está tudo bem, e isso não... Alguma coisa ruim vai acontecer, tenho certeza.

Eu e Elena ofegamos. O que nós sabíamos sobre felicidade? Olha para trás naquele momento, nossa vida parecia resumida a batalhas e tristezas. Todas as vezes que morri. Todas as vezes que vi tudo ser tirado de mim. Todas as vezes que preferi o bem estar de todos acima do meu.

Elena foi a primeira a reagir:

—Bem, eu acho que algumas pessoas conseguem tudo. Você e Ric merecem.

Ela pareceu se contentar, pelo menos até ali. Não comentei que Ric tinha um azar estranho quando se tratava de mulheres, e chegar até o casamento, já era um ganho enorme. Não citei que Damon havia planejado a festa de despedida de solteiro de Ric.

No dia seguinte, acordei decidida. Aquele dia precisava ser perfeito, e eu tomaria precauções para que realmente fosse. Jo e Ric mereciam isso — todos nós merecíamos um minuto de paz que fosse. Tomei banho, e vesti minha surrada calça jeans, um suéter vermelho e um surrado par de tênis — quase um look completamente surrado. Bebi um descafeinado com donnauts no caminho, e rapidamente cheguei à fazendo onde seria a cerimônia do casamento. A fazenda era um território gemini; assim que pisei em sua terra, pude sentir a força da magia. Eu não estava tão forte, mas teria que ser suficiente. Aquilo tinha que dar certo.

Abri a bolsa de couro velha e desgastada, e peguei tudo que precisaria. Velas, sal e uma faca. Ao invés de fazer o traçado tradicional como Emily fazia, tentei um jeito novo. Um círculo de sal no centro do terreno, e quatro velas posicionadas de forma que desenhasse um novo círculo conectados por uma vala funda, riscando o chão. Peguei a faca, e respirando fundo para dar coragem, arrastei a lâmina sobre a palma da mão. Meu sangue pingou quente e vivo no meio círculo, fazendo as velas acenderem. Fechei os olhos, me concentrando. As vozes de toda a linhagem Bennett sussurravam no meu ouvido, mas tentei ignorá-las.

—Fesmatos sal vis nas ex malon, terra mora vantis quo incandis, et vasa quo ero signos. Fesmatos sal vis nas ex malon, terra mora vantis quo incandis, et vasa quo ero signos. Fesmatos sal vis nas ex malon, terra mora vantis, ero signos! Fesmatos sal vis nas ex malon, terra mora vantis quo incandis!

Eu podia sentir o calor das chamas, que com certeza estavam nas alturas. Embora tentasse manter a firmeza nas palavras e a energia fluindo, a fraqueza também podia ser sentida. O filete de sangue no meu nariz já se fazia presente, e eu não sabia se o feitiço daria certo. Pelo menos, uma certeza eu tinha: nada e nem ninguém poderia estragar aquele casamento.

 

Atualmente...

O ferimento na minha barriga jorrava sangue, me deixando fraca. Kai conseguira me pegar e daquela vez não tinha mais Damon para me salvar. O feitiço tinha sugado todas as minhas forças, me deixando lutar numa briga injusta. Não tinha como ganhar de Kai, ele era o bastardo mais poderoso que poderia aparecer. Sabia que era tarde demais.

—Olha que quadro lindo, Bonnie. Dê uma boa olhada. Alguma dezena de mortos, tudo quebrado, e eu reinando absoluto no meio disso — ele falava com orgulho, sem se importar com seu smoking manchado de sangue.

Ofeguei com lágrimas presas em minha garganta, e o sangue que perdia a cada segundo que passava.

—Sabe o que é melhor? Eu tentei te ajudar, eu tentei... Você me virou as costas, Bonnie, pior que isso, você me enganou — ele falava e gesticulava ao mesmo tempo, parecendo o maluco que era. — Sim, no mundo prisão, eu ofereci minha ajuda e sabedoria, e tudo que recebi em troca foi traição e crueldade. Você fez por merecer essa morte, Bonnie.

Mesmo contra minha vontade, olhei em volta. A linda decoração do casamento não existia mais. Era um cenário de guerra. Os lustres e bancos de madeira estavam destruídos no chão, e haviam alguns focos de fogo. Ric chorava em cima do corpo de Jo, e naquele momento, senti a lágrima cair. Se tinha alguém que não merecia ser uma vítima era ela. Elena também estava caída no altar.

Elena.

Na hora que percebi o que aquilo significava, minhas forças cederam. Kai estava parado na minha frente, sorrindo diante da minha morte iminente. Fechei os olhos, variando; minha pressão caindo, eu podia sentir. Abri os olhos novamente. Kai estava do outro lado do celeiro ao lado de Elena. Damon estava perto da porta. De onde ele tinha saído? Meus olhos reviravam, tentei alcançar o ferimento na minha barriga na vã tentativa de conter o sangue, mas não consegui nem mover a mão. Fechei os olhos, ardidos de lágrimas e ressecamento. Barulho de coisas quebrando. Meu corpo estava gelado, meus dentes batendo pelo frio da morte. Abri os olhos. Damon pairava sobre Elena, mas Kai bloqueava sua visão. Senti-me solitária. Eu estava morrendo e sem ninguém ao meu lado.

—Sabe o que é engraçado, Damon? Sua melhor amiga está morrendo, e sua namorada também. Não é incrível? Até eu me surpreendo com minha genialidade. As duas mulheres mais importantes da sua vida estão morrendo e você não pode fazer nada — Kai riu.

Damon olhava de um lado para o outro, dividido entre mim e Elena. Eu não precisava pensar duas vezes para saber quem ele escolheria.

Meus olhos fecharam novamente. Não sei dizer se foram segundos ou minutos, mas quando recobrei a consciência Damon estava ao meu lado, acariciando minha bochecha.

—Você é burro?! Entrego a você uma moribunda Bonnie Bennett em uma bandeja de prata, e...

Damon não prestava atenção em Kai, seus olhos estavam grudados em mim. Toda sua atenção estava focada em mim. De repente, o frio já não era tão intenso. 

—Damon? — chamei ofegante, o ar pesado em meus pulmões.

—Você está bem — afirmou, convencido daquilo mesmo que seus olhos exalassem preocupação.   

—Damon...

Senti seu corpo me deixar, e novamente o frio voltara. Meus pulmões estavam ressecados, as batidas do meu coração ecoando em meus ouvidos como tambores. O fim estava chegando, eu sentia.

—Ela está prestes a bater as botas.

—Damon — chamei uma última vez, mesmo sabendo que ele não ouviria minha voz. Vi Kai andar em nossa direção, e temi por Damon.

—É claro, não precisa ajudá-la. Você poderia ir embora. Ela morre de colapso pulmonar, não há sangue em suas mãos, e você e Elena vão viver a vida que você sempre sonhou.

Damon olhou para Elena, e depois para mim. Ele está considerando — me obriguei a aceitar. Oficialmente, aquele era o fim da linha para mim.

—De qualquer forma, é melhor agir rápido.

—Eu sinto muito, Bonnie.

Ele caminhou ao meu lado novamente, e horrorizada, assisti-o se inclinar para frente e beijar minha testa. Ele soltou minha mão, e desolada, rolei para o outro lado. Eu estava visivelmente traída por suas ações. Damon contornou os escombros e foi embora, me deixando para trás.

—É isso? Ele só saiu? — Kai parecia ainda mais traído do que eu. — O objetivo era que isto iria torturá-la por um tempo. Quero dizer, você pensaria que ele teria pelo menos uma moeda...

Fechei os olhos, sabendo que não haveria mais salvação. Não havia nada, não havia mais ninguém. Antes que eu pudesse formular qualquer resposta, cai na inconsciência.

Um líquido quente e pegajoso pedia passagem pela minha boca. Tinha gosto de metal, e cheiro enjoado.

—Bonnie, você não pode me deixar. Vamos lá, por favor, volte. Abra os olhos. Você não achou realmente que eu te abandonaria, não é?

A voz de Damon era distante, mas ainda aflita. Lentamente e com muito sacrifício, abri os olhos. Damon me olhava cheio de expectativa, com seu pulso sobre minha boca. Ele tentava me curar. Por mais que minha natureza de bruxa tentasse me repelir de sua atitude, abri a boca e deixei seu sangue escorrer para minha boca.

—Beba, Bonnie, vamos lá. Você está bem. Você vai ficar bem. — ele abraçou meu corpo, me moldando em seu peito.

Conforme eu bebia, minhas forças iam voltando. As vozes de minhas antepassadas enchiam meus ouvidos, fazendo um calafrio passar pela minhas costas, ao mesmo tempo que os enormes olhos azuis do meu melhor amigo queimavam em mim, cheio de expectativas.

—Você está trilhando um caminho sem volta, Bonnie Bennett.

—Uma bruxa não pode se envolver assim com um vampiro. Não é natural!

—Um laço de sangue! Onde já se viu uma coisa dessas?!

Fechei os olhos, ainda com o pulso de Damon sobre minha boca, lembranças tomando minha mente. Nossa convivência no mundo-prisão, as brigas, as compras, as panquecas... Todas as vezes que ele compartilhou seu sangue comigo para me salvar. O fato de ele ter me escolhido. Era uma negativa que não adiantava de mais nada. Fechei os olhos, dessa vez com mais força, tentando ignorar aqueles que tanto me julgavam.

—Eu o amo...

Eu podia sentir o choque da minha família morta. Silêncio mortal do outro lado da vida. Eu também estava chocada com a verdade nas minhas palavras mudas. Os olhos vidrados de meu amigo em mim, fazia meu coração bater mais forte, e eu sabia que ele podia ouvir.

—Graças a Deus, você está bem, Bonnie Bennett – ele suspirou e beijou meus cabelos. Agarrei-me aos seus braços, abraçando-o como se minha vida dependesse disso. Damon me envolveu em um abraço apertado e me manteve ali.

Respirei fundo.

—Elena... Cadê Elena?

—Stefan a levou pro hospital. Ela não está acordando, eu não sei o que está acontecendo.

A pergunta estava clara no meu olhar. O que ele ainda estava fazendo ali, e não com ela no hospital.

—Eu precisava saber de você, como você estava. Eu fiquei perdido quando te vi tão inconsciente, tão... Você me deu um grande susto, Bon-Bon.

Pisquei, olhando em volta. A festa, o casamento, tudo que estávamos tão animados vinte e quatro horas antes, estava destruído. Alaric estava chorando sua esposa morta, haviam corpos espalhados pelo chão entre os destroços — todo o clã gemini, a família de Jo — e minha amiga estava com algo errado no hospital. Tudo por causa daquele maldito Kai.

Jo estava deslumbrante em seu vestido, pronta para jurar a Alaric que seria fiel e o amaria, mas ela engasgou. Uma exclamação de dor saiu de sua boca, e antes que todos nós pudéssemos pensar o que estava acontecendo, Kai apareceu atrás da irmã. Uma faca suja de sangue era sacudida em sua mão, e um sorriso vitorioso esticava seu rosto.

—Sentiram minha falta? Não?!

O maldito fez um gesto com as mãos e tudo em volta, explodiu. Com a energia do ataque, fui jogada para trás, batendo a coluna em alguma coisa. Fiquei caída entre algumas vigas, quando senti a presença dele atrás de mim.

—Não seja teimosa, Bonnie. Apenas fique quieta.

A mesma faca que golpeou Jo, ele usou para me esfaquear. Um golpe limpo no lado direito da minha barriga, que ele aproveitou cada segundo. A dor inflamava meu sangue, e enquanto o líquido carmesim espalhava-se sobre meu vestido. Não sei se por dor ou por um truque da magia, ou qualquer outro motivo, só sei que apaguei.

Tive medo do que poderia acontecer a seguir. Do que poderia a acontecer com minha amiga e comigo mesmo, diante da verdade inegável que eu me forcei a aceitar. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Damon passou os braços por baixo das minhas pernas, e me ergueu. Minha cabeça pendeu entre a curva de seu pescoço, e lá pude sentir seu cheiro. Um perfume doce e excêntrico que só ele poderia ter.

Naquela noite, Damon me pôs na cama, e dormi sentindo seu corpo ao meu lado.

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Elena parecia morta ligada a tantos fios e monitores. Senti-me culpada por seu estado, e pensei em como poderia ter sido se Damon estivesse a escolhido. Seria eu naquele maca, seria eu entre a vida e a morte. Será que ela estaria tão preocupada? Não posso negar que todas as vezes que morri, Elena se mostrou empenhada em me trazer de volta, mas eu estava cansada. Queria pelo menos, uma vez, ser escolhida; e eu tinha conseguido.

Aproximei-me de sua maca, e segurei sua mão.

—Você precisa voltar, Elena. Sei que você vai me odiar quando souber, mas ele... Eu não dou conta — suspirei.

O monitor apitou, e eu ofeguei. Tive vontade de negar tudo que sentia, mas não consegui.

—Eu vou tentar, mas se você não puder voltar agora, saiba que eu vou cuidar dele. Do jeito certo, eu prometo — apertei seus dedos, porém dessa vez, não houve sinal de resposta. O monitor continuou na mesma.

Sai do quarto e dei de cara com Damon do lado de fora. Ele encarava Elena pelo vidro, mas não disse nada. Meu melhor amigo pegou minha mão, e me guiou para o lado de fora. Sentamos no banco de cimento, e suspiramos ao mesmo tempo. Ele fitava o céu de forma intensa, querendo evitar o assunto. Não adiantava negar o que era necessário falar.

—Kai deixou uma mensagem. Ele ligou sua vida à dela, e agora, ela só vai acordar quando você morrer — solucei. Meu coração acelerou com aquela pergunta. — Não se preocupe, Bon-Bon — sorri ao ouvi-lo dizer o apelido que me dera — esse não é o momento que digo que vou te matar. Nós vamos dar um jeito.

Damon beijou minha mão, e naquele momento, soube que não importava o que acontecesse a seguir, nós estaríamos juntos.

—Eu preciso que você saiba que eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para concertar isso. Eu vou concertar, prometo.

—Isso não foi culpa sua. Você quase morreu, Bon. 

—Eu só preciso que... Você fique comigo.

Ele me olhou no fundo dos olhos.

—Eu não poderia ir a lugar nenhum.


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Notas finais do capítulo

Tem coisas baseadas no cap e outras não, ok? Comentem ^^



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