Chegando ao palácio Mercurius se despediu da jovem, dizendo que teria treino com as outras guardiãs, mas que se precisasse poderia chamá-la a hora que fosse.

Serena observou a guerreira d'água se distanciar, e estava indo a cozinha, quando sentiu seu braço ser agarrado com força. Se virou e tomou um susto quando viu que era Beryl.

— Escute aqui sua vadia, não se aproxime do meu noivo, pois caso contrário farei com que prefira a morte do que viver aqui no palácio, me entendeu? - ela falou rudemente.

— O que está acontecendo aqui Beryl? - perguntou Seiya, chegando bem na hora.

— A senhora só estava me dando algumas orientações. Não era nada demais - Serena apressou-se em responder.

Beryl largou seu braço, e olhou para seu irmão de forma irritadiça por um breve momento, depois se retirou a passos pesados.

Ela era uma bela jovem de 18 anos, de longos cabelos ondulados negros, seus olhos eram grandes e negros como seus cabelos. Na corte Elysiana, era tida como uma das mais belas. Vários rapazes quiseram corteja-la, porém ela nunca deu atenção. Seus olhos sempre olharam para Endymion, desde criança. E quando foi anunciado seu noivado com ele, ficou exultante, porém depois que invadiram o reino Lunar viu que os olhos de seu noivo foram para a antiga princesa. Seu interior queimava de ódio. E soube que teria que recorrer a outros meios para chegar ao coração de seu príncipe... e aniquilar sua rival.

 Seiya andou a passos cautelosos, parou em frente a Serena, não queria assustar a garota.

— Tem certeza que foi apenas isso? Minha irmã não te machucou? - perguntou atencioso.

— Tenho plena certeza. Muito obrigada pela gentileza, agora com sua licença, preciso ir a cozinha - falou Serena se curvando e indo embora.

Seiya ficou observando a figura andando, estava pensativo. Estava intrigado com a antiga princesa. Mas também preocupado, iria falar com sua irmã primeiro, antes de falar com Endymion, era certo que ele era seu melhor amigo, o considerava um irmão... mas... amava Beryl também, apesar de tudo, e não queria que ela acabasse mal no final.

Alguns minutos depois todos estavam reunidos a mesa, enquanto eram servidos. Beryl tentava de tudo, de maneira discreta, para atrapalhar e humilhar Serena. A antiga princesa, com muita paciência, conseguiu sair das situações.

— Serena deixe que as outras serviçais terminem de desfazer a mesa, quero que você me acompanhe – falou Endymion sério.

 - Aonde você vai meu querido? – perguntou Beryl tentando ser doce.

— Vou fazer reconhecimento de algumas áreas, e quero uma ajuda de Serena. Vamos aos estábulos – falou o príncipe se levantando da mesa, não dando margens para mais perguntas, Serena o seguiu de imediato.

No caminho passaram na cozinha e o príncipe pediu para que preparasse alguma coisa para comerem, e seguiram para os estábulos, selaram seus cavalos e cavalgaram.

Passaram por todos os vilarejos das redondezas, conversaram com os aldeões para ver se precisavam de alguma coisa. Endymion ia perguntando sobre os monumentos, as florestas ao redor, suas criaturas, etc.

A conversa era tranquila e amigável. Endymion gostava mais e mais do tom de voz dela, de seu modo de falar e até mesmo o seu modo de andar, tudo nela o estava atraindo-o.

O céu que até então estava limpo começou a escurecer, e logo nuvens grossas e trovões apareceram.

      - Tem alguma caverna aqui perto? – perguntou Endymion.

      - Tem sim, vamos – respondeu ela.

      Os dois cavalgaram até a floresta, e logo mais a frente dela, acharam a caverna, conseguiram entrar com os cavalos, acharam archotes e com pedras fizeram um pouco de fogo.

—Não acho que essa chuva vá terminar tão cedo – comentou Serena, olhando a chuva pesada que caia.

— Não se preocupe, ficaremos bem aqui, ainda bem que os cavalos estão calmos – fala Endymion.

— Se demorarmos muito é bem capaz de mandarem alguém atrás de nós – ela comentou, se encostando na parede.

— Bem que eu queria ficar um tempo sumido. É bom ser uma pessoa comum as vezes, não ter tantos compromissos fúteis e aguentar toda a podridão que é corte – comentou Endymion.

— Esse é um dos motivos que não liguei por ter perdido a coroa - falou Serena - ao invés de ser uma coisa boa, me atrapalhava muito, vários aldeões não se aproximavam de mim por conta de minha aparência e meu posto. Então... eu comecei a me cobrir, como está vendo agora, e devo dizer que resolveu muito problemas, as pessoas não me viam mais como a "Princesa da Lua" ou "A deusa lunar de extraordinária beleza", eles passaram a ver a Serena simplesmente. Por isso... eu devo agradecer você e aos outros Elysianos por tomarem o reino Lunar e acabarem com a minha dinastia. Minha família já cometeu muitos erros, e a humanidade já sofreu muito, está na hora dos humanos tomarem as rédeas de suas decisões, então por favor... cuide bem deles.

Endymion ficou tocado pelo apelo dela. Ela dizia com paixão e gentileza que ele duvidou que encontraria outra pessoa como aquela outra vez. Se sentiu um pouco intimidado com o pedido, era uma responsabilidade deveras grande. Mas não pretendia desaponta-la.

— Não se preocupe, farei o que puder pela humanidade. Mas você viu que alguns Elysianos não são virtuosos... - começou ele.

— Assim como nem todas da minha família o eram. Independentemente de que raça os governantes sejam, o que importa no final é o quão bom ele é para o seu povo - ela o cortou gentil.

— Sim... tem razão. Se não tivéssemos tomado o reino, eu acredito que você teria sido uma boa rainha. O povo a idolatra, e mais do que isso a respeitam muito, saiba que no tempo em que ficou presa eu soube que fizeram uma ameaça de rebelião se não a soltássemos. Nunca vi um povo tão leal a uma princesa - ele comentou admirado.

— Eu fiquei sabendo disso por cima, enquanto fazia minhas visitas. Eu tentava a minha maneira ser uma boa princesa, tentava seguir o caminho certo.

— E devo dizer que conseguiu. Mas eles pareciam um tanto receosos... quando eu perguntei porque você andava toda coberta - ele falou, e viu que ela tinha virado seu rosto para ele, e mesmo sem ver suas feições imaginou que ela estava surpresa - desculpe... mas eu estava curioso e bem... nunca vi uma princesa querer se esconder, todas que eu já conheci sempre quiseram chamar toda a atenção, e esbanjar beleza - assumiu um tanto envergonhado.

— Não se preocupe, não fiquei ofendida ou algo do tipo. Umas das razões para minha atitude, é que as mulheres da minha família como você bem sabe, são dotadas de uma beleza imensurável. Antes de começar a andar com capuz e máscara, as pessoas tinham um certo... receio de ficarem perto de mim, pela minha "beleza", eu percebia que ficavam intimidados comigo, mesmo eu sendo pequena na época, então eu decidi cobrir meu corpo, e assim as pessoas pararam de me ver como um ser superior - ela falou.

— Mas não te incomoda andar todos os dias desse jeito? Não poder deixar a pessoas olharem nos seus olhos e te olhar realmente? - perguntou o príncipe.

— No começo isso me incomodou mais e ainda incomoda... depois que me cobri consegui conviver mais com a humanidade... então continuarei assim - ela falou firme e se levantando. Endymion se assustou com tal movimento, achou que tinha sido intrometido - não se preocupe Endymion, sua curiosidade sobre mim é normal e já me acostumei com esse tipo de coisa, agora vamos sair, a chuva já terminou.

Ele se levantou rapidamente, nem tinha reparado que a chuva tinha parado de cair. Mas sua curiosidade não tinha minado nem um pouco.

Saíram da caverna com seus cavalos, viram que a chuva não tinha trazido estragos.

— Eu entendo os motivos que você se cobriu. Mas não acha que agindo assim pode afastar os outros de você. Quem não a conhece desde pequena, pode achar que você é um monstro, por isso se esconde - ele comentou cauteloso - sabe os outros tem necessidade de verem com quem estão falando, de verem a pessoa, e acho que se cobrindo assim está criando uma figura mítica, e não mostrando a eles sua humanidade.

Serena parou de caminhar, estava surpresa pelo o que o príncipe tinha dito. E realmente fazia sentido. Porém... ela não sabia se teria coragem de se mostrar novamente.

— Obrigada por suas palavras Endymion, vou considera-las - ela agradeceu, montando em Pegasus em seguida.

Endymion sorriu, e montou em seu cavalo também, tinha ficado feliz em saber que a princesa não tinha ficado chateada com a opinião dele. Sua intenção era realmente ajudar.

O príncipe tinha realmente ficado muito feliz com o pouco tempo em que passou com ela. Sentia que poderia conversar sobre qualquer assunto, que, por menos que ela entendesse, ela iria ouvi-lo e não fingir uma atenção educada. Seu coração dava saltos em seu peito, sentia sua pele quente, mas era um quente bom, que com toda certeza gostaria de sentir mais vezes.

Serena também não ficava atrás, sabia que desenvolver aqueles sentimentos pelo seu futuro rei não era certo. Mas simplesmente não conseguia evitar. Já tinha recebido cortejos de vários rapazes, de todas as classes possíveis, e nenhum tinha feito seu coração se aquecer e suas mãos formigarem como o Endymion tinha feito. Ela repetia em sua mente repetidas vezes que aquilo era errado e que ele tinha uma noiva. E ela era apenas a herbalista no reino.

A volta ao palácio foi tranquila. Conversaram sobre tudo de forma leve.

No caminho passaram pelo último vilarejo, e Endymion fez questão de acompanhar todas as visitas que Serena fazia aos doentes, e além disso pode ouvir as pessoas sobre o que achavam que precisava mudar no reino.

Quando chegaram ao palácio já era quase na hora do jantar, e Beryl estava quase soltando fumaça pelas orelhas de tão irritadiça que estava.

— Meu amor, por onde esteve? - perguntou indo de encontro ao seu noivo o abraçando forte.

— Estávamos visitando os vilarejos, a única coisa que nos atrasou foi a chuva – respondeu o príncipe, tirando os braços de Beryl de seu corpo.

Em seguida Serena foi depressa para a cozinha, para ajudar as outras serviçais a terminarem os preparativos do jantar, e Endymion foi para seu quarto tomar um banho e relaxar.

Tinha tirado suas roupas e entrado na banheira, seus pensamentos vagaram e chegaram em Beryl. Ele tentava trata-la com cortesia e gentileza, mas... alguma coisa o impedia, e não sabia ao certo o que era. Só sabia que tinha que dar um jeito de cancelar aquele noivado, sabia que não seria feliz com ela.

O jantar que se sucedeu, foi tranquilo. Endymion podia ver os olhares raivosos de sua “noiva”, para Serena. Teria que conversa com ela sobre isso depois.

Quando o jantar terminou Seiya chamou Endymion para conversarem a sós. Foram até a biblioteca e fecharam a porta para terem privacidade.

— Diga Seiya, o que precisa falar comigo – falou Endymion se acomodando na poltrona.

—  Hoje de manhã eu encontrei minha irmã agarrando o braço da Serena. Ela tentou disfarçar para defender minha irmã, porém eu sei o que vi – falou Seiya.

— O que? Que diabos Beryl querendo? Tem certeza disso Seiya? – perguntou o príncipe se levantando em um sobressalto.

 - Sim tenho. Estou te falando, porque sei que não quer se casar com ela, mas pelo visto ela quer e muito. E pelo o que estamos vendo ela está morrendo de ciúmes da Serena – falou Seiya suspirando – eu amo a minha irmã, mas você é como se fosse meu irmão, quero que os dois sejam felizes, estando juntos ou não.

 - Eu te agradeço muito Seiya – falou Endymion colocando uma de suas mãos no ombro de Seiya – tentarei tomar as melhores decisões para mim e sua irmã, mas primeiro quero tirar essa história a limpo.

Nesse momento entrou uma empregada a mando da Rainha Melanie, esta estava trazendo uma bandeja com vinho e pão. Endymion pediu para que a serviçal buscasse Serena imediatamente.

Alguns minutos se passam até que a antiga princesa chegasse, quando a porta foi fechada Endymion foi até ela e pegou o braço da moça, a assustando, ergueu a manga da capa e pode ver as marcas roxas, indicando que alguém tinha apertado forte.

— Serena porque não me contou sobre isso? – inquiriu.

— Não foi nada demais, essas marcas vão sumir, não se preocupe – ela falou se desvencilhando.

— Como não é? Não posso permitir que minha noiva maltrate alguém – falou Endymion irado. O príncipe suspirou, não podia ficar bravo com ela – Serena vou tomar medidas para que Beryl não se aproxime mais de você, por agora volte ao seu quarto.

Serena se curta em respeito e sair apressadamente, sabia que teria problemas.

— Seiya obrigado. Está dispensado, eu vou falar com a Beryl – falou o príncipe.

Seiya assentiu, e os dois saíram da biblioteca, Endymion foi para a porta do quarto de Beryl, bateu na porta e sua noiva atendeu prontamente.

— Beryl preciso falar com você – falou ele sendo direto.

— Claro meu amor entre, entre! – ela falou, dando passagem para ele.

— Beryl vou ser direto, não quero que chegue perto da Serena novamente. Fiquei sabendo que deixou marcas no braço dela. Será que não percebe que ela é útil ao reino, se algum aldeão ficar sabendo que alguém de nossa corte a estiver machucando, poderia causar uma rebelião – disparou ele sem rodeios.

— Mas meu amor, essa va...

— Nem ouse terminar! Eu estou te avisando. Deixe ela em paz, se você ousar machucar Serena ou qualquer outro serviçal, dê esse noivado por acabado! – ele falou, saindo do quarto em seguida.

Beryl ficou atônita, fechou a porta e correu para sua cama, agarrou u travesseiro, colou em seu rosto e gritou de puro ódio. Teria que ser discreta, mas acabaria com a vida de sua inimiga.

Endymion saiu pisando duro, estava furioso com a atitude infantil de Beryl. Então teve uma ideia, foi para onde ficavam os dormitórios das guardiãs.

— Príncipe precisa de alguma coisa? – perguntou Mercurius, estranhando ver o futuro governante lá.

— Mercurius por favor chame a Uranus, quero falar com vocês duas – pediu um pouco mais calmo.

A guardiã saiu para cumprir o pedido de seu príncipe, e em poucos minutos ela voltou com a guardiã da terra.

— Uranus e Mercurius, devido a alguns acontecimentos eu decidi que vocês duas protegeram Serena. Não quero que a deixem sozinha, ainda mais se estiver fora do palácio, se uma não puder acompanha-la, a outra tem obrigação de fiar perto dela, e eu vou querer um relatório diário ao final do dia, e se alguma coisa fora da rotina acontecer quero ser avisado imediatamente – explicou ele sério, não dando margens para negativas.

— Suas ordens serão cumpridas à risca Vossa Alteza – falaram as duas rapidamente e se curvando.

— Ótimo, agora podem descansarem, me desculpem por importuna-las a essas horas e boa noite – falou ele se retirando.

Assim que ele saiu as duas guardiãs se entreolharam e ficaram surpresas com tal ordem. Principalmente Uranus. O que menos queria fazer era proteger alguém da família Lunar, mas não poderia recusar as ordens do futuro rei.

— Essa princesinha já começou a dar trabalho – falou Uranus indo para seu quarto.

— Não diga isso Uranus, Serena certamente não fez nada de errado – defendeu Mercurius.

— Escute aqui Amy, pelo jeito já está enfeitiçada. Te aviso que é melhor não se deixar enganar, as mulheres Lunares são ardilosas – falou Uranus entrando em seu quarto e batendo a porta forte.

Mercurius suspirou forte e foi para o seu quarto também. Teria que ser discreta quando Uranus estivesse presente.

Endymion tinha acabado de chegar ao quarto, estava muito cansado porém ainda tinha trabalho para fazer, então pegou um pergaminho, pena e tinta, queria escrever as sugestões dos aldeões, levaria as ideias aos conselheiros e então fariam as prioridades.

A lua já estava alta no céu quando sentiu lambidas em suas mãos e viu que Lua, ela uma gata cuja dinastia era conselheira da família Real Lunar, estava sentada o encarando.

— Endymion vá descansar, amanhã o dia vai ser longo – ela aconselhou preocupada.

— Eu sei. Já vou dormir e obrigado por se preocupar – falou ele, acariciando a cabeça da gata.

Ele suspirou e olhou o céu pela janela de seu quarto, as estrelas estavam numerosas e a lua com seu brilho prateado deixavam o cenário encantador, e de alguma maneira ele se lembrava de Serena mesmo nunca tendo visto seu rosto.

— Endymion parece que você está apaixonado pela Serena – Lua falou, acertando na mosca.

— Está tão na cara assim Lua?

— Pra mim sim – falou a gata bem humorada – você sabe as minhas ressalvas sobre a rainha e a princesa, mas essa menina... me dá uma sensação tão boa e gentil que me dá vontade de ficar perto dela... eu só posso felicita-lo por ter seu coração preenchido por ela. Mas... você vai ter que cuidar da Beryl, os seus pais e os dela não vão aceitar um rompimento assim do nada.

— Obrigado Lua. Você é uma das que mais me entendem e agradeço sua amizade e conselhos. Eu sei bem disso, nunca consegui olhar Beryl como mulher, apenas como irmã, estou pensando em formas de como cancelar esse noivado sem que haja uma briga ou cosia do tipo. Mas vou conseguir dar um jeito... enquanto isso te peço um favor: quero que fique de olho em tudo principalmente na Serena, com Mercurius sei que não terei problemas, mas com Uranus pode ser que sim... então quero que as vigie e se acontecer qualquer cosia por menor que seja me conte o mais rápido.

— Claro Endymion, não sei porque mas tenho a impressão que você será feliz com a Serena – falou a gata assentindo – agora vá dormir! Precisa estar descansado!

Ele riu e fez como a gata tinha mandado.

Desde que ele era criança a gata sempre ficava perto dele, seja pra dar conselhos ou apenas para conversar, a considerava uma amiga, e muitas vezes ela fez o papel de mãe dele, por isso respeitava muito a opinião dela.

Assim que o príncipe caiu no sono Lua foi para a varanda do quarto dele, e observou o belo céu noturno. Se lembrava de sua avó falando dos belos jardins do palácio, e como a luz da lua ao bater nas paredes do mesmo refletiam um singelo brilho prateado. Agora podia comtemplar tudo aquilo, mas aquela calmaria a alarmava, seu coração dizia que tempos difíceis estavam por vir. Ela só esperava que guardiãs lutassem juntas para defenderem a vida novamente.