CARALHO

   FINALMENTE

   Quem diria que um cubículo desse iria demorar três horas para limpar? Eu juro que se tivesse como eu entrar, tomar um banho e guardar as minhas roupas sem pisar em alguma sujeira, nessa hora eu estaria deitada na praia, comendo e fitando descaradamente os surfistas gostosões.

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   Quando cheguei na frente do prédio fiquei boquiaberta com a beleza do mesmo. Não era algo surreal, mas na minha opinião era lindo. Pessoas educadas e bem arrumadas saindo com seus filhos, senhoras fofocando sobre as vizinhas e crianças correndo pelo corredor enquanto alguns homens tentavam impedi-las. Fala sério, alguém me belisca. Após alguns minutos, peguei a minha chave e me direcionei ao elevador. Meu andar era o oitavo. O elevador estava vazio, amém. Enquanto o mesmo subia comecei a pensar no meu apartamento.

   MEU DEUS

   E se eu tiver uma cozinheira particular ou até mesmo uma empregada. Nossa, um mordomo seria bem útil. Ok, vamos parar de sonhar- ou não.

   Abri a porta do meu apartamento de olhos fechados e resolvi dar um passo a diante mas acabei pisando em algo pegajoso. Resolvi abrir os olhos e foi nesse momento que a minha felicidade foi embora.

   FALA SÉRIO! O local estava imundo. Não sou neurótica por limpeza, mas mesmo assim consigo claramente ver a imundice desse lugar. Tinha chiclete grudado por todo lado, inclusive onde eu pisei, latinhas de cerveja esparramadas pela sala, restos de comida nas louças da pia – eu estou ficando louca ou aquele resto de purê tá se mexendo? – e uns cinco quilos de terra no chão.

   Ok, eu sei que não devia reclamar que o local estava sujo e deveria agradecer pela oportunidade que eu estou recebendo. Eu sei e foi por isso mesmo que eu guardei toda a minha vontade de sair pela rua xingando todo mundo e comecei a limpar o apartamento.

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   Depois de limpar e organizar tudo e tomar um banho fui procurar algo para comer. Adivinha quem achou muita comida no armário? Eu que não. O coitado estava mais vazio que o meu estômago. Maravilha, o que eu vou comer? ESPERA. Eu tenho um cartão que eu recebi para bancar minhas despesas. EPA, parece alguém vai comer-q

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   Nesse momento não existe pessoa mais feliz do que eu. Tomada banho e comendo no Mc Donald's. Com toda certeza do universo eu pedi Mc Lanche Feliz enquanto a atendente me olhava com cara feia.
   - Não adianta me olhar assim, para mim cara feia é fome- disse

   Todo mundo começou a me encarar como se eu fosse um alien e através disso percebi que eu havia falado em português. Isso significa que eu posso xingar todo mundo sem que ninguém saiba? HAHAHAHAHAHHAHA – tentativa fail de risada maléfica.

   - Hhahahahahahaha – juro que não fui eu

   Olhei para trás a procura do indivíduo que estava rindo e me deparei com uma garota. Alta, cabelos castanho-escuros, olhos negros e pele levemente bronzeada. Enquanto me lançava um sorriso gentil ela caminhou em minha direção. Comecei a sorrir de volta inconscientemente, mas percebi que ela passou sobre mim e se dirigiu à atendente.

   - Moça, arrume o pedido. Acrescente mais um Mc Lanche Feliz- disse a atendente, sendo que essa olhava com desprezo.

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   Trisha Lopez. Era o nome da garota.

   Depois do ocorrido, recebemos nossos lanches e caminhamos em direção à alguma mesa vazia. Durante o percurso eu estava decidida em não puxar assunto com ela. Quem me garante que ela estava a fim de conversar comigo?

   Achamos uma mesa. No momento em que eu estava pronta para atacar meu precioso lanche, Trisha começa a puxar assunto:

   - Bom, você deve estar se perguntando, ou não, como eu entendi o que você havia dito a assistente – Para falar a verdade eu não sabia nem que ela havia entendido – É porque eu também sou brasileira.

   Após eu ter praticamente surtado mentalmente, dei o meu melhor sorriso e começamos a conversar.

   Trisha tem vinte e cinco anos, ou seja, é apenas dois anos mais velha que eu. Após seus pais se divorciarem, seu pai se mudou para a Austrália e Trisha teve que morar com sua mãe no Brasil. Helena Lopez, uma mulher repugnante, seca, arrogante e extremamente egoísta. Dois anos após o divórcio se casou novamente, com Heitor Montenegro. O homem era traficante de droga e maltratava Trisha. Quando finalmente completou dezoito anos se mudou para a Austrália, onde vive com seu pai, Arthur Souza.

   Trisha ainda tem medo de Heitor, ele vive ameaçando-a, por isso desde que chegou na Austrália nunca mais voltou ao Brasil.

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   Desde o ocorrido no Mc Donald's, eu e Trisha nos tornamos amigas. Ela praticamente vive no meu apartamento, disse que não gosta de ficar sozinha em casa, já que seu pai volta muito tarde do trabalho.

   - Lu, você sabe que é a minha melhor amiga né? – me disse

   - O que você quer?

   - Nossa, como você é chata. Eu aqui fazendo a maior declaração da sua vida e você achando que eu estou pedindo algo - comecei a encará-la, já conhecia esse papo furado – Tá bom, eu me rendo. Faz pipoca pra mim?

  - Ahhh Trisha, to com preguiça, vai la fazer!

   - Mas a sua pipoca é diferente, ela é mais gostosa, a minha nunca fica igual

   - É a mesma coisa, e não adianta fazer carinha de cachorro que caiu da mudança porque eu não vou fazer

   - Isso, me deixa com vontade de comer sua pipoca - disse enquanto caminhava para a cozinha – Se eu ficar com lombriga você tá ferrada!

   Ignorei e comecei a procurar alguma coisa para assistirmos. Resolvi assistir Hora de Aventura, pois era a única coisa que a Trisha assistia sem dormir. Estava ligando a TV quando escutei um barulho seguido de um grito, vindo da cozinha:

  - SOCORRO! MEU DEUS! LUANA CORRE MENINA, TA PEGANDO FOGO!

   Sai correndo em direção à cozinha. Quando cheguei, vi a Trisha em cima do balcão gritando enquanto do outro lado da cozinha minha luva e meu avental pegavam fogo em cima do fogão. Ela so podia estar de brincadeira comigo. Peguei uma jarra, enchi com água e comecei a jogar em cima do fogo. Depois de duas jarras o fogo cessou.

   - MEU AVENTAL E MINHA LUVA NOVINHOS! EU COMPREI ISSO ONTEM!

   - Ahhh, eu não tenho culpa, você não quis fazer a pipoca para mim. Se você tivesse feito nada teria acontecido.

   - Como você conseguiu botar fogo neles? – disse indignada

   - Resolvi usar eles para cozinhar, porque queria me sentir no MasterChef, mas eu acabei deixando eles em cima do fogão e como seu fogão é louco eu acabei ligando a boca errada e pegou fogo – disse enquanto me dava um sorriso amarelo

   - Vagabunda. Meu avental novinho, queria fazer uma torta usando ele – disse fingindo que estava chorando

   - Calma, não chora – comecei a "soluçar" mais alto – Ai, olha faz assim, eu te levo em uma festa amanhã. E não é qualquer festa, só vai ter gente rica e tals.

   - Mas eu não sei com o que ir e meu cabelo ta péssimo, além de que eu não sei fazer maquiagem muito bem para ir lá. Eu vou passar vergonha – disse enquanto fingia que chorava

   - Faz assim, eu te empresto uma roupa minha e te levo no meu cabeleireiro – disse começando a ficar desesperada – Pode ser ?

   - Promete?

   -Prometo

   Comecei a rir e a pular igual uma retardada. Desmentindo meu choro.

   - VAGABA, você tava chorando merda nenhuma. Ficou me usando!

   - Promessa é promessa monamu. Vai ter que me levar para compensar a perda do meu avental.

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   - Luana, sai logo desse carro! – Trisha disse enquanto batia no vidro.

   Estamos na frente do salão da Trisha. Hoje é o dia da festa em que ela prometeu me levar. Estava tudo ocorrendo bem, mas quando chegamos na frente do salão percebi o quão caro devia ser. Eu não havia acreditado quando ela me disse que seria uma "festa de gente rica". Não podia aceitar algo do tipo, ela gastaria uma fortuna naquele salão, sendo que eu paguei cerca de uns vinte reais naquele avental. Seria injusto.

   - Eu não vou aceitar isso! Parece ser muito caro!

   - Luana, eu prometi, agora anda logo! – disse me olhando feio, fiquei com medo-q

   Resolvi sair logo do carro, eu sabia que se não saísse por bem iria sair por mal. Não queiram nem imaginar no que a Trisha é capaz para me tirar daquele carro.

   Quando abri a porta do salão meu queixo bateu la no inferno e voltou. Gente, que que é isso. Se eu vendesse meu corpo no mercado negro eu não teria dinheiro para comprar nem um piso daquele lugar.

   - Olá meninas! – disse um rapaz estiloso

   - Oi Marcos- Trisha disse enquanto o abraçava – Trouxa a minha amiga, precisamos que você deixe nos duas maravilhosas.

   O rapaz me olhou com uma cara pensativa. Resolvi acenar enquanto dava um sorriso.

   -Parece que não teremos muito trabalho em deixar vocês maravilhosas. Venham comigo!

   Após isso, o Marcos basicamente fez mágica, sério. Eu fiquei extremamente bonita, maquiagem perfeita, nada muito extravagante e meu cabelo estava solto e liso, também fizeram minha unhas e minha sobrancelha – eu tava precisando tirar aquela taturana da minha cara. Trisha estava ainda mais bonita, havia feito luzes no cabelo, que agora estava solto e cacheado nas pontas, e usava uma maquiagem escura. Saímos do salão agradecendo sem parar o Marcos. E ainda tem gente que duvida que fadas existem-q .

   Do salão fomos para a minha casa. Chegando lá vestimos os vestidos que a Trisha trouxe e fomos para a festa.

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   PUTA QUE PARIU.