“We're both looking for something
We've been afraid to find
It's easier to be broken
It's easier to hide”
First Time - Lifehouse

Acordo procurando a presença de alguém.

Abro os olhos e olho ao meu lado, ela não está aqui. Me sento no colchão velho que deixo no porão, olho ao redor e não há sinal dela, teria a noite anterior sido fruto de um sonho? Se fosse não seria novidade, levando em conta o que tenho sonhado com ela ultimamente. Mas as minhas roupas espalhadas pelo chão, são a evidencia de que foi real. E o cachecol ao lado dos copos prova que eu não estava sozinho.

Pegando o cachecol, o aproximo do rosto e sinto o cheiro. Aquela fragrância de perfume francês... Sou então levado a outro tempo:

—Presente de dia dos namorados Jethro? –Ela disse erguendo a sobrancelha, em resposta eu apenas sorri para ela.

Ela abriu o embrulho, era um perfume, ela me olhou curiosa.

—Você usava esse perfume naquele sótão. –Expliquei e instantaneamente eu vi o rubor aparecer em sua face.

Demorou para que eu encontrasse aquele perfume, não era nenhuma marca americana, tive que esperar até que voltássemos a Paris para que eu vasculhasse nas lojas parisienses. E com sorte, na quarta tentativa eu o encontrei.

Tomei meu café, pensando no que faria. Ela havia deixado antes que eu acordasse, por que? Jenny e sua maldita mania de fugir de mim, definitivamente é algo que me irrata.

Assim, pegando o cachecol, entro em meu carro e vou até a casa dela. Como está cedo, presumo que as crianças ainda estejam dormindo, então apenas bato na porta. Logo a babá deles veio atender.

—Oh senhor Gibbs, não esperava que o senhor viesse de manhã. -Ela disse, já dando espaço para que eu entrasse.

—Ela está aqui? –Perguntei.

—Oh não, o voo dela saiu as seis. –A senhora Martinez disse.

—Voo? –Perguntei a encarando supresso com a revelação.

— Ela não lhe disse? Ela tem uma conferência no exterior. –Ela disse e eu fiz que não com a cabeça.

Não acredito que depois da noite que tivemos, ela foi capaz de viajar sem nem mesmo me contar.

—Oh e ela deixou algo para o senhor. –A senhora disse antes de sair em direção a cozinha e logo voltou com uma carta na mão.

Com a carta em mãos, tenho uma sensação de deja-vu.

—Para onde ela foi? –Questionei ainda sem abrir o envelope.

—Paris. –A senhora Martinez respondeu.

Paris, por quê sempre Paris?

Me dirigi ao escritório de Jenny para poder ler a carta, sentei em sua cadeira e abri o envelope, lá dentro continha uma carta escrita em sua caligrafia elegante:

Caro Jethro,

Ontem após você sair do NCIS, recebi uma ligação do secretário da marinha. Nada grave, apenas me informando sobre uma conferência com a Interpol em Paris. Deveria ter dito isso ontem à noite, mas os eventos que sucederam minha chegada não me deixaram dizer.

Ficarei em Paris por uma semana, enquanto isso espero que tome conta das crianças e da agência. Sra Martinez cuidará das crianças durante o horário do trabalho, como você estará agindo como diretor interino, ela não precisará passar a noite com eles. A não ser que haja alguma ameaça código vermelho, então creio que ela não se importará de passar a noite, mas apenas nesse caso, entendeu? Deixe a equipe para que DiNozzo tome conta, ele consegue. Cancelei toda a minha agenda, portanto a única coisa que você precisa fazer é ler relatórios e nada de sair em campo enquanto estiver fazendo o meu trabalho. E por favor deixe minha agência intacta. A propósito, eu não quero Leon nem perto do meu escritório, viu?

Para a comodidade da sra. Martinez, deixe que as crianças fiquem em minha casa. O quarto de hospedes está ao seu dispor e tente deixar algum Bourbon para mim.

Durante a noite Jéssica mostrou sinal de que um resfriado pode estar chegando, caso isso aconteça cuide bem dela e não deixe que ela dite o que é para fazer. Nada de doces nos horários errados, nem passar da hora de dormir. Eu sei que você vai, mas não custa pedir: Cuide bem deles.

Quando chegar, nós precisaremos conversar.

Att,

Jenny     

Guardo a carta no bolso do meu casaco, e minha cabeça começa a latejar. De repente um flash vem a minha mente:

Havia acabado de chegar do trabalho, era por volta de dez da noite, abri a porta do apartamento que estava silencioso, mas levando em consideração o horário, provavelmente ambos estivessem dormindo.

Fui até o quarto de Jasper e ele não estava lá, estranhei, afinal Jenny não gosta que ele acostume-se a dormir conosco. Entrei então em nosso quarto, não havia vestígio deles ali, no entanto havia um envelope em cima da mesinha de cabeceira, eu tinha um mal pressentimento sobre isso.

Peguei o envelope, que continha as palavras: Para Jethro. Abri o envelope e peguei a carta ali presente:

 Caro Jethro,

Eu pediria desculpas, mas tanto quanto eu não gosto de pedir você não gosta de ouvir. A questão é que eu não posso mais continuar com isso. As últimas semanas tem sido difíceis para mim, é como se eu não te conhecesse mais.

Há uma semana uma promoção me foi oferecida na Inglaterra, pensei sobre isso por muitos dias, eu estava disposta a não aceita-la ou a considera-la com você, se você tivesse sido honesto comigo há dois dias. Percebi então que se não podemos ser honestos um com o outro, é melhor seguir em frente.

Não se preocupe com Jasper, ele ficará bem. Quem sabe agora ele não passe a falar mais inglês do que francês? Não irei em momento algum priva-lo de ver você, vocês dois tem esse direito e sei que você vai querer exercê-lo.

Não pense que eu faço isso por que não te amo, porque só Deus sabe o quanto eu amo você Jethro, apenas não posso continuar com essa desconfiança, então antes que vire algo pior é melhor que digamos adeus aqui.

Se eu escrevi essa carta, é porque não quero que você venha atrás de mim, espero que você possa respeitar minha decisão. Embaixo do envelope, contém alguns papeis já assinados, imagino que a essa altura você já tenha noção do que eles são.

Prometi não escrever, mas não posso, sinto muito Jehtro.

Jenny

Terminei de ler a carta e peguei os tais papeis, estes eram o pedido de divórcio já assinados. Não sabia que ainda podia sentir meu coração quebrar, mas quando vi a assinatura dela ali, ele fez.

No entanto, uma parte de mim se negava a aceitar a verdade, vasculhei por toda a casa algo que contestasse a carta dela, mas não havia. Não tinha mais roupas ou sapato dela no closet, nem mesmo um brinquedo de Jasper havia ficado para trás. Era como se ambos nunca tivessem vivido ali. Exceto pelo casaco que eu havia dado a ela em seu aniversário, que estava do meu lado do closet.

Sai de meu devaneio e fui direto para o armário de bebidas. Coloquei uma dose generosa de Bourbon e bebi de uma vez.

Sai do escritório verificando as horas, as crianças ainda não estavam acordada, fui até a senhora Martinez e disse:

—Até as seis eu chego.

Ela assentiu e eu sai. Entrei no meu carro e dirigi rumo ao arsenal da marinha.