Contra Todas As Probabilidades escrita por Cárla


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

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Mônica ainda custava a acreditar no que havia acontecido. Remoendo suas mágoas, ela se encontrava em um pequeno banco na pracinha onde brincava quando criança, desacreditada com o que aquele cretino havia feito. Ninguém era corajoso o suficiente para encará-la daquela maneira, e caso o fizesse, ela daria um jeito para que esse infeliz ganhasse um belo galo na testa e dois olhos roxos e inchados. Mas daquela vez ela falhou. De alguma maneira, aquele desafio foi aceito pela mesma, e agora teria que arcar com as consequências de seus atos, ou melhor, de seu desafio.

            Ele havia deixado bem claro: caso ela vencesse, o sujeito deixaria de importuná-la, mas caso ele ganhasse, Mônica teria que sair com o tal e futuramente aceitar um compromisso sério, coisa que para ela era inadmissível, mesmo que o rapaz fosse belo e robusto, ainda possuía sentimentos pelo magricela do Cebola. Mas como, em que hipótese, ele poderia ganhar dela em um desafio de força bruta? Por incrível que pareça, o sujeito demonstrou possuir uma força inimaginável em comparação com a dela, colocando-a em seu devido lugar e fazendo com que Mônica não pudesse ter outra opção a não ser sair com aquele cafajeste. Como sempre resolvia seus problemas com o muque, não havia como enfrentar aquele rapaz e se negar a cumprir a aposta. Como uma garota como ela havia se colocado em uma situação como aquela? Nunca fora de participar de apostas e desafios infantis, mas por algum motivo ela se sujeitou a isso, visto que confiava demasiadamente em sua força bruta.

O desafio era bem simples: uma queda de braço trivial, cujo ganhador deveria fazer com que a costa da mão do perdedor apoiasse em uma superfície. Para Mônica aquela aposta já estava no papo, seria algo rápido, prático e, para ajudar o sujeito, ela ainda não daria tudo de si e estaria comendo com uma mão enquanto disputava com a outra. Péssima ideia, ser presunçosa apenas resultou em gargalhadas e humilhações, estas praticadas pelos seus amigos que assistiam o desafio. Quando Cebola soube do acordo, quase arrancou os ralos fios que ainda estavam em sua careca. Ele bradou, chorou, fez pirraça e faltou muito pouco para quase estapear a própria Mônica, de sorte não o fez, senão teria cebolinha para o jantar.

Ela não sabia a quem recorrer para que aquele encontro fosse impedido. Talvez pedindo ajuda aos seus amigos? Não, já fora humilhada demais em perder na frente dos mesmos, não teria astucia suficiente para implorar para que eles pudessem ampará-la. Teria que ir àquele encontro querendo ou não, pirraça e birra não mudaria seu destino. Por mais que o sujeito causasse repulsa a sua pessoa, talvez pudesse ser apenas algo amigável, sem beijos, sem abraços constrangedores, e muito menos com algo mais intimo. De qualquer maneira, aquele rapaz não havia detalhado suas exigências, então não poderia obrigá-la a fazer algo contra sua vontade, o corpo era dela, não era? Pensar que aquele sujeito poderia usar do seu muque para conseguir algo embrulhava seu estômago e causava-lhe um leve aperto na garganta.

Nunca pensara que iria sair com um sujeito como o Do Contra, e muito menos que ele guardava um segredo tão desesperador como aquela força inimaginável. O que seria dela depois daquele encontro? Teria mesmo que se sujeitar a isso? Muitas perguntas, nenhuma resposta. Mas com o tempo, descobre-se também a verdade.

18h45min

Mônica olhava para o relógio com uma expressão angustiante. Havia revirado todo o seu guarda-roupa com o pretexto de que as horas passariam depressa e quem sabe assim ela perderia o horário daquele encontro, lamentando venenosamente para Do Contra no dia seguinte. Mas o tempo estava contra ela, mesmo faltando apenas quinze minutos, algo lhe dizia que deveria se aprontar rapidamente para que tudo ocorresse naturalmente, caso o contrário, havia ainda a possibilidade de o sujeito aparecer em sua janela e olhar descaradamente enquanto ela troca de roupa.

Apressando-se mais do que o próprio tempo, procurou achar o primeiro conjunto que fosse bonitinho em seu grande guarda roupa, dando-se por satisfeita quando encontrou um velho vestido vermelho com estampa de coelhinho e tomara-que-caia, não queria de forma alguma impressionar Do contra. Vestiu-se daquela peça e procurou alguma sapatilha preta, a cor sempre combinava com todas as outras. Mas, combinar? Pra quê isso? Não queria impressionar, não é mesmo? Pensando assim, pegou a primeira sandália verde-musgo que achou jogada por aí, dando um sorriso satisfeito. Não achá-la bonita o suficiente era o primeiro passo para que aquilo não fosse adiante, seguindo essa ideia, deixou o cabelo despenteado como estava e nem se preocupou em passar algum desodorante ou perfume, se o sujeito estava mesmo afim dela, não se importaria com um cheirinho idêntico ao do Cascão.

—Blé. Pra quê me arrumar se nem tô afim dele? Se reclamar da minha roupa é só dar umas bifas nele!

Mesmo sabendo que Do Contra agora tinha um muque muito mais forte que o dela, arriscar usar a força bruta para defesa própria era algo a ponderar, não podia se deixar ser usada como papel velho. Quando o tempo finalmente havia se esgotado, Mônica teve que encarar o inevitável, sua campainha estava tocando e com certeza era aquele rapaz desagradável, este que passou metade de sua vida tentando arruinar seu relacionamento com Cebola.

Sem muitas opções, caminhou até a porta enquanto escutava diversas recomendações e repreensões de sua mãe que não parava de tagarelar, aquele dia ela estava comparável com uma maritaca de rua. Grande foi sua surpresa quando viu Do Contra com um belo terno branco, perfumadíssimo e com um buquê enorme de rosas vermelhas em mãos, possuindo também um belo sorriso branquíssimo, este que encantaria qualquer sirigaita, menos Mônica, ela era comprometida.

Foi muito constrangedor quando o rapaz começou a secá-la com os olhos de cima a baixo, notando que ela fora mais contrariada que o próprio Do Contra na hora de escolher sua peça de roupa. Mas ele não se importou, para a surpresa e decepção de Mônica. Era para o sujeito odiá-la apenas com sua aparência.

—Como você está linda – Por incrível que pareça, ele estava com uma expressão sincera – É para a dama – Entregou assim o buquê para Mônica, podendo ouvir leves suspiros derretidos da mesma, mas bem discretos.

—Você que está lindo Dc – Ela não conseguiu segurar, realmente o rapaz estava mais que apresentável.

Como um verdadeiro cavalheiro, Do Contra pegou com toda a delicadeza possível uma das mãos da garota, deixando um beijo delicado e cheio de significados, que de alguma maneira acabou mexendo com o coração de Mônica. Não se recordava de Cebola alguma vez ter lhe dado um mísero botão de flor arrancada em um parque qualquer. Seu “namorado” não era romântico, não se vestia tão bem daquela maneira, nem ao menos se preocupava em se perfumar, comparando-se com Cascão diversas vezes, por mais que sempre humilhasse o sujinho quanto ao seu fedor.

Apesar disso, Mônica não era exigente. Era a simplicidade de seu companheiro que havia atraído seu amor, ou talvez fosse algo que ela nem ao menos reconhecia? Afinal, o que em Cebola havia desencadeado seus sentimentos? Ele sempre tornou a humilhá-la, provocá-la, além de confrontá-la com diversos nomes sujos e hostis, então o que havia feito ela se apaixonar? Estaria mesmo gostando de seu “namorado”? E porque pensava nele dessa maneira? Ele nunca havia feito um pedido, sempre ficou a enrolando com planos inconvenientes e prometendo namorá-la apenas após a derrotar, que tipo de sujeito era aquele? Mônica deveria se sujeitar a isso até quando? Pensando nisso, resolveu que aquele encontro com Do Contra seria algo sério, ela daria alguma chance a ele mesmo que estivesse se sujeitando a um mero compromisso obrigatório.

—Vamos? – Ele abriu a porta de um carro preto simples, mas ela não se deu ao direito de julgar os meios de locomoção, seria pior ir andando. Com aquela atitude cavalheira, ela acabou se derretendo ainda mais.

Após alguns minutos de estrada e com um silêncio constrangedor, logo um assunto surgiu entre ambos.

—Sabe Mônica, eu não queria ter resolvido tudo na base da força, não queria que você tivesse que ser obrigada a ir a esse encontro. Entendo que se me chutar, terá razão, pois além de eu estar te submetendo a isso, ainda tive a audácia de te rejeitar a pouco tempo atrás – Confessava com um ar triste. Ele olhava fixamente para frente, mas Mônica conseguiu notar algumas lágrimas escapando.

—Por que tá falando tão esquisito? Bobo, não precisa ser formal não, somos amigos. Aí, eu sei que me rejeitou porque é todo virado dos avessos, não esquenta – Ela dizia tudo calmamente, evitando ter um acesso de raiva.

—Eu errei com você e te quero novamente – Do Contra disse em um fôlego só. Algumas pequenas gotículas de suor escorriam de sua face, mostrando que estava nervoso.

—Se me impressionar, quem sabe te dou uma chance? – Ela falou, porém ainda havia confusão em sua voz.

—Sério? – Pela primeira vez ele olhou fixamente nos olhos dela, mostrando um brilho diferenciado em seu olhar.

—Aham, mas não precisava disso tudo não, viu? – Estava se referindo às roupas de Do Contra.

—É que vamos a um restaurante bom, então eu quis te impressionar, ué – Algo que impressionava Mônica era aquela sinceridade que não era da personalidade do rapaz, este que sempre contrariava tudo.

—Aí, a Magali que é esfomeada, vai me levar a um restaurante por quê? – Ela perguntou levemente irritada, por acaso aquele sujeito queria que ela se tornasse a gorducha que era em sua infância?

—Mal agradecida! Queria que eu te levasse a um lixão por acaso? – Por mais que aparentasse estar irritado, seu tom era brincalhão – Suas roupas são dignas de um lixão, alias – Sussurrou mais para si mesmo, torcendo para que ela não tivesse ouvido.

—Não né, que coisa! – Esbravejou.

—Calma, não vai me bater! – O rapaz se contorcia para desviar dos socos que vinham agilmente em sua direção.

Mas no final, eles acabaram conversando como velhos amigos e até trocaram alguns segredos, tudo isso enquanto Do Contra ainda dirigia para o tal restaurante que parecia estar em outro estado de tão distante. Mal sabia Mônica, mas aquilo era apenas um plano para que eles se entendessem no carro, o que custava dar algumas voltas em círculos na cidade para poder ter um pouco mais da presença dela? Pouco importava se planos infalíveis era coisa do Cebola ou se a gasolina iria acabar. Vê-la tão próxima a ele lhe colocava em um intenso estado de tranquilidade e abobamento, será que ele era apenas mais um coitado apaixonado?

O tão esperado restaurante estava a poucos metros, assim que Mônica viu que estavam chegando ao destino, deu um longo suspiro de alívio.

—Aí Dc... Já tava ficando com a bunda quadrada sentada nesse carro! Demorou uma hora! – Exclamou enquanto apalpava o traseiro confirmando que tudo estava em seu devido lugar.

—Bah, mas olha que beleza de restaurante! – Apontou para a grande estrutura que aparentava ser finíssima e requintada, um lugar aonde apenas casais mais abastados iam se deliciar das refeições. Certamente Mônica não se sentiria bem ali.

E realmente ela não tinha pavio para suportar todos aqueles engomadinhos, em apenas meia hora esperando um prato que ela nem ao menos sabia pronunciar o nome, ela havia entrado em uma briga com uma garota loira e que aparentemente era rica e mimada, lembrou-se até de Carmen com a arrogância daquela infeliz. Mas tinha um detalhe: aquela não era sua amiga.

—Grrr ...Quem você pensa que é oh loira oxigenada? – Bradou enquanto segurava em uma das mãos uma cadeira que para ela era como isopor.

—Calma, fofa! Só falei dessas roupitchas bregas. Eu heim, pode mais ter senso de moda não? – Retrucou.

Se não fosse a força maior de Do Contra, Mônica acabaria trancafiada em um conselho juvenil por acabar ferindo uma garota altamente influente. Por sorte ou azar, os pais da garota apenas fizeram com que os dois fossem expulsos do estabelecimento, ao invés de denunciá-los e acarretar algo mais grave.

—Mô, calma! – O rapaz ainda tentava apaziguar toda aquela raiva. Mônica praticamente soltava fogo pelas ventas, pavio curto era seu nome do meio.

—Me obrigue! – Ordenou.

Ela esperava que o rapaz apenas tapasse sua boca com sua grande força, ou apenas esbravejasse com a mesma até que fosse obrigada a se calar, ou talvez que ele apenas a abandonasse sozinha no meio da rua. Mas Do Contra tomou uma atitude totalmente diferente, tomado pelo calor da emoção do momento, ele apenas pressionou os lábios na boca da esquentadinha enquanto aproximava seu corpo lentamente com o dela, procurando enlaçar suas mãos na cintura de Mônica, enquanto movimentava seus lábios tornando o beijo mais intenso.

Após largar a moça, observou ela com reações um tanto contraditórias, seu rosto estava violentamente vermelho, mas o rapaz não conseguia decifrar se era de vergonha ou raiva. Sabendo da personalidade irritadiça de Mônica, ele apostou na segunda opção.

—Idiota! – Um tapa foi desferido no rosto de Do Contra – Eu namoro! – Outro tapa – Imbecil! – Outro tapa.

Aquela agressão só fora interrompida quando ele segurou seus pulsos com um aperto férreo.

Então, contra todas as probabilidades, ele se ajoelhou e pegou uma pequena caixinha de veludo que estava em um dos bolsos discretos do terno branco.

Ele Abriu a caixinha delicadamente. Fitava Mônica com expectativa, enquanto a mesma apenas estava vidrada naquele lindo anel dourado, aparentemente banhado com ouro legítimo. Nunca em sua vida, ela encarou uma situação parecida, nunca namorou, além do mais, Cebola nunca tomava a grande decisão. Seu coração batia fortemente, ela... Estava apaixonada por Do Contra?

—Quer namorar comigo? – A tão esperada pergunta foi feita, bastava obter uma resposta.

Ela pensou muito, até mais do que deveria, então deu sua resposta muito bem decidida:

—Sim!


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Notas finais do capítulo

Até a proxima fanfic!



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