Sweetheart escrita por Izabell Hiddlesworth
– O trinco não está lá essas coisas – Gumball riu nervosamente, forçando a chave pela enésima vez.
– Deixa eu ajudar – Marshall o empurrou para o lado gentilmente e retirou a chave de suas mãos.
Ele forçou a maçaneta algumas vezes para encaixar a chave na fechadura novamente. Depois de alguns segundos, um clec indicou que o trinco estava aberto.
– Por favor, vossa alteza – Lee brincou, gesticulando para que Gumball entrasse primeiro.
A casa dos Bubblegum fora construída em estilo vitoriano na parte residencial do centro da cidade. Tinha um ar antigo e elegante, bem diferente do loft despojado onde Marshall morava com Marceline e a mãe. Ele fez menção de retirar os tênis no hall de entrada, mas seu anfitrião disse que não era preciso.
– Você quer um suco? Biscoitos? Talvez uma bala ou um chiclete? – Gumball apontou para a cozinha, apertando a alça tiracolo da bolsa com a outra mão.
Marshall reparou na decoração clássica e depois nos potes de doce espalhados pelas mesas e aparadores.
– Vocês gostam mesmo de doce, hein – ele sorriu. Um pote de balas de alcaçuz chamou sua atenção, praticamente o convidando a erguer a tampa e afanar alguns. – Gumball, eu posso...
– Ah – Gumball seguiu seu olhar, apanhando o pote de vidro sobre o aparador e o oferecendo. – Fique à vontade.
Marshall recebeu o pote com um sorriso largo, agarrando duas balas de uma vez e enfiando na boca.
– Esse gosto agridoce é o melhor – sua voz saiu enrolada pelas balas que ocupavam sua língua.
– Parece com você – Gumball murmurou baixinho, virando-se em direção à escada.
– Hã?
– Nada não – Gumball riu, parando no primeiro degrau. – Vamos estudar no meu quarto, lá é mais sossegado.
Tomando cuidado com o pote de vidro, Marshall ajeitou a alça da mochila no ombro e seguiu Gumball pela escada.
– Quem diria... Gumball Bubblegum convidando um garoto para sua casa quando os pais não estão e depois o levando direto para o quarto – Marshall riu bricalhão, enfiando mais balas na boca. – Acho que eu não te conhecia tão bem assim.
Seu anfitrião virou-se num movimento brusco e acabou por escorregar no degrau. Lee ergueu o pote de balas o mais alto que pôde e o puxou pela cintura. Suas costas bateram na parede junto com o pote e a bolsa de Gumball foi ao chão.
– Ei, você é bem apressadinho – Marshall gargalhou, soltando-o assim que o susto passou.
Gumball apanhou a bolsa e disparou pelos degraus.
– Meu quarto fica no final do corredor à direita. Pode ir na frente – ele se trancou no banheiro, batendo a porta com força.
Marshall coçou a nuca sem jeito, subindo os últimos degraus.
– Parabéns, você foi um idiota mais uma vez – ele suspirou.
O corredor terminava em duas portas iguais e uma grande janela de vidro. Placas coloridas nas portas indicavam que um dos quartos era de Gumball e o outro de Bonnie.
– Com licença – ele sussurrou para ninguém.
O quarto de Gumball era uma profusão de tons pastéis de rosa e azul, com exceção dos móveis brancos e de um mural com post-its coloridos e um mapa-múndi. Ele adentrou o território com cuidado, absorvendo cada pequeno detalhe. Não havia peças de roupas e meias desparelhadas pelo chão e a parte debaixo da cama era aproveitada por gaveteiro. Os livros nos nichos estavam organizados por série, cor e tamanho.
– Uau – mas não era menos do que esperava de Gumball.
Nas paredes do banco da janela havia fotos e pôsteres bem alinhados. Ele se surpreendeu de verdade quando encontrou, bem no centro de tudo, um pôster de sua banda com Marceline e Finn.
– Ok, isso é uau. Nem eu tenho isso no quarto.
– Isso é do ano passado – Gumball entrou no quarto cabisbaixo, deixando a bolsa no chão ao lado da escrivaninha –, de quando chamaram vocês para tocar naquele festival de rock na Noitosfera.
Ele retirou os mocassins e colocou o suéter e camisa que tinha usado por baixo sobre a escrivaninha. A camiseta que usava agora exibia o número PI formado por waffles.
– Eu nem sabia que você gostava de rock – Marshall enfiou mais balas na boca, sentando-se no banco acolchoado.
– Eu gosto da banda de vocês – Gumball deu de ombros, puxando a cadeira da escrivaninha para perto da cama.
Marshall encontrou uma foto de Gumball, Bonnie, Fionna e Lump na entrada de um galpão no centro da cidade. Eles vestiam a camiseta dos Bloody Bones com uma foto dele, Marcy e Finn fazendo caretas.
– Nunca te vi num show nosso – ele apontou para a foto. – Você tem até a camiseta.
– Você me deu de aniversário.
– Dei?
Gumball olhou para ele com um ar um tanto tristonho, mas deixou para lá.
– É, já faz um tempo.
As balas de alcaçuz acabaram antes que Gumball conseguisse terminar de dispor os livros e as folhas de anotações na cama. Marshall deixou o pote vazio sobre a escrivaninha e apanhou o estojo na mochila. Sentou-se no chão, numa faixa de luz solar que aqueceu suas costas de prontidão.
– Por onde você quer começar? – Gumball colocou os óculos, colocando um bloco de folhas de fichário sobre o colo.
Lee torceu os lábios um tanto encabulado, apoiando o queixo na beirada da cama.
– Do começo. Tipo... Bem, do começo – ele passou os olhos pelos livros e sentiu a costumeira preguiça ameaçando uma visita. Ninguém merecia matemática. – Do começo do ano, para ser mais exato.
– O que você ficou fazendo esse tempo todo nas aulas? – Gumball recuou, retirando os óculos para encará-lo.
– Você parece a sua irmã – Lee sorriu de canto. Os irmãos Bubblegum realmente faziam o estilo certinho.
– E você a sua prima.
– Eu sou um astro do rock – Marshall lhe deu a língua. – Ninguém espera que astros do rock tenham as anotações de matemática em dia.
– Acho que o Sr. Menta não vai te dar nota só por isso – Gumball cruzou os braços, fazendo uma careta de desaprovação. – Eu vou pegar o livro do primeiro semestre.
Ele levantou-se da cama e caminhou até a escrivaninha. Marshall reparou em seus pés pequenos descalços e achou graça. Só então se lembrou dos all-stars e os chutou para perto do banco da janela.
Gumball voltou com um livro e duas apostilas, abrindo um espaço para eles em cima da cama.
– Não vai dar para vermos tudo hoje – ele encarou os materiais pensativo, levando uma mão ao queixo. – Se você quiser, podemos estudar todos os dias até a prova. Eu vou ficar bem com uma revisão rápida e...
– Gumball, você realmente quer fazer isso?
– Estudar todo dia? – Bubblegum o encarou confuso. – Eu não me importo.
Marshall içou-se para a cama, encarando-o com seriedade.
– Estudar comigo. Você realmente quer isso? Não se sinta obrigado só porque a Marcy e a Bonnie jogaram uma pressão.
Demorou um instante, um longo instante, para que Gumball entendesse. Ele baixou os braços para o colo e assumiu o ar triste novamente. Marshall detestava ver aquela expressão em seu rosto.
– Eu estou te ajudando porque quero. Não tem nada a ver com a Bonnie ou com a Marcy – saiu num murmúrio.
– Pensei que você quisesse distância de mim... – Marshall desviou os olhos para a faixa de sol, comprimindo os lábios.
– Distância? De você? Por que eu iria querer isso?
Uma luz piscou na mente de Marshall indicando área perigosa. Mas já ia fazer muito tempo desde aquilo e ele precisava tirar o peso da consciência – apesar de ter ficado decidido, mesmo naquela época, que não havia culpa alguma sobre seus ombros.
– Por causa daquele negócio com a Fionna – Lee arriscou, ajeitando os fios mais compridos do cabelo negro para esconder o rosto. – Você me evitou por quase um mês depois daquilo.
Gumball engoliu em seco, remexendo-se desconfortavelmente na cama.
– Eu não fazia ideia de que você gostava da Fionna, eu juro. Até tentei impedir ela e tudo o mais – Marshall entremeou os dedos no cabelo, falando cada vez mais rápido. – Mas aí você se afastou e eu não sabia como pedir desculpas.
– Marshall! – Gumball agarrou sua mão, inclinando-se para ele com um sorriso torto e as bochechas coradas. – Eu entendi. Não fiquei bravo com você porque a Fionna te beijou.
– Não? – Lee relaxou os ombros, acalmando-se.
– Não – Gumball meneou a cabeça negativamente. – Fiquei bravo com a Fionna, porque ela sabia e mesmo assim beijou você.
– Porque ela sabia que você gostava dela? – As batidas de seu coração começaram a perder o compasso.
– Não, Marshall – Bubblegum riu sem jeito. – Porque ela sabia que eu gostava... Não, melhor: porque ela sabia que eu gosto de você.
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