Tok, Alasca

15 de Dezembro de 1978

Já passava da meia noite e a nevasca que atormentava a pequena cidade de Tok durante o dia todo, finalmente já havia ido embora, deixando a majestosa lua cheia brilhar intensamente. Agora, somente alguns flocos de neve caiam nas bochechas rosadas de Lizzie, esfregava com freqüência o nariz, parecia que estava ficando resfriada, que já não era de se esperar, toda noite a garota se punha no beiral da sacada do seu quarto, onde tinha um telescópio.  Esperava sempre que a neve se dissipasse e que seus pais dormissem cedo, em especial essa noite, sentia-se sortuda, seus pais estavam em uma festa beneficente e a nevasca havia ido embora.

Ela ajeitou um pouco mais o telescópio, posicionando na direção da estrela que considerava sua, desejava que fosse sua. Um vento gelado a pegou de surpresa fazendo com que os pelos de suas costas se arrepiassem, recolocou suas luvas cor de rosa com listras roxas e entrou novamente em seu quarto para pegar sua touca.  Foi quando ouviu fortes batidas na porta, pareciam socos.

—Papai? È você? – Ela perguntou em tom baixo.

Lizzie caminhou em direção as escadas e olhou sob o mezanino tentado encontrar algum sinal dos seus pais. Não fazia sentido eles baterem na porta se tinham a chave, sua mente não estava processando direito.  Ela pode então escutar diversos passos do lado de fora da casa, como se estivessem rondando o terreno, novamente ela sentiu os pelos e suas costas arrepiarem, contudo dessa vez era de medo e não de frio.

— Mamãe? – Ela perguntou novamente e no mesmo momento os passos cessaram.

Ela ficou paralisada na escada, suas mãos estavam petrificadas agarrando o corrimão, amaldiçoando a si mesmo por ter insistido que não queria uma baba, já tinha 11 anos de idade e não precisava de ninguém com ela nas noites sozinhas, mas agora tudo que queria era alguém para protegê-la.

A maçaneta da porta girando com força a tirou dos seus devaneios, sabia que a qualquer momento quem que estivesse do lado de fora iria entrar, correu de pressa para seu quarto e fechou a porta, rápido como um lince entrou de baixo de sua cama colocando a mão em sua boca para não escutarem sua respiração pesada.

Mal ouvira a porta se abrir e passos pesados e confiantes já estavam subindo as escadas como se estivesse pulando degraus. Ela fechou os olhos contendo as lagrimas que escorria por seu rosto, seu coração pulsava em seus ouvidos como marteladas abafadas em um travesseiro.

A porta do seu quarto abriu lentamente como se ela não a estivesse trancado, não ousou abrir os olhos, e não sabia mais se podiam ou não escutar sua respiração irregular. Os segundos que se passavam pareciam longos minutos, achou que tinham ido embora quando sentiu duas mãos agarrarem seus pés, e tudo que se lembra é de mergulhar na escuridão profunda.