Uma Canção para nos Dois. escrita por Kajji Snow


Capítulo 15
Uma Vida inteira


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao final!

gostaria de agradecer a todos que acompanharam até o final as historias desses personagens.
Acredito que pudemos aprender ao menos um pouquinho com cada um deles, e é isso.
A gente se vê por ai!



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Haviam se passado quatro anos desde que cheguei a Lisboa, quatro anos longe de casa, quatro anos longe da família, quatro anos longe do amor da minha vida.

Naquela manhã me dirigi ao banheiro do pequeno apartamento que foi meu lar durante o ensino superior, ao me olhar no espelho à barba imensa despontava entre o cabelo esvoaçado mostrando que o tempo havia passado para mim também.

—É tempo de voltar para casa. – Disse esboçando um sorriso para minha imagem no espelho.

Sai do Brasil quando tinha dezoito anos e agora podia ver o efeito do tempo e das experiências vivenciadas, percebi que já não era mais aquele garoto cheio de conflitos e dilemas, não, a vontade de realizar meus sonhos e voltar para Lyah havia me tornado um homem equilibrado e maduro.

Aos vinte e dois anos de idade cheguei onde muitos não teriam coragem de chegar, sacrifiquei, chorei, porém agora posso mostrar a meus pais e a minha noiva que a esperança que depositaram em mim havia valido a pena.

A cerimonia de formatura seria em algumas horas, meus pais e Lyah não puderam vir, mas, acompanhariam tudo pela internet.

Caminhei até o criado mudo e peguei uma foto que tirei com Lyah no verão do ano passado quando ela veio a Lisboa, aproveitamos bastante juntos.

—Estou voltando para casa.

Nos fins de semana encontrava com Eduardo e isso de alguma forma amenizou a sensação de estar longe de casa, combinamos de voltar juntos para casa e nossas passagens já estavam compradas.

Havia me apaixonado pela cultura Portuguesa, pelo clima do país e confesso, se Lyah estivesse comigo aqui eu não voltaria.

Porém mais agradável para mim é o que havíamos construído juntos, minha loja cresceu a tal ponto que precisamos abrir uma loja física e Martim demonstrou ser um administrador experiente criando filiais nas cidades vizinhas e Lyah se empenhou também em transformar o negocio da família.

Ela se formará nos mês passado, acompanhei tudo pela câmera de vídeo que foi nosso elo de comunicação durante todo este tempo.

Ela e minha mãe haviam comprado um terno para minha formatura que graças a Deus chegou a tempo, vesti-me e fui para a rua.

Pelas ruas de Lisboa rapidamente encontrei um Taxi que me levou a academia, ao chegar encontrei meus colegas de curso e ambos nos parabenizamos pelo empenho.

—João, caro amigo. – Começou Luiz em seu sotaque. – Tu pensas mesmo em deixar-nos?

Sorri de leve.

—Infelizmente caro amigo, minha vida encontra-se em minha terra.

Respondi enquanto nos abraçávamos.

—Que *rapariga de sorte. – começou Ana aproximando-se em seu vestido recatado. - Deve ser muito *gira para fazer um cara resistir tanto.

Rimos da piada, que possuía seu fundo de verdade, Ana era belíssima e muitas vezes tentou ficar comigo.

—A mulher mais linda que já conheci. – Respondi enquanto era zoado pelos rapazes.

—Haveremos de nos reunir novamente meus amigos? – Indagou Pedro tristonho. – Confesso que nossos laços tornaram-se bastante fortes, concordas João?

Realmente fiz muitos amigos aqui e me deixava triste também o fato de ter de deixa-los.

—Teremos muitas férias para havermos de reunir amigos!

Completei.

A cerimonia foi perfeita e então se iniciou o coquetel, não me demorei muito, pois ainda ia fazer as malas.

—Vais partir amanhã? – Perguntou Ana sentando-se a meu lado. – Porque diabos tanta presa?

Perguntou ela meio grogue pelo champanhe.

—Não aguento um dia a mais longe de Lyah. - frisei bem essa colocação para me livrar desse enrosco. – Estou morrendo longe de minha noiva.

Ana fez uma careta antes de levantar-se.

—Acaso não bebes meu caro?- perguntou Pedro sentando a meu lado. – vejo que olhas a foto dela como um a imagem reflexa de um anjo.

Completou-o notando a foto de Lyah em meu celular.

—E por acaso ela é meu anjo amigo. – Respondi dando um tapa em seu ombro. – O anjo que me fez ser quem eu sou hoje.

Ele sorriu e me chamou para irmos ao jardim.

—Sabes João, a tua historia me inquietou bastante no começo, mas agora que te conheço plenamente vejo que precisas mesmo voltar ao Brasil e urgentemente!

Falou ele olhando-me seriamente.

Pedro havia se tornado alguém em quem eu podia confiar e também uma espécie de confidente.

—Sentirei saudades tuas amigo. – Comecei o abraçando de lado. – E também sentirei muitas saudades dessa terra.

Falei enquanto a brisa soprava fracamente.

—Não tens projetos de retornar à cá? – perguntou ele esperançoso. – Digo-te que será mais fácil conseguir um visto de permanência devido a tua exemplar conduta durante este período que estudastes aqui.

Realmente pensei nesta possibilidade, porem algo deste porte só ocorreria se Lyah concordasse.

—Só o tempo dirá meu amigo, só o tempo dirá.

Depois de um terno abraço despedi-me de meu amigo e fui para casa arrumar tudo, voltaria no primeiro voo para o Brasil.

Chegando a casa tive uma surpresa quando Eduardo me ligou avisando que já estava no Brasil, havia ocorrido um assunto urgente em família que o forçou a antecipar a volta.

Ele se desculpou e eu claramente lhe disse que tudo estava bem.

Depois de arrumar as malas pedi uma pizza que não demorou em chegar e assim foi minha última noite em Portugal.

***

Após longas horas de viagem cheguei a minha terra natal, nada havia mudado.

Decidi não avisar que voltaria hoje, queria pegar o pessoal de surpresa, logicamente a primeira casa que iria era a de Lyah.

O Táxi me levou direto a casa no alto da minha rua, que continuava do mesmo jeitinho.

Deixei as malas na varanda procurando fazer o mínimo de silêncio para não chamar atenção.

Depois de pagar o taxista peguei meu celular e passei uma mensagem para ela.

“Venha até a porta, por favor.”

Instintivamente comecei a contar em ordem decrescente os 60 segundos que talvez ela levasse até chegar à porta.

Quando a contagem chegou a vinte ela abriu a porta.

Não pude conter as lágrimas que vieram aos meus olhos torrencialmente.

—Você voltou…

Começou ela entre lágrimas.

—Voltei pra você.

Corri em direção a ela que fez o mesmo e quando nos encontramos nossos corpos se entrelaçaram em um abraço apertado, podia sentir aquele perfume floral dela invadir minhas narinas, a macies de sua pele que tanto me fez falta em noites de frio.

—Só posso estar sonhando. – Falou ela enterrando a cabeça em meu peito. – Só pode ser um sonho.

Nossos olhos se encontraram por um instante e nossos lábios ansiosos se uniram em um beijo longo e insaciável.

Em toda a minha vida nada se comparou a este momento.

—Sonhos não beijam assim.

Respondi enquanto outro beijo se seguiu.

—Você já foi na sua casa? Sua mãe vai ficar muito feliz.

Falou ela entre risos e lágrimas.

—Vou ligar agora mesmo e pedir que seu pai venha de carro, essas malas estão muito pesadas. – Por um momento ela parecia minha mãe falando. – Você já comeu? Com certeza só besteiras entre vou preparar algo pra você…

—Lyah. – Disse a abraçando por trás. – Calma, estou aqui agora e tudo o que quero é você.

Sentamos nas cadeiras de balanço da varanda e esperamos meus pais, eles não estavam em casa e assim que souberam estavam voltando às presas de Ananindeua.

—Me espere aqui, vou pegar algo pra você comer. – Disse ela levantando-se

—Lyah.

—Já disse que volto logo, só vou pegar algo pra você comer. – ela se reclinou sobre mim e me beijou. – esperamos quatro anos, podemos esperar mais um minutinho.

Depois disto ela entrou em casa.

Realmente em quatro anos pouca coisa havia mudado, a única diferença em Lyah além da maturidade era a boina que já despontava em sua cabeça a prova de que ela havia superado a morte da mãe.

Foi então que me lembrei de algo extremamente importante.

Ela voltou e trouxe uma bandeja com bolo, misto quente e café.

—Pensei em trazer suco, mas você curte mais café.

Falou ela.

O cheiro estava ótimo e decidi comer.

—Amor, está ótimo. – falei enquanto dei uma pausa na comilança. – Lyah, você fez o que te pedi? Digo o que disse pra você e Martim providenciarem.

Ela me olhou surpresa e depois riu.

—É incrível como você é calculista. – Começou ela. – Sim fizemos, e quer saber mais? Ela é linda! Eu mesma escolhi.

Falou ela orgulhosa.

—Serio? Que ótimo!

Explodi radiante.

—Agora podemos agilizar os preparativos para o casamento!

Falei radiante.

Lembrei-me do que havíamos construído com os frutos do nosso trabalho nesses quatro anos e vi que não precisava ir para Portugal para fazer a minha felicidade.

—E então me conte o que aconteceu durante esses dias.

Comecei enquanto comia.

—Bom, Helen chegou semana passada, Martim ficou radiante você precisava ver. – Começou ela. – Felipe e ele estão tomando conta da Flex Music como você instruiu e o faturamento da loja está bastante satisfatório, Edu chegou ontem de viagem. – Por um momento o semblante dela mudou.

—O que aconteceu de fato com Edu?

Perguntei preocupado.

—Amor, o pai dele sofreu um acidente grave. – Começou ela com pesar. – Parece que ele corre risco de não poder mais andar. – Falou ela me pegando de surpresa. – Mas Edu disse que ainda há uma chance de reverter.

—Preciso falar com ele.

—João calma, hoje o pessoal da banda vai se reunir e vão ver que futuro vai ter a Our time.

Como já era esperado nem tudo estava bem.

—Há ia esquecendo, Alice e Felipe estão noivos.

Disse ela rindo.

Aquilo me deixou aliviado.

—Poxa que legal, isso é ótimo.

Essa notícia me fez pensar que precisava me inteirar de tudo o que era preciso e pedir a mão de Lyah em casamento.

Depois de encontrar meus pais e matar a saudade acumulada fui até a minha loja com Lyah, ao chegar encontrei Martim e Helen resolvendo algumas coisas.

—Olha só quem resolveu voltar! – Disse ele correndo a meu encontro. – Como está meu amigo?

Martim havia deixado a barba crescer também.

—Melhor agora que estou em família.

Conversamos sobre a situação da empresa e tudo o que estava sendo efetuado e aplicado nela, Martim mostrou-se um administrador de mão cheia.

—Não poderia ter escolhido um sócio melhor.

Falei enquanto botávamos o papo em dia.

Decidimos trazer o pessoal e nos reunirmos na loja.

Logo Edu, Felipe e Alice chegaram.

Felipe não havia mudado tanto, na verdade só o tempo modificou as suas coisas.

—A quanto tempo meu amigo. - Disse ele me abraçando forte. - Que falta você nos fez.

Retribui aquele abraço.

Alice continuava parada olhando-me com olhos ternos.

—Pensei que não voltava mais. - Disse por fim me abraçando. - É bom ter você aqui.

Organizamos algumas cadeiras para a reunião, Edu trouxe boas notícias sobre o estado de saúde do pai.

—Tenho uma ótima notícia. - Começou ele com um semblante menos rígido. - A situação de meu pai pode ser revertida!

Falou ele alegremente e todos compartilhamos dessa alegria.

Felipe então tomou a palavra.

—Amigos, é muito bom estarmos reunidos depois de tanto tempo. - Começou ele gesticulando com as mãos. - Vejo que nos tornarmos pessoas maduras, compreensivas e experientes.

Porém a vida nos levou em caminhos distintos e agora cá estamos para resolver o que fazer com nosso antigo projeto musical.

Podia-se sentir o pesar na voz de Felipe, eu havia acabado de chegar e já teria de decidir o futuro de nossa amada banda.

—Pessoal, eu primeiramente quero ouvir de vocês e de maneira direta se vão ou não continuar na banda.

Como sempre Felipe era direto e incisivo, sem rodeios.

Eduardo foi o primeiro a falar.

—Eu vim principalmente por isso. - Começou ele. - Vou precisar me dedicar aos negócios da família, depois do acidente meu pai não vai poder cuidar de tudo sozinho.

Ele nos encarou quase chorando.

—Eu sinto muito pessoal mas, não vou poder continuar.

E assim um a um foi dizendo o que tinha pra dizer, era inevitável que a vida houvesse nos levado em direções diferentes mas, eu não queria o fim.

—João. - Começou Felipe. - Só resta você, se bem que o único que ainda vai tentar sou somente eu.

Falou ele triste.

—Eu também tenho outros planos. - comecei tentando clarear as ideias. - porém eu não acredito que acabar com a Our Time seja a melhor saída.

Lembrei então de algo que presenciei em Portugal durante o curso, na verdade já havia visto isso por aqui também e agora todos tínhamos recursos para tal empreendimento

—Talvez precisemos alterar o formato. - Comecei levantando. - Já ouviram falar em coletivos?

Todos me olharam e Martim soltou um sorriso aliviado.

—Já vimos vários deles. - Começou Helen. - Mas explane mais essa ideia.

Lembrei-me então que ainda possuía o arquivo de vídeo do nosso projeto em Lisboa e resolvi mostrar.

—Prestem atenção. - Comecei plugando o aparelho no computador. - Este foi um projeto que desenvolvemos em Lisboa durante o curso. - Botei o vídeo para rodar. - O batizamos de Coletivo Avalon. - O vídeo mostrava-nos lecionando para alguns jovens em estúdio.

—Avalon? A do rei Arthur?

Perguntou Felipe.

—Exatamente. - respondi rindo. - é uma espécie de piada interna, a maioria das pessoas achou o projeto uma fantasia, uma “Avalon” de jovens que não tinham muito o que fazer.- expliquei rindo de uma lembrança. - enfim, o projeto consistia em uma atitude social e rentável para todos os componentes. - Continuei a explicação mostrando a parte onde acompanhado de outros dois amigos orientávamos outros três na construção de instrumentos.

—E como se dava isso. - Perguntou Edu. - Você nunca me falou a respeito.

—Bom era um projeto da faculdade, somente alunos estavam envolvidos. - Expliquei. - Em outras palavras, investimos do nosso próprio bolso na criação de um espaço multiuso onde além de ensinarmos jovens de baixa renda a tocar e construir seus próprios instrumentos também produzíamos de formas independentes músicos formados dentro do coletivo. - Senti certo orgulho ao falar aquilo. - Na verdade esse é o meu objetivo em estudar música.

—Isso é espetacular!

Exclamou Helen surpresa.

—Exatamente, nós não cobrávamos nada de ninguém, simplesmente construímos juntos, uma verdadeira fábrica de sonhos e conseqüentemente tirávamos jovens de situações de exposição. - Enfim pude dizer o que realmente era a minha intenção. - É isso o que eu sempre quis fazer, salvar pessoas por meio da música.

Felipe então se levantou e analisou o estúdio mostrado no vídeo.

—Vocês não estavam visando lucro. - Começou ele feliz. - Estavam compartilhando música.

Os olhos dele brilhavam.

—Exatamente meu amigo. - Falei repousando a mão em seu ombro. - Compartilhando a música. - Não pude segurar uma teimosa lágrima em meus olhos. - Continuando, quando eles alcançavam um nível musical aceitável começávamos então a produzir alguns singles, músicas que eles mesmos compunham ou que todos no coletivo ajudavam. - percebi que tinha chegado onde queria. - logo esses singles estavam à venda no Itunes, disponibilizados para compra nas páginas pessoais dos artistas dentro do site do coletivo, disponibilizamos também faixas gratuitas para lançar o músico e fomos surpreendidos pela aceitação do publico, regionalmente muitos ficaram conhecidos. - A essa altura todos estavam contagiados pelo projeto. - Em pouco tempo começou a entrar lucro, 10% ficava para manutenção do coletivo e 90% ia para o artista e assim chegamos longe amigo.

—E você está nos dizendo pra transformar a Our Time em um coletivo?

Alice enfim se pronunciou, e eu estava pronto para debater com ela e seu ego.

—Exatamente Alice. –Respondi a encarando. – Ao invés de pormos um fim daremos um novo começo.

Ela então sorriu.

—Eu topo.

Aquela reação me pegou de surpresa.

Eduardo e os demais também toparam.

—Onde poderemos montar esse espaço?

Perguntou Helen. De fato esse era o primeiro empecilho.

—É algo que vamos precisar pesquisar e estudar...

—Quanto a isso considere por resolvido. – Começou Martim entrando triunfante na conversa. – Tenho um presente para você.

Ele então se dirigiu ao escritório e voltou com uma pasta e me entregou.

—Seja bem-vindo de volta amigo, esse lugar é bem grande. – Começou ele. – temos uma área enorme ali atrás, então espaço não é mais problema.

Dei uma olhada nos papeis da pasta e meus olhos se arregalaram.

—Você comprou o prédio. – falei surpreso olhando os documentos. – isso é incrível.

Todos estavam radiantes.

—Podemos começar o projeto.

***

Os dias se passavam depressa e logo pude me acostumar com o ritmo da vida que levava antes.

—Estou orgulhosa de você meu filho.

Minha mãe e eu estávamos no supermercado comprando algumas coisas.

—E eu fico feliz por isso. – Comecei pegando um pote de nutella, Lyah adorava. – E também, depois de estarmos formados, e normal que queiramos dar esse passo.

Respondi.

—Não é todo jovem que se casa aos vinte e dois anos João. – falou ela. – Eu fico muito feliz em fazer seu jantar de noivado.

Percebi que ela estava prestes a chorar e então contei a ela sobre o uso de azeites que aprendi em Portugal para distraí-la.

Hoje teríamos o jantar de noivado, finalmente poderíamos dar inicio a os “proclamas” do meu casamento com Lyah e isso me deixava nas nuvens.

O dia correu tranqüilo, preparamos a casa enquanto minha mãe cuidava da comida.

Já em meu quarto me preparava para o jantar e tentava imaginar que tipo de roupa Lyah estaria usando, como reagiria ao meu pedido.

Quando desci meus pais estavam na sala com Guilherme, porém, Lyah não estava lá.

—Boa noite pessoal. – Comecei cumprimentando. – Tudo bem?

Guilherme riu e então falou.

—Calma meu genro, ela não fugiu só esta vestindo algo muito especial.

Todos riram da piada e foi ai que a campainha tocou.

—Deixem que eu atendo.

Falei dirigindo-me a porta, ao abrir o cheiro floral do perfume de Lyah encheu-me as narinas me fazendo flutuar.

—Achei que tinha se mandado.

Falei rindo.

—Acha mesmo que esperei por quatro anos pra desistir agora?

Ela então me beijou e então pudemos perceber vários olhares atrás de nos.

—Aham. – Começou meu pai. – Podemos jantar? Estou faminto.

Lembrei que havia esquecido algo importante no quarto.

—Só um minutinho já volto.

O jantar correu muito bem divertido, Guilherme e Papai perguntaram varias coisas a respeito da Europa e sobre o mercado musical.

Lyah havia começado a vender seus quadros em uma galeria que abrira com uma colega de faculdade e estavam fazendo grande sucesso na cidade.

—Pessoal. – Comecei levantando. – Gostaria de pedir um momento da atenção de todos.

Com um gesto pedi que Lyah viesse para perto.

—Agradeço por todos estarmos aqui e como sabemos esse jantar e para anunciar o nosso noivado.

Lyah ficou corada enquanto eu falava.

—Porém, não há noivado se não houver um pedido formal. – Falei olhando para Guilherme. – Guilherme, eu gostaria de pedir a mão de sua filha em casamento.

Lyah parecia um tomate.

—Como já te disse uma vez filho, Lyah não poderia ter escolhido melhor.

Depois dessas palavras olhei fundo nos olhos de Lyah enquanto segurava suas mãos.

—Meu coração escolheu você, pra ser a minha companheira. – Senti meu coração acelerar e minhas mãos tremeram quando peguei a caixinha em meu bolso.

—Você sabe que não tenho muito jeito com as palavras. – senti uma certa umidade nos olhos. – Casa comigo?

Ela então me beijou forte.

—Seu bobo é claro que caso!

***

Meu pai estava me ajudando a não me enforcar com a gravata.

—Calma João, quanto desespero.

Falou ele tirando a gravata apertada em meu pescoço.

—Estou uma pilha de nervos! – Explodi. – Santo Deus será que infarto?

Martim entrou no quarto para tentar nos ajudar.

—Calma cara. – Começou ele concertando meu nó desajeitado. – É assim que se da um nó de gravata filho.

Meu pai riu.

—Sabe Martim ao invés de Lyah desmaiar creio que será João a fazer isso.

Depois de terminar a dura missão de me aprontar fomos para a igreja.

—Cara, você sabe que a noiva sempre chega atrasada não sabe?

Alertou Martim.

—Sim eu sei, e a propósito, deixou tudo pronto?

Perguntei a ele a respeito do que chamávamos “Mudança de mel”.

—Relaxa meu mano. – Falou ele piscando um olho. – Já ta tudo no esquema.

Ao chegar à igreja notei que alguns convidados já haviam chegado, optamos por uma Cerimônia simples, somente familiares e amigos próximos.

Quando desci do carro Alice veio até meu encontro.

—Ola.

Seus olhos estavam tranqüilos por trás de seus óculos.

—Oi. – Respondi meio que com o pé atrás. – cadê o Felipe?

—Não precisa se preocupar, não vou fazer nada e também Felipe não é o tipo de cara ciumento e possessivo.

Encaramos-nos por um instante.

—E pensar que poderia ter sido eu. – Começou ela enquanto o vento balançava seus cabelos. – Mas eu mesma pus fim a isso com minha arrogância.

Finalizou ela olhando para mim.

—Infelizmente você tem razão. – respondi dando um meio sorriso. – Mas vejo que assim como Lyah me mudou, Felipe tem feito o mesmo com você.

Ela sorriu.

—Sim ele tem me feito muito bem. – respondeu me dando um abraço. – Me perdoe por tudo o que te fiz passar.

Retribui o abraço.

—Não esquenta com isso, passado é passado, vamos viver focando no nosso futuro.

Parecia que uma grande rocha havia sido tirada dos nossos ombros e finalmente Alice e eu tínhamos eliminado todo aquele desconforto.

—Agora vai lá pro altar esperar a Lyah, ela merece tudo isso.

Aquela espera estava me deixando bastante nervoso já havia se passado quase meia-hora e nem sinal de Lyah.

—Será que aconteceu algo?

Perguntei ao meu padrinho de casamento.

—Relaxa João, para de dar Chilique.

Helen riu da resposta de Martim, eles foram a minha escolha, Lyah escolheu Alice e Edu, Uma escolha curiosa, mas madura.

Os convidados começaram a levantar-se de seus assentos para observar a presença mais esperada.

A marcha nupcial embalou a entrada de Lyah na igreja um vestido comprido e elegante colorido com um branco impecável, um véu descia pela cabeça em um penteado onde cachos desciam até os ombros.

Senti minhas mãos suarem e por um momento senti meu coração acelerar.

Guilherme a trouxe até o altar e a entregou a mim.

—Foi uma escolha certa. – Começou ele. – Faça-a feliz João.

Quando peguei a mão de Lyah senti a responsabilidade de cumpri com aquele pedido.

—Farei tudo o que puder. – respondi sorrindo. – E me esforçarei ao Maximo para o que não puder.

Lyah somente sorriu e a cerimônia começou.

Tudo transcorria muito bem, estava tudo lindo e eu desfrutava de uma felicidade nunca sonhada.

E então chegou a hora que todos aguardavam o oficiante então fez as perguntas.

—Lyah, você aceita João como seu legitimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo na saúde e na doença, na alegria e na tristeza por todos os dias de sua vida?

Ela então me olhou com lagrimas nos olhos.

—Aceito.

Respondeu com um sorriso.

—João, aceita Lyah como sua legitima esposa, para amá-la e respeitá-la na saúde e na doença, na alegria e na tristeza por todos os dias de sua vida?

A minha alegria era notória.

—Eu aceito.

Logo após os votos chegou o momento das alianças, Martim deu-me a de Lyah e a minha foi entregue a ela por Alice.

—Repita comigo João. – Continuou o oficiante. – Com está aliança.

—Com está aliança, te torno minha esposa e diante dessa congregação te faço minha companheira.

Não consegui segurar a lagrima teimosa enquanto colocava a aliança no dedo de Lyah.

—Lyah, agora você.

Continuou ele.

—Com esta aliança, te torno meu esposo e diante dessa congregação te faço meu companheiro.

E então ela colocou a aliança em meu dedo.

—E pelo poder a mim investido, eu vos declaro marido e mulher. – Finalizou ele. – Pode beijar a noiva.

E assim nos beijamos enquanto todos aplaudiam.

Depois da tradicional chuva de arroz fomos para a recepção, que não poderia demorar devido a nossa “mudança de mel”.

Tudo estava perfeito tiramos algumas fotografias com as pessoas e familiares.

—Enfim casados. – Comecei beijando-a. - Agora não pode mais fugir de mim.

Ela então sorriu e me abraçou.

—Você e que não pode mais fugir para Portugal agora rapazinho. – respondeu ela rindo. – Pelo menos não sem mim.

Pude perceber que haviam alguns instrumentos preparados.

—Acho que o pessoal vai aprontar.

—Eu também percebi isso.

E não teve outra, logo Martim estava preparando-se com o baixo e o tripé de microfone e todos os demais integrantes menos eu claro, estavam ali.

—Gostaria de pedir um pouco da atenção de todos. – Começou Alice. – Neste momento a Banda Our Time vai estar presenteando o casal com uma dança, e a canção será tocada por nós.

Algumas pessoas nos levaram a o centro para dançarmos.

—Sou um perna- de -pau.  – falei enquanto nos preparávamos.

—Lembre-se de que já dançamos antes. – Falou Lyah rindo. – Eu guio você.

E assim a música começou aquela canção era conhecida por nós.

—A thousand years. – Falou ela enquanto encostávamos os nossos rostos.

Conforme a música transcorria as lembranças começaram a vir.

Podia me ver na praça quando a encontrei, e depois no dia seguinte quando ela passou pela mais dura prova.

“Por que você está fazendo isso?”

Agora tudo fazia sentido, talvez o destino estivesse traçado para nós, talvez Lyah e eu estivéssemos destinados a este momento.

À noite em que dançamos foi à próxima, nosso primeiro beijo.

O mundo a nossa volta parecia ter deixado de existir, por um momento éramos só nos dois.

—Eu te amo. – Falei olhando em seus olhos.

Ela retribuiu com um beijo.

—Eu te amei por mil anos. – respondeu ela. – E te amarei por mais mil.

A tirei do chão e a carreguei nos braços girando.

—Eu te amo Lyah!

Gritei enquanto todos aplaudiam.

E então estava na hora de irmos.

—Vou levar vocês até Icoaraci. – Falou Martim. – Vamos.

As malas haviam sido preparadas com antecedência.

—Eu vou com vocês. – disse Helen. – vamos amor eles podem se atrasar.

Por sorte não tivemos que pegar engarrafamento e chegamos a tempo.

Chegamos ao trapiche ao entardecer.

—É o ultimo barco por hoje meu chapa.

Começou ele enquanto as meninas conversavam.

—Obrigado por tudo irmão. – falei o abraçando. – vou sentir sua falta.

Naquele momento lembrei-me de tudo o que Martim e eu já havíamos passado.

—Atravessa pra nos visitar cara, vamos precisar ainda fazer o coletivo.

Respondeu ele me abraçando de volta.

—Ta na hora!

Gritou Helen.

E assim embarcamos e chegamos às primeiras horas da noite em Cotijuba.

—Bom agora é com você. – Falei olhando para Lyah. – afinal você escolheu nossa casa a dedo.

Ela então deu o endereço ao homem da charrete que nos levou pelo caminho conhecido.

—Sua única preferência era uma casa no vai-quem-quer. – Falou ela gabando-se. – E foi isso que fiz.

Depois de uns minutos chegamos a uma casa avarandada, havia bastante espaço e um quintal imenso.

Ela agradeceu e pagou o charreteiro enquanto eu botava as malas na varanda.

—E então o que achou?

Perguntou ela.

—Linda, e próxima da praia também.

Ela então abriu a porta.

—Bem vindo a nossa casa. – falou ela sorrindo. – Lembra que você disse para morarmos aqui quando voltasse?

Eu a abracei depois de colocar as malas na sala.

—Lembro perfeitamente.

Fomos até a varanda lateral de onde podíamos ver o céu estrelado.

—Vamos poder viver em paz aqui.

Falei sentando em uma das cadeiras de balanço, a casa havia sido mobiliada de acordo com o gosto de Lyah, que por assim dizer era ótimo.

Haviam algumas pinturas dela espalhadas pelas paredes.

—Seus instrumentos estão na sua sala.

Falou ela trazendo duas xícaras de café.

—Fez café bem rápido. – Falei sorvendo um gole. – obrigado.

Ela sentou-se na cadeira a meu lado.

—Fico imaginando quando esta casa estiver com nossos filhos correndo pela varanda.

Falou ela enquanto se balançava na cadeira.

—É verdade. – respondi enquanto sorvia outro gole de café. – o céu está como naquela noite.

Falei enquanto levantava para olhar.

—É verdade. – falou ela enquanto me abraçava de lado. – E pensar que teremos essa visão todas às noites das nossas vidas.

Depois de um beijo ficamos ali parados.

—Sim, para sempre.

E Ali naquela varanda minha vida agora estava completa e sentados ali Lyah e eu começamos a viver o nosso felizes para sempre.

FIM


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Notas finais do capítulo

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