Os olhos de Florença escrita por Sam


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Breve história que achei em uma pasta antiga do Word. Li, gostei e resolvi postar. :)



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***

 

A lua cintilava no céu, pálida e imensa. As ruas por sua vez não demonstravam tanta grandeza. A escuridão era inadiável e nem ao menos o brilho da lua conseguia deixar o solo mais agradável. Podiam-se ouvir bêbados cantando músicas locais enquanto rodeavam suas mãos cansadas nas cinturas de cortesãs, e alguns ladrões vez ou outra, após isso apenas o sopro gélido do vento.

Tudo o que poderia ver a baixo de seus pés – caso se desse o trabalho de olhar – seria carroças com capim, três para ser exata. Mas o céu encantava a assassina. As estrelas cintilavam em busca de atenção e ela correspondia aquele pedido.

Ficaria ali durante todo o anoitecer.

Ficaria.

Seus olhos estreitaram-se ao sentir uma mão fria tocar-lhe os ombros. O tecido que protegia aquela região nem ao menos foi capaz de não fazê-la se arrepiar aquele toque. Os lábios, antes sorrindo, tornaram-se uma linha reta e, sem pensar duas vezes, sua mão direita se pôs brutalmente sobre a do recém-chegado enquanto debruçava-se e fazia com que o corpo do desconhecido deslizasse por sobre o seu, deixando o único telhado que o protegia de cair a uma altura considerável.

Ela segurou a mão do rapaz – com certa dificuldade – para que pudesse ver sua face.

Quando o mesmo a olhou ela sorriu constrangida.

— Achei que não ferisse seus companheiros. — O sorriso brincalhão do ruivo a acalmou.

O homem não estava preocupado por continuar sem nada abaixo dos pés além de um solo de pedras a metros de distância, muito menos que a única coisa que o impedia de cair era Mila.  Ele sabia de sua capacidade, não havia o que temer.

— Sua culpa! — Respondeu-lhe serenamente ao mesmo tempo em que franzia o rosto devido ao esforço de puxar seu companheiro, nada leve, novamente para cima. — Não me assuste mais, certo? — Deu-lhe um tapa no ombro assim que ele virou-se para ela.

Leônidas compreendia que, muitas vezes, Mila agia por impulso, porém era de seu conhecimento também que ela não matava ninguém sem ao menos ter um motivo sábio para isso.  Mila levava o credo muito a sério – como todos da ordem – por isso não receou que ela o machucasse antes de ver quem era.

— Melhor voltarmos. — Ele olhou ao redor, como se procurasse algo – ou alguém.

A assassina de menor estrutura fez a mesma ação, intrigada. E, mesmo demorando alguns segundos de pura reflexão, compreendeu e sorriu de forma marota.

— Emma deve ter voltado Leônidas. Melhor ir atrás dela se ainda quiser um beijo de sua dama. — Provocou. Ele abriu a boca – Mila já sabia até o que ele iria falar – mas a mão erguida de sua amiga o fez recuar. — Não se preocupe comigo. Irei voltar logo, prometo. — E então abanou ambas as mãos em um sinal que Leônidas entendeu como ‘’xô’’.

Ele rolou os olhos por baixo do capuz.

— Não demore bambina. — Dando as costas à assassina, ele pulou do telhado do centro comercial.

Mila o viu, por baixo do tecido branco e pontiagudo que lhe cobria quase todo o rosto, se pendurar ao pequeno ferro que prendia uma placa de madeira escura com os números que localizavam aquele comércio a seus clientes.

Leônidas desapareceu pelas sombras.

Os ombros dela suavizaram. Ali, defronte ao globo lunar, queria que aquele brilho iluminasse a alma de todos aqueles que estavam sofrendo.

Encontrava-se tão hipnotizada que mal percebeu uma aproximação inimiga. O barulho de passos foram captados tarde de mais.

Mila virou para a escuridão do local e apenas pode desviar – abaixando-se – da espada que se anunciou com o seu brilho reluzente. Agachada, levantou o rosto e pode ver minimamente o seu reflexo na durindana.

Com as mãos enfeixadas por tecidos grossos, segurou a parte afiada da espada pesada, forçando-as contra a barriga do homem que havia lhe atacado. Com esse golpe ele soltou sua arma – para levar as mãos à barriga – e a assassina a capturou, levantando-se e mirando-a na cabeça do outro.

Iria perguntar quem era ele e o que queria, mas seus olhos subiram do velho de cabelos grisalhos a uma flecha de aço que vinha em direção a seu rosto. O homem a sua frente se aproveitou de sua distração, preparando-se para machuca-la com as mãos vazias mesmo.

Mila deu um salto para trás, apoiando as mãos no telhado e prendendo as pernas que estavam subindo aos ares ao redor do pescoço do homem mais próximo de si, jogando-o para fora do telhado. Logo após essa ação a mulher caiu um pouco para trás, sentada sobre os calcanhares, as mãos ao lado das pernas.

Com olhar de esguelha pode ressaltar que estava na borda do telhado. Mais um passo para trás e ela cairia e teria o mesmo fim do rapaz que matara. – mesmo que sua intenção inicial fosse apenas dialogar com ele em busca do motivo daquele ataque.

Ainda havia um inimigo intacto, esse que levou as mãos aos lábios – após ver que sua flecha não havia sido suficiente – e soltou um assobio qual Mila entendeu como um convite à morte.

Barulhos de pés se chocando contra o telhado foram ouvidos. Mais seis homens apareceram. Roupas de alta grife... Seriam alguém de importância ou mercenários bem pagos? Três haviam parado ao lado direito do homem que os chamou através do som, e três do esquerdo. Dois com flechas e quatro com armas, todos com apenas uma mira; Mila.

A morena analisava a situação e as chances que possuía. Se jogaria dali e, com sorte, conseguiria se apoiar no mesmo local onde Leônidas havia se sustentado há minutos – ou seriam horas? – atrás. Pensamentos que não serviram para nada. Cinco dos homens caíram no chão de forma mecânica, como se fossem uma sequência de dominós.

Mila analisou a cena com os olhos forçados a ver além do escuro. Após se acostumar com o véu de sombras notou sua irmã de frente ao último homem, que mirava uma arma para a mesma.

Não encontrou motivo algum para ajudar a mais velha, já que logo o rapaz estava desarmado. Sua irmã o segurava pelo pulso fortemente, chutando o centro de sua barriga com o joelho. Apenas quando o mesmo se curvou de dor ela pôs um fim à tortura, o acertando na cabeça com o cotovelo dobrado, fazendo-o desmaiar rapidamente.

  — O que seria de você sem mim, hum? — Deslizando as mãos pelo corpo, cessou-as na cintura.

A mais jovem olhou os homens caídos, suas vestes manchadas de vermelho como vinho, ou como as madeixas de sua irmã.

Mila não conseguia ver os olhos acastanhados de Cristal, entretanto arriscava imaginar que eles possuíam um brilho de contentamento.


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Notas finais do capítulo

Se encontrarem algum erro, avisem. Peguei como estava e revisei, mas uma coisa ou outra pode ter passado despercebida. Beijos!



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