Roots escrita por G Aqui


Capítulo 8
Capítulo 7- "Flowers"


Notas iniciais do capítulo

❊ ❋ OI OI GARERA ❋❊

UPDATE¹:
Ontem, 29/01/2017 foi dia da visibilidade trans, e também foi o mesmo dia em que esse capítulo foi ao ar (se vocês contarem a madrugada como parte do mesmo).
Eu passei o dia escrevendo, e, pelas contas, daria tempo de terminar de escrever tranquilamente e postar em uma hora mais "normal" (que não fosse 2:30 da madrugada), porém, tive um compromisso de última hora, o que atrasou todos os meus planos, por isso, só consegui terminar de escrever duas horas da manhã, e o texto ainda precisava ser revisado e publicado nos três sites (aqui no wattpad, no nyah e no spirit), e eu estava muito cansada, para completar.
Após ter terminado todo o processo, esqueci da vida e me joguei na cama, e só agora consegui parar para fazer um texto decente sobre.
Como escritora e militante LGBT, preciso ressaltar como o dia da visibilidade trans é importante para a sociedade como um todo, e de diversas formas diferentes.
Nesse quesito, mais do que nunca a representatividade das minorias sociais nas manifestações artísticas é de grande importância, pois, muitas vezes, é a forma mais fácil de levar uma nova informação para os "leigos".
Usando como exemplo o seriado "Raízes", transmitido pela Globo a partir do dia três de janeiro, que trouxe consigo uma discussão sobre racismo. Claro que todos sabem que a emissora ainda falha e muito na maneira que produz/reproduz seus conteúdos, porém, comparado à (poucos) anos atrás, já é uma evolução ela tratar de temas como esse, principalmente pelo fato dela atingir mais da metade da população brasileira.
Mas, apenas reclamar sem fazer nada para ajudar não adianta em nada, não é mesmo?
Perante a isso, anuncio que teremos sim umx personagem trans!
Deuses, eu estava esperando ansiosamente para contar, e achei que o momento era oportuno.
Desde que comecei a idealizar a história já estava em meus planos ter alguém trans na história, porém sempre tive certo receio de falar algo errado ou cair nos estereótipos, mas, depois de muita conversa pesquisa e uma ajudinha aqui e ali de almas caridosas, decidi que vou sim colocar umx transexual na história, e, é claro, sempre buscando me informar ao máximo.
Espero que possam me ajudar (e puxar a minha orelha caso eu diga algo errado), pois eu sei como representatividade importa (nunca vou parar de repetir isso) e quero contribuir ao máximo para fazer um mundo melhor e mais tolerante.

Agora sim, as notas:

Primeiramente (fora Temer), quero dedicar esse capítulo para todos os fantasmas que acompanham a história.

Queria dizer que para você, querido N... Sebastian, amor da minha vida e dono do meu core, que vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo, e que nenhuma distância ou pensamento conservador pode acabar com a nossa amizade. Até porque, o Universo estaria perdido caso isso acontecesse.

É isso meu povo, não tenho muito mais o que falar não.

Ah, não se esqueçam de ir abrindo o Youtube, Spotify, Deezer, SoundCloud ou qualquer outro que vcs usem para ouvir música. As de hoje são:

☛ Flower - Son Lux ☚

☛ Your Day Will Come - Son Lux ☚

☛ Chelou - Halfway To Nowhere ☚

☛ Tell- Son Lux ☚

Dá pra notar que eu tô bem viciadona em Son Lux né? haduashduahs

Enfim, aproveitem o capítulo, porque vai ter muita coisa para aproveitar, sério.

Vejo vocês nas notas finais.

~UmaVikingAnônima



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Capítulo 7 flowers

 

(abra em uma nova guia: https://www.youtube.com/watch?v=EhIyU6H_HkA)

Amor,

Tem sido tão difícil desde a sua morte...

Na primeira semana, não conseguia acreditar no que havia acontecido. Para mim era como se você fosse chegar logo, e tudo ficaria bem.

Mas você não chegou.

Então, na segunda semana, fui atrás de todas as provas possíveis, algo que me dissesse que ainda havia a possibilidade de você estar viva. Você precisava estar viva.

Na terceira semana, não levantei da cama para nada. Não fiz nada além de chorar até as lágrimas secarem. Nem comer eu conseguia... Nossos amigos ficaram preocupados.

Agora, já estou tentando voltar a minha realidade (que sem você é fria e depressiva).

Aceitar que tenho que seguir em frente é um tanto quanto complicado, mas uma hora isso vai ter que acontecer. E acredito que você não gostaria que eu ficasse vegetando na cama por tanto tempo.

Mesmo assim, tudo aqui me lembra você. As pessoas, as vozes, os lugares, os momentos... Tudo. É como se os deuses fizessem questão de me lembrar a todo momento que agora você não está mais ao meu lado. Que aquele futuro que imaginamos nunca vai existir.

Enfim, isso aqui está ficando muito depressivo, não tá? Acho que vou ter mais uma crise de choro quando terminar de escrever. Tem acontecido com bastante frequência. Mais do que eu gostaria, pelo menos.

Tem vezes que eu tento segurar o choro, mas só piora, e logo estou me afogando nas minhas próprias lágrimas.

Nem sei o que dizer, para falar a verdade. Me sinto completamente destruída.

Deuses, eu estou desviando do assunto de novo. Desculpa.

Eu sinto tanto a sua falta...

Fico imaginando como seria se você estivesse aqui.

Acho melhor parar por aqui, as lágrimas estão embaçando a minha visão e tá meio difícil de continuar escrevendo.

Não se preocupe, vou ficar bem. Prometo.

― Com amor, Cecília.

***

“Eu te amo” Melissa sussurra em meu ouvido, fazendo todos os pelos do meu corpo se eriçarem.

“Eu também te amo” respondo em meio a um gemido.

Seus lábios quentes encontram meu pescoço, nossos corpos se encaixavam perfeitamente. Seu perfume impregnado na minha pele. Deuses, eu estava indo à loucura.

Tomei seus lábios com os meus em um beijo selvagem e apaixonado.

Nos abraçamos, sem fôlego, e com os corações batendo à mil por hora. Assim ficamos, em silêncio, apreciando a segurança de estar nos braços uma da outra.

Sinto sua respiração mais pesada, então percebo que estava chorando.

“Mel...” Pego seu rosto com delicadeza e seco uma lágrima com o dedo.

“Promete que nunca vai me abandonar?”

“Claro que prometo! Eu te amo” Aperto mais o abraço. “Eu te amo mais do que tudo no mundo Melissa."

“E se eu me arrepender de ir embora?” Ela pergunta com a voz embargada.

“Você não vai se arrepender. Está finalmente realizando o sonho da sua vida. Claro que, se você quiser, ainda pode desistir...”

“Vem comigo... Nós vamos ser felizes juntas, independentemente de onde seja.”

“Sabe que não é assim que funciona. Não posso fazer isso. Também tenho as minhas próprias obrigações aqui.”

“É, você tem razão...”

Nós voltamos a ficar em silêncio.

“Mel”

“Sim?”

“Por favor, só me beija pela última vez.”

Ela olhou profundamente nos meus olhos, me deixando hipnotizada, e então, me beijou.

Tudo ficou escuro.

E bem nesse momento, eu acordei.

O Sol começava a invadir o chalé de Apolo com seus primeiros raios de luz, e mesmo assim a temperatura ainda estava baixa.

“Ou talvez seja só o seu coração desolado mesmo” Disse minha consciência.

E assim tão lindamente eu começava a batalha diária contra mim mesma, me obrigando a sair do chalé para comer alguma coisa.

A vontade de fazer qualquer coisa era mínima. Praticamente inexistente. O que, é claro, me fez quase desistir nos primeiros três passos, mas eu sabia, lá no fundo, que conseguiria, e, pensando nisso, fui em frente.

Consegui chegar na entrada do chalé.

O acampamento já não era o mesmo. Toda sua alegria e vitalidade pareciam plastificadas, vencidas.

― Vamos lá Cecília, você consegue. — murmurei.

Só que, a impressão que eu tinha era que o chão iria se partir ao próximo passo que desse. E, mesmo assim, o Tártaro parecia uma opção agradável de futuro.

Continuei andando, e, infelizmente, nada aconteceu.

Ao entrar no pavilhão do refeitório, Kevin veio correndo até mim.

― Bom dia... ― Sem ao menos responder, ele me abraçou. Não consegui segurar o choro.

― Pode chorar à vontade amiga... O que aconteceu?

― Eu não aguento mais Kevin. ― Disse em meio aos soluços. ― Preciso da Melissa.

― Ah meu amorzinho... Pensa que ela tá bem, em paz no Elísios. E não ia gostar de te ver assim.

Respirei fundo, tentando me controlar.

― É... você tem razão. ― Eu seco as lágrimas. ― Você tem razão...

― Cecília? ― Viro para trás. Era Sebastian. Como sempre, perito em esconder suas emoções, mas eu percebo um leve traço de tristeza em seu olhar.

― Oi... ― O encaro, parando para prestar atenção nos detalhes de seu rosto. Os olhos estavam vermelhos de uma noite mal dormida, suas olheiras mais profundas que o normal. O cabelo um pouco fora do lugar, como de quem tentou arrumar às pressas. Definitivamente, havia virado a noite, e esta não fora nada fácil.

Me aproximo e seguro seu rosto, o forçando a se abaixar para ficar da minha altura. Deposito um beijo na sua testa, e ele me abraça. Uma conversa sem falas, e que só nós dois entendíamos.

"Tudo vai ficar bem."

― É melhor comer alguma coisa, já emagreceu uns quatro quilos só esse mês. ― Seu olhar passava uma explicita mensagem: “E ai de você se me contrariar, sabe que estou certo”.

― Tááá booom paaai. ― Vou até a mesa do chalé sete revirando os olhos.

Logo, o refeitório está cheio de campistas famintos e alegres. Me pego várias vezes encarando a mesa do chalé de Atena, no lugar que antes sentava Melissa.

Um arrepio percorre minha espinha, e, ao virar para trás, tomo um susto desses da alma sair do corpo.

Lana estava parada igual um defunto atrás de mim

― Criatura, não faz isso pelo amor dos deuses eu quase morri aqui! ― Falo com o coração batendo na garganta.

― Desculpa, não queria te assustar. Não foi a intenção.

Pela primeira vez em horas (talvez dias), consegui dar um sorriso.

— Relaxa, eu só... me assusto fácil. Só isso.— Ela se senta na minha frente, ocupando o último lugar vago.

— Aqui, come. — Diz, me oferecendo uma maçã.

— Por que raios todo mundo começou a pegar no meu pé para eu me alimentar agora? — Mesmo assim, pego a fruta da sua mão.

— Claro que adianta. Eu juro que não sei como estaria se não fosse pela ajuda de vocês. Talvez já tivesse me matado na primeira oportunidade... Tudo é tão diferente agora, sabe? Como se nada mais tivesse sentido. Melissa sempre esteve aqui, nós fazíamos tudo juntas, e agora eu me sinto completamente perdida. Estou tentando seguir em frente aos poucos, e com toda ajuda que venho recebendo... Tenho certeza de que logo tudo ficará bem.

―Nossa... Eu não fazia ideia de tudo isso... Mas, olha, fique sabendo que, para qualquer coisa que precisar, estarei à disposição para te ajudar. Qualquer coisa, tá entendendo?

― Sim. ― Eu sorrio. ― Obrigada, mesmo.

― Agora vai, come essa maçã logo.

Olho para fruta em minhas mãos.

— Não tem nenhuma chance de você ter colocado algo nessa maçã, tem? Uma poção da morte ou algo do tipo... Vai que tem uma macieira encantada no chalé de Hades?

― Você anda lendo muitos contos de fada senhorita. — Lana coloca uma mecha de cabelo que estava sobre seus olhos atrás da orelha. — Mas pode ficar tranquila, não tem nada que vá te matar aí. E, se fosse para eu colocar alguma coisa nessa maçã, seria algo para te zoar, tenha certeza.

— Pois fique esperta, Lana Del Rey — Ela revira os olhos com o apelido. — — Nesse momento, Quíron e o Senhor D. chegam no pavilhão.

— Pode deixar, Raio de Sol — ela se levanta para ir para sua mesa —, pensarei melhor a respeito. — Engulo seco. Pelo seu tom, percebi que talvez eu tivesse acabado de me meter numa bela enrascada. E não queria nem ver no que ia dar.

***

— Hey, Ceci! — Sebastian me chama, eu estava conversando com Sophia, minha amiga caçadora. Ártemis viera novamente para trazer "informações confidenciais" para Quíron. Aquilo já estava virando rotina. — Pode vir comigo? Estava querendo conversar...

Eu olho para a caçadora, e ela apenas dá de ombros.

— Mais tarde nos falamos.

— Okay, vamos Sebas. — Nós nos despedimos dela e começamos a caminhar.

Por um tempo, até termos uma boa distância de qualquer outro campista, continuamos em silêncio, então, chegamos à praia e sentamos para observar a paisagem.

— Conseguiu alguma informação relevante? — Ele pergunta.

— Ela disse que Ártemis está trazendo informações do próprio Zeus. Todas as ordens estão sendo dadas diretamente por ele. A partir daí que os semideuses estão saindo para as missões. Agora, mais do que nunca, estamos fadados a fazer aquilo que somos destinados mesmo antes do nascimento: servir aos deuses, satisfazer suas vontades. Como se tivessem feito um favor ao terem transado com nossos pais, e o preço à se pagar por ter sangue divino correndo em nossas veias seja esse. Mas, enfim, não é? Se lamentar não ajuda em nada. — Eu cruzo os braços e encosto numa pedra, olhando as ondas irem e virem num ritmo calmo, molhando a areia. — E você? Soube de algo novo?

— Infelizmente, não. Está cada dia mais difícil ficar sabendo de alguma coisa dentro do acampamento... — Ele responde.

O silêncio paira no ar. Era como se algo precisasse ser dito, mas não sabíamos ao certo o que precisava ser dito.

Eu o observei. Sua postura, o brilho nos olhos, as mechas louras do seu cabelo. Algo estava errado. Depois de tantos anos, aprendi a decifrá-lo sem ter que perguntar nada, até porque, se fosse depender da sua boa vontade, eu nunca o entenderia.

O problema disso tudo, e que ele também aprendeu a fazer isso comigo.

— O que está pensando? — Questiona.

— Você não está bem.

— — O interrompo.

— Não foi uma pergunta. — Suspiro enquanto prendo o cabelo. — Olha, eu sei que não está sendo fácil encarar tudo isso, mas, vai passar. Pode parecer que não, nossas vidas estão viradas de cabeça para baixo, tão cheias de problemas que mal conseguimos parar para conversar mais, mas, eu te garanto: vai passar. Logo voltaremos a ser aqueles dois semideuses que sempre fomos, curtindo a vida com os nossos amigos, sem termos que nos preocupar com o dia de amanhã. E outra, nós já superamos tantas coisas juntos, não vai ser uma crise sem muita importância que vai nos derrubar, afinal, somos uma equipe, não somos? — Sebastian concorda com a cabeça. — E, você sabe, sempre vai poder contar comigo para o que precisar. Sempre.

— Por que você sempre tem os melhores discursos motivacionais? — Eu sorrio. — Anda, me dá um abraço.

— Te amo, okay? ― Digo, ainda dentro do abraço.

— Eu também te amo Ceci. — Consigo perceber um sorriso tímido em sua voz.

Passos apressados chamam a nossa atenção. Kevin vem correndo até nós.

— Gente... — Ele se apoia nas pernas para tomar fôlego. — Vocês... Precisam... Ver... Isso. — O filho de Afrodite fazia pausas para tentar, em vão, normalizar a respiração. ― Chalés... Apolo...

Eu olho preocupada, e antes dele falar qualquer outra coisa, saio correndo em direção ao problema, obrigando os dois a irem comigo.

Quanto mais perto chegávamos, pior parecia a situação. Tive a impressão que todo o acampamento estava reunido ali naquela confusão.

Perguntei-me o que poderia ter acontecido. Mais um filho dos três grandes? Um deus caído? Uma ovelha verde com asas que falava espanhol?

As possibilidades eram inúmeras.

Consegui, empurrando um ou outro (poste) campista, me aproximar.

Ártemis, suas caçadoras, até mesmo Quíron e o Senhor D. encaravam a cena sem saber como reagir.

Meu pai estava flutuando acima de nossas cabeças, com uma névoa verde esquisita envolvendo seu corpo. Parecia estar desacordado, ou, talvez, morto.

“ ”

Uma voz do além, muito macabra falou em alto e bom som.

“SEU TEMPO ESTÁ SE ESGOTANDO.”

A voz parecia vir de dentro da minha cabeça, e, ao mesmo tempo, de equipamentos de som ligados no último volume. O pior de tudo é que, aparentemente, não era apenas eu que estava ficando atordoada.

“EU LHE DEI A ESCOLHA DE FAZER ISSO DO SEU JEITO, O JEITO MAIS FÁCIL E MELHOR PARA TODOS. PORÉM, AO QUE PARECE, VOCÊ NÃO ESTÁ MUITO A FIM DE COLABORAR.

PORTANTO, FAREMOS DO MEU JEITO. E GARANTO QUE SERÁ BEM, BEM DOLOROSO.”

A “Voz” deu uma gargalhada digna de um vilão da Disney.

“VOCÊ SABE QUE, QUANDO EU QUERO ALGO, EU CONSIGO. MAS, INFELIZMENTE, FALTAM ALGUMAS PEÇAS NO MEU XADREZ.”

“E AGORA, EU PERGUNTO, PARA TODOS QUE PUDEREM OUVIR: QUEM SERÁ HOMEM O SUFICIENTE PARA ME ENFRENTAR?”

A pergunta reverbera dentro de mim. Ecoa até o fundo da minha alma.

“ A PRÓXIMA JOGADA É SUA.”

Como resposta, um raio rasga o céu no horizonte. Seguido por um trovão que fez todo chão tremer.

A névoa some, Apolo cai no chão, atordoado.

Ninguém se atreve a dizer palavra alguma.

Até que uma caçadora quebra o silêncio:

— Onde está Ártemis?

— Ela... Ela desapareceu. — Quíron responde. Todos esperando uma atitude de sua parte.

— Quero todos na Arena daqui à uma hora. — Quem fala, na verdade, é o Senhor D. E em um tom que impede qualquer um de discordar. — Podem voltar para suas atividades agora.

Aos poucos, aqueles que se "despertavam" do choque, iam tomando seu rumo.

Percebo que Lana, Bárbara e Charlie conversavam com Wendy e Arthur num canto. Decidi ir até lá, seguida de Sebastian e Kevin.

— E aí? — Pergunto.

— Sério, que merda foi essa que acabou de acontecer? — Bárbara pergunta.

Ninguém pareceu saber responder ao certo. Sebas abriu e fechou a boca para falar alguma coisa, mas no final, desistiu.

Uma lembrança veio em minha mente. Um sonho que havia tido há um tempinho.

― Tenho uma teoria, mas acho melhor não falar nada, pelo menos não aqui.

***

― Então, no caso, esse “pai” seria Zeus, certo? ― Sebastian me pergunta.

Estávamos todos reunidos no Q.G., onde ninguém que não fosse confiável ouviria nossas conversas.

― Sim, ou, pelo menos, é o palpite mais lógico. Me lembro também que, quando me afoguei no lago, as vozes disseram que ele só havia feito aquilo para proteger o filho. Se estiverem falando de Zeus, significa que ele fez algo para proteger o filho.

― Só tem um problema: De qual filho estamos falando? — Charlie pergunta.

― Meu palpite é Apolo. Ele é o único que está envolvido em praticamente todas as tretas atualmente. Os outros são consequência.

— Até faz sentido... e por que precisaria proteger Apolo. — Diz Sebastian.

— E de quem ele está protegendo. Não sabemos quem é o dono da "Voz". — O gótico trevoso filho das trevas completa. — Se Zeus teve que proteger Apolo, que é um deus, ou melhor, era um deus, com todas as habilidades que tinha, esse cara é realmente muito perigoso.

— Claro que sim, e é isso que me preocupa. Se ele é tão poderoso e não está do nosso lado, pode acontecer mais uma guerra! — Suspiro. — E eu até entendo todas as novas regras do acampamento para nos proteger e tal, mas, que garantia temos que tudo isso vai ser resolvido somente pelos deuses? Eu não me lembro de nenhuma vez em que eles não precisaram pedir ajuda dos semideuses para resolver os grandes problemas. Por que seria diferente agora?

— Mas, Ceci, os semideuses estão indo sim para as missões, só que agora de uma maneira diferente...

— É que essa coisa de abaixar a cabeça e ficar recebendo ordens não é para mim. Vai contra tudo o que eu sempre lutei fora do acampamento. Não tem por que me submeter a isso agora.

― Porém, que alternativa temos por enquanto a não ser obedecer?

Eu suspiro e saio de cima da mesa.

― Não sei... Pelo menos não agora. Vou pensar em alguma coisa e falo para vocês. Vai dar tudo certo.

― Olha, não precisa se sobrecarregar, está bem? Todos nós estamos juntos nessa, é injusto que só você tenha todo o peso do mundo nas costas. ― Charlie coloca a mão no meu ombro.

― Vamos... Fazer uma pausa de cinco minutos. ― Sugiro.

― Tudo bem. ― No mesmo segundo em que Sebastian fala, alguém bate na porta.

Vou até lá, e abro uma frestinha para ver quem era. Aparentemente, Wendy tinha pintado o cabelo de verde-água.

― A senha, por favor. ― Peço, por garantia.

Caralhinhos verdes voadores. ― Ela bufa. ― Abre logo Cecília, tenho que mostrar uma coisa para vocês.

― Tudo bem. ― Fecho a porta para tirar o trinco e depois abro novamente.

― Galer... Ué, cadê todo mundo? ― Ela pergunta ao perceber que o Q.G. estava praticamente vazio.

― Kevin está com o Elliot. Disse que precisava resolver algumas coisas importantes com ele antes de vir para cá. ― Respondo.

― Arthur foi cobrar uns filhos de Ares que estavam devendo para ele. ― Sebastian completa.

― E a Lana e a Bárbara? ― No mesmo momento, um pedaço da parede tremula, e as duas irmãs surgem, atravessando-a.

― Oi gente. ― Lana fala.

― O Instituto Xavier não fica para esse lado não. E nem nessa história. ― Comento. ― Desde quando vocês tem os poderes da Lince Negra?

― É só um tipo de viagem nas sobras, não somos mutantes, relaxa. ― Barbs responde.

― ês chegaram posso mostrar isso aqui: ― Ela tira uma dracma da bolsa. ― Pode parecer uma dracma qualquer, mas, na verdade, tem algo especial nela. ― Ela estende a mão e faz aparecer um pequeno arco-íris na nossa frente. Depois, joga a moeda dentro dele. ― Chalé de Íris, por favor. ― O arco-íris some, dando lugar para uma porta branca. ― E aqui está! ― Ela diz, animada, abrindo a porta. O chalé todo colorido e cheio de filhos de Íris aparece.

Algo que eu nunca tinha reparado antes era que todos os filhos de Íris eram realmente coloridos. Tanto o cabelo, quanto as roupas, os acessórios, e, em alguns casos, as tatuagens. A impressão que eu tive é que todos eles faziam parte do FÃ-CLUBE CRY BABY OFICIAL©.

— Eles não podem nem nos ver, nem nos ouvir, somente se passarmos por essa porta.

— Você quer dizer que inventou um sistema de teletransporte através de mensagens de Íris? — Sebastian pergunta, com os olhos brilhando.

— Sim. Na verdade eu não fiz isso sozinha. É um projeto meu, de alguns dos meus irmãos, outros filhos de Hécate e — Ela o responde. — Ainda é um protótipo, então não é 100 seguro. Por enquanto nada de distâncias muito longas nem pessoas passando. Somente objetos inanimados.

— Cara, quando isso estiver pronto vai ser tão incrível! Você já imaginaram as possibilidades que podemos ter? — O filho de Atena diz, animado.

Wendy desfaz o arco-íris e a moeda aparece novamente em sua mão.

Eu vou até o canto da sala para passar um café e colocar alguma música para tocar.

(abra em uma nova guia: https://www.youtube.com/watch?v=-LWKCCR-JzY)

Tudo estava ficando tão confuso, tão fora de controle.

“Todos nós estamos juntos nessa”, Charlie dissera.

A minha única dúvida era se eu também estava com eles.

Depois que Mel se foi, tudo ficou diferente.

Eu não era mais a mesma.

E sabia disso.

Mas meus amigos também sabiam.

E se eu estivesse me afastando deles sem perceber?

— Não posso parar. Se eu paro eu penso, se penso eu caio. — Sussurro para mim mesma.

— Falando sozinha? — Alguém pergunta e eu dou um pulinho de susto. Ao virar, percebo que era Lana.

— Você tem que parar de chegar de fininho, eu ainda vou acabar tendo um infarto. — Eu sorrio.

— Dessa vez foi de propósito, só para te encher o saco. — Ela passa a mão no cabelo. — Se não se importa, vou pegar um pouco de café. — Dou de ombros.— E então, no que estava pensando?

— Nada muito importante, para falar a verdade. Só em como a minha vida mudou para caramba desde o mês passado.

— Mudanças são boas na maioria das vezes. Os resultados podem não ser tão imediatos, mas, de alguma forma, sempre nos fazem crescer.

— É... Espero que sim. — Olho para ela.

Sentia que não conhecia nem um terço de quem aquela garota realmente era. Seus olhos diziam que tinham visto tantas coisas, muitas delas difíceis de superar. Dor, sofrimento, tristeza, até mesmo morte.

Seu verdadeiro eu ainda era um mistério.

E aquilo me preocupava.

Me preocupava por não ter a certeza se poderia confiar completamente nela ou em seus irmãos.

Ao mesmo tempo em que eu falava para mim mesma não julgar as pessoas por quem elas foram, por que todos podem evoluir, também me dava um certo frio na barriga não conhecer o terreno que estava pisando.

Que garantia eu tinha? Poderia me deparar com uma mina terrestre a qualquer momento,

Mas, se eu não confiasse agora, nunca descobriria quem ela era de verdade.

E, de certa forma, ela já estava dentro do jogo. E todos sabem que uma vez dentro de um jogo você só sai se concluir todas as fases.

Ou se morrer no meio do caminho.

— Cecília? Tá tudo bem? — Sua voz me traz de volta à realidade.

— Desculpa... Tá sim. — Eu me viro para pegar uma xícara de café e evitar que ela visse minha cara de bunda.

Nesse momento, Sebastian abre a porta e Arthur entra.

— Ceci! — Ele vem correndo até mim. — Quíron, o Senhor D. e seu pai querem falar com você.

— Eita porra. — Só consigo falar isso. — Fudeu. — Comecei a repassar tudo o que eu tinha feito nos últimos dias para lembrar de algo errado que tinha feito, mas não lembrei de nada.

— É melhor você ir antes que piore para o seu lado.

— Tem razão. Adeus pessoas. Vejo vocês no meu enterro. Quero ver todo mundo chorando se não vou puxar o pé de vocês quando estiverem dormindo.

(abra em uma nova guia: https://www.youtube.com/watch?v=BgP9tzt9_Z8).

Sai do Q.G. com uma lanterna na mão, em direção à saída mais próxima. Nós havíamos estudado melhor aqueles túneis e encontrado várias saídas, cada uma em um lugar estratégico do acampamento.

Entrei no corredor que dava acesso à saída perto da casa grande.

Andei alguns metros, até perceber que algo estava estranho. Não entendi bem o que era, mas continuei mesmo assim.

Continuei por mais um pedaço, e entendi o porquê de ter achado que algo estava estranho. Era porque realmente tinha algo estranho. Eu estava na saída errada.

Decidi que era melhor continuar. Já tinha andando até a metade do caminho, voltar tudo e entrar na saída certa iria demorar demais, e, de um jeito ou de outro, estaria dentro do acampamento, então era só andar até a Casa Grande.

Comecei a cantar Born To Die para espantar o cagaço de estar andando sozinha com só uma lanterna para enxergar o que tinha na minha frente. Se algum monstro fosse me atacar por trás eu estava ferrada.

Finalmente, senti o ar puro invadindo meus pulmões. O túnel estava acabando.

Quando saí, não reconheci o lugar.

Árvores de copas altas e cheias impediam a passagem da luz, então tudo estava muito escuro, mesmo que ainda estivéssemos no meio de uma tarde ensolarada. Caminhei sem saber para onde ir. Quase tropecei três vezes nas raízes das árvores e por pouco não destruí um formigueiro.

Ouvi o barulho de água corrente, o que me deu certa esperança, porém, parei no meio do caminho ao ouvir vozes. Duas pessoas discutiam. Corri para me esconder em algum lugar.

― Escuta aqui, eu já estou cansado disso! Parece que você tem vergonha de estar comigo. — Percebi que quem falava era Kevin. Ele e Elliot aparentemente estavam discutindo.

— Não é isso. Você sabe como é difícil para mim. Antes de você eu não sabia... — O namorado se defendia. Kevin o interrompeu.

— Difícil? Difícil? Faça-me o favor. Você não sabe o que é algo ser “difícil” de verdade. Não passou nem metade do que eu passei para chegar aqui, sabe muito bem disso, e agora vem me falar que é difícil?

— Para Kevin... — Ele pede.

— Não é problema meu se você tem vergonha de ser quem realmente é, ou de se assumir. Se está com problemas vá ao psicólogo, porque eu é que não vou ficar sendo brinquedinho sexual de gay que não saiu do armário mas que tem fogo. — Ele continua. A raiva era nítida em sua voz, misturada a algumas lágrimas de tristeza.

— Por favor, para com isso... — Elliot levanta a voz.

— Como você acha que eu fico nessa história? Você acha que eu fico feliz por não poder andar com você de mãos dadas, ou de não poder falar que você é meu namorado só porque você não quer isso. Para o seu governo, tem vários caras querendo ficar comigo, e, se você vacilar, logo eu desisto desse joguinho que está fazendo comigo e parto para o próx... — Numa fração de segundos, tudo acontece. Elliot levanta a mão, eu ouço um estalo forte e Kevin cai no chão, com o rosto vermelho onde ele havia batido.

Seguro o impulso de correr até eles para impedir Elliot de fazer mais alguma coisa, mas, com medo do que ele poderia fazer comigo, permaneci quieta para que ele não me ver, pedindo aos deuses que ele não machucasse mais meu melhor amigo.

Uma lembrança veio em minha mente. Algo que eu fazia de tudo para esquecer.

Eu e Melissa estávamos andando de mãos dadas na rua, até percebermos que um grupo de garotos nos perseguia.

Um deles tinha um pedaço de madeira na mão.

Nós tentamos correr, mas eles nos alcançaram.

Foram longos minutos apanhando. Eles nos chutaram, batiam, estapeavam.

Mas o que mais doía não era meu corpo, e sim meu coração, principalmente por estar ouvindo Mel suplicar para que eles parassem.

Eu iria morrer ali, e ela seria estuprada por aqueles monstros, e depois sabe-se lá para onde a levariam.

A sirene do carro da polícia foi como a voz doce das nove musas.

Depois disso, ficamos internadas por duas semanas.

Nunca soube se eles foram presos ou não.

Mas só de lembrar daquele dia meu coração explodiu de dor.

Ouço a respiração descompassada Elliot, e depois, ele sai correndo, desaparecendo por entre as árvores.

— KEVIN! — O abraço. — Deuses... O que ele fez... — Olho atentamente para seu rosto. Além do tapa, seu olho estava roxo e inchado. Não fora a primeira vez que ele tinha sido agredido.

— Me desculpa... Não era para você ter visto isso... — Eu encosto a mão onde estava machucado e uso meus poderes de cura.

— E você continuaria deixando ele te bater até você morrer nas mãos dele? Eu não quero ver você perto daquele idiota nunca mais, está me ouvindo? Nunca mais. E ai dele se tentar encostar mais um dedo sequer em ti.

— Só me promete que não vai machuca-lo, nem mandar ninguém fazer isso?

— Eu não posso prometer nada disso, só que vou fazer de tudo para te proteger. — Ele me olha com tristeza. — Vamos voltar para o acampamento, e falar com o Quíron ou o Senhor D. sobre isso. — Me lembrei que eles haviam me chamado para falar alguma coisa.

— Tudo bem. — Eu o ajudo a levantar.— Talvez seja melhor mesmo.

***

— Cecília, depois do que aconteceu hoje mais cedo, recebemos uma ordem de selecionar um grupo de semideuses para uma missão de resgate, para irem atrás de Ártemis. — Quíron explica.

— Entre eles, está seu irmão, Will Solace, conselheiro chefe do chalé de Apolo. — Senhor D. completa.

— Perante a isso, precisaremos de alguém para substituí-lo enquanto está na missão. — Meu pai termina. — E, nesse tempo que estive aqui no acampamento, pude observar todos os meus filhos com muita atenção, e, em conjunto, tomamos a decisão que não haveria ninguém melhor para ocupar o cargo de conselheira chefe do que você.

— Espera, como assim? Por que eu? O que eu tenho de tão especial para ser conselheira do meu chalé?

— E então, aceita? — Quíron pergunta.

Eu paro um segundo para pensar.

O que teria, afinal, a perder com isso?

— Sim. — Digo finalmente. — Aceito.


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Notas finais do capítulo

É isso, acabou por hoje.

Eu sei que tiveram algumas partes que podem ter ficado bem pesadas, mas a verdade algumas horas não pode ser omitida.

Espero mesmo que tenham gostado. Acho que esse um mês, seis dias e duas horas de atraso valeram a pena, pois o capítulo ficou bem completo.

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Até o próximo capítulo ♥

~UmaVikingAnônima



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