Notas de Sal e Papel escrita por Mayhem Noyer
Chegará o dia em que tudo será pouco
Em que tudo será comum
Chegará o dia em que os poemas não bastarão
Chegará o dia em que os cigarros não bastarão
Queimarão a nossa alma e consumirão o nosso corpo
Chegará o dia em que o álcool não será suficiente
Chegará o dia em que a realidade será tão torpe
Tão fria, nua e indelicada
Que a musica não bastará
As drogas não bastarão
As lágrimas não bastarão
Não bastará o ódio nem a revolução
Não bastará o ouro nem as legiões
Não bastará o café
Não bastará o futebol
Não bastará o sexo ou o suor
Não bastará o debate
Pois não haverá quem deseje conversar
Sobre a imaterialidade das coisas
Sobre o absurdo da amizade
Sobre a nossa maldita vontade
De aventurarmo-nos no escapismo
Chegará o dia em que o céu estará morto
Eu próprio estarei morto
Mortos os meus poemas
Mortos os meus olhos
Morto, silencioso
Como um pântano sem acordes
Um funeral no dia de domingo
Chegará o dia em que as multidões se reunirão
E gritarão, tomada por completa revolta
Que seus direitos devem ser respeitados,
Elas querem sua coleira de volta
Chegará o dia em que não haverá medo
Não haverá malicia
Não haverá inveja
Não haverá escárnio nem o mais inocente sarcasmo
Não haverão deuses fantásticos e suas leis
Não existirão pessoas e suas opiniões
Não importarão as mentiras
Não importarão os nomes
Não importarão as arvores
Não importarão as casas
Não importarão as feiras e os cachorros da rua
Não haverá sol
Nem lua
Nem brisa
Haverá frio
Resignação
E depois,
Silêncio.
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