War of Hearts escrita por Himiko


Capítulo 2
Capítulo II — A luz


Notas iniciais do capítulo

Olááá amores!
Eu não aguentei de ansiedade e agora tô trazendo o segundo. Obrigada pelo apoio, adoro vocês!

Boa leitura.



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Larguei o diário no sofá e me levantei num pulo, cerrando os punhos com tanta força a ponto de machucar minhas palmas graças as unhas. Aquilo só podia ser uma piada de muito mal gosto comigo. Havia todo o tipo de coisa estranha, maluca e inacreditável naquelas páginas, histórias que fariam Stephen King mijar nas calças. 

Tudo ia desde fantasmas até cães do inferno, orações em latim para exorcismos, como desenhar pentagramas de proteção e muitas outras coisas... Impossíveis. Abandonei a leitura assim que uma história sobre Robert e um tal de Rufus atrás de uma coisa chamada kitsune surgiu nas páginas seguintes. Era loucura demais para uma pessoa só. Me afastei do livro, me levantando e encaixando a mão contra a testa. Ah meu Deus, no que é que eu estava me metendo?

— Ok, chega. — murmurei para mim mesma, coçando a nuca em busca de algum apoio — Isso é demais pra mim. 

Meus olhos voaram até a carta novamente. Os nomes que Robert citara no texto não haviam abandonado minha cabeça. David Berkowitz e Kris Warren, hun? Eles seriam capazes de ajudar minha mãe? Não queria que eles tivessem a cura, mesmo no mundo sobrenatural — o que é impossível — ela não deveria existir. Mas, não sei, talvez eles... Eles pudessem me falar mais sobre meu pai. 

A nomenclatura estava prestes a rasgar minha garganta. Não me parecia certo chamá-lo daquela forma, pai. Ele não me criou. Nunca me visitou, nunca esteve comigo quando fiquei doente, nem nunca assistiu alguma peça de escola qualquer. Ele jamais agiu como um pai agiria. Mas aí me vinham as desculpas da caçada — e como eu poderia negar aquilo? Se Robert fosse mesmo um caçador dessas coisas, ele estava certo; eu jamais iria querer participar de um mundo como aquele. E agora tudo me parecia completamente confuso. Se a carta estivesse falando a verdade, todas aquelas coisas viriam atrás de mim. E principalmente da minha mãe. 

Todos aqueles "e se" estavam me enlouquecendo. Mas já tinha certeza de uma coisa; eu precisava encontrar aqueles Berkowitz e Warren, o mais rápido possível. 

Caminhei até o quarto de minha mãe, onde ela ainda dormia. Joyce parecia melhorar uns trezentos por cento quando dormia, mas assim que seus olhos se abriam novamente, a doença sem nome lhe atacava. Aquilo estava me deixando possessa, me fazendo sentir pequena, inútil e impotente. Lentamente, mamãe estava morrendo, e eu tinha de assistir sua morte de braços cruzados. 

Mas agora eu tinha a opção do mundo "além do horizonte". E se lá houvesse uma cura?

Após ter certeza de que ela estava estável, voltei para a sala de estar, me jogando contra o sofá e pressionando as têmporas. Ok, aqueles dois não seriam encontrados tão facilmente, eu não ia encontrar suas caras provavelmente-nem-tão-sorridentes na barra de pesquisa do Google ou do Facebook. Eu precisava ir mais fundo. Então, por algum motivo, resolvi pensar como um detetive. Tinha de encontrar seus endereços ou telefones, e a única informação que tenho são seus nomes. Eu poderia tentar jogar as identidades no site de pesquisas da delegacia de Nova York, mas não me seria útil. A carta dizia que eram do Kansas, mas se os mesmos trabalhassem no possível mesmo ramo de Robert, poderiam não estar mais no mesmo lugar. Fora que é um estado enorme. 

Então se eles estivessem se mudando, precisariam comprar coisas. Estalei os dedos, pescando o laptop do outro lado do sofá e pousando-o em minhas pernas. Eu precisava buscar pelos cartões de crédito. 

{...}

— Obrigada pela informação, você ajudou muito. Meus tios são mesmo terríveis com telefones... É, boa noite, e obrigada mais uma vez.

Desliguei o telefone, passando as mãos pelo rosto. A moça do banco havia sido muito gentil em passar literalmente o dia inteiro comigo pendurada no seu ouvido falando sobre os falsos tios que eu precisava encontrar. Eu adoraria poder ter dado a ela alguma gorjeta, mesmo a achando meio tola por ter caído numa mentira tão ruim quanto a minha. 

Aconteceu que os cartões de crédito dos dois homens haviam sido cancelados. Ela me ajudou a procurar outros registros mas não foi capaz de encontrar nenhum, e no fim das contas me entregou o quatro últimos números de telefone de David Berkowitz. Tudo o que me separava dos dois agora eram aqueles quatro malditos números. Haviam uma possibilidade imensa de números que eu precisaria testar, investigar e ligar, e eu nem sequer sabia por onde começar... 

Até o meu telefone tocar, revelando a imagem tranquilizadora e milagrosa de Sarah. 

Sarah Grimes era uma das poucas amigas mais jovens que eu tinha. Com dezessete anos, ela dividia a mesma classe que eu na faculdade de jornalismo, e era simplesmente um gênio da computação. Se alguém poderia me ajudar com aquilo, seria definitivamente ela. Sorri aliviada e encaixei o celular entre o ombro e a orelha, equilibrando o peso do computador em minhas coxas. O diário servia como base, e quase me xinguei em voz alta ao fazer aquilo. 

— Sarah, você não faz ideia de como me ligou na hora certa.

Ai meu Deus, Hay, no que foi que você se meteu?

— Você está com seu computador por perto?

Eu lhe expliquei todos os detalhes, deixando de fora partes como a carta do meu pai morto e seu diário, os prováveis dois tutores que ele havia deixado para mim e o fato dos dois claramente usarem identidades falsas. Em alguns poucos minutos, ela conseguiu peneirar e reduzir uma lista de cem números para apenas oito. Eu seria capaz de beijá-la de tão grata que estava. Nos falamos sobre mais algumas bobagens e logo precisei desligar, sentindo meu estômago lentamente ceder a curiosidade e começar a revirar-se de ansiedade. Com a lista em mãos, disquei o primeiro número.

Este número não existe, tente discar novamente. 

E essa não foi a última vez que ouvi essa mensagem. Os três números seguintes caíram na mesma casa, o outro terminou num lar para idosos, o sexto caiu num sex shop (e eu nunca fiquei tão envergonhada na vida), e o sétimo fora atendido por um restaurante tailandês. Bufei com todos os fracassos, sentindo-me bem mais que frustada. Estava ficando irritada com a minha incapacidade de encontrar um maldito número telefônico. 

Sem esperança alguma, tentei o oitavo número. Ele permaneceu na linha de chamada por alguns segundos, e após o quinto toque, alguém atendeu.

Alô? — a voz era grave e profunda, e levemente rouca, como se tivesse acabado de acordar.

— David Berkowitz? 

Os sons de lençóis se movendo e as molas de uma cama rangendo confirmaram minha teoria sobre o sono. Ou então ele estava transando com alguém e eu estava sendo uma inconveniente empata-sexo, o que não seria a primeira vez que isso estaria acontecendo. Não é fácil ser uma universitária em Nova York, se quer saber.

É, sou eu. Quem fala?

— Meu nome é Hayden Mills, e preciso de sua ajuda. É urgente.

Houve um silêncio de quase um minuto do outro lado da linha. Mordi o lábio inferior, nervosa. E se ele fosse um assassino em série? E se toda aquela ladainha de Robert fosse mentira e eu estivesse entregando meu nome a um psicopata? Ah merda, por que eu tenho que ser tão impulsiva?! Respirei fundo atrás de calma antes de chamar seu nome novamente.

— David?

Está bem, Hayden. Onde você está?

De repente, entrei em pânico de novo. Eu deveria falar minha localização? Por telefone? Para um estranho que eu não conheço? Levei os olhos até o relógio da parede a minha frente, que ainda marcava sete horas e doze minutos.

— Me encontre na entrada do Met, em Nova York, as nove da noite. É realmente urgente.

Desliguei o telefone antes que ele pudesse dizer alguma coisa, desabando as mãos contra minhas pernas e apertando meus próprios dedos. Cristo, no que é que eu estava me metendo?

Assim que o relógio marcou o horário que eu havia dito, me levantei das escadas do Metropolitan Museum of Art e passei a observar todos que passavam ao meu redor. Qualquer um poderia ser David, ou Kris, supondo que fossem amigos ou parceiros. O diário de Robert pesava em minha mochila, e a carta que descansava em minhas mãos parecia fumegar. Ansiosa era muito pouco para descrever como eu me sentia, não conseguia ficar parada, vendo os táxis amarelados correrem pela rua diante de mim.

A cidade de Nova York parecia mais tranquila que o normal, como se quisesse me contrariar propositalmente. Enquanto eu revirava as mãos em nervosismos, as pessoas ao meu redor riam e conversavam despreocupadas, checando seus smartphones e não dando a mínima para meu quase desespero. É, obrigada nova-iorquinos! Que bela ajuda vocês me deram aqui. 

Abri o diário de Robert afim de me distrair. Por mais insanas e fantasiosas que parecessem, as estórias naquele livro eram viciantes. Eu jamais conseguiria ver coisas como aquelas andando livremente pelas cidades, me parecia muito errado. As realidades, para mim, eram diferentes, talvez até mesmo paralelas. Pense só, um cão do inferno na sua cola porque fez um pacto... Isso não é loucura? 

Fechei o diário e voltei a me sentar nas escadas. Apoiei o queixo em minha mão enquanto meu cotovelo descansava em meu joelho. As botas de couro iam até metade da canela, a calça jeans grossa me mantinha quente e a jaqueta em meus ombros impedia o vento frio de me açoitar. A ansiedade diminuíra o suficiente para que meu estômago parasse de dar voltas, e agora eu conseguia respirar sem que meus pulmões ardessem. Eu não estava com medo do que iria encontrar; só conseguia imaginar um senhor de talvez cinquenta anos, com cabelos grisalhos e, sei lá, óculos de grau. Poderia ser maior que eu, alguns centímetros a mais... Eu não tinha ideia. Passei a mão pelos cabelos, e voltei a assistir a rua relativamente calma onde me encontrava. As pessoas me olhavam atravessado, provavelmente se perguntando o porquê de uma jovem estar sentada na escada do museu no meio da noite. Dei de ombros e voltei minha atenção ao diário do Singer. 

Estava tão distraída que não percebi quem se aproximava de mim. Quando ouvi então a voz rouca e perigosamente próxima chamar pelo meu nome, levantei-me do degrau num pulo. E quando ergui a cabeça, não pude ter uma surpresa ainda maior.

— Hayden Mills?


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Vejo vocês nos comentários!

Até o próximo ♥



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