A teia e o seu calor escrita por Aeikin


Capítulo 1
Capítulo Único: Veja-a


Notas iniciais do capítulo

Fic fofínea. :~



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A teia e o seu calor

Ela virou o corpo para olhá-lo. O fraco som da água se mexendo fez Talon abrir as pálpebras.

— Posso dormir? – Ela perguntou-lhe, com grandes olhos agora próximos.

— A água esfriará.

Nos lábios levemente rosados uma simples curva nasceu.

Katarina voltou à posição inicial, apoiando sua cabeça na clavícula esquerda do torso moreno de Talon. Fechou os olhos, continuando com a sua mão direita entrelaçada aos dedos dele superficialmente.

Ele olhou para baixo, vendo o corpo dela imerso na água da banheira.

O cheiro do cabelo recém lavado perfumava o ar ao seu redor. As gotas impertinentes voltavam a pingar. Ondas circulares se formavam no tênue líquido, propagando-se. O som das quedas unia-se ao das suaves respirações, juntos compunham o silêncio.

— O seu cabelo está laranja.

Talon sentiu a gargalhada vazia sob sua pele, as gotas que lá permaneciam resfriavam.

— Ele está desbotando. – Ele imaginou a forma como ela o olharia se caso olhasse. Katarina não o fez. – Te incomoda?

— Não sou eu quem está com o cabelo laranja. – Abafou um riso ao dizer.

— Não, não é você quem está com o cabelo laranja.

Os dentes dela apareceram quando repetia aquela frase de uma forma tão casual. O sorriso brincava como se viesse de uma criança travessa, e por simplesmente perceber aquilo, Talon franziu o cenho.

Aquela atitude não era diferente de nenhuma. Aquele sorriso era o mesmo que transbordava comodidade pura. As palavras o atingiam com a mesma malícia, e se pudesse ver seus olhos, ele teria certeza que ela o olhava como o costumeiro durante todos esses anos.

E o que apenas ecoava em sua cabeça era: Por quê? Aquele conforto inflava seu peito.

O padrão continua ali. As rotinas feitas de descaso e ardor permaneciam, Talon tinha certeza. O desejo e agressividade andavam lado a lado, mas naquele exato momento, ele só queria retratar a suavidade com que aquela mão o tocava.

Retratar para eternizar.

Pode perceber as coisas deslanchando. Coisas. Pequenos atos vindos dela, pequenas alterações de humor vindo dele próprio, coisas estúpidas e detalhes que só faziam sentido quando pensava neles.

Ou talvez eles estivessem envelhecendo. Talvez aquela barba que ele não tinha mais vontade de fazer fosse um indicador. Aquele cabelo vermelho já não era mais vermelho assim. E aquela efemeridade já não o dava tanto medo.

O conforto apenas crescia. Sentia-se um tolo, mas por dentro a sua cabeça ria. Os anos em que se agarrara, o receio da velocidade do tempo e o destino como as cordas de uma harpa não significavam muito. E não significavam muito há muito tempo.

Somente agora o percebera. Percebera quando o som dos pingos se juntando a água da banheira não fazia eco.

Talon sabia que tinha sido abandonado. Katarina o deixou sozinho no plano da paixão e talvez nunca voltasse. Não o avisou e não lhe disse adeus. Não houve desculpas, e ele sabia que não havia o porquê. Mas não se sentiu sozinho.

Se alguém o pedisse, Talon descreveria o cheiro de Katarina. Se quisessem uma caricatura ou uma descrição dela, ele faria fielmente. Se fosse para montar um arsenal, ele montaria do gosto dela. Se fosse para escolher suas roupas, cozinhar seus pratos preferidos e até viajar pelo mundo, Talon faria sem pensar muito, como se fosse de sua própria natureza.

Sabia até imitar a sua risada, imitar o seu jeito, prever suas ações.

E ele viu que a teia onde se encontrava já não o apavorava mais. Katarina lhe dava a ilusão de paz e segurança. Mas como acreditar em paz se nunca a tivera? E como acreditar na segurança se ela era feita por suas mãos?

Não importava. Ele queria protegê-la. E também pela primeira vez, não era dele. Não queria mais machucá-la, não sentia mais o desejo sádico de vê-la quebrando, apesar de saber que não conseguiria o cumprir. Sabia que a machucaria, como por todos esses anos, mas finalmente não estaria fazendo de propósito.

Ele amava ela.

E não foi um alívio admitir aquilo. Não se tornava um peso antes. Não se sentia totalmente cego, e não era uma necessidade vê-la com amor. Katarina nunca pediu amor, mas também nunca o negou. Amor era outro plano para eles, um outro plano onde achavam que nunca estariam.

Aquela palavra se tornava cada vez menos estranha em sua cabeça, mas ele ainda nunca a falaria.

— Você não vai dormir aqui.

Talon a pegou nos braços e se levantou, sentindo a água fria escorrendo por todo seu corpo.

— O quê? – Ele quase sorria quando via aquela cara sonolenta. – Talon, você vai molhar tu—

— Sim, eu vou.


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