Só pra te fazer lembrar de mim escrita por Carol S G


Capítulo 1
Só pra te fazer lembrar de mim...


Notas iniciais do capítulo

Olá, galerinha.
Há quanto tempo não escrevo.
Espero que gostem.
Beijos.



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                Grissom, entomologista forense, 40 e tantos anos, olhos azuis, cabelos grisalhos, introvertido, inteligente, sério e viciado em trabalho. Estava em sua sala, após um turno duplo, terminando de revisar relatórios e assinar papeladas. Sentia-se exausto, de corpo e de mente. Há dias fazia turnos duplos. Seu corpo já apresentava sinais de fraqueza e cansaço. Olheiras, devido à falta de descanso, dores de cabeça constantes e assombrosamente fortes, tremores musculares, tonturas, falta de concentração em alguns momentos. Precisava descansar. Não só ele como toda a sua equipe, que o acompanhavam nesse ritmo alucinante de trabalho.

                Como era um dos melhores entomologistas do país tinha lá suas vantagens no laboratório em que trabalhava. Nada muito absurdo. Mas poderia, frente a situações como essas, pedir ao supervisor geral uma merecida folga de, no mínimo, dois dias. E era o que faria assim que terminasse de revisar os relatórios dos últimos casos.

— Com licença. – bateu à porta entreaberta de Conrad Ecklie. – Podemos conversar¿ - perguntou ao superior.

— Claro, Gil. – Ecklie sorriu. – Sente-se! – apontou a cadeira em frente a sua escrivaninha.

— Bom, Conrad, como sabe... – fez uma pausa enquanto se sentava e continuou: – Como sabe, estamos, minha equipe e eu, fazendo turnos duplos há, pelo menos, duas semanas. O pessoal anda cansado. Não estão rendendo muito. Precisam de descanso. – Ecklie ouvia atento. – Bom, o que quero pedir é que nos dê uma folga de dois ou três dias, para que possamos descansar.

                Ecklie pensou. Analisou Grissom por um momento e logo respondeu:

— Sabe que os crimes não tiram folga, não é, Gil¿ Não posso dar para uma equipe inteira 3 dias de folga. Acumulariam muitos casos. – Grissom apenas concordou com a cabeça. Ecklie suspirou. – Bom, fazemos assim: Vocês têm apenas dois dias, a contar de amanhã de folga! E quando voltarem terão alguns casos extras para analisarem. – ele levantou ambas sobrancelhas em sinal de pergunta.

— Okay! Muito mais que aceito. – sentiu-se aliviado. – Obrigado, Conrad! Agradeço por minha equipe. – levantou-se assim que Ecklie meneou com a cabeça e então saiu rumo a sala de descanso onde todos o aguardavam.

                Caminhou pelos corredores um pouco mais leve. Sua cabeça já doía menos, pois sabia que o descanso vinha em breve.

— Bom, tenho ótimas notícias para vocês, crianças. – disse entrando na sala e abrindo um breve sorriso.

— Se a notícia é boa, então não se enrole, Griss! – disse Catherine.

— Bom, Cath, Warrick, Nick, Greg, Sara. – disse cada um dos nomes. Demorou seu olhar um pouco mais em Sara. – Teremos dois dias de folga! Então tratem de ir para casa, descansar e só voltem daqui dois dias. Até lá! Tchau, crianças.

                Greg levantou as mãos para os céus, como quem agradece. E todos exclamaram frases de alivio e felicidade. Sara levantou-se correndo atrás de Grissom que já havia saído rumo a sua sala. Sara precisava de uma carona para sua casa. Estava sem carro e não estava nem um pouco afim de tomar um ônibus.

— Griss¿ - exclamou quando ele já estava entrando na sua sala.

— Sara! – ele a olhou confuso. – Algum problema¿

— Oh, não, não. – ela levantou as mãos. – Eu só queria saber se poderia me dar uma carona. – ela só olhou-o por poucos segundos e completou: - Não precisa me deixar em casa. Sei que passa bem próximo, mas me deixando perto já ajuda. – ela suspirou. – É que meu carro está na oficina e não estou com vontade nenhuma de tomar um ônibus agora. – Gil saiu do transe.

                Entorpecia-lhe estar ao lado de Sara. Admirava o seu trabalho. Sua insistência para com ele, mesmo sabendo que ele era um cabeça dura e introvertido demais ao ponto de se auto privar de qualquer relacionamento.

— Oh, sim, Sara. Claro! Lhe deixo em casa. – ele respondeu com um sorriso. Afinal, não aconteceria nada no simples ato de dar uma carona, certo¿!

— Obrigada, Griss. Obrigada mesmo. – ela sorriu de lado. Ele adorava quando ela sorria. Um sorriso quase infantil. Até seu diastema era um encanto. – Lhe espero no carro¿

— Tudo bem! – respondeu retirando suas chaves do bolso e entregou a ela. – Só vou pegar minha pasta e jaqueta e já vou para lá.

                A morena apenas sorriu e foi para o carro. Sentou-se no banco do carona. Retirou uma de suas blusas, dobrou-a e guardou no banco de trás da Denali. Anotou mentalmente de lembrar de pegar a blusa assim que chegasse. Grissom logo chegou e então saíram. Ele não sabia onde ficava a casa de Sara, então a morena foi lhe guiando.

Assim que chegaram, Grissom viu que a casa era linda. Um pequeno sobrado. Enfeitado, ao menos por fora, com um toque que sabia que fora a morena quem dera. Muitas plantas cuidadosamente arrumadas em vasinhos, muito bem cuidadas.

— Não quer entrar e tomar um café¿ - convidou a morena já fora do carro com a porta ainda aberta.

— Oh, não. – gaguejou. – Obrigado! Preciso descansar, Sara. – ele se desculpou com os olhos.

— Griss... – ela respirou fundo e voltou para dentro da Denali, sem deixar de olhar nos olhos do perito. Aguardou alguns segundos, mas não houve resposta, então continuou. – Sei que diz que é falta de ética, que não é sensato... – ela tomou forças. Agora que começou, tinha que terminar. – Mas eu tenho pensado tanto na gente. – ela não conseguia falar tudo de uma vez. Mas o silêncio dele ajudava para que continuasse sem perder a linha de raciocínio. – Eu penso em você o dia inteiro. Quando durmo, sonho contigo. Quando acordo, te vejo e só piora a assiduidade dos pensamentos. – ela se sentia exposta agora. – Sei que tem medo. E não vou negar. Também os tenho.

— Sara, eu... – mas a morena o interrompeu.

— Griss! Eu posso te pedir uma coisa¿ - ela tocou a mão do supervisor que ainda estava sobre o volante, suada, com os nós dos dedos brancos e a musculatura retesada.

— Pode! – ele gaguejou a pequena palavra sentindo o toque suave em sua mão trêmula.

— Quer jantar comigo amanhã¿ - ela ainda o olhava nos olhos e ele mantinha o contato quase insustentável.

— Sara, eu... – Sara interrompeu-o novamente.

— Griss... Eu só quero que saiba uma coisa. – ela disse triste. Grissom notou a mudança no tom de voz. – Se disser que não, eu nunca mais lhe procuro. Seremos apenas supervisor de subordinada. – ela apenas o encarou e emendou: - Mas se aceitar, podemos fazer dar certo. Ninguém precisa saber de nada. E se mesmo assim não der certo, ainda podemos ser amigos. E saberemos que ao menos tentamos. – ela viu que ele passava por um conflito interno. Querer e não poder¿ Poder e não querer¿ Ela não sabia.

                Ela se levantou, fechou a porta da Denali e se escorou na porta que tinha o vidro abaixado.

— Okay! – ela o entendia. – Eu vou entrar! Quando chegar em casa me mande uma mensagem. Ainda hoje. – ela sorriu. – Obrigada pela carona.

                Ele não conseguiu falar nada. E só após Sara ter entrado ele conseguiu sair dali.

                Ele sentia um misto de alegria e impotência, de euforia e frustração. Feliz por saber que ela ainda o desejava. Frustrado por saber que seria sua última tentativa caso ele falhasse em ser um pouco mais aberto a ideia.

                Assim que chegou em casa, desceu do carro e assim que fechou a porta da Denali notou algo branco no banco de trás. Sara esquecera sua blusa. Pegou a peça e levou para dentro. Sabia que era dela, não poderia ser de outra pessoa. Tomou a peça entre os dedos e aspirou o aroma que dela exalava. Com certeza era de Sara. Ninguém mais tinha aquele cheiro inebriante.

                De repente algo caiu da blusa. Um papel dobrado.

                Curioso, Grissom recolheu o papel e sentou-se no sofá. Não era o certo ler algo que não era seu, mas não conseguiria segurar o impulso de ler.

“Para Gil Grissom

  De Sara Sidle.” – começou a ler. Não acreditava que era para ele.

                “Olha, sei que não deve estar tão fácil para ti também. Ando com o coração vazio. Sem rumo. Quantas dessas tenho comigo. Muitas cartas não entregues. Muitas ligações não feitas. Muitas mensagens não enviadas. Magoei a mim mesma. E a pior parte... Isso não vai passar logo. E nada adianta. Quando parece que te esqueci, que estou bem, você me olha e meu mundo desaba novamente. Eu tento tanto disfarçar, esquecer, mas no fim do dia eu percebo que pensei em você o dia inteiro! E tudo me lembra você. Dia do perito criminal. A palavra ‘Inseto’. Alguém com olhos azuis. Seu cheiro que fica impregnado em mim após passar horas com você na cena de um crime.

                É triste estar apaixonada! É triste não ter resposta. Mas mais triste ainda é saber que não deu certo e eu não pude nem tentar.”

                Grissom segurava a carta trêmulo. Haviam mais cartas¿ Mensagens¿ Será que um dia poderia vê-las¿

Sentou-se no sofá segurando o celular com ambas mãos. Suava. Estava nervoso.

— Vamos seu completo idiota! – ele disse a si mesmo. – É só escrever e enviar. Escrever e enviar! – repetia.

                Seus dedos trêmulos abriram uma nova mensagem, digitaram o nome de sara no destinatário. No campo de mensagem ele escreveu: “Boa noite, Sar. Estive pensando e aceito seu pedido.” Pronto! Ele só precisava enviar. E foi o que o fez. Fechou os olhos e apertou rápido para enviar, para que não pensasse demais e se arrependesse. Sorriu, por fim.

                Alguns minutos depois seu celular vibra. Uma mensagem! Ele correu e abriu a mensagem: “Hey, Griss! Não sabe o quanto estou feliz! Venha aqui em casa amanhã às 20h! Vou preparar o jantar”. E assim Grissom foi dormir mais leve, mais aliviado. Daria tudo certo. Precisava só descansar e aproveitar o jantar no dia seguinte.

                Sara não se continha em si de emoção. Precisava arrumar tanta coisa. Achava que não conseguiria nem dormir de tanta alegria. Mas logo adormeceu. Estava fisicamente cansada.

                Assim que acordou separou a roupa que usaria a noite, deixou preparada toda a comida, arrumou toda a sala de jantar. Só precisaria sair e comprar um vinho.

                Mesa com toalha branca. Algumas flores vermelhas no centro dentro de um singelo vaso. Algumas velas sobre a mesa e por toda a extensão da sala. Uma música suave tocando. Tudo pronto. Comida quente no forno. Velas acesas. Ela já havia tomado seu banho. Estava perfumada, trajava um vestido negro colado desde os ombros até sua cintura e solto até a altura dos joelhos. Havia nele uma fita de cetim na altura da cintura, na mesma cor do vestido, formando um pequeno laço nas costas da morena. Saltos nos pés. Cabelos soltos. Batom. Brincos. Colar. Pulseiras. Sentia-se linda. Sentia-se desejada.

                Como já estava com seu carro foi até um mercado que ficava a algumas quadras dali. Achou um bom vinho e comprou algo para poder passar a semana. Pães, frutas, verduras.

                Já Grissom estava tão feliz que até cantarolava enquanto tomava banho. Passou perfume. Na carta, que Sara não sabia que Grissom tinha lido, ela admitia que gostava do perfume dele. Vestiu-se como raramente se vestia. Calça jeans, camiseta polo, tênis. Até penteou o cabelo. Passou em uma floricultura e comprou um pequeno buquê de rosas brancas. E então, lembrando de como se chegava na casa da morena, partiu para o jantar.

                Sara, chegou em casa. Estacionou seu carro na garagem. Desceu dele com algumas sacolas de compras numa mão e com o vinho na outra. Abriu a tranca com alguma dificuldade e assim que abriu a porta não acreditou no que viu.

                A janela dos fundos estilhaçada. Sua sala revirada, algumas velas apagadas. O vaso de flores que enfeitava a mesa de jantar pouco antes de sair agora estava no chão aos cacos e as flores amassadas. Seus enfeites, sua decoração, que ficava por cima dos balcões e estantes estavam estraçalhados no chão. Sua televisão, dvd, rádio e mais alguns eletrônicos estavam empilhados sobre o sofá e antes mesmo que pudesse assimilar mais alguma coisa ouviu passos descendo as escadas. Gritou. Seus braços perderam a força e ela deixou cair todas as sacolas de compras e até a garrafa de vinho. Tentou correr.

Um deles estava armado. Não conseguiu ver muito mais depois disso. Somente um clarão e uma dor breve nas costas. Ainda conseguiu sentir seu corpo caindo ao chão, o vestido caindo leve sobre suas pernas.

Grissom sabia que a casa dela era um pouco longe, mas já estava chegando. Chegaria no horário marcado, sem atraso.  Talvez até chegasse antes. Entrou na rua da morena e achou estranho ver sirenes por ali. Era um bairro considerado calmo. Passou pelos carros de polícia devagar para conseguir olhar. De repente pisou forte no freio. Não podia ser.

Aquela era a casa de Sara. Reconheceria aquela fachada cheia de plantas em qualquer lugar. Desesperou-se. Saiu do carro o mais rápido possível. E a cena que viu o deixou de joelhos no chão. A vizinhança na rua observando tudo. Dois carros de polícia encostados na frente da casa. E logo em frente a porta, decúbito ventral sobre o chão, uma moça, vestido negro, cabelos curtos, uma poça de sangue envolvendo seu tronco. Chegou até o corpo a muitas custas. Seus dedos procuraram o pescoço fino dela. Sem pulso. Pela altura do ferimento havia acertado o coração.

Ela estava com os cabelos arrumados, usava salto, vestido negro, até batom havia passado. Tudo para ele.

Entrou na casa. A situação era desoladora. Identificou-se como perito para os policiais para não ter problemas e então andou pela casa toda revirada. Subiu as escadas. Haviam dois quartos no andar de cima. O de Sara e um quartinho de bagunça, igualmente revirado, mas o que o fez se demorar no quartinho pequeno foi o que tinha em sua parede. Várias fotos dele e deles com uma frase no meio. A cena lhe fez encher os olhos de lágrimas e sentir-se sem chão. No meio das fotos estava escrito: “Vou te amar para sempre.”

Voltou ao corpo. A polícia já havia pego os assassinos confessos. Então não teve receio em mexer nela. Tentou, inutilmente, uma passagem cardíaca, mas nada. Já haviam tentado isso. Ela se fora.

Ela se foi antes que ele a aceitasse.

Se foi sem mesmo que ele soubesse que lhe proporcionou o melhor dia da sua vida até então.

Ela se foi antes que permitisse que ele soubesse que a fez a mulher mais feliz do mundo nesse único dia em que permitiu com que ela sonhasse com o futuro.

Ela se foi sem que que ele soubesse que ela o havia amado desde muito antes de chama-lo para sair.

Ela se foi sem que pudesse ter a oportunidade de dizer que o amava. 

E ele ficara.

Ele ficou sem poder ter dito que era apaixonado secretamente por ela.

Ele ficou sem poder tê-la em seus braços sequer uma vez.

Ficou sem ela, mesmo tendo dito que sim, que aceitava ela.

Mas sempre haveria um dia, uma frase, um olhar, um sorriso (principalmente se tivesse um diastema), um abraço, um perfume, uma música, um filme, para fazer com que ele lembrasse dela, que lutou até seu último dia por ele.

FIM


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Notas finais do capítulo

Fic baseada na música "Pra te fazer lembrar de mim" do Lucas Lucco.



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