—Esse lugar é legal pra caramba,né? -perguntou Ben,todo sujo de areia,com o rosto corado de correr para cima e para baixo.
—Divino! -sorriu a Sra. Black.
—Vou pedir pro Jasper deixar a gente ficar aqui!
—Sua mãe deve estar desesperada! -repreendi o menino.-Jasper nunca vai permitir que vocês fiquem.
—Por que não? Ele acha que você é nossa mãe! A gente que falou isso pra ele.- disse o garoto,com sorriso maroto,e correu para encontrar o irmão.
Cerrei os dentes com raiva,mas Sarah me tranquilizou:
—Não se preocupe,meu bem. Jasper sabe que é mentira deles.A mãe já foi notificada de que estão bem. E depois,todos nós estaremos em Túnis dentro de poucos dias.
—Estaremos? -perguntei surpresa. Eu não queria ir embora dali.
—Sim.Só não partimos ainda porque Jasper não quer arriscar nossa segurança e nem a dele,é claro.
Estávamos numa espécie de varanda,no meio do pátio ajardinado. O som da água correndo na fonte e o perfume que as flores espalhavam conferiam uma atmosfera de paraíso ao lugar.
—O que é tudo isto,Sra. Black? -perguntei,apontando para aquele cenário maravilhoso.
—Parece algum tipo de quartel-general ou algo do gênero. Atrás deste prédio,que serve de residência para Jasper,há outros onde funcionam escolas e oficinas de serviço. Há também um campo de treinos mais adiante.
—Por acaso Jasper....é guerrilheiro? -estranhei. Ela riu da minha ignorância.
—Jasper é um guerreiro,meu bem,não um guerrilheiro. Ele traz para cá jovens de seu povo que vivem perdidos nas cidades. Aqui eles aprendem as tradições,tem formação profissional e aulas normais também. Aprender ler,escrever....
—Mas a senhora mencionou um campo de treinos...
—Sim...Treinos de espada,tiro ao alvo e muito mais.
—Mas...ele esta se preparando para uma guerra?
—Ele se prepara para defender-se de qualquer ataque. Em um mundo perfeito,querida,tudo se resolveria apenas pela força da palavra,mas nosso mundo esta muito longe de ser perfeito. Não só isso,aqui é o deserto. A lei e os costumes são diferentes.
Muitos diferentes,e eu sabia o quanto. Passei a vida lendo sobre aqueles povos,sobre seus costumes e leis. Só nunca tinha imaginado que algum dia veria tudo isso tão de perto.
—Mas quem é Jasper na verdade?
—Esta é uma longa história.-respondeu a Sra. Black com um suspiro. - e eu não a conheço toda. O que sei é que grande parte dos tamasheks vêem Jasper como uma espécie de herói ou salvador. Alguém capaz de lhes devolver a terra que a colonização e a independência dos países tirou.
Em silêncio me lembrei de tudo que havia lido sobre os nômades e a dificuldade que tiveram para se adaptar aos novos regimes políticos que desrespeitaram seu modo de vida e os expulsaram das areias que lhes serviam de pátria.
—E como ele vai conseguir fazer isso? Quero dizer, como pretende reintegrar a cultura e a vida de seu povo?
—Nem imagino. Mas sei que Jasper é um grande homem.Honrado,bondoso e muito justo. E também muito rico e poderoso. Tem amizades em altas esferas e bons contatos políticos. Sua palavra é bastante respeitada.
—A senhora sabe quem nos atacou no acampamento?
—Quem eu não sei...mas sei o porquê. Acho que o próprio Jasper vai querer contar esta história.
Senti a brisa quente do deserto mexer meus cabelos,e uma fisgada em meu braço me lembrou de que eu ainda não estava totalmente recuperada.
—Quem cuidou de mim? -perguntei.
—Uma mulher a quem chama Sulpícia,a Cega. Ela e o próprio Jasper. Parece que tentaram matá-la por causa da pintura que os nômades fizeram em seu rosto aquela noite. Os desenhos indicavam que você era alguém especial.
—Eu?! -perguntei mais confusa ainda.
—Também não entendi,mas parece que tem haver com uma profecia...e com os diamantes,é claro..
—Que diamantes???-eu estava cada vez mais perdida.
—Mamãe! -chamou Jacob com um tom de voz que parecia uma advertência.
—Olá,querido.Onde estava? Esta todo suado.
—Lá fora,com os meninos. Não sei de onde eles tiram tanta energia! como está Bells! Comeu alguma coisa?
—Eu estou ótima...e quero ter uma conversinha com você,Jacob Black.
Ele me olhou assustado.
—Que idéia foi essa de dizer que somos namorados?
—Ah,isso-respondeu aliviado - Foi uma brincadeira com o Jas. Ele estava preocupado demais com você.
—É mesmo? -perguntei,sarcástica,feliz de saber que Jasper se preocupou comigo. -E onde ele está?
—O Jas? Sei lá. Sumiu pelas dunas logo depois que você acordou. Deve voltar a noite.
Olhei para ele mais séria ainda.
—Sua mãe me falou de alguns diamantes. Eu quero saber o que está acontecendo. AGORA!
Ele lançou um olhar de esguelha para a mãe.
—Depois falamos sobre isso. Agora tem gente querendo conversar com você...
Atrás de mim,surgiu uma linda jovem de pele morena e cabelos trançados. Ela me deu um sorriso quando olhei.
—Srta. Swan,pode me acompanhar,por favor? Sulpícia quer vê-la. - disse com inglês carregado de sotaque.
—Vá com ela,querida.-pediu Sra. Black.
Segui a moça,esperando que a tal Sulpícia pudesse me explicar alguma coisa. O pouco que eu sabia não fazia sentido algum em minha cabeça. A moça que me acompanhava pediu que eu me sentasse no chão e perguntou se eu falava francês. Eu disse que sim e ela sorriu.
—Neste caso,talvez minha presença não seja tão necessária.
Assim que a jovem sentou-se,ela entrou. Alta.Muito alta.Os cabelos longos finamente trançados,o andar seguro e a pele,clara como a minha,estava cheia de rugas que mostravam sua idade avançada. Caminhou ereta e altiva,até sentar-se a minha frente. Foi então que vi seus olhos: dois globos branco-azulados,que me causaram uma impressão estranha. Ela era cega,mas caminhava com uma desenvoltura impressionante.
Mesmo que alguém tivesse descrito a mulher com quem eu iria conversar,nada poderia me prepara para o impacto que sua presença me causou.
—Como vai,Aysha? O braço ainda dói? - sua voz era de uma suavidade impressionante.,mas exalava uma força assustadora. E seu francês era perfeito.
—Estou bem.Graças a senhora.
Ela sorriu. _Sabe quem sou?
—A Sra. Black disse que cuidou de mim e...
—Sou Sulpícia. Embora meus olhos não possam ver seu rosto,eles vêem seu coração e seus sentimentos. E posso sentir em sua voz que você está assustada e cheia de dúvidas.
"Finalmente,alguém com um pouco de bom senos!",pensei.
—Me dê suas mãos,Aysha. -ela pediu com um sorriso delicado. Obedeci e seus dedos começaram a percorrer a palma de minha mão,depois meus dedos,depois meu pulso.
—É uma bela jovem. Tem saúde,vitalidade e coragem. Possui mãos habilidosas,mãos que restauram formas.
Olhei surpresa para seus olhos cegos. Como ela podia saber o que eu fazia? Será que Jacob tinha falado?
Sua risada soou melodiosa.
—Jasper não poderia escapar,mesmo que quisesse,não é? E nem você. A sabedoria do Altíssimo sempre me surpreende- ela completou,lançando mais mistérios no ar.
—Não estou entendendo,Senhora....
—Sulpícia. Me chame de Sulpícia,Aysha.
—Meu nome é Isabella. - falei com suavidade.
Ela sorriu de novo.
—Seu nome é Aysha,a esposa,a prometida. Por isso que quis vê-la. Você não veio a nós por acaso. Nada acontece por acaso no universo. Como alguém já disse,nem uma folha cai ao chão se não for pela vontade do Altíssimo.
—Mas ainda não entendo..
—Jasper é um homem predestinado,Aysha. Nasceu com uma história escrita,mais do que a maioria dos homens. Cresceu digno e honrado,e segue as tradições com respeito. Ama o povo tamashek e por ele daria sua vida. É de Jasper a missão de preparar aquele que o substituirá,para que quando chegar a hora,esse novo guerreiro devolva ao nosso povo o logar que lhe é de direito.
Eu ouvia tudo com atenção,fascinada pela sabedoria que emanava daquela mulher.
—Há muitos anos,Jasper era como você. Pairava entre dois mundos,sem se decidir em qual deles queria viver. Um tolo,um graveto levado pela correnteza da vida. Mas,por fim,seu coração falou mais alto e ele resolveu seguir seu destino. Agora chegou sua vez.
Eu continuava sem entender nada.
—Seu grupo poderá partir dentro de três dias,quando as estrelas dizem que será seguro. Até então,você terá que decidir se quer continuar sendo Isabella Swan, a moça inglesa,ou Aysha,a esposa do profeta.
—E como vou saber o que decidir? -perguntei,aflita.
A cega riu.
—Você fala como Jasper. E vou lhe dar a resposta que dei a ele: confie em seu coração.Há algo mais que deseja me perguntar?
—Claro! Tantas coisas...Por que fomos atacados? Por que Jasper me salvou? O que os Black estão escondendo...
—Aos poucos,tudo lhe será revelado. Jasper dirá o que pode dizer e eu direi aquilo que ele não pode. Eu lhe direi como ser Aysha,a mulher que nos salvará a todos.
Olhei para ela espantada.
—Venha.Quero que veja algumas coisas.
Sulpícia ergueu-se. Eu e a moça atrás de mim fizemos o mesmo.
Seguimos seus passos e passamos por uma entrada lateral da sala,até alcançar um aposento magnífico,recoberto de sedas coloridas,de tons fortes e quentes como próprio deserto.Não havia camas,só almofadas e o lugar tinha aroma de sândalo.
Fiquei com a mulher o resto do dia. Ela me ensinou  sobre as tradições das mulheres do deserto,lições que se repetiram nos dias seguintes. Sem perceber,tomada pelo fascínio,entreguei minha alma de vez á magia e sedução daquele lugar.