Pov América

—Quem acha que é para tentar roubar o meu marido? Fique longe de mim, America, ou vai se arrepender de ter mexido com Illéa. - Já estava andando na direção oposta quando ouço Kriss me ameaçar. Paro no mesmo instante e respiro fundo, ao saber que preciso me acalmar senão vou enlouquecer.

—O que acabou de dizer?- pergunto na esperança de que ela retire o que disse e eu não precise brigar, mas ela reafirma tudo o que disse anteriormente.

 _Eu mandei parar de correr atrás do meu marido, ou vai se ver comigo.- a encaro, furiosa, mas ela não se intimida, na verdade estufa mais o peito.-Além de burra agora é surda também? - Ignoro sua pergunta final.

—Foi o seu marido que veio até mim com flores, presentes e tentou me beijar. Parece que ele não está tão satisfeito assim com você para correr atrás de outra. - suas narinas inflam e vejo o fogo em seus olhos castanhos.

 _Pelo menos eu não sou uma interesseira de quinta categoria que se joga no primeiro príncipe que vê e trata de ficar grávida para segurar o namorado!- acusa de braços cruzados e um sorriso sádico no rosto.

 _Pelo menos alguém me ama. Ao contrário de você, que ninguém suporta. - dou um passo para frente, me aproximando, olhando no fundo de seus olhos, tentando ser intimidadora. - Escute aqui Kriss, eu não quero brigar. Você ganhou Maxon. É isso que quer ouvir? Porque eu não me importo mais com isso. Segui em frente, e acho que você devia fazer a mesma coisa. - sorrio fraca e a dou as costas para continuar minha procura por Alex.

—A discussão só termina quando eu disser que terminou. - ela puxa meu braço, me fazendo ficar de frente para si novamente.

—E quem você acha que é para mandar em mim? Não consegue nem mesmo manter seu próprio marido, que cada vez mais escorrega por entre seus dedos. - ela ameaça dizer alguma coisa, mas continuo antes que possa falar qualquer coisa. - Eu realmente nunca entendi. De todas as garotas de seleção, porque você? Qualquer uma teria sido uma rainha e esposa melhor do que você jamais será.

—Eu sou uma ótima esposa! Illéa prospera sob meu comando!- se descabela e solto uma gargalhada.

—Uma ótima esposa? Maxon nem mesmo aguentar passar um dia inteiro ao seu lado, ele não te aguenta. - termino lentamente e sinto seus punhos se fecharem, perto de me atacar. - O seu casamento é uma mentira, uma farsa, e quanto antes admitir isso para si mesmo, melhor.

 _Maxon me ama, como sempre amou e sempre amará e quanto antes você admitir isso e parar de correr atrás dele, melhor. Ou vou ser obrigada a usar força. Eu tenho um reino aos meus pés, America, e não tenho medo de usar.

 Pena, é exatamente isso o que sinto pela pobre garota que se porta na minha frente. Sempre tive um grande carinho por Kriss desde o tempo da seleção, mesmo sabendo que era minha maior concorrente, mas é abominável o que ela faz. Não consigo entender se ela é cega ao ponto de não perceber as emoções de Maxon e de todos ao redor, se ela finge que não nota pelo seu próprio bem, ou se ela realmente é louca.

Apesar de acreditar que no fundo ela é uma boa garota, como antes foi, e as circunstâncias a fizeram se tornar nessa mulher diferente, eu já não aguento mais suas acusações e ameaças. Então deixo meus sentimentos fluírem. Solto a maior gargalhada que já fiz em anos. E apesar de achar uma crueldade, rio totalmente de sua cara e do papel de idiota que faz. Tento me controlar, mas chega um momento que eu simplesmente não consigo mais parar, meu estômago dói e ela me olha sem entender o motivo de tudo isso.

 _Sim, você tem um reino e eu, eu tenho um Império!- grito e abro os braços, para ser mais impactante. - Você pode me ameaçar, ameaçar minha família, quem quiser, mas isso não vai mudar o fato de que você nunca poderá ganhar de mim, em nada. Você pode tentar, mas perderá a última pessoa que ainda tem esperanças de que você possa mudar: Maxon.

—E quando seu namoradinho descobrir a falsa interesseira que você é?

—E quando o rei Clarkson descobrir que a querida nora dele é uma rebelde nortista infiltrada?- seus olhos arregalam e me permito sorrir. Em cheio. - Não ouse se meter comigo, porque eu não sei você, mas sei o que eles fazem com rebeldes. E não é nada bom. Além disso, você não sabe do que eu sou capaz. Dou as costas novamente e vou embora a passos firmes. Dessa vez ela não me interrompe.

Respiro fundo diversas vezes, tentando me desestressar, mas sem sucesso. Ando sem destino algum, provavelmente tinha um no começo, mas agora só quero o máximo de distância de Kriss possível.

 _Aonde tá indo com tanta pressa?- escuto uma voz e me viro para trás para ver Celeste e Marlee sentadas no banco, me olhando preocupadas. Estava tão absorta e pensamentos que nem ao menos as vi.

 _Acabei de brigar com Kriss.- me sento no meio das duas e relaxo o ombro.

—Demorou. - uma das duas comenta. Me deixo cair no encosto e fecho os olhos, cansada.

 _Aproveitando tudo o que já aconteceu, preciso contar algo para vocês.

—Algo a ver com o mistério que tem mantido desde o piquenique?

—Tudo a ver. - agarro suas mãos e a puxo pelos corredores até a biblioteca. Elas não param de falar, tentando me fazer dar uma dica ou algo para adiantar, mas fico quieta.

—Tem alguém ai?- grito assim que entro na biblioteca, mas ninguém responde. Ótimo, está vazio. Fecho as portas atrás de nós e me sento no sofá mais perto. As duas fazem o mesmo. Abro a boca diversas vezes, mas nenhum som sai.

—Relaxe. Respira fundo. - assim faço. - E diga.

—O que houve?

—Quando eu conheci Alex, eu estava de coração partido e nunca imaginei que fosse me recuperar.

—Nós sabemos disso, mas cadê a revelação?- Celeste se agita na cadeira, completamente impaciente.

 _Se você esperar vai ficar sabendo. - respondo brava pela interrupção. - Como eu disse, eu não esperava me apaixonar, tinha certeza de que não me apaixonaria novamente até duas semanas atrás. Suas bocas se abrem, sem entender.

 _Mas... Mas- sorrio com sua dúvida.

—Durante um ano naquela ilha, eu só tive um desejo: sair daquele lugar e encontrar Maxon. Me declarar e finalmente poderíamos viver juntos. É claro que nada aconteceu como eu imaginava, elas foram melhores. Foi difícil admitir para Alex que eu dormi com Maxon, mas ao descobrir que eu estava grávida, eu simplesmente esqueci que qualquer um dos dois existia. Eu tinha ela e não precisava de mais ninguém.

—Eu te entendo America, de verdade. - Marlee aperta minha mão em apoio. - Mas você não pode continuar mentindo para sempre.

—Eu sei, eu sei. É que dizer a verdade em voz alta é admitir o meu erro, minha estupidez, é renegar e esquecer tudo o que Alex fez por mim, e admitir que minha família não seja verdadeiramente perfeita, como imaginava.

—Nenhuma família é perfeita, America. Todos cometemos erros, é o que nos faz humanos. Mas você deve admiti-los, é o único jeito de seguir em frente. Abaixo os olhos, constrangida.

 _Acho que está certa. - finalmente digo.

—Então continua. - Celeste não consegue conter seu entusiasmo.

—Mas quando Nastia nasceu, percebi que não podia fazer isso sozinha. E Alex acabou preenchendo o vazio que eu sabia que Maxon nunca poderia ocupar. Então eu aceitei o acordo, eu deixaria Alex ser o pai, e ele nos manteria segura.

 _Mas porque você precisaria disso? Porque só aceitar que Alex se torne o pai, quando ele claramente é o pai?- Celeste aumenta o tom de voz, tentando de qualquer jeito compreender as palavras que digo. Marlee, ao contrário, permanece em silêncio. Seu rosto é pensativo e sei de que ela está tentando juntar os pedaços para descobrir a verdade antes que eu precise dizer.

 _Ah não. - murmurra. - Você não fez isso. America...- ela levanta a cabeça, em uma mistura de susto, compreensão e pena.

 _Proteger de quem?- Celeste grita, chamando a atenção.

 _De Clarkson.

 _Porque você precisaria de proteção contra...- ela começa a perguntar, mas para antes de terminar a frase, faz um "O" com a boca e fica quieta.

 _Ele me amava, apesar de eu ainda estar me curando, mas mesmo assim aceitei. Aceitei mentir e dizer que Alex era o pai de Nastia, aceitei vir para a Rússia como sua namorada, eu aceitei sua proteção. Tinha certeza de que ele esqueceria seu amor por mim e tinha a esperança de encontrar alguém aqui que pudesse me fazer feliz, minimamente possível. Eu só não esperava me apaixonar. E queria tanto, tanto, que ele fosse o pai. As coisas seriam tão mais fáceis. - escondo meu rosto choroso por trás das mãos e me deito no colo de Marlee.

—E Maxon? Quando contará para ele que ele é o pai da Anastacia?- Celeste pergunta e nesse exato momento a porta se abre. Maxon permanece parado, os olhos furiosos e determinados.

—O que acha de agora?

Pov Maxon

 Se era possível me sentir pior do que eu já me sentia quando cheguei na Rússia, isso aconteceu hoje de manhã. Assistir e descobrir o quão íntimos America e Alex estão foi um grande choque, e cada vez mais sinto que estou em um buraco e a terra sobre mim só aumenta. Se eu quero reconquistá-la primeiramente preciso me desculpar, assumir meus erros e me afastar, para que assim ela perceba que eu não sou uma má pessoa, que eu sou o mesmo homem por quem ela se apaixonou. É exatamente o que estou indo fazer.

 Ando pelos corredores procurando por America, mas não a encontro em ligar nenhum. Ela sumiu depois do jogo, provavelmente foi para o quarto tomar banho. Espero um tempo para que ela apareça nas redondezas do palácio, mas a única pessoa que encontrei foi Kriss.

—Se está procurando pela sua namoradinha, ela foi em direção da biblioteca. - sua voz é irritava e brava, não entendo o motivo ou o que aconteceu para que ela possa estar assim, mas deixo para me preocupar com isso depois. Agradeço, ela bufa e sai pisando os pés forte.

 Não sei onde é a biblioteca, mas pergunto para o primeiro funcionário que passa por mim e ele me responde normalmente. Caminho lentamente para abrir a porta, mas ouço vozes antes e desisto de girar a maçaneta. Colo os ouvidos na madeira e tento reconhecer a voz.

—Mas porque você precisaria disso? Porque só aceitar que Alex se torne o pai, quando ele claramente é o pai?- a voz é feminina, claramente, mas não consigo ligar nome a voz. Eu só queria saber se era America, e agora, ao saber que não é minha cabeça me diz que devo ir embora e continuar meu caminho, mas todos os músculos e células dizem que devo ouvir o que é que essa pessoa está dizendo

—Ah não. Você não fez isso. America...- uma segunda voz suspira. Parece que eu a encontrei. Poderia e entrar agora e dizer o que tenho para falar, mas minha curiosidade é maior. Porque estão falando de Alex e sua filha? O que houve com a criança?

—Proteger de quem?- Uma voz grita e agora consigo reconhecer Celeste.

 _De Clarkson.

—Porque você precisaria de proteção contra...- ela começa a perguntar, mas para antes de terminar a frase, ficando em silêncio.

 _Ele me amava, apesar de eu ainda estar me curando, mas mesmo assim aceitei. - abro os olhos ao reconhecer a voz de minha amada. - Aceitei mentir e dizer que Alex era o pai de Nastia, aceitei vir para a Rússia como sua namorada, eu aceitei sua proteção. - abro a boca de susto. Como assim? -Tinha certeza de que ele esqueceria seu amor por mim e tinha a esperança de encontrar alguém aqui que pudesse me fazer feliz, minimamente possível. Eu só não esperava me apaixonar. - murcho- E queria tanto, tanto, que ele fosse o pai. As coisas seriam tão mais fáceis. - consigo sentir sua voz melosa e chorosa e tenho tanta vontade de abraçá-la e dizer que tudo ficará bem, mas já não é mais possível.

—E Maxon? Quando contará para ele que ele é o pai de Anastacia?- Algo, alguma coisa subiu até minha espinha, meu sangue ferveu, meu maxilar trancou e meus punhos se fecharam, então soube que era hora de entrar. Me levanto calmamente e tento respirar fundo, mas nem o oxigênio me acalma. Empurro a porta com força e fico parando, encarando America com toda a minha raiva e mágoa guardadas no último ano. Sua face é piro terror, uma parte de mim quer amolecer e dizer que não estou bravo, mas permaneço firma.

 _O que acha de agora?