É engraçado como as coisas mudam de uma hora para a outra. O pior dia da minha vida começou sendo o melhor de todos. Eu devia saber que tudo que é bom dura pouco. Você está feliz e acha que nada poderá estragar o momento, que mesmo se o mundo acabar, você morrerá feliz por ter presenciado determinada coisa. Mas então o mundo realmente acaba, o seu mundo se destrói, e você percebe que nada é inabalável. Foi assim que me senti no dia da escolha.
     Sou acordada com uma trilha de beijos e rio com o pensamento da noite anterior. Esperei tanto tempo para ter Maxon finalmente para mim, e agora que tenho, a sensação não pode ser melhor.
     _Precisamos realmente levantar?- pergunto preguiçosa.
     _Não quer ser minha esposa oficialmente? Porque se não quiser, posso escolher Kriss.- ele diz brincalhão e eu rapidamente me levanto.
    _Podíamos mandar uma mensagem para eles dizendo que sou a escolhida e ficamos aqui.- digo com segundas intenções e me deitando
novamente
    _Não me tente.- ele diz e para pra pensar, recogitando a possibilidade- Vamos! Se levanta.- continua e começa a me fazer cócegas.
    Pulo da cama imediatamente e começo a gritar como se minha vida dependesse disso. Odeio cócegas. Maxon, percebendo meu pavor, continuou do mesmo jeito.
    _Você sente cócegas!- diz admirado e me puxando para si. Eu tento me soltar, mas ele é forte demais para mim.
    E foi quando Aspen entrou. A dor em seu olhar é visível e a perplexidade mais ainda. Droga! Eu tinha que ter conversado com ele antes, explicar que amo Maxon e que ele é meu escolhido. Mas agora não
há mais tempo, ele ficou sabendo pelo pior jeito possível. Eu lhe devo um pedido de desculpas. Enquanto me sinto culpada, Maxon ri, mais relaxado do que nunca o vi.
    _Relaxa, America, não é como se estivéssemos despidos.- ele diz tranquilo.
       _Estamos despidos, Maxon- respondo sério.
    _Ops. Vamos America, hoje todos saberão que você é minha. Se anime e relaxe!- ele diz para depois me dar um beijo na testa e sair do quarto.
    Coloco minha roupa enquanto penso no que falarei para Aspen, como explicarei o que aconteceu e como pedir desculpas por ter feito ele sofrer. Saio do quarto envergonhada e paro em frente a porta, onde Aspen está de guarda.
    _Aspen, me desculpe! Eu não queria, não queria que descobrisse assim, eu não...
    _Tudo bem America.- ele me interrompe com um sorriso terno- Já sabia que isso ia acontecer. Foi só o choque.
    _Está tudo bem para você então?- pergunto feliz. Foi mais fácil do que imaginava. Ele assente e pulo em seu pescoço, o abraçando de felicidade.
    Nesse momento, tudo acaba. Maxon aparece no final com corredor, ao lado de Kriss, que nos olha assustada. Ele diz alguma coisa para ela que a fez ir embora e em seguida vem em nossa direção, com um olhar de fúria e traição.
    Ainda tinha a esperança de Maxon me escutaria e nos entenderíamos, juntos. Mas a cada palavra que saía de sua boca, minha esperança ia se esvaindo, até não ter mais quase nada.
    _Maxon, por favor! Me escute! Eu te amo!- imploro, mas ele está irredutível. Não adianta tentar convencer uma pessoa que não quer ser
convencida
    _Vou estar no jardim. Quando se acalmar e resolver saber a verdade, procura.- digo triste e saio pela porta, o deixando sozinho com seus pensamentos.
    Sento no nosso banco, com o resto de fé que me resta. Perco o sentido do tempo, não sei se horas já se passaram ou se só estou sentada há dois minutos. A cada passo que ouço ao longe, levanto minha
cabeça rapidamente e procuro pelo som, mas nunca é ele. A cada cabeça que passa pela minha visão, minha esperança de que ele aparecerá se
diminui mais, se isso for possível. As pessoas olham para mim e se perguntam o que estou fazendo ali fora, me mandam entrar, mas eu continuo ali. Até que minhas criadas aparecem e me mandam subir.
     Não duvido que as três sejam as mais animadas para a cerimônia. Não consegui acompanhar elas, não consegui ter o mesmo entusiasmo, mas
tentei. Tentei parecer feliz, tentei fingir que a manhã nunca aconteceu. Mas também não consegui acabar com suas expectativas de que eu seria a escolhida. Não consegui dizer que briguei com Maxon e que
provavelmente ele nunca mais falará comigo.
    Ele falou comigo novamente. Enquanto esperávamos pelo anúncio, sentados em um palanque no Grande Salão, Maxon no centro, eu na direita e Kriss em sua esquerda, ele se virou para mim e disse que ficaria feliz com a minha ida. Assim, a última gota de esperança que restava em meu corpo, se evaporou.
    Minha família não está aqui e agradeço por isso. Não sei se aguentaria ver seus olhares depois de tudo. Eu voltaria para casa em Carolina, como uma três. Seria professora de música? Não sei o fazer
com a minha vida, mas sei que não quero ver Maxon nunca mais, não quero olhar para seu rosto durante os jornais oficiais, não quero vê-lo ao lado de Kriss, não quero saber nem notícias sobre a vida dos
dois, mas em Illea não será possível.
    Estava tão absorta em pensamento, que nem percebi que Maxon já está ajoelhado na frente de Kriss.
    _Me apaixonei por você na primeira vez que a vi. Sua gentileza e tenacidade me conquistaram desde o início da competição. Tenho certeza que será um ótima esposa e uma rainha melhor ainda. Kriss Ambers, me daria a honra de se tornar minha esposa?
    Ela aceitou e assim o pior dia da minha vida chegou no ápice. Ela pulou em seus braços e se beijaram como se eu não estivesse ali do lado, sofrendo com tudo. Sem que me dessem permissão, desço do
palanque e tento atravessar a multidão que não me deixa passar. Procuro Silvia, só ela tem um telefone para me emprestar. Ela está na entrada dos portões, olhando toda a festa admirada.
    _Silvia, poderia me emprestar um telefone? Preciso pedir para alguém vir me buscar.- digo meio triste e ela me leva para dentro do palácio.
    _Pode ficar com quanto de tempo quiser.- Ela diz com um sorriso sincero e me dá privacidade.
    O telefone toca várias vezes e tenho medo de que ela não atenderá.
    _Quem é? E porque está me ligando às 3 horas da manhã?- Nicoletta pergunta com voz de sono.
    _Nicoletta, sou eu, America.- digo hesitante. Talvez fosse melhor ter ligado amanhã.
    _America?- ela pergunta assutada e consigo ouvir barulhos do outro lado da linha- Tá, estou acordada. O que houve?
    _Maxon não me escolheu.- digo e sinto meus olhos marejarem.
    Posso ouvir ela falando alguma coisa em italiano, mas eu não falo italiano, então imagino que sejam xingamentos para Maxon.
      _E o que vai fazer?- ela me pergunta preocupada.
    _Era isso que gostaria de perguntar. Seria abuso pedir para passar um tempo com você?
    _Claro que não seria! Eu adoraria! Noemi e Orabella não param de falar de você! Vai ser demais! Imagina tudo o que podemos fazer juntas!- ela diz eufórica.
    _Respira Nick.- aconselho.
    _Quando você vem?- ela muda de                                                _ Em uma semana?- pergunto com medo de sua resposta. Ela engasga assim que me ouve.
    _Claro! Tenho um amigo na França, ele tem o próprio avião e vem para cá. Se pegar um vôo até lá, consegue se encontrar com ele. Vou falar com ele e assim que chegar no aeroporto da França, me liga de
novo. Tudo bem?
   Assinto e desligo o telefone. Preciso preparar minhas malas, despedir dos meus amigos e procurar um vôo. Silvia entra no cômodo e pega o telefone de volta.
   _Muito obrigada Silvia. Por tudo o que fez por mim. Me desculpe se alguma vez a decepcionei. - digo sinceramente e a abraço. Acho que ela não recebe muitos abraços, porque ela se assustou no começo, mas depois me abraçou de volta.
   _Se servir de consolo, eu torcia para você. Assim como a rainha.- ela diz docemente enquanto se separa.
    Foi assim que o melhor dia da minha veio a se tonar o pior. Foi assim que perdi toda a fé que tinha em mim mesma e embarquei em uma jornada que mudaria todo o rumo da minha vida.