Não acredito que hoje já faz exatamente um mês que eu conheço Blaine. E falta só uma semana para que eu possa sair do castigo. Eu não poderia estar mais feliz.

Me levantei sorridente, tomei um banho e me vesti para a escola. Botei meu uniforme como sempre, tomei um suco de morango e logo lembrei de quando eu estava na casa de Blaine e ele tomava um suco de morango. Engraçado que até mesmo um suco me faz pensar nele.

Peguei o carro e fui direto para a escola, logo que entrei recebi meu novo horário escolar e para minha sorte eu iria direto para o ensaio, temos que nos preparar, haverá uma competição dentro de duas semanas, mas com Blaine de professor qualquer equipe fica perfeita.

Fui para a sala de ensaios e sentei no lugar mais próximo da bancada onde Blaine ficava, ele chegou logo depois de mim.

— Primeira vez que ficamos sozinhos em um mês. Posso saber o motivo de você não responder minhas ligações nem nada? E mais, o que está fazendo aqui tão cedo? Faltam vinte minutos para começar a aula. – Ele disse sério, me encarando enquanto largava suas coisas.

— Primeiro, bom dia, Blaine. Eu não tenho motivos para ter chegado mais cedo. – Na verdade eu tenho, mas não é uma boa ideia falar para ele que ele é o motivo. – Eu não tenho te respondido pelo fato de eu estar de castigo, você sabe bem o motivo. E não podemos ser vistos juntos, podem pensar besteira. Você é meu professor e quero que continue sendo. Fora isso, eu tive uma ideia de música, mas ninguém nunca presta atenção no que eu falo, então vou ficar na minha. – Eu disse meio triste.

— Kurt, eu não me importo com o que pensem, nós somos amigos, você me salvou quando ninguém deu bola para a minha existência. Desculpa ser o motivo do seu castigo, espero que acabe logo. – Eu o interrompi.

— Falta só uma semana. – Eu disse alegre. – Você lembra que dia é hoje?

— Se não me engano faz um mês que nos conhecemos, certo? – Ele disse e eu concordei. – Kurt, que música você teve de ideia? Estou perdidamente curioso.

— Somebody Loves You, Betty Who. Conhece? – Eu perguntei esperando que ele concordasse.

— Sim, é uma ótima música. Você ficaria maravilhoso cantando ela. – Ele disse se escorando em sua mesa quando os outros meninos começaram a chegar.

— Eu acho que ficaria boa como um dueto. Principalmente se fosse eu e você. – Eu disse baixo o suficiente para que só eu escutasse. E para o meu bem, espero que ele realmente não tenha escutado.

Alguns minutos depois Sebastian já estava na sala do coral me encarando de um jeito patético, mas que já estava me incomodando.

— Matt e Carl abandonaram o navio. – Disse Sebastian depois de um tempo, quebrando o silêncio.

— Eu soube, Matt mudou de cidade, Carl foi para uma escola militar. Eles estavam bem tristes quando me contaram, mas eu prometi que iria prepará-los para que eles possam acompanhar vocês nas competições. Então, nós não os perdemos por completo. – Disse Blaine tirando seu casaco e colocando na cadeira que estava do outro lado de sua mesa. – Bom dia, gente. Espero que estejam preparados. Eu estava pensando em uma música para a competição.

— Contanto que não seja uma música de mulher, por mim vale tudo. – Disse um dos meninos que estava sempre grudado a Sebastian e eu não sei nem o nome dele.

— Na verdade, é. Somebody Loves You, da Betty Who, conhecem? – Ele disse e deu uma leve piscada para mim, além de um sorriso muito do cúmplice, era como se ele estivesse tramando alguma coisa e de fato Blaine estava, eu conseguia sentir isso.

— O senhor sabe que essa música é uma droga, certo? – Indagou Chris, um dos meninos que entraram recentemente na equipe.

— Vou ter que provar o contrário para vocês então? – Perguntou nosso professor e todos concordaram e começaram a gritar feito loucos. – Kurt, se importaria de cantar comigo?

Eu me desesperei, o que eu poderia fazer em uma ocasião dessas? É uma chance que talvez nunca apareça de bandeja assim de novo. Por outro lado, isso aumentará os rumores de que há algo entre nós. Mas eu não posso negar, eu preciso cantar com ele.

Além de que, não há nada demais, certo? É só um dueto, não?

— Kurt, tudo bem? – Perguntou Blaine parado em minha frente me encarando, seu olhar era indecifrável, seu sorriso era meio bobo e todas suas expressões eram simplesmente perfeitas aos meus olhos. – Você está meio pálido. Precisa ir até a enfermaria?

— N-não, está tudo bem. Eu só tive um devaneio, estou bem. Muito bem. – Eu disse meio receoso, todos estavam me olhando, tenho certeza de que corei.

— Então, aceita cantar comigo? – Blaine reforçou sua pergunta e uma corrente elétrica passou por dentro de mim, foi como se eu tivesse escutado ele dizer, “Kurt, aceita casar comigo?”. Como sempre, eu mergulho demais em meus pensamentos.

— Claro. – Eu disse nervoso e tirei meu blazer, comecei a suar de tão nervoso.

"Who’s around when the days feel long

(Quem está por perto quando os dias parecem longos)

Who’s around when you can’t be strong

(Quem está por perto quando você não consegue ser forte)

Who’s around when you’re losing your mind

(Quem está perto quando você está perdendo a cabeça)”

Ele começou a cantar e eu a tremer, Blaine começou a andar pela sala e até arriscava alguns passos desengonçados de dança. O professor estava lindo em uma calça vermelha e uma blusa preta junto com sua linda gravata borboleta também vermelha. Ele fazia gestos como se estivesse cantando para alguém ou por alguém. Ele fez um gesto para que eu continuasse a letra e então o fiz.

“Who cares that you get home safe

(Quem se preocupa que você chegue em casa a salvo)

Who knows you can’t be replaced

(Quem sabe que você não pode ser substituído)

Who thinks that you’re one of a kind

(Quem sabe que você é único)”

Cantei minha parte o encarando, comecei a caminhar em volta da sala do coral, d mesma forma como ele fez. Blaine fez um gesto para todos nós irmos para fora da sala o seguindo e assim fizemos, eu e ele paramos de frente para a escada onde passavam vários alunos, por causa da troca de horários, e começamos a cantar o refrão.

“Somebody misses you when you’re away

(Alguém sente sua falta quando você está longe)

They wanna wake up with you everyday

(Eles querem acordar com você todos os dias)

Somebody wants to hear you say

(Alguém quer ouvir você dizer)

Ooh somebody loves you

(Ooh alguém te ama)

Ooh somebody loves you

(Ooh alguém te ama)

Ooh somebody loves you

(Ooh alguém te ama)

Ooh somebody loves you

(Ooh alguém te ama)

Ooh somebody loves you

(Ooh alguém te ama)”

Nós não deixamos de sorrir nem por um segundo, era como se a música fosse a nossa conexão, e realmente era. Era como se naquele momento apenas nós dois estivéssemos na escola, cantando um para o outro, como se estivéssemos confessando o amor um pelo outro. Um amor que provavelmente apenas eu sentia.

“I’m around when your head is heavy

(Eu estou por perto quando sua cabeça está pesada)”

Ele seguiu cantando, e eu logo após ele.

“I’m around when your hands aren’t steady

(Eu estou por perto quando suas mãos não são constantes)”

Ele ficava me observando atentamente cada vez que eu abria minha boca para continuar a letra, e eu corava a cada segundo mais por isso.

“I’m around when your day’s gone all wrong

(Eu estou por perto quando o seu dia foi todo errado)”

Cantamos essa parte juntos e eu apontei para a escada, o fazendo rir e subir alguns degraus da mesma, parando mais ou menos na metade para voltar a cantar em seguida.

“I care that you feel at home

(Eu me importo que você se sinta em casa)

Cause I know that you feel alone

(Porque eu sei que você se sente sozinho)

I think you’re going to miss me when I’m gone

(Eu acho que você vai sentir minha falta quando eu partir)”

Ele cantava me observando e eu completava suas frases, como se eu quisesse dar um efeito a mais na música, mas isso não era necessário, a voz dele por si só já era maravilhosa, se acrescentasse algo, estragaria.

Cantamos novamente o refrão e fomos para os últimos versos logo depois, subindo um pouco mais os degraus.

“Why don’t you come on over (Por que você não vem)
Why don’t you lay me down (Por que você não me deita)
Does the pain feel better (A dor melhora)
When I’m around (Quando estou perto?)
If I am good to you (Se eu sou bom para você)
Won’t you be good to me? (Você não vai ser bom para mim?)
That’s how easy this should be (Isso é o quão fácil isso deve ser)”

A cada frase ele se aproximava um pouco mais de mim, eu ficava cada vez mais nervoso. Eu quase errei a letra da música inúmeras vezes. Esse era o efeito de Blaine, meu querido professor, sobre mim.

Encerramos a música e fomos aplaudidos por uma enorme multidão, incluindo professores, o coordenador, e até mesmo o diretor. Eu nem tinha percebido que havia chegado tantas pessoas naquele lugar.

Alguns comentários se sobressaíram mesmo com os diversos gritos de todos os alunos nos elogiando. Comentários como:

“Eles formam um belo casal. Pena que não podem ficar juntos.”

“Coisa mais ridícula, onde já se viu um professor cantar com um aluno.”

“Eu sabia que ele torcia para o outro time, só falta largar arco-íris enquanto caminha.”

Esse último, para variar, foi um comentário de Sebastian. Eu ainda acerto pelo menos um livro na cabeça dele, eu juro.

[...]

— O que vai fazer hoje? – Perguntou Blaine, fazendo com que eu me virasse para ele.

— Eu vou para casa aproveitar minha última semana de castigo. E você? – Inquiri a ele abrindo a porta do carro, totalmente desanimado.

— Eu estava pensando se você queria ir no cinema comigo, hoje à noite, quer? – Ele questionou como se por dentro estivesse implorando para que eu aceitasse.

— Eu não posso, meu pai não vai deixar. – Proferir, permitindo que a tristeza transparecesse na minha voz.

— Então deixa eu pedir para ele?

— Não é uma boa ideia. – Eu fiz uma careta e ele me olhou como se quisesse saber o porquê. – Ele não te conhece, provavelmente não gosta de você só pelo fato de termos dormido na mesma casa, sendo que ele não sabe que foi na mesma cama. Concluindo, é melhor não. Confie em mim.

— Mas deixa eu tentar, por favor?

— Ok, tudo bem, vamos lá! 

Agora me responde: Como dizer não ao homem mais maravilhoso que eu já conheci?