Fluorescent Adolescent escrita por thebadslandx


Capítulo 2
II: Daddy's Eyes




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Eu estava no meu quarto encarando um pôster do David Bowie que havia na minha parede. Eu estava apenas esperando o meu pai perceber o que eu havia feito de errado dessa vez. Não tinha como esconder, agora era apenas um questão de tempo.
— Ryan!— eu ouço um grito estridente vindo do andar debaixo. Droga. Hora do show.- Vem aqui agora!
Sai do meu quarto apreensivo. Apenas pela sua voz pude perceber que meu pai não estava completamente sóbrio. Desci a escada lentamente, quando cheguei no andar debaixo dei de cara com meu pai me lançando um olhar furioso.
— Qual é o seu problema? — ele pergunta agressivamente, mas ainda não estava gritando comigo—  Você tem ideia quanto um desses custa?- indagou segurando o cortador de grama quebrado.
O que aconteceu foi que eu havia percebido que a grama já estava muito comprida, então tive a grande ideia de apara-lá com o cortador de grama. Até ai tudo estava indo bem, até que eu passo por cima de uma boneca de plástico sem querer enquanto usava o cortador. Não sei como, mas a boneca deu um jeito de quebrar sua lâmina. Mas o pior era que aquele era provavelmente um dos objetos mais caros da minha casa.
Ele me fitava com um olhar irritado.
— Desculpa, pai... — eu nem tinha ideia do que dizer!
— Desculpa? É sério isso? Você quebra um cortador de grama caro e a única coisa que tem a me dizer é desculpa?!— esbravejou, é agora que tudo da errado — Que tal você virar homem, arranjar um emprego e pagar pelas próprias coisas? Afinal, não faz nada que preste! Fica no quarto o dia inteiro tocando aquela guitarra estúpida ou está na casa daquela sua namorada vagabunda!
— Vagabunda? — eu estou MUITO ferrado, por que eu decidi responder? Bom, agora o estrago já estava feito.- Você pode chamar ela do que quiser, menos vagabunda!
— É o seguinte, garoto, eu te dou mais UMA chance de ficar de boca fechada!
— Pelo menos ela me apoia ao contrário da minha mãe, que foi embora sem dar nenhuma satisfação! — Cheguei a um ponto onde eu nem me importava mais. Agora eu já havia perdido a linha completamente. Sempre que eu falava da minha mãe acabava em gritaria.
Meu pai estava a alguns poucos metros de distância, eu ainda estava no pé da escada, apoiado no corrimão. Ele me encarava com raiva, eu não devia ter falado da minha mãe, por algum motivo ele pensava que a culpa dela ter ido embora era dele, ele ainda sentia sua falta todo dia.
O homem se apressou em minha direção, pensei que ele fosse me bater, mas saiu andando passando por mim e subindo as escadas. Ele definitivamente não estava "fugindo" da discussão, isso deve ir contra os princípios de "homem" dele, isso não poderia ser bom. Eu o sigo com passos apressados subindo a escada, quando chegamos no andar superior, vejo que meu pai de direciona para o meu quarto. AI NÃO.
— O que você vai fazer?!!!— eu pergunto angustiado, mas ele apenas entra e bate a porta. Qualquer coisa poderia acontecer a partir de agora. Eu fico do lado de fora da porta esperando qualquer ação. Ando de um lado para o outro no pequeno hall do segundo andar com as minhas mãos fechadas em uma posição pensativa.
A porta se abre e logo vejo meu pai saindo do quarto com a minha guitarra em suas mãos. NÃO. Qualquer coisa menos isso!
— Pai! O que você está fazendo?!— ele me ignora e passa reto por mim com a guitarra em suas mãos. Ele desce as escadas e eu o sigo.
Meu pai atravessa a casa e chega até a porta de entrada, que dá para o jardim da frente. Ele passa a porta ainda com a guitarra em mãos, quando chega ao jardim, pega o instrumento com as duas mãos segurando em seu cabo e em um golpe só, marreta o chão com a guitarra. Ele repete o golpe diversas vezes, destruindo-a. Não havia nada que eu pudesse fazer, enquanto eu vivesse sobre seu teto, teria que aguentar. Eu apenas observava.
Aquela era minha única guitarra. Como eu poderia trabalhar na minha música agora?
O homem acaba com o instrumento. Eu tinha vontade de chorar, mas ele apenas riria da minha cara. Ele olha para os meus olhos e diz:
— Isso foi para você aprender que deve cuidar das coisas aqui em casa, ao contrário, isso acontece.
Com essas palavras, o homem saiu, me deixando boquiaberto. Dou uns passos para frente onde estão os restos mortais da minha única guitarra. Definitivamente não havia conserto.


O dia de ontem passou como um borrão, não é como se meu pai nunca tivesse feito algo assim, como quebrar alguma coisa minha ou gritar na minha cara, mas esse foi com certeza o mais significativo. Ele sabia que aquela guitarra era tudo para mim, eu havia trabalhado dois meses em uma lanchonete com a comida de qualidade duvidosa só para poder pagá-la! E eu tive que fazer isso escondido, se meu pai tivesse descoberto que eu estava trabalhando e o destino do dinheiro não era de seu interesse, ele me faria lhe dar tudo. Quando ele descobriu sobre a guitarra acabou acontecendo uma briga, mas ele pelo menos não a quebrou.
Eu não vou trabalhar mais dois meses para comprar uma guitarra a essa altura, acho que vou ter que apenas lidar com isso.
Então, hoje é quinta-feira, o que significa que eu terei que fazer o meu trabalho na sala de música. O período de aulas passou muito devagar, deve ser porque eu não conseguia tirar a visão do meu pai quebrando o objeto que eu mais amava. Mas não sei, é só um palpite...
No horário do almoço eu não achei Jac. Às vezes ela faltava por causa da sua mãe, ela ficava bêbada demais na noite anterior e não podia ser deixada sozinha. Isso é uma das coisas que eu mais admiro nela, não o fato dela servir de babá para a própria mãe, maso fato de ela aguentar tudo isso e ainda seguir firme e forte. Nós dois temos problemas com nossas respectivas famílias, não é fácil.
Sentei na mesa com Spencer, ele não parou de falar um segundo, o que em parte foi bom, pois assim eu me distraia.
Mas, agora eu estava sozinho e não havia ninguém para me distrair. Eu estava me dirigindo até a sala de música quando o Sr. Montgomery se materializou na minha frente. O que ele queria agora?
— Ei, Ross. — chamou.
— Sr. Montgomery, veio ver se eu iria fazer o trabalho mesmo ou o que?
— Em parte, mas como um aluno me disse ontem, fiquei sabendo que você não permanece na sala durante o ensaio. É verdade, Ross?
— ...Sim?— Ok, ninguém nunca mencionou que eu tinha que ficar na sala!
— Ryan, você deve permanecer na sala—
— Mas, você nunca disse isso! E qual é o sentido? Eu só tenho que guardar o material!
— Considere isso um... extra.
— Você deve estar brincando... — eu disse isso mais para mim mesmo, mas Montgomery ouviu e levou à sério.
— Não, Ryan, eu que dou as ordens aqui. Se eu te ver fora da sala ou algum aluno me avisar, considere-se de volta ao 2º ano!— Com essa declaração ridícula, o orientador se virou e foi em direção a sua sala.
Como assim eu tenho que ficar em sala? Por que essa homem me odeia tanto? Eu não aguento não.
Com mais má vontade do que antes, segui meu caminho até a sala. Abri a porta e ela estava exatamente como eu a havia deixado dois dias antes. Comecei a pegar os instrumentos necessários. Quando acabei tudo, ainda faltavam 10 minutos para o ensaio começar, então decidi explorar o que tinha em todas aquelas gavetas e armários.
Abri o primeiro ao lado do piano, haviam pilhas de papéis que definitivamente não me interessavam. Abri o segundo que parecia um pouco vazio comparado ao outro, se não fosse por uma guitarra deitada. Meus olhos brilharam com essa visão. Sem pensar duas vezes, a peguei nas mãos, não era muito parecida com a minha anterior, mas continuava sendo linda. Como não tinha ninguém na sala, decidi tocá-la um pouco, afinal, eu não sei quando vou chegar perto de outra de novo.
Toquei apenas alguns acordes da minha musica favorita, Starman, do David Bowie. Eu estava perdido em meus devaneios enquanto tocava o instrumento, meus dedos viajavam pelas cordas. Estava tão focado que nem percebi quando alguém entrou na sala. Eu olho em direção a porta e vejo Brendon.
— Ah, desculpa por ter interrompido... Eu posso esperar lá fora.— diz o garoto envergonhado por ter me interrompido.
— Interrompido? Eu não estava fazendo nada, pode ficar aqui também,— eu nem sabia o que falar — eu já ia parar de tocar mesmo.
— Não precisa! Você toca muito bem, sério. — fala Brendon, ele estava claramente envergonhado.
— Nossa, er,  obrigado, mas eu ia parar de qualquer jeito. E você, toca algum instrumento?— perguntei para quebrar o silêncio constrangedor, mas logo percebi que era uma pergunta bem idiota de se fazer, afinal, ele estava na banda da escola. — Quer dizer, qual instrumento...— disse tentando consertar meu erro estupido.
— Na banda, eu toco os pratos, é eu sei, bem inútil, mas é só porque eu precisava fazer uma atividade extra. Mas eu o que eu realmente gosto de tocar é bateria.
— Os créditos extra, sei como é. Mas bateria é bem legal! — Parece que estamos na mesma situação, eu acho que essa banda inteira é movida a créditos extra.
— Então você está aqui porque precisa de mais pontos?— pergunta o garoto.
— Pode-se dizer que sim, era arrumar instrumentos ou limpar banheiro. — Brendon parece um pouco confuso sobre isso, talvez não seja exatamente a mesma coisa. — Mas enfim, quem participa dessa banda?
— Ah, sabe, a maioria dos alunos é do 1º ano.
— Então isso explica o porquê de eu não conhecer ninguém.
Depois disso ficou um silêncio um pouco desconfortável, eu sou péssimo em ser simpático ou fazer amigos.
— Então, você vai ficar para assistir ao ensaio hoje? — disse Brendon, ele possui esses olhos castanhos inocentes que você não consegue parar de encarar.
— Pelo jeito, de acordo com Sr. Montgomery, eu não posso sair da sala. Então, sim, vou assistir toda a sua performance com os pratos.
Ele esboça um sorriso de canto.
— Você irá se impressionar.— disse com um sorriso tímido.
Logo depois que disse isso, a porta se abriu novamente. Percebo que já estava na hora do ensaio, uma menina de cabelos castanhos entrou na sala, seguida por um menino. Os dois nem olharam para nossas caras, eu e Brendon nos entreolhamos. Depois disso começou a chegar mais gente, até que todos já estavam presente. Assim, cada um pegou seu instrumento e começaram a ensaiar.
Eu fiquei apenas sentado em um canto observando tudo, Brendon até que tocava bem os pratos, mas até eu poderia fazer isso, afinal, é apenas uma questão de coordenação motora para fazer isso. Em geral, a banda ia bem, mas não era nada excepcional, mas para uma bandinha de escola era ótimo. Mas eu não entendia nada sobre isso, então sei lá.
A uma hora e meia de ensaio passou se arrastando, eu encarava o teto pensando na vida. Eu estava tão entediado que comecei a encarar cada um dos alunos e apontar tudo que há de errado com eles. Que tipo de pessoa faz isso?
Quando o ensaio finalmente terminou, todos os alunos saíram da sala e eu fiquei arrumando tudo. Quando terminei, peguei minha mochila e fiz meu caminho até a parte da frente da escola, onde seguiria meu caminho para casa.
Quando cheguei do lado de fora, vi que Brendon ainda estava lá. Quando passei por ele enquanto andava, disse um pouco sarcasticamente:
— Bom trabalho com os pratos!
— Eu disse que era impressionante! — Esse garoto até que era bem legal.— Ei, Ryan, vai a pé pra casa?
— Hm, sim, porque?
— Eu vim dirigindo, quer uma carona?
— Ah, pode ser. — A minha casa não era exatamente longe, mas eu não estava com muita vontade de andar depois do dia de hoje.
O carro de Brendon estava estacionado no estacionamento da escola. Eu o falei o bairro em que eu morava e fomos. Eu disse o bairro, não a casa. Olha, vou ser sincero, o lugar em que eu moro é uma merda. Não quero espantar um amigo em potencial mostrando o buraco onde eu moro.
No caminho até lá nós conversamos sobre música em geral.
— Ok, agora me diga, Brendon, qual é o melhor artista da atualidade na sua opinião?
— Essa é óbvia, né! David Bowie, ele é incrível! — O garoto que parecia tão tímido no começo agora estava falando quase tanto quanto o Spencer. Ok, não vamos exagerar. Mas mesmo assim ele continua tendo aquela aura meio tímida.
Nós continuamos conversando sobre qualquer assunto até que me veio a dúvida do porquê ele havia saído da sua escola anterior. Talvez não fosse a melhor ideia, talvez tivesse acontecido alguma coisa, mas como não tenho experiência nessa área de interação social, decidi perguntar de qualquer jeito.
— Brendon, porque você mudou de escola logo no último ano?
— Ah , — ele pareceu se desanimar com o assunto abordado— é que eu me meti em algumas brigas...
— Brigas? Que tipo de brigas?
— Então, — começou Brendon claramente desconfortável, talvez eu devesse parar por ai, mas eu estava curioso agora, como alguém do tamanho dele se meteu em brigas?— alguns outros alunos me xingavam de alguns nomes diariamente, então um dia eu fiquei irritado e comecei uma briga. Só isso mesmo.
— Que tipo de nomes? — ele já devia estar perdendo a paciência comigo.
— Tipo bicha, viado, gay...
— E era verdade? — Falei totalmente sem pensar, eu preciso aprender a manter meus pensamentos fora da minha boca!
— Que eu sou gay?— ele pergunta e eu apenas concordo com a cabeça, agora o estrago já estava feito. Ele havia virado a esquina e estacionado o carro, havíamos chegado ao meu destino. — Sim.


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Notas finais do capítulo

Daddy's Eyes- The Killers



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