Fluorescent Adolescent escrita por thebadslandx


Capítulo 1
I: Welcome To My Life


Notas iniciais do capítulo

notas finais :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/701008/chapter/1

 

Eu acordo com a luz que escapa dos vãos da persiana direto nos meus olhos, uma dor de cabeça forte me atinge, quando olho em volta e percebo que estou no quarto de Stacy, me lembro rapidamente da noite anterior... E que noite...
Ela estava dormindo com a cabeça em meu peito, eu poderia assisti-la o dia inteiro dessa maneira, seus cabelos loiros compridos cobriam seus ombros, dormia tranquilamente em uma situação normal eu não a acordaria, mas acontece que há uma coisa chamada escola. Eu a cutuco levemente.
— Stacy,- eu digo sussurrando e ela apenas da de ombros e continua a dormir- Stacy!
Ela acorda e olha para mim com um ar de indignação, mas logo seu semblante muda e se assim como eu, lembra que estamos atrasados para a escola, eu não me importaria em chegar atrasado no primeiro dia de aula, mas ela se importa com esse tipo de coisa. Stacy sai de cima de mim, ela veste apenas suas roupas de baixo. Seus cabelos ainda não estão penteados e caem sobre seu rosto, seus olhos estão maiores do que o normal. Ela era linda.
— Bela noite, não é mesmo?- indaga a menina com um sorriso nos lábios.
Eu apenas sorrio para ela e pego um cigarro na escrivaninha acendendo-o. Eu assisto enquanto ela se veste, estávamos na casa dela. A noite passada é um borrão para mim, eu apenas me lembro de ter ido em uma daquelas festas "volta as aulas", eu devo ter bebido muito, então por isso presumo, que deveria ser uma daquelas festas escondidas e ilegais onde há venda explícita de drogas e álcool para menores de idade. Para falar a verdade, nunca gostei de festas nem de beber, deve ser algum tipo de trauma com meu pai, ele está sempre bêbado e eu certamente não quero seguir o mesmo caminho que ele. Só sei que eu e Stacy voltamos para a casa dela, e digamos, coisas aconteceram...
Stacy desliza um vestido florido por seu corpo e coloca uma sandalha, mas sem sutiã, é claro, ela havia queimado todos que tinha. Quando acabei meu cigarro decidi tomar uma iniciativa e me vestir. Eu não tinha roupas limpas então tive que colocar as mesmas de ontem, elas cheiravam a álcool e suor, acho que não faria uma boa impressão aos novos professores, mas quem se importa?
Nos vestimos e descemos para a cozinha. Pelo jeito a mãe de Stacy não estava em casa, ela deve ter passado a noite fora, ela não é muito presente na vida de sua filha, mas isso não a afeta nem um pouco, pelo jeito alguns são mais sensíveis que os outros. Comemos apenas pão, afinal, era o que tinha.
A garota foi dirigindo o carro de sua mãe que estava na garagem (definitivamente ela tinha dormido com alguém), minha resseca seria perigosa demais a essa hora da manhã. Stacy pode parecer uma pessoa 'metida' quando se fala com ela pela primeira vez, acredite, eu mesmo pensei nisso, mas você se acostuma com ela, é o seu jeito de ser. Mas no final, ela acabou sendo uma companheira e tanto para mim.
Então, eu e Stacy estivemos namorando a quase um ano, tudo começou em setembro de 1973. Para mim esse relacionamento nunca foi realmente "sério", mas o sentimento não é mútuo, ela já disse que me amava umas duas ou três vezes, eu fingi que não ouvia ou apenas dava de ombros, ela parecia chateada por isso. É, eu sei que sou um babaca por isso, mas não me leve a mal! Eu não quero mentir para ela dizendo que estamos na mesma página desse relacionamento, eu nem acredito em tal coisa como amor para falar a verdade! 'Amor' é supervalorizado. Mas é melhor que eu me sinta assim, afinal, ano que vem eu e ela seguiremos caminhos diferentes, eu nem sei se quero fazer uma faculdade, mas ela parece muito certa de que irá cursar artes plásticas. Meu sonho é trabalhar com música, mas não acho que isso jamais irá acontecer, eu preciso de dinheiro, minha família quase não tem dinheiro para pagar a passagem do ônibus. Então a carreira na música pode não ser a mais eficaz para isso, você tem uma chance em um milhão de dar certo nesse ramo.
Fico perdido nos meus devaneios e nem percebo quando chegamos no estacionamento da escola. Primeiro dia de aula do terceiro ano, vamos lá, só mais um ano, vamos ver se eu sobrevivo.
— Te vejo no almoço, Ryan. - fala sorrindo para mim depois de fechar a porta do carro, enquanto prende seus cabelos loiros, indo em direção a porta da escola.
Bom, agora estou sozinho. Mas não por muito tempo, logo vejo Oliver vindo ao meu encontro com um sorriso nos lábios. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele me abraça com toda a força. Eu e Oliver não somos exatamente melhores amigos, mas ele talvez seja o mais perto que eu tenha disso, nossa, falando assim minha vida parece até mais miserável do que ela já é.
— Ok, ok... chega, Oli- eu falo quase sem conseguir respirar, esse era o abraço mais apertado que eu havia recebido.
— Ry! Eu não te vejo desde...sei lá! - ele fala finalmente me soltando, sorrindo como nunca.
O sinal toca e vamos para a primeira aula, vejo meu horário e é Matemática, ótimo. Odeio matemática. Mas pelo lado bom, a primeira aula de Oliver não é a mesma que a minha, então serei poupado das mil e uma notícias sobre suas férias.
Eu finjo que nada nem ninguém ao meu redor existe, as aulas voltaram mas a minha paciência não. Sento no fundo da sala, todos estão conversando sobre deus-sabe-o que, até que o professor chega e todos sentam. Olho em volta para ver se há algum aluno novo, percebo um menino magro sentado ao lado da parede encarando o chão, eu sei como é difícil ser aluno novo e não conhecer ninguém, na primeira semana é horrível mas depois as pessoas começam a notar a sua presença e se der sorte, alguém vira seu amigo. Falando assim parece ser pior do que realmente é.
A aula começa e eu não poderia me importar menos. É só o primeiro dia de aula, quem se importa? Semana que vem eu começo a prestar atenção.


O sinal bate, indicando que finalmente estaria livre daquele lugar. Finalmente saio da sala de aula e começo a andar pelo corredor até a saída, me sinto uma alma andando para a luz (que seria a porta), mas minha fantasia é cortada quando vejo o orientador na minha frente me olhando nos olhos com um sorriso mais do que falso, esse cara tem algum problema comigo, sério. Eu não sei o que fiz para ele, mas ele definitivamente não gosta de mim.
— Campbell.
— Sr. Montgomery! Como foram as férias? - falo com um ar sarcástico, mas ele apenas ignora minha saudação amigável e vai direto ao ponto.
— O sr. sabe que ano passado você passou literalmente raspando, não é mesmo? - Sim, eu sei... foi horrível, fiquei tão estressado, só passei por sorte, acho que eu nem tinha crédito suficiente, os professores do 2º ano só queriam se ver livres de mim.- Bom, você passou apenas por um pedido de alguém "especial", mas, continua sem o crédito necessário, e para isso eu posso te dar duas opções.
Esse "alguém especial" eram os professores, certeza, mas isso quebra algumas leis ou sei lá o que, meu pai não sabe disso, mas se souber... digamos que as marcas durarão mais tempo para cicatrizar.
— Que seriam...?- digo apreensivo.
— Não me venha com esse ar engraçadinho, Campbell, quem está com a corda no pescoço é você. - Estou cada vez mais ferrado, minha vida é uma merda- Você pode fazer serviço comunitário, ou...
— Serviço comunitário? Como na prisão? O que?!
— Não, Ryan, você seria responsável pela limpeza da quadra e banheiros da escola até acumular crédito o bastante. Mas enfim, a segunda opção, é você se juntar a banda sinfônica da escola, mas você não estaria tecnicamente na banda, você organizaria os instrumentos necessários a cada ensaio, limparia a sala de música, isso três vezes por semana.
—E se eu não fizer nada? - Nenhuma das opções é boa, eu sou tão burro! Por que eu não estudei direito? Qual é o meu problema? Eu deveria deixar de procrastinar o dia inteiro e realmente fazer alguma coisa.
— Bom, você poderia ir para outra escola, sem problemas. - No fundo ele está adorando tudo isso.
— O que?! Mas não tem outra escola por perto que o meu pai possa pagar! Ele vai me matar! - Eu paro um momento para pensar, vale a pena mesmo? Não deve ser tão ruim, melhor do que ter que lidar com o meu pai, qualquer coisa antes disso. O orientador me encara com um ar entediado, eu odeio ele.- Ok, ok. Eu faço.
— Ótimo,- ele parece satisfeito com si mesmo- o que vai ser então? Limpar banheiros ou organizar trompetes?
— Eu fico com os trompetes.
— Maravilhoso, Sr. Campbell. Esteja aqui todas terças e quintas, das duas horas até as quatro da tarde.
Ele se virou e foi embora. Agora o corredor estava vazio, espero que Jac não tenha desistido da carona que ela ia me dar.
Finalmente saio pelo porta e não vejo nenhuma alma lá fora. Stacy me deixou aqui, tudo bem, eu não a culpo, eu provavelmente faria a mesma coisa. Olho em volta e vejo o tal garoto magro da aula de matemática, que ele está fazendo aqui essa hora? Dou de ombros e sigo meu caminho para casa, eu realmente não estava afim de ter que encarar meu pai agora, eu iria para outro lugar, talvez a casa da minha namorada, mas a mãe de Jac já deixou bem claro que não me quer em sua casa, eu poderia ir para a casa de Oliver, mas é muito longe da minha e eu acabaria chegando em casa muito tarde.
Vou caminhando para casa observando o mundo a minha volta, mas não é como se o subúrbio de Las Vegas fosse bonito ou fotogênico, mas é o meu conceito de 'lar'. Seria preocupante achar o seu bairro mais aconchegante do que sua própria casa? Quando estamos falando do meu bairro, sim, quando estamos falando da minha casa, não. Mas o que realmente tornava minha casa um lugar insuportável principalmente para mim, era o meu pai. Veja, minha deixou eu e meu pai quando eu tinha apenas 9 anos, sua desculpa foi que ele era um alcoólatra e precisava de ajuda. Mas então por que ela me deixou para trás? Essa é uma pergunta que jamais será respondida, acho que a minha família teve, tem e sempre terá problemas. O meu problema com meu pai era que com o álcool, veio a violência e raiva. Então, as vezes ele desconta tudo em mim. Não tem nada que eu possa fazer sobre isso, tenho que aguentar. Mas assim que eu me formar, sairei daqui e nunca mais vou ter que olhar na cara dele. Eu pretendo seguir na carreira da música, eu toco guitarra e componho, mas nunca tive muita coragem de mostrar meu trabalho para alguém, é o meu segredo.
Chego em casa, atravesso o jardim da frente onde a grama se encontra grande e mal cuidada, como sempre. Quando entro, vejo meu pai na sala, ele está dormindo no sofá, com a televisão ligada e uma garrafa de cerveja na mão. Aproveito a situação e vou para o meu quarto antes que ele me veja.
Meu quarto é repleto de posters, mas também é muito bagunçado. Hoje estou me sentindo inspirado, então pego meu caderninho de anotações e começo a fazer rascunhos para uma possível música nova.


Hoje começava o meu trabalho na sala de música, mal posso esperar. Mas, sério, não. O que há de animador ou interessante em uma banda sinfônica? Na minha opinião, o que torna a música algo tão lindo e único são as letras, as mensagens passadas por ela. Mas uma banda instrumental não tem isso, qual é a graça?
Não é como se eu fosse um grande compositor ou não respeitasse artistas como Beethoven, eu entendo o seu impacto na música clássica e blá blá blá, mas estamos em 1974! Não temos mais tempo para música clássica! São os anos da revolta jovem! Ou a década passada não os ensinou nada?
Mas sobre as minhas composições, não acho que sejam realmente boas, não é como se eu tivesse tido experiências de vida tocantes o bastante para me inspirar musicalmente, eu geralmente me inspiro em livros, me coloco no lugar do protagonista e penso sobre sua visão sobre o mundo, o que ele diria? O que pensaria?
As aulas passaram rápido hoje, mas não é como se eu tivesse muito atento a tudo dito pelo professor. Falei com Stacy sobre o trabalho na sala de música hoje no almoço.
— Mas por que você vai ter que fazer isso?- perguntou confusa.
— Ah, eu pensei em ajudar um pouco a escola, sabe como é...- Nem sei inventar uma decente. Eu não podia contar sobre a minha falta de crédito, não é que eu não confio nela, mas...
— Ah Ryan, pelo amor de Deus - disse Stacy com um ar desacreditado- desde quando você se importa com a escola?
— Não é que eu me não me importe, mas-
— Ei, você sabe que pode me contar qualquer coisa- ela me cortou, dando um ênfase no 'qualquer'.
— Ok...- eu disse pensando em algo para falar.- é que eu não quero ter que passar mais tempo em casa sabe...
O que eu disse não era 100% mentira, eu realmente não queria passar mais tempo naquele lugar com o meu pai. Ela sabia disso, mas é como se quando eu tentava me abrir para ela, ela não estava lá. Não me ouvia.
— Ah... Ryan, você sabe que pode ficar lá em casa, sério.
— A sua mãe nem me aguenta mais, Stacy, mas agora já é tarde de qualquer jeito.
— Ela pode não gostar muito de você andando pela casa, mas tudo bem, ela é inofensiva - disse dando de ombros

Eram duas da tarde e o ensaio da tal banda começava só duas e meia. Peguei a chave que o Sr. Montgomery havia me dado para a sala de música, ele também me deu uma lista com os instrumentos que os alunos usariam hoje. Abro a sala e logo vejo um piano com aparência um pouco velha no canto, ao lado da janela. Atrás do piano vejo alguns instrumentos jogados. Também há vários armários e gavetas pela sala, todos cheios de instrumentos menores, enquanto os maiores estavam na bagunça atrás do piano. Olhei para a lista. Haviam alguns trompetes, flautas, clarinetes, violinos e etc.
Quanta coisa, nunca pensei que uma banda de escola teria tanta gente, mas quem que participa disso? Eu não conheço uma única pessoa que esteja nisso.
Bom, agora todos os instrumentos estão separados na sala espaçosa, meu trabalho está terminado por enquanto. Ainda falta 15 minutos para o horário do ensaio, ninguém chegou ainda. Acho que eu deveria sentar e esperar alguém chegar, depois de uns cinco minutos a primeira pessoa aparece. Para a minha surpresa, era o tal garoto magro da aula de matemática. Ele abre a porta e dá um passo para dentro com a cabeça baixa, olha para cima e toma consciência da minha presença. Eu ainda não havia visto seu rosto claramente, estava sempre baixo. Ele não era como eu imaginava, tinha olhos grandes castanhos e um olhar perdido. Ele não era ‘feio’. Há alguns segundos de desconforto onde nós apenas nos encaramos, eu decido dar o primeiro passo.
— Er, oi. Meu nome é Ryan. – digo me levantando da cadeira de plástico e caminhando em sua direção.- Eu sou o responsável pelos instrumentos sabe, você está nessa banda?
Depois de alguns poucos segundos de reflexão, ele responde:
— Ah, sim, mas eu sou novo na escola, então não tenho muita ideia de como isso aqui funciona. – Ele parecia um cachorro que caiu da mudança, perdido e envergonhado- Aliás, meu nome é Charlie.
Ele esticou a mão e eu o cumprimentei.
— Bom, eu só estava esperando alguém chegar para eu poder sair da sala, então acho que essa é a minha deixa.
Aceno para Charlie, ele parece desapontado que eu já tenha o abandonado. Talvez isso não tenha sido a coisa mais educada a se fazer, mas eu queria sair. Só precisava estar de volta as quatro horas para guardar tudo, até agora está tudo dando certo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Música: Welcome To My Life- Simple Plan
Olá, caro leitor!
Aqui nas notas finais, eu gostaria de fazer uma breve introdução sobre o que você pode esperar dessa história. Primeiro de tudo, se você é Panic! At The Disco trash, provavelmente já leu ou ouviu falar de "The Heart Rate Of  A Mouse" (a.k.a. throam), essa fic me deu uma grande inspiração para essa história, então há sim algumas semelhanças, mas essa fic continua sendo minha.
Eu também mudei algumas datas de acontecimentos da época, para tudo se encaixar direitinho, como a World Tour do David Bowie, que na realidade foi em 1978, mas aqui a gente finge que foi em 1974. Então, não estranhem datas e essas coisas...
E por fim, cada capítulo tem o título de uma música, elas não tem haver com o capítulo em si, mas sim seus títulos. Então, nas notas finais sempre vou deixar de quem é e tudo certinho.
Por enquanto é isso, espero que você continue a história e tenha gostado! Se tiver alguma sugestão ou comentário, deixe aqui embaixo, elas sempre ajudam bastante! Você também pode me mandar uma dm ou mensagem no twitter (@thebadslandx)!

xoxo,
thebadslandx



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fluorescent Adolescent" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.