O meu final feliz escrita por Lácrima


Capítulo 4
Preciso ficar sozinho




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Depois do karaokê, eu descobri que precisava me afastar um pouco dos meus amigos para esfriar a cabeça. Eu ainda gostava imensamente de todos eles, mas percebi que acabaria explodindo e sendo grosseiro com alguém cedo ou tarde. Para não ferir meus amigos, o afastamento era a solução. Mas não é fácil dar um tempo em seus amigos quando eles convivem com você na mesma escola e no mesmo clube.
No primeiro dia de aula após o encontro, eu precisei tomar decisões importantes.


— Suwa! Vamos almoçar. Hoje vamos espiar o casal no terraço - Azusa juntou as mãos com um brilho no olhar. Fiz um grande esforço para não revirar os olhos.

— Azu - repreendeu Hagita, mas ela apenas riu, empolgada.

— Parece que rolou - disse a garota cobrindo a lateral do rosto com a mão, fazendo fofoca.

Meu estômago foi revirado. Eu não queria saber disso.

— Azu... - dessa vez, foi Takako quem tentou pará-la.

— Credo! Todo mundo está tão chato hoje. O que foi? Até parece que ninguém aqui estava empolgado quando viu os dois tocando a mão um do outro hoje de manhã.

"Por favor, pare", eu tive vontade de dizer. Apenas olhei para a mesa ao lado. Desejei sumir daquele lugar. Ainda assim, sorri. Minha cabeça girava.

— Oi, pessoal - Naho apareceu na porta da sala, com um sorriso sem jeito.

— O que você está fazendo aqui, mocinha? Vai já para o seu almoço romântico! - ordenou Azusa, fingindo empurrá-la para fora.

— O que aconteceu? Você não deveria estar com o Kakeru? - perguntou Chino.

— Ah... bem. Sim. Mas é que... eu não sei direito o que fazer agora... - seu rosto ficou completamente vermelho.

Azusa quase pulou em cima dela e Taka foi atrás, afastando-se com ela em um canto. Eu apenas pude observar seu rosto mudando de cor e sua empolgação óbvia quase infantil. Sorri. Era muito bom vê-la tão feliz. Ao mesmo tempo, sentia como se meu coração estivesse a quilômetros de distância mandando lembranças.

— É sua change de fugir, Sawa - comentou Hagita, que tinha ficado para trás.

— Hm? - olhei muito surpreso para ele. Era tão óbvio assim?

— Você não quer fazer parte disso e não quer dar explicações para ninguém. Pode fugir agora que elas estão ocupadas. Eu só evitaria o terraço.

Ainda naquele momento em que eu estava sendo distante e um amigo péssimo, meus amigos conseguiam me compreender? Ri baixo. Eram mesmo os melhores companheiros que eu teria.

— Até mais tarde - disse quase sem perceber, com um estranho alívio no peito e "fugi" como sugerido.

No corredor, eu nem tinha certeza onde almoçaria, mas decidi ficar em um banco perto da quadra. Qualquer lugar era melhor do que ouvir a conversa empolgada sobre aquele beijo que agora eu tinha certeza de que tinha acontecido. Naho parecia realmente muito feliz. Será que ela também tinha ficado desse jeito quando eu a beijei em um mundo paralelo?

Fiquei sozinho o tempo inteiro e nem percebi quando já era a hora de voltar. Ninguém me fez perguntas. Só Azusa me chamava de chato algumas vezes e eu tinha certeza de que Taka e Hagi sabiam o que estava rolando. Por sorte, Naho estava ocupada demais com sua felicidade. Ela era boa demais para perceber o cara horrível que eu era e acreditou que eu simplesmente tinha outras coisas para fazer.

À tarde tivemos treino. Eu fui o mais simpático possível com Kakeru e ele agiu como um parceiro do clube.

— Obrigado - ele me disse ao passar por mim durante o jogo. Atrasei meus movimentos e quando percebi, levei um chapéu.

Kakeru me olhou, confuso. O treinador ralhou comigo. Seguimos o jogo. Quando fizemos uma pausa para a água, tive que consertar o erro.

— Desculpe. Eu quase me esqueci de perguntar. - Meus olhos o encararam por um tempo. Eu não queria perguntar aquilo de jeito nenhum, mas as palavras escaparam com uma curiosidade maldosa. - Deu tudo certo?

Sim, eu me referia ao beijo. Sim, eu estava arrependido por ter perguntado. Não, eu não queria que tivesse dado certo. Uma parte de mim queria ouvir um milagroso "não" e essa parte, que preservava Naho como minha esposa intocável, estava crescendo dentro de mim. Senti que ele me observou cuidadosamente antes de responder.

— Sim, muito obrigado - sorriu, daquele jeito esquisito de quem está escondendo alguma coisa. Hoje percebo que ele simplesmente estava tentando não me machucar. Mal sabia ele que era essa atitude que doía mais.

— Ah! Naruse! - uma voz chamou. Os caras do clube se aproximaram para conversar. - Você perdeu nosso karaokê! Você tinha que ver, Suwa arrasou.

— Naruse-kun, você precisa participar do próximo encontro, estamos marcado para o fim de semana.

— É, você tem que apresentar a sua namorada - brincou outro, fazendo-o ficar surpreso e tímido.

— Sabemos que é a Takamiya-san, mas vamos fingir que é novidade.

Por um instante eu imaginei como seria desagradável ter que vê-los de mãos dadas naquele karaokê. Logo no "meu" espaço. Parte de mim teve raiva e não queria que os dois estivessem ali também.

Eu queria ver Naho se divertindo. Queria vê-la sorrindo e alegre, mas não com ele...

"Não aceite. Já estou abrindo mão de muita coisa por você", foi um pensamento cruel que surgiu na minha cabeça com força e, sem querer, dei um sorriso trincado. A verdade escapou pelo meu rosto antes que eu conseguisse controlar aquele pensamento egoísta. Vi que Kakeru olhava através de mim e me arrependi amargamente de encarar seu rosto. Fitei o chão, envergonhado. Não era assim que eu deveria agir com um amigo...

Por que esses pensamentos começavam a aparecer incontroláveis? Tinha muita vergonha deles.

— Desculpem. Eu preciso levar mimnha avó ao hospital - respondeu Kakeru, com um sorriso forçado que me fez arregalar os olhos. Era uma óbvia desculpa. Ele sabia o que eu estava sentindo e isso me fez perceber o quanto eu estava me tornando um péssimo amigo.

A culpa me invadiu completamente: eu estava feliz com aquela declaração.

— - -

Depois daquele dia, eu me tornei ainda mais distante. Tive medo de magoar o Kakeru e interferir em sua recuperação. Dizendo que tinha marcado de almoçar com o pessoal do clube, consegui me livrar de mais um almoço. Ganhei olhares estranhos de todos, menos Naho e Azusa. Kakeru sorria.

Às vezes eu sonhava com aquele sorriso complacente dele. Kakeru sabia que eu era um monstro insensível. Eu me sentia um lixo de amigo, mas era sufocante ouvir as mesmas conversas todos os dias. Eu não estava pronto ainda.

Não queria parecer infeliz para Naho. Não queria admitir para eles que não estava conseguindo cumprir com o que a carta queria, agora que não tínhamos mais uma tragédia iminente.

Fiquei sozinho de novo no intervalo.

— - -

Nos treinos seguintes, o grupo insistia para que ele saísse conosco, mas Kakeru apenas sorria e inventava várias desculpas para não ir. Depois lançava um olhar compreensivo para mim e me lançava um sorriso gentil, que assegurava estar tudo bem.

O pior de tudo é que eu me sentia desculpado por aquele sorriso e aquilo me levava a me afastar cada vez mais, como se estivesse certo ao agir assim.

— - -

Aos poucos, Azusa resolveu assumir que eu era simplesmente um chato e reclamava em voz alta minhas ausências. Hagita não se importava mais. Naho começava a ficar preoupada, mas Takako tentava me cobrir e dizia que eu estava realmente empenhado em me tornar um atleta, por isso estreitava laços com o clube. Kakeru apenas sorria gentilmente.

Eu sempre comia no mesmo lugar. Era o melhor momento do dia poder poupá-los dos meus sentimentos mesquinhos. Minha mente aos poucos ficava em paz.

Não esperava ser encontrado, mas depois de dias almoçando sozinho no mesmo lugar, era mais do que natural chamar atenção. Mesmo assim, foi surpresa aquele dia em que eu ouvi uma voz vagamente conhecida atrás de mim.

— Senpai.

Amemori Shiori estava atrás de mim, acompanhada pelo olhar protetor distante de um grupo de garotas ansiosas.

— Amemori-san... - arregalei os olhos. Não esperava vê-la por ali. Claro, pensando agora, eu de fato a tinha cumprimentado algumas vezes durante a semana, mas não tinha sido mais importante do que dizer olá para o restante dos meus colegas.

— Está comendo sozinho... - ela começou, visivelmente sem saber o que dizer. No karaokê, ela tinha mais coragem pois estava acompanhada de muitas pessoas. Até eu fiquei um pouco sem ação.

— É... - respondi simplesmente, sendo repreendido pela minha consciência em seguida.

Ficamos em silêncio. Eu não contei o tempo, pois não estava preocupado. No fundo, só queria ficar sozinho.

— Eu pensei que talvez você quisesse... ahn... Bem. Eu vi que você ficava bastante sozinho e pensei se de repente não gostaria de companhia.

Se eu soubesse como fiz para mandar uma carta ao passado, eu teria realmente mudado a minha resposta a seguir.

— Eu estou bem, não se preocupe - sorri. Só não queria causar problemas e nem tinha reparado quais eram as intenções dela até ver seu semblante entristecer absurdamente. Shiori abaixou o rosto, extremamente envergonhada.

— Certo. Obrigada - sorriu sem graça e saiu correndo de encontro com as amigas, que me olharam feito um monstro.

Eu me senti muito culpado.

— - -

— DESCOBRIMOS O SEU SEGREDO, SUWA-KUN - berrou Azusa, naquele dia em que decidimos voltar todos juntos da escola.

Eu aceitei porque fazia tempo demais que eu não saía com eles e Naho já começava a me olhar com ar de preocupação e a última coisa que eu queria era fazê-la sentir culpa por namorar quem ama. Aparentemente, foi uma decisão sábia porque todos ali pareciam aliviados, como se tudo fosse voltar ao que era antes.

Até Takako sorriu com aquela frase. Aparentemente eles passaram dias confabulando.

— Você não quis almoçar com a gente para fazer a Amemori-san ter coragem de falar com você, não é? - comemorou com um sorriso de detetive.

— Ela decidiu espiar o seu almoço - revelou Hagita rapidamente, satisfeito em estragar a aura de mistério de Azusa.

— Ei. Que chato você. Não foi só isso, ok?

— Ela ouviu das garotas da outra classe que Amemori Shiori-san estava interessada em você - Chino terminou de contar, sorrindo.

Tudo aquilo era uma grande novidade para mim, então minha surpresa era verdadeira. Corei um pouco, confuso.

— Ai, gente, como vocês são estraga-prazeres! Mas já que vocês já estragaram tudo, agora falta você contar para seus queridos amigos: você vai sair com ela?

Parei, surpreso. Todos olhavam para mim. Naho parecia extremamente feliz por uma suposta felicidade minha, seu rosto corado e ansioso. Kakeru sorria gentilmente, aparentemente aliviado por me ver bem. Hagita também parecia contete e confiante de que minha resposta seria positiva. Taka tinha um leve sorriso nos lábios pela primeira vez em muito tempo. Já Azusa era um poço de alegria prestes a explodir com uma afirmativa.

Meus amigos. Todos estavam obviamente preocupados comigo durante esse tempo todo e agora que achavam que eu ficaria feliz saindo com a garota que eu mal conhecia, todos estavam aliviados. Senti que a harmonia do grupo dependia exclusivamente de mim. Era a primeira vez que eu não sentia um clima estranho

Eu não podia dizer simplesmente: "Desculpem, não sinto nada pela Amemori. Quero curtir a minha infelicidade por mais um tempo até uma garota que eu ame tanto quanto Naho apareça na minha vida."

Olhei para baixo. Eu tinha sido tão egoísta esse tempo todo. Eu devia a eles essa pequena alegria de parar de se preocupar comigo. Enchi o peito e coloquei meu melhor sorriso no rosto. Mesmo que não sentisse nada pela garota, ela era bonita e aparentemente gostava de mim. Isso realmente me deixava de certa forma feliz e envergonhado. Não era completamente mentira quando eu declarei:

— Eu vou tentar...

— AH EU SABIA! Ótimo, porque eu pedi anpan fresquinho para comemorar. Se você falasse que não, seria um desperdício - Azusa bateu palmas e todos caíram na risada.

Amemori Shiori. Mesmo se ela já me odiasse agora por eu tê-la tratado com tanta indiferença, ela era uma prova de que eu precisava começar a olhar em volta. Talvez começar a gostar de alguém pudesse tirar o meu coração daquele lugar escuro.


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Notas finais do capítulo

Não se preocupem. Não é minha intenção tornar isso uma fanfic Suwa x OC. Eu apenas quis dar um prosseguimento para a vida dele, de uma maneira factível, como poderia ser na vida de qualquer um de nós.



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