Jastera escrita por Pedro Nse


Capítulo 1
O início




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PARTE UM

CAPÍTULO UM

ANO 1352 DA CHEGADA

DINASTIA MURA

REINADO DO REI URON

Eu era um garoto a primeira vez que vi um lipsum. Ele tinha a aparência de um roedor, mas era um pouco maior. Lembro que fiquei hipnotizado olhando aquele pelo branco brilhante, devem ter se passado alguns minutos, mas ainda sinto como se tivessem sido horas. Então as plantas começaram a murchar ao redor da criatura, ficarem fracas e perderem sua cor enquanto o brilho do lipsum aumentava lentamente. Não conseguia parar de olhá-lo, mesmo quando comecei a fraquejar e me sentir cansado eu continuei observando.

Então observo uma movimentação súbita. Eram os caçadores. Alguém deve ter visto o brilho crescente e alertou-os. Não pararam para observá-lo, não pensaram no que poderia acontecer, assim que chegaram atacaram o lipsum sem dar-lhe nenhuma brecha. De repente o lipsum ficou agressivo, seus olhos mudaram do branco para um leve tom de vermelho e ele começou a se defender. A luta deve ter demorado uma dezena de minutos, talvez um pouco mais, mas até hoje aquela luta não acabou na minha memória.

A princípio parecia que os ataques dos caçadores não surtiam qualquer efeito na criatura, então percebi que ela começava a demonstrar sinais de cansaço, sua velocidade diminuía e começavam a surgir feridas em seu pelo.

Quando a luta acabou, a criatura começou a desaparecer lentamente, seu corpo tornando-se luz enquanto a Mágria se dissipava. Os caçadores então me viram, fiquei sem reação.

Ao se aproximarem pude vê-los mais claramente. Três deles usavam espadas médias e tinham uma armadura que protegia parte do peito, os braços e as pernas. O quarto era um homem grande, usava uma armadura completa, um escudo e um machado, nunca tinha visto tanta imponência.

Um dos que usavam armadura leve veio em minha direção, só consegui ficar parado.

— Ei, vocês viram esse garoto durante a luta?- um deles disse- ele podia ter se machucado.

Os outros ficaram sem graça e não conseguiram responder nada.

— Vocês são todos uns irresponsáveis- falou em meio a gargalhadas- ei, garoto, você está bem?

— Estou! Respondi.

— Ótimo! Qual o seu nome?

— Eu me chamo Aron!- Respondi todo animado, eu estava adorando falar com um caçador.

— Meu nome é Bret, eu e esses malucos aqui somos caçadores, nem sempre eles são tão desleixados, no geral eles sabem se virar. Agora se cuida, tá bom?- Ele já se afastava, mas eu ainda queria conversar mais um pouco.

— Um... é...- Tentei falar.

— O que foi?- fiquei mais nervoso ainda.

— Posso... posso me tornar um caçador como vocês?

Ele olhou pra mim com uma cara de incredulidade estampada. Então ele explodiu em gargalhadas.

— Vocês ouviram essa!?- gritou para os outros- O garoto quer ser como nós!

Mais gargalhadas, dessa vez por parte de todos. Senti-me completamente estúpido.

— É claro que pode garoto! –falou e eu tive que parar por um momento, pois não acreditava - mas não agora, primeiro aprenda como lutar e fique mais forte, depois conversamos. Agora temos que ir andando.

Eles se afastaram em meio a gargalhadas:

— Era seu filho capitão?- disse um.

— Só pode ser, viram como ele tava todo feliz de falar com o moleque?- disse o outro.

— Deixem de idiotice, ele pode ser um grande caçador no futuro, viram como ele não fugiu do lipsum?- disse Bret que pelo visto era o capitão. O quarto caçador, o grandalhão de armadura, só dava risadas por trás de seu elmo.

Então eles ficaram longe demais para que eu pudesse ouvi-los.

Corri pra cidade em direção à minha casa, mal me continha de tanta euforia. No caminho encontrei com meus companheiros de traquinagem. Na verdade tinha sido por culpa deles que eu tinha me encontrado com o lipsum, tinham me desafiado a encontrar um besouro diferente, maior, mais bonito que o deles. Para mim, assim como para toda criança, um desafio é algo sagrado e para realizá-lo é necessária extrema imprudência e muita vontade de provar quem é melhor: eu; é claro.

— Ei, Aron, cadê o besouro? Achou não? É um bobo mesmo. - falou Cerian, um dos amigos com quem eu mais brincava.

Cerian estava acompanhado de boa parte da turma, estavam todos esperando minha volta e quando cheguei sem o besouro começaram a dar risadas.

—Não foi nada disso, eu estava bem perto de pegar um quando eu vi um lipsum!- todos ficaram espantados, nunca tinham visto um lipsum.

— Deixe de mentir – Cerian falou novamente- se você tivesse mesmo encontrado um lipsum, você não teria nem mesmo conseguido voltar. Meu pai sempre diz que se eu vir um brilho na floresta é pra correr de volta pra cidade, porque o lipsum pode me pegar e acabar comigo.

— É!- ecoaram os outros.

— Verdade – respondi- mas eu só escapei vivo porque apareceram caçadores! Eles acabaram com o lipsum num instante.

Contei pra eles a história, claro que com a liberdade poética a que todas as crianças têm direito, mas nem por isso a história era menos verdadeira.

Eles demoraram a acreditar, mas tanto insisti que terminaram cedendo à minha insistência.

Por pura coincidência de pensamentos começamos a brincar de caçadores contra lipsum, o nome já diz tudo. Como eu tinha acabado de ter contato com caçadores de verdade, tanto falei que me deixaram ser o líder dos caçadores.

Lutei, protegi, matei e morri heroicamente centenas de vezes naquela tarde, cada aventura mais impressionante que a anterior em nossas mentes juvenis. Certa vez, durante um ataque heroicamente altruísta, me desequilibrei fantasticamente. Cerian não perdeu tempo, aproveitou meu desleixo e deu-me uma cabeçada digna de um lipsum autêntico.

Comecei a cair pra trás, mas minha queda parou de repente, bati em alguma coisa e pela expressão que meus companheiros faziam, essa coisa estava altamente irritada.

Quando me viro para saber quem fora meu "salvador", tudo que vejo é a carranca do Velho Mausa me observando. Tudo que consegui pensar era que preferia enfrentar outro lipsum...


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