Frio e Insensível escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: Frio e Insensível


Notas iniciais do capítulo

Ofurô: banheira



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— Quero que me ensine a lutar.

Decidida, Syndra enfrentava Zed o encarando seria com as mãos na cintura enquanto ele se mantinha com os braços cruzados a sua frente tentando entender a ideia sem nexo da jovem que o havia arrastado para um dos dojos no templo da Ordem das Sombras.

— Você já sabe lutar. Não estaria viva agora se não soubesse. – a lembrou.

— Você entendeu o que eu quis dizer.

Fazia pouco mais de um ano que a Soberana Sombria e o Mestre das Sombras decidiram se tornar aliados para sobreviver aquele mundo caótico e cheio de guerras, por tanto, quem melhor para ensiná-la a lutar do que a pessoa que assombrava a todos em Runeterra? Zed não só sabia as técnicas proibidas como sempre fora um prodígio nas diversas artes marciais, ao contrário de Syndra, ensinada por seu mestre desde criança a usar apenas golpes de defesa pessoal pois, o ancião acreditava que não era preciso contra-atacar o adversário para derrota-lo.

— Certo. – o ninja arfou dando-se por vencido, afinal, não era algo assim tão absurdo.

E sem delongas, ele desprendeu as lanças em seus braços e as jogou em um canto qualquer da sala junto com a armadura pesada de seu corpo, ficando somente com a camisa preta de manga comprida, a qual ergueu um pouco as mangas nos braços fortes antes de tirar as luvas pretas, mostrando suas mãos completamente enfaixadas.

— Preparada?

A maga respirou fundo retirando o elmo negro da cabeça, o fazendo esvaecer em seus dedos para que pudesse deslizar as mãos pelo longo cabelo preso, o ajeitando.

— O que faço? – perguntou dando um passo à frente, rodeando o homem calmamente sobre o tatame.

— O básico. Mantenha os punhos sempre em frente ao rosto, assim você consegue bloquear os ataques com os braços, mas... – abafou um riso antes de continuar: – Você acha mesmo que vai conseguir se mover com essa saia apertada?

Ela arqueou as sobrancelhas e rapidamente fechou os dedos nos braços do homem desprevenido, sustentando por um breve instante seu peso para prender as pernas em volta do pescoço, o enforcando com suas cochas ao girar o corpo inclinando-se para trás das costas largas, levando o ninja em direção ao chão em um tombo, sentando-se logo em seguida em suas costas mantendo as mãos firmes nos ombros largos para mantê-lo pressionado.

— Desgraçada... – murmurou irritado por entre os dentes.

— Querido, – sua voz saiu sedutora ao mesmo tempo em que aterrorizante com o sorriso provocador formando-se em seus lábios. – eu não preciso de roupas ou acessórios para te derrotar. – gabou-se.

— Eu devia tê-la matado quando tive chance.

— Pode tentar, se ainda estiver disposto a arriscar.

Se tinha algo que Zed odiava era ser testado, que para o desprazer de Syndra, ele teve a oportunidade de provar sua forçar em um momento de distração, mais forte e ágil, virou-se a desequilibrando em cima de si, segurando firme seus braços ao derrubá-la contra o chão ficando por cima.

— Não me provoque. – alertou em um sorriso malicioso por trás da máscara ao apertar os dedos nas bochechas da jovem a obrigando manter a atenção em si enquanto mantinha a outra mão pesada em sua garganta. – Eu adoraria ver o desespero e o medo nesses olhos tão corajosos e destemidos.

Só tinha um problema, a garota não era como os outros, ela se quer demonstrava se intimidar pela situação. Autoconfiança, talvez? Se perguntava ele toda vez que a percebia o olhar intensamente dentro de seus frios olhos rubis como se mais a acalmasse do que a perturbasse interiormente.

— Tsc...! – trincou os dentes de mau humor. – Você realmente me tira do sério. – resmungou soltando-a, saindo de cima de si. – Vem, – chamou. – eu ainda tenho muito o que te ensinar. – lhe estendeu a mão para ajudá-la a ser levantar.

Syndra piscou os olhos surpresa pela atitude repentina, mas não pode deixar de sorrir quando seus dedos se encontraram transmitindo a ambos a sensação estranha de que se conheciam a mais tempo do que imaginavam. Desconfortáveis, eles se afastaram um do outro desviando a atenção, estavam sempre discutindo um com o outro, demonstrações de afeto não era algo que sabiam como lidar ou permitir entrar em seus corações blindados, então, logo continuaram com o treinamento, por sinal, não muito produtivo.

— Está se defendendo. – a avisou. – Reaja!

Aceitando a bronca, a maga ergueu a perna direita flexionando o joelho em direção ao estomago, batendo na mão esquerda do ninja que bloqueou o golpe sem esforço antes de contra-atacar tentando acertar os punhos no rosto da adversaria, a qual recuou desviando da sequência de socos com os braços, no entanto, foi atingida em cheio na bochecha perto da boca. Irritada, a maga cambaleou levantando a cabeça bufando por ter falhado outra vez.

— Está tudo bem? – perguntou preocupado, a vendo massagear o rosto avermelhado com a ponta dos dedos. – Syndra, eu já a vi lutando, você não precisa disso.

— Eu estou bem. – respondeu seria se recompondo em frente ao homem. – Continua.

— Tem certeza? Se quiser podemos parar um pouco.

— Porque? Acha que eu não sou capaz? – questionou de mau humor.

— Eu não quis dizer isso.

Inconformada, Syndra voltou a se aproximar do aliado girando o corpo para acertar os pés em seu rosto, o obrigando a dar um passo para trás prevendo a jovem lhe direcionar um soco que cortou o ar quando Zed rapidamente se encurvou para frente agarrando seu outro punho do lado da cintura ao se erguer a fazendo virar-se para bater as costas em seu tronco, prendendo-a em seus braços a ouvindo arfar fechando os olhos encostando a nuca em seu ombro. Com o coração acelerado, exausta, a jovem tentou acalmar-se na proteção daqueles braços que a envolviam pressionando fortemente pela cintura abaixo dos seios, aos poucos, se perdendo na escuridão de sua mente formada pelo silencio. Vagarosamente o par de olhos prateados piscaram embaçados devido à claridade repentina, sua mente vazia enchendo-se com o som abafado de uma voz familiar a chamando:

— Syndra! Corre! – identificou a voz desesperada. – Corre!!!

O Mestre das Sombras gritou com todo o ar que tinha nos pulmões, despertando a Soberana Sombria no momento em que seus olhos se arregalaram assustados ao reconhecer a silhueta de um homem saltando em sua direção com uma lança pontiaguda em mãos, a qual fincou na terra a centímetros de seu rosto quando virou-se paralisada, sem acreditar que por pouco não havia sido morta. E antes que pudesse reagir a situação, Syndra foi puxada pelo braço rapidamente para se levantar desajeitada e correr a passos largos mata a dentro junto a Zed, hora ou outra lançando suas shurikens para trás pegando distância antes de se esconderem por entre a alta vegetação em frente ao muro que os prendia no campo de League of Legends. Estavam prestes a serem pegos se não fosse pelo ninja prensar ainda mais o pequeno corpo da maga na pedra fria e áspera, sentindo seus seios espremerem-se na armadura junto a saia justa subindo pelas cochas grudadas por entre as suas calças. Não precisou mais que um longo olhar para que entendessem que não poderiam mover um musculo enquanto os inimigos vasculhavam a área revelando suas posições ao pisarem em algumas folhas secas. Atento, o homem encostou a testa na da jovem que mantinha as unhas agarradas firmemente em seu ombro, agoniada, com os olhos focados ao longe. Ele sabia que ela estava uma pilha de nervos prestes a usar seus poderes, o que implorava em seus pensamentos para continuar quieta e apenas confiar nele apesar de um dos adversários deslizar a lamina da espada pelas folhagens para garantir que não havia ninguém, indo embora logo em seguida junto com os outros. Assim que se afastaram, após um tempo, Zed deu um passo para trás fazendo Syndra escorregar até o chão com as pernas tremulas e a respiração ofegante.

— Ora, vamos... – sorriu sarcástico por baixo da máscara. – Não foi tão ruim assim. – comentou sem se intimidar pelo olhar enfurecido da aliada. – Estou começando a gostar da ideia de nós trabalharmos juntos. Até que formamos uma boa dupla. – a provocou cruzando os braços.

— Você me amaldiçoa desde que pisamos aqui e agora vem todo manso? – debochou virando o rosto com ar superior. – Eu conheço esse seu jogo, e ele não vai funcionar.

O ninja riu divertindo-se com o mau humor da maga a qual sentia prazer em perturbá-la, no entanto, as coisas não estavam tão calmas para distrai-la com suas provocações.

— Vem, não podemos ficar aqui. – lhe deu a mão para ajudá-la.

— Obrigada... – agradeceu ao se levantar estreitando os olhos desconfiada de um brilho vir por entre os galhos das árvores. – Cuidado! – estendeu o braço para empurrar o ninja para trás de si no instante em que um estandarte foi jogado aos seus pés, a bandeira de faixa azul e amarela balançando com a brisa que levou algumas das folhas secas até um par de botas de ouro do outro lado.

— Porque a pressa? – reconheceram a voz potente e superior do adversário. – Hoje é um bom dia para morrer.

O Exemplo de Demacia, Jarvan IV bateu a ponta da lança na terra com o sorriso triunfante estampado no rosto, a postura superior de um verdadeiro rei em batalha ao lado de seu confiante aliado Garen, conhecido por ser o Poder de Demacia.

— Então, quem se atreve a desafiar a minha vontade?

— Eu estou no controle. – avisou Syndra trazendo seus olhos ameaçadores junto com suas três esferas negras que surgiram ao retirar os pés do chão para flutuar. – Deixa que eu cuido do peão, você mata o rei. – ordenou seria ao aliado.

— Como quiser. – deu um passo a frente. – Ninguém escapa a própria sombra.

Zed estalou o pescoço sorrindo empolgado e correu de encontro aos adversários quando Syndra elevou as mãos ao céu carregando suas esferas de energia, roubando alguns raios das nuvens acinzentadas acima antes de caírem pesadas no chão, o rachando ao levantar uma enorme onda de nevoa negra em direção ao trio que logo perdeu a visão na escuridão, em seguida, a jovem girou o corpo no ar trazendo cada uma de suas esferas de volta para si e as expandiu lançando em uma chuva contra o nevoeiro, atingindo os dois demacianos brandindo as espadas no vazio sem conseguir defender-se da magia lhes queimando e corroendo a pele ao mesmo tempo em que as laminas afiadas de Zed em conjunto com sua sombra viva deslizavam rapidamente por suas armaduras pesadas, os obrigando a ajoelhar-se com tamanha pressão e escuridão. Irritado pela audácia de uma estratégia baixa, Jarvan abaixou a cabeça trincando os dentes ouvindo as gargalhadas dos dois ionianos lhe encherem os ouvidos se divertindo de seu fracasso, farto, ele apertou os dedos em sua lança e a levantou cravando-a na terra, fazendo o nevoeiro dissipar-se em segundos ao invocar em uma barreira ao seu redor os antigos reis de Demacia, os quais tomaram forma em espíritos dourados montados sob elegantes cavalarias com as pontas de suas lanças voltadas para o céu para protege-lo quando voltou a erguer-se com a postura superior.  

— A cautela é a chave para qualquer vitória. – disse Jarvan orgulhoso.

— Vilões amaldiçoados, a vitória nos aguarda! – protestou Garen empunhando a espada.

— Ao final deste dia, – iniciou em um discurso. – Eu levarei a sua cabeça como recompensa para o palácio. – direcionou a ponta da lança para Syndra, mas a mesma foi imediatamente abaixada pelas laminas de Zed que se pôs à sua frente encostando uma delas em seu pescoço.

— Se continuar a ameaçando, vai me deixar irritado. – avisou o ninja.

— Não se preocupe. Eu levarei a sua também. – garantiu chutando o estomago do adversário que se desfez em uma sombra, ressurgindo em suas costas, o obrigando a se virar rapidamente para se defender.

Ágil, Garen logo urrou ao girar o corpo direcionando a espada para Zed, porém, foi impedido de prosseguir por uma barreira de terra que se elevou o separando de seu aliado. Ele abafou um riso desviando a atenção para o lado, vendo Syndra com os dedos envoltos por sua magia negra.

— Garota tola... – murmurou balançando a cabeça, caminhando calmamente de encontro a jovem. – Aproxime-se, você encontrara honra na morte.

— Não se você morrer primeiro.

O demaciano correu voltando a girar o corpo junto com sua espada em direção a ioniana que saltou para cima da larga lamina antes de tocar nos ombros do adversário, sustentando o corpo no ar por um breve instante para poder se distanciar pelas costas, em seguida, manipulou suas esferas desordenadamente em frente a seu corpo para defender-se dos golpes da espada enquanto recuava, no entanto, acabou por cair desajeitada ao ver a espada atingir o chão por entre as suas pernas. Aproveitando-se do peso da espada, a jovem chutou o rosto do homem para afastá-lo, levantou-se em um pulo e girou o corpo atingindo o cotovelo acima do estomago do adversário, o fazendo encurva-se no instante em que passou um dos pés pelo seu para o desequilibrar, mas ela logo o puxou de volta para acertar novamente o rosto em seu joelho. Cambaleando, Garen levantou o rosto passando o braço pelo nariz ensanguentado, ainda um tanto tonto, ele posicionou a espada para defender-se das esferas negras que vinham em sua direção, desfazendo algumas ao cortá-las ao meio enquanto outras atravessavam a sua pele rápidas como um tiro, mas sem dar-se por vencido, ele ignorou o ardor e esperou Syndra se aproximar para acertar em cheio o punho em sua bochecha, virando o rosto e o pescoço quase em um estalo, então, ele a puxou pelo braço e bateu a testa na dela, forte o suficiente para quebrar a pedra ametista de seu elmo que caiu antes de ser atingida por outro soco no queixo o qual a jogou para longe, a fazendo rolar pelas pedras por um instante para se recompor cravando as unhas na terra, parando ofegante aos pés de seu aliado Zed que apenas a olhou de canto quando pegou uma das facas de dentro de sua bota e voltou a correr para o inimigo.

— Preocupado com a garota? Pensei que ninjas não tivessem sentimentos. – debochou Jarvan.

— Não é com ela que eu estou preocupado. – sua voz saiu serena, fazendo o demaciano franzir o cenho enraivecido ao olhar para trás.

Extremamente irritada e com uma agilidade sobrenatural, a maga saltou para cima do guerreiro jogando-se aos seus pés em uma acrobacia ao deslizar as laminas da faca por detrás do joelho, o fazendo ajoelhar-se para que ela lhe acertasse um soco no rosto junto a lamina que abriu um corte de sua bochecha até o queixo, o qual foi ferido por dois chutes quando a jovem pegou distância impulsionando o corpo no ar para prender as pernas em volta do pescoço largo do adversário, apoiando-se uma das mãos no chão ao girar no instante em que elevou e jogou o corpo pesado para frente em um estrondo, voltando rapidamente a postura ereta parando as facas que giravam por entre os dedos ao mesmo tempo em que fez brotar um sorriso convencido nos lábios de um certo ninja orgulhoso pela atitude de uma verdadeira assassina a quem havia treinado muito bem.

— Desgraçada...! – grunhiu Jarvan vendo o aliado imóvel. – Está cometendo um erro! Você está transformando essa garota em uma ameaça maior do que já é!

— Com inveja por ela ser mais habilidosa que o seu exército?

— Jamais!

Zed se pôs a revidar atirando suas shurikens no demaciano ao tentar se aproximar girando o corpo junto com a sua sombra viva, as laminas afiadas tilintando na longa lança do inimigo que recuava cauteloso pela precisão dos golpes, porém, acabou por desviar a atenção para o corpo de seu aliado ajoelhado cabisbaixo em frente a Syndra, levantando-se apoiado na espada que tinha mais que a ponta fincada no chão, a lamina emitindo um leve brilho em tom azul claro. A estratégia perfeita! Decidido, Jarvan manteve a calma e contra-atacou pressionando o ninja para trás, e no momento certo, sem pensar duas vezes, ele heroicamente saltou para cima dos dois inimigos, os encurralando ao atingir a lança no chão com tamanha força que elevou a terra ao seu redor formando uma arena quando Garen levantou os olhos sérios, evocando rapidamente a sua enorme lamina acima, causando um estrondo ensurdecedor ao cair atingindo os dois ionianos que foram arremessados para longe.

De repente, o som ficou abafado e tudo começou a girar... Syndra sentia a cabeça doer intensamente enquanto piscava os olhos embaçados tentando desesperada enxergar o que acontecia a sua volta. Ofegante, com o coração batendo forte, acelerado, conseguiu ver os dois demacianos ao longe se aproximarem de Zed ainda estirado no chão inconsciente por tê-la empurrado para tomar todo o dano do ataque. Fraca, arrastou-se em cima da terra lhe arranhando os braços e as pernas, porém, conseguindo mexer somente a ponta dos dedos, levantou devagar a mão tremula no ar murmurando algo inaudível por entre os lábios rachados, trazendo por um instante os seus olhos negros junto com suas esferas que foram direcionadas rapidamente para os inimigos em um disparo por feixe de luz, atravessando suas cabeças segundos antes de seus corpos caírem paralisados no chão, permitindo a maga juntar o resto de suas forças para levantar e caminhar cambaleando de um lado para o outro.

— Zed...? – chamou baixo, quase sem voz ao se ajoelhar do lado do aliado grudando os dedos em seus ombros. – Zed? – repetiu o nome tossindo, abaixando a cabeça em seu peito para recuperar o folego. – A gente tem que sair daqui... – avisou deslizando os dedos até o pescoço do homem, sentindo sua pulsação baixa.

Em silencio, o ninja abriu os olhos rubis devagar fitando o céu nublado. Estava tudo tão, silencioso... Seus sentidos não haviam voltado por completo, além do peso exagerado em seus músculos que o mantinham no chão junto com a dor aguda da ferida que o corroía cada vez que inspirava. Um tanto desnorteado, pode ouvir uma voz baixa o chamando, e embora não escutasse direito, sabia que só poderia ser uma pessoa, logo, ele respirou fundo forçando uma das mãos para deslizar a ponta dos dedos sobre a pele de sua companheira com alguns arranhões na mão suja de terra, conseguindo ouvir a sua sonora risada ao agarrar seus dedos.

— Vamos, eu vou te tirar daqui... – prometeu Syndra ao se levantar passando o braço de Zed por seu ombro para sustenta-lo, o ajudando a caminhar um tanto encurvado devido ao seu tamanho.

— O que... – o ninja tentou falar. – O que você fez com eles? – perguntou estranhando não ver nenhuma marca ou sangue em seus corpos paralisados com os olhos vazios abertos.

— Eu transferi a mente deles para uma realidade alternativa. – respondeu afastando-se sem se importar. – Não vai demorar muito até perceberem que onde estão não é real.

Um passo de cada vez, era assim que andavam por entre a vegetação da selva, tentando esconder o rastro de sangue que deixavam no caminho de volta a base.

— Desculpe... – pediu ele a ouvindo arfar a cada passo, sabendo o quanto era pesado para ela.

Naquele momento, a maga não estava preocupada e apressada por causa do peso em seus ombros, mas sim pela ferida que não parava de sangrar no corpo do ninja quieto, o qual ela se quer esperou subir no altar da base vazia e o jogou na escadaria, ajoelhando-se ao seu lado para retirar a máscara de ferro, tocando as mãos frias em seu rosto pálido sem se importar com as cicatrizes na pele.

— Zed, olha para mim! Olha para mim! – repetia ela tentando manter a atenção dos olhos rubis que se fechavam lentamente. – Não! Não! Fica comigo, por favor... – implorou. – Zed! Zed!!!

O Mestre das Sombras ouviu os berros abafados se distanciarem, perdendo-se por um instante na escuridão de sua mente, e após um breve momento, voltou a piscar os olhos reconhecendo o teto claro de seu dojo em meio a uma dor de cabeça intensa, lembrando-se que havia desmaiado ali minutos atrás enquanto treinava, no entanto, sem conseguir recordar o motivo, ele virou o rosto para o lado estendendo um dos braços ainda um tanto confuso, sentindo seus dedos tatearem e fecharem em volta do fino pulso tremulo da Soberana Sombria ainda ajoelhada ao seu lado com as roupas pretas brilhando em vermelho, o fazendo despertar do transe ao reparar em seus olhos vagos no rosto aterrorizado sujo de sangue, os lábios entreabertos pronunciando loucamente algo baixo para si mesma com as mãos tampando os ouvidos na tentativa inútil de privar-se do silencio perturbador de sua consciência.

— Ei, Syndra? – ele chamou preocupado. – O que aconteceu?! Syndra? Está me ouvindo?! – tocou em seus braços, a chacoalhando. – Syndra!

— Eu... – gaguejou. – Eu matei ele... – ela murmurou com a voz embargada, levantando os cílios ainda molhados pelas lagrimas que escorriam devagar por suas bochechas. – Eu matei ele... Eu matei ele... – repetiu abafando um riso, perdendo a sanidade.

— Mas que merda você está falando?! – apertou os dedos ainda mais nos braços da jovem, irritado pelo ataque de riso, mas distraiu-se com um pequeno ruído de um pedaço de sua armadura que tilintou caindo no chão.

E só então, Zed reparou na enorme rachadura que tinha em sua armadura do peito ao abdômen acima da pele intacta, seus joelhos firmes sob o piso de madeira banhado em sangue fresco, o liquido grosso de odor enjoativo se estendendo até a sua máscara de ferro partida ao meio mais à frente. Pasmo, ele engoliu em seco sentindo o estomago embrulhar com o calafrio que percorreu por sua pele ao lembrar-se vagamente da agonia e a dor ao ser atingido pelos poderes de Syndra que, após um longo minuto parou de rir dando lugar a um choro silencioso a corroendo por dentro, fazendo surgir uma mancha escura acima do peito, irradiando lentamente por sua pele, ressaltando as cores de suas veias ao longo do pescoço e do rosto pálido com os olhos prateados transbordando as lagrimas de tom negro.

— Vamos, Syndra, se concentra! – ordenou ele inutilmente, desesperado a vendo se perder em uma depressão. – Eu estou aqui! Você precisa me ouvir! – berrou tendo a voz abafada pela da garota que gritou mais alto.

— Fica longe de mim!

Descontrolada, os estilhaços dos vidros de todo o templo explodiram em uma chuva de cacos, trazendo uma forte ventania para dentro do enorme salão, jogando o ninja para o quintal quando tomou a forma de um redemoinho em volta da maga. Assim que Zed se levantou, sentiu o chão estremecer abaixo de seus pés ao mesmo tempo em que viu as paredes racharem por toda a estrutura do lugar, o obrigando a percorrer os olhos até o céu completamente escurecido com diversos corvos o sobrevoando em meio aos relâmpagos de uma tempestade.

— Mestre! – ouviu o desespero na voz de seus discípulos.

— Tirem todos daqui! Agora! – ordenou aos berros correndo para dentro do salão.

Devagar, o ninja se aproximava com dificuldade apoiando-se com uma das mãos na parede enquanto mantinha o outro braço protegendo o rosto das farpas do lugar que desmoronava, tentando hora ou outra soltar-se das garras dos espíritos que se materializavam do chão em meio a densa nevoa negra, reparando que os mesmos se prendiam a maga cabisbaixa para retirar-lhe os restos da vitalidade de sua alma.

— Merda...! – praguejou estendendo a mão para alcança-la.

Impaciente, Zed agarrou no braço de Syndra e a puxou de modo a cair no chão em cima de si, e rapidamente, deslizou os dedos por seu rosto ao aproximar-se pressionando firme os seus lábios contra os dela demoradamente, a fazendo prender a respiração e arregalar os olhos surpresa antes de fechá-los quando o homem se afastou mordendo levemente o seu lábio inferior avermelhado, sentindo o gosto enjoativo do sangue ao vê-la a centímetros de seu rosto, perto o suficiente para as suas respirações quentes se chocarem enquanto mantinham os olhos fixados um no outro podendo ouvir o quão acelerado seus corações batiam contra o peito em meio ao silencio novamente.

— Porque você fez isso...? – perguntou ela quase em um sussurro, sem desviar dos intensos olhos rubis.

— Eu não sei. – respondeu ele ainda hipnotizado pelos chamativos olhos prateados. – Você estava tendo uma crise de pânico. – explicou. – E eu não sabia como tirar a sua dor. – fez uma breve pausa, tentando achar as palavras. – Eu não sou bom em ajudar os outros. Desculpe.

— Obrigada... – ela agradeceu saindo de cima do homem, sentando-se ao seu lado passando as mãos no rosto para limpar o liquido negro que ainda escorria pelas bochechas.

— Você não tem que me agradecer. Acho que acabei passando dos limites com o treino. Não devia tê-la forçado. – arfou apoiando-se nos cotovelos, desviando a atenção para o buraco no teto sentindo-se culpado pela situação ter saído do controle. – Você está bem? – estendeu a mão para limpar o sangue que lhe escorria do nariz para os lábios, estranhando não sentir a presença da aliada embora estivesse em sua frente. – Porque eu não consigo... – perdeu a fala quando ela lhe abriu um sorriso gentil. – O que você fez?! – seu tom de voz tornou-se ofensivo.

— Eu bloqueei meus poderes. – mostrou a marca no braço do ninja igual a que tinha no seu. – Vai ser melhor assim enquanto eu estiver aqui.

— Desfaz essa droga agora, Syndra! – ordenou se recompondo extremamente irritado.

— Não. – protestou seria, recuando. – Você não entende? Eu quase matei você! Eu não quero ter que carregar esse fardo!

— Eu posso lidar com isso! – a interrompeu. – Se esse é o problema eu me tornarei mais forte que você. Apenas me prometa! Prometa que não fará isso de novo. – a encarou. – Não preciso mais do que a sua palavra. – lhe estendeu a mão. – Confie em mim.

Um tanto receosa, ela percorreu os dedos pelos do homem que logo os prendeu no instante que as marcas foram desaparecendo, podendo sentir novamente a presença e a grandeza do poder da maga rodear aquela enorme sala.

— Tsc! Droga...! – murmurou trincando os dentes. – Não me assuste desse jeito, sua idiota! – disse de mau humor fechando os olhos, apertando os dedos gélidos por entre os seus ao encostar na testa encoberta pela franja de fios brancos, sentindo-se aliviado ao mesmo tempo em que a dor de cabeça intensa voltou a apoderar-se junto da moleza.

Vagarosamente o par de olhos rubis piscaram embaçados, sem conseguir enxergar o que tinha a sua frente devido à claridade repentina, sua mente vazia enchendo-se com o som abafado de uma voz familiar o chamando aos berros:

— Zed! – identificou a voz desesperada. – Zed!!!

O Mestre das Sombras puxou o ar nos pulmões voltando a respirar, fazendo a Soberana Sombria se afastar no momento em que ele se sentou na escadaria da base tossindo o sangue envenenado que lhe deixou o gosto amargo na garganta. Ofegante, ele passou o dorso da mão no rosto para limpar a boca, reparando o quanto o sangue estava extremamente preto.

— Syndra, o que você, – foi interrompido pelo peso da jovem em cima de si, o abraçando fortemente ao se jogar. – fez... – completou um tanto sufocado. – Ei, olha para mim. – tocou em seu rosto, a obrigando a olhá-lo. – Está tudo bem. Eu estou aqui agora. – garantiu vendo a aflição e o medo nítidos em seus olhos prateados. – Você está bem? Se machucou? – ela balançou a cabeça negativo, o deixando aliviado. – Certo. Vamos, nós temos que continuar. – lembrou ouvindo os barulhos e ruídos de tiros ao longe.

Nada lhe doeu mais que dizer aquilo, pois sabia o quanto a maga devia estar cansada, mas Syndra não se queixou, estava prestes a se levantar quando Zed se pôs de pé primeiro e lhe estendeu a mão.

— Eu vou tirá-la daqui. – garantiu serio. – Prometo que vou te tirar daqui, Syndra. Apenas me acompanhe mais um pouco.

Ela sorriu gentil deslizando os dedos sujos de sangue pelos dedos largos do homem com as luvas rasgadas.

— Confio em você mais do que você pensa. – respondeu ao se levantar cruzando os braços convencida. – Então, qual é o plano?

Mais tarde naquele dia, como o prometido, Zed, o Mestre das Sombras havia levado seus aliados a vitória junto com a forte chuva que começou a cair quando retornou a base vendo todos espalhados recuperando as energias antes de finalmente poderem sair daquele lugar, porém, nem todos estavam ali.

— Ei! Onde está a Syndra? – perguntou apressado o ninja para Varus, a Flecha da Vingança.

— Ela estava bem atrás de mim... – explicou parecendo preocupado. – Disse que ia voltar junto com você.

— Tsc! – trincou os dentes irritado. – Você é mais imbecil do que eu pensei!

— O que disse!? – resmungou enfrentando o aliado.

— Certo, vamos com calma. – disse Yasuo, o Imperdoável se pondo no meio. – Não tem motivos para iniciar uma segunda guerra aqui.

— Ah, os doces sons da miséria... – interessou-se Thresh, o Guardião das Correntes sentado nos últimos degraus do altar. – Isso está ficando bom! Relaxe Yasuo, deixe acontecer.

— Fica fora disso. – ordenou o samurai irritado, divertindo ainda mais o espirito.

— Se você parasse de agir sozinho saberia onde todos nós estivemos o tempo todo! – retrucou o arqueiro.

— Eu não posso ficar de babá de vocês o dia inteiro! – berrou o ninja.

— Já chega vocês dois.

Todos olharam para trás em silencio, reconhecendo a voz autoritária da maga subindo desajeitada os degraus da base, respirando com dificuldade, apoiando-se por um momento na enorme pedra fria da torre devido a um breve mal-estar, mas a intensa dor que sentia irradiar pelo corpo não a impediu de lançar um olhar ameaçador para os dois homens surpresos ao passar por eles com a postura ereta e superior, caminhando devagar até o altar segurando o braço esquerdo para tampar o sangramento de uma das feridas ardendo em contato com as gotas da chuva que chocavam-se forte contra o solo.

— É incrível como depois de tudo ela ainda consegue manter a postura. – comentou Yasuo impressionado, apoiando a espada em um dos ombros.

— Eu não sei como, mas ela manteve o controle das três rotas para te dar cobertura. – Varus desviou a atenção para Zed com os olhos focados em Syndra acima do altar, iluminada por um feixe azul o qual a fez desaparecer em um piscar. – Espero que entenda o que estou querendo dizer. Nós temos que começar a agir como um time. – orientou. – Antes que um de nós acabe morrendo da próxima vez.

— Não enche. – resmungou orgulhoso lhe dando as costas.

Zed sabia que Varus estava certo embora nunca fosse admitir, afinal, sempre fora melhor em trabalhar sozinho como um verdadeiro assassino, mas também sabia que a Syndra estava escondendo algo e aquilo o perturbava pois, conhecia a jovem tempo o suficiente para saber que o seu silencio alimentava uma mente barulhenta.

O céu escurecido pelas nuvens carregadas mal conseguia iluminar a extensiva floresta de Ionia, a tornando ainda mais deserta do que o de costume pelo vento frio soprar por entre as folhagens o som de murmúrios das almas ali perdidas, as quais enchiam os ouvidos da Soberana Sombria, encharcada, andando devagar se apoiando nos troncos das árvores altas, cambaleando de um lado para o outro antes de ir ao chão cheio de lama com a visão embaçada. Cansada e tonta, ela abaixou a cabeça tossindo quando um par de botas parou a sua frente a obrigada a levantar os olhos novamente com alguns fios de seu cabelo branco grudado no rosto ainda mais sujo de terra.

— Eu juro que não sei o que admiro mais em você, – disse Zed sério com os braços cruzados. – a sua habilidade como guerreira, ou a sua determinação como mulher. – comentou em um arfar agachando-se para pegar a jovem no colo, sentindo os pequenos braços passarem por seu pescoço ao encostar a cabeça em seu ombro segundos antes de desmaiar.

Não demorou muito até chegarem no templo da Ordem das Sombras onde, Zed caminhava pelo corredor com Syndra nos braços até o banheiro, colocando-a sentada em cima da larga pia de mármore.

— Deixe-me ver. – ordenou ele retirando levantando o rosto pálido para analisar os olhos calmos em meio as pálpebras quase fechadas, reparando no rastro de sangue que escorria de seu nariz até os lábios, a fazendo tossir. – Droga...! Você está horrível! – praguejou de mau humor, esfregando a ponta dos dedos por cima dos lábios para limpar o sangue.

Sonolenta, Syndra se quer respondeu, apenas voltou a fechar os olhos e encostou a testa no peito do homem quando ele lhe retirou as armaduras dos ombros e dos braços para poder desenrolar pacientemente as faixas sufocando a sua pele úmida, o permitindo em seguida desatar as fivelas que prendiam sua fina cintura antes de abaixar o zíper do corselet, a deixando somente com o top roxo, expondo as diversas manchas esverdeadas das batidas e os profundos cortes espalhados pelo esbelto corpo. Sentindo-se culpado, Zed arfou ao dar um passo para trás sentindo o coração apertar com o sangue que subiu-lhe a cabeça o fazendo retirar a máscara de ferro e a atacar com força na parede em um urro de raiva, sem conseguir controlar-se, ele bateu os punhos na pia sobressaltando Syndra ao ouvir o mármore trincar abaixo de si junto com a respiração descompassada do homem o qual abaixou a cabeça, os intensos orbes rubis claramente demonstrando a fúria e o desgosto ao ver aquelas feridas, mas o brilho frio de suas íris apagou ao conter a raiva no momento em que a jovem passou os braços pelos ombros largos, o abraçando ao esconder o rosto em seu pescoço tentando dizer-lhe algo, porém, acabou por dar lugar a um ataque de tosse seca.

— Eu já entendi. – adiantou-se em responder já sabendo que levaria uma bronca por seu distúrbio por transtorno explosivo. – Você não precisa se esforçar... – colocou uma das mãos nas costas da maga para sustenta-la enquanto desceu lentamente a luva da outra mão pelas cochas arranhadas até as pernas grudadas ao lado das suas, livrando-a das meias rasgadas. Calmo, ele se recompôs desviando o olhar para o lado em direção a porta, e cuidadosamente, percorreu os dedos largos pelas curvas do corpo a sua frente, subindo o apertado tecido roxo, trazendo o longo cabelo branco para a frente dos seios. – Por favor, me diga que consegue levantar. – pediu em um suspiro fechando as pálpebras, encostando a testa por entre os fios claros, torcendo para a taxa de hormônios não se proliferar em uma união com a sua pulsação.

— E se eu disser que não consigo? – murmurou.

— Acredite, você não vai querer que eu continue. – tentou conter o sorriso malicioso a ouvindo abafar um riso apesar da dor irradiar por todo os músculos.

Ela desceu devagar de cima da pia afastando o ninja que deu um passo para trás novamente desviando o olhar ao percebê-la se encurvar enroscando os dedos na justa saia preta no largo quadril. Uma benção e uma maldição. Ele pensou virando-se após ouvir o barulho da água seguido de um breve arquejar de dor.

— O quanto de erva tem nisso aqui? – Syndra perguntou baixo, sentindo a água quente arder insuportável em sua pele.

— Menos do que deveria. – Zed respondeu se aproximando, agachando-se em frente a aliada que apoiou os braços na beirada do ofurô para deitar a cabeça, sem gostar do ardor. – Não me faça essa cara. Vai se sentir melhor daqui a pouco.

Em um impulso, distraído em seus pensamentos, o ninja estendeu a mão acariciando a o rosto da maga exausta apesar de manter o silencio, por um momento, desejou ter ajudado os outros aliados enquanto ela avançasse a rota em seu lugar como o de costume, mas por um erro em seu plano, deixou-se levar pela teimosia da jovem.

— Tsc! Eu pedi para você liderar os outros, não para ser o saco de pancadas! – retrucou irritado balançando a cabeça inconformado. – Porque você tem que tornar tudo tão complicado!?

— Você é o líder aqui, – o lembrou. – não eu.

— Não. Você é uma maga, Syndra. O seu lugar é na linha de frente comandando todos os outros. – apertou os dedos com força em sua bochecha, a obrigando a manter a atenção em si. – Se você pisar de novo naquela arena com a intenção de ser um suporte, eu juro que vou matá-la antes mesmo que outro tenha o prazer de fazer isso. Você entendeu?

— Eu fiz o que tinha que ser feito... – o enfrentou afastando-o de si.

— E não fará de novo enquanto eu estiver aqui.

— Sabe que não posso lhe prometer isso.

— Você vai. – ordenou. – Sei que salvou a minha vida mais cedo usando magia, mas não muda o fato de que você quebrou uma promessa e está me devendo uma.

— Você joga sujo mesmo, não? – cruzou os braços na altura dos seios encobertos pelo cabelo molhado, a água quente lhe encobrindo acima do quadril.

— Ótimo. Já vi que entendeu. – sorriu a provocando ao se levantar convencido.

A Soberana Sombria olhou irritada para o Mestre das Sombras, mas antes que ele pudesse lhe dar as costas, ela encheu seus olhos com sua magia obscura e manipulou a água em direção ao ninja, o arrastando brutalmente em uma onda para dentro do ofurô, afogando-o temporariamente. Rapidamente, ele emergiu ofegante, tossindo ouvindo a sonora risada de Syndra divertindo-se com a situação.

— Muito engraçado. – comentou ele irônico, de mau humor.

— E-ei! Não se aproxime tanto de mim, seu idiota!

— Foi você quem me trouxe para cá, esqueceu? – serio, trocou de lugar com sua sombra viva sem desviar dos olhos desconfiados da jovem, a qual aproximou-se ainda mais embora ela recuasse. – Não espere que eu fique parado sem fazer nada na sua frente.

Sem saída, Syndra piscou os longos cílios surpresa quando tocou as costas nas pedras frias da beirada do ofuro, encolhendo-se imediatamente por Zed a encurralar espremendo o corpo contra o seu ao apertar os dedos em sua cintura para sentá-la sob as pedras, deslizando uma das mãos por suas cochas arranhadas enquanto com a outra afastou uma mecha de seu cabelo sob o ombro e passou-lhe a língua quente por toda a extensão de seu pescoço, sugando-lhe com fervor a pele molhada que se arrepiou de modo a entregar o quanto aquele toque mexia com ela a ponto de roubar-lhe um suspiro cravando as unhas em seu braço na tentativa de afastá-lo, porém, seus dedos travaram ao fechar os olhos sentindo os lábios do homem descerem por seu pescoço junto com a mão pesada subindo de suas cochas pelas feridas em suas costas, a obrigando a arquejar por um momento pela dor da pele aberta ainda sangrando pelos dedos do aliado, fazendo a sua consciência pesada se manifestar quase em um surto de ódio de si mesmo por ter deixado a situação chegar àquele nível. Ele não merecia ela.

— ...nunca mais saia do meu lado. – arfou ele em seu ouvido respirando devagar, controlando os nervos à flor da pele ao lembrar-se que por mais que ela o enlouquece-se não podia se envolver.

Aquilo não era pelos perigos que aquele lugar lhes oferecia, ou pelo orgulho de deixar um sentimento banal falar mais alto, mas sim, por toda a dor que ele havia lhe causado em um único dia, então, ele engoliu o desejo afastando-se pegando impulso para voltar para o piso de madeira.

— Não demore, já esta anoitecendo. – avisou o ninja retirando a camisa molhada, jogando o tecido no chão antes de sair batendo a porta com força.

— Eu te odeio. – murmurou a maga com uma das mãos sob o pescoço, arranhando irritada a própria pele, sem acreditar que por um instante, havia se deixado levar. – Ninja idiota... – olhou seria para o seu reflexo na água, batendo um dos pés para desfazer a imagem que demonstrava o quão fraca era quando ele lhe deixava sem ar.

Era estranho, manter aquela intimidade quando ambos sabiam se aquecer por si só. Porque afinal, pessoas danificadas são perigosas, elas sabem como fazer o inferno se sentir em casa, mas também sabiam muito bem como encadear as palavras que nunca poderiam dizer: “Eu te amo, você sabe. Na minha maneira fria e insensível.”

Após alguns minutos, a Soberana Sombria vestiu um casaco vermelho que lhe caiu até as cochas e foi a procura do Mestre das Sombras em seu quarto, o qual estava vazio, mas assim que ouviu um barulho familiar caminhou descalça pelo corredor até as escadas, parando em frente a sala do dojo onde o ninja estava com um moletom preto e uma camiseta regata de mesma cor, concentrado enquanto socava enfurecido um saco pendurado perto da parede.

— Eu não entendo. Nós vencemos. Porque está tão insatisfeito? – estranhou ela cruzando os braços ao encostar na porta.

— Porque eu quase perdi você!!! – ele berrou extremamente enfurecido socando a parede após ter arrebentado a corda que suspendia o saco, serrando os dentes devido ao impacto com os ossos lhe proporcionar um breve choque por todo o braço, mas em um arfar, ignorou a dor ao olhar para o teto. – Eu não posso falhar outra vez... – disse para si mesmo passando as mãos pelo rosto até o cabelo negro levemente bagunçado, exausto, sentou no chão abaixando a cabeça por um breve momento, tentando acalmar os nervos pela tensão que obteve do dia.

— Ah... – suspirou cansada. – Deixe-me ver. – pediu calmamente se aproximando. – Pode ter fraturado.

— Eu estou bem. Não preciso da sua ajuda. – a ignorância falou mais alto.

Aquele tom de voz ofensivo logo sumiu no vasto silencio, sendo quebrado pelo som abafado dos passos que vieram por detrás de si, e para a sua surpresa, sentiu um leve peso em suas costas junto com um par de braços que passou por cima de seus ombros, esticados para encontrar com suas mãos extremamente avermelhadas, os pequenos e estreitos dedos frios entrelaçando-se nos seus largos e quentes devido o sangue que escorria em um fio, o fazendo perder a atenção na fraca luz branca que os envolveu lhe retirando a dor incomoda ao mesmo tempo em que sua raiva foi sugada ao desviar a atenção para o lado onde Syndra mantinha o rosto sereno deitado sob o braço, os olhos brilhando focados em sua magia. Zed piscou as pálpebras lentamente, impressionado, tanto pela grandeza do poder que possuía quanto pela forma como ela sempre lhe transmitia aquela sensação pouco comum: a calma. Ele fechou os olhos permitindo por um breve instante aquela atmosfera tranquila tomar conta de seu corpo, escutando o fraco som da chuva bater contra a grama e as folhagens das árvores, misturando-se com as baixas vozes de seus discípulos espalhados pelo prédio, o vento gélido lhe enchendo o pulmão com ar fresco antes de voltar a abrir os orbes rubis fitando o jardim iluminado pela claridade da lua quando Syndra lentamente deslizou os dedos por seus braços para poder se afastar.

— Fica. – ordenou ele rápido, porém baixo sem se virar, segurando firme a mão da jovem temendo que ela fosse pela sua grosseria.

Precisava dela. Ela era a única a quem podia curá-lo da insanidade e raiva que sempre o dominava, mas não a obrigaria a ficar do seu lado, então, deixou que seus dedos escorregassem pelos delas que ao invés de ir embora, se sentou de costas para si apoiando-se, descansando os braços sob os joelhos enquanto mantinha a nuca em um dos ombros largos do homem, deixando seu longo cabelo úmido cair até as pernas do aliado que surpreso, virou um pouco o rosto para o lado na tentativa inútil de poder ver o sorriso bondoso se formar em uma linha nos lábios avermelhados da jovem quando se separaram.

— Eu não disse que ia embora. Você é a única exceção a minha ira.


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Notas finais do capítulo

E mais uma para a coleção! ♥ ... Espero que tenham gostado, e logo logo tem mais =)



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