Al é Rock, eu apenas danço a sua batida escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Shake, rattle and go




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Albus é rock e eu apenas danço a sua batida.

Mesmo quando o ritmo é rápido ou pesado demais. Mesmo quando eu não sei a letra. Ou quando meus ouvidos estão tapados de tanta gritaria.

A verdade é que sua música é uma espécie de entorpecente. Quando o conhecemos uma vez, fica impossível não querer sua companhia de novo. E eu juro que não sei qual seria o motivo. Magia? Bem provável. Albus é bruxo.

Mas isso não é um problema.

Eu também sou.

Sei exatamente como isso funciona. Sacudimos a varinha, e o canto da sereia nos leva até o sacudidor de feitiços.

Quando tínhamos dezesseis anos, Al me chamou para um festival de rock em Londres. Teriam artistas bruxos e trouxas, cerveja de graça e o ingresso nem era tão caro.

É bem óbvio eu ter aceitado. Como não aceitaria?

— Estou louco para ver o Couro de Dragão, e você? — ele disse.

 — Quero ver todas as bandas! — respondi.

E então, Al riu e foi buscar mais cerveja.

Observei-o enquanto caminhava e me irritei um pouco ao me pegar analisando sua aparência. Albus era um trouxa completo, apesar da varinha cuidadosamente guardada no bolso do macacão jeans. Sapatênis, óculos de sol, e mesmo uma bandana amarrada em seu pulso.

Quando ele voltou, estendendo-me um dos copos de plástico, aceitei-o e dei um bom gole. Foi o tempo suficiente para a famosa banda Couro de Dragão começar os primeiros acordes. Não tardamos a entrar na batida, balançando os ombros, a cabeça, os pés.

Albus logo levantou as mãos e começamos a gritar, juntos, as letras das canções. Ele tinha os olhos fechados, compenetrado em sua transe particular. Mas de repente, senti o suor escorrer pelos meus dedos. Alguns pensamentos teimosos voltavam a surgir.

Ao me ver tenso, Al tirou do seu bolso um cigarro. Acendeu para mim, dizendo que o que quer que estivesse me impedindo de curtir deixaria de existir por alguns minutos. Aquilo era muito muito trouxa. Mas quem eu queria enganar, afinal? Estávamos mais trouxas do que nunca. Algo a mais ou a menos não mudaria nada.

Al sorriu quando dei o primeiro trago. Deu tapinhas em meus ombros e voltou a dançar. Resolvi imitá-lo, e logo estava me sentindo um pouco melhor.

O sol já estava dando adeus e a próxima banda tocaria após o intervalo de quinze minutos. Al e eu sentamos na grama para fazer um lanche.

— Okay. O quê que está pegando, cara? — ele foi direto, sem melindres. Havia uma ruga em sua testa.

— A pergunta certa seria o que eu não estou pegando.

— Oi?

Respirei fundo e esfreguei o rosto com as mãos.

— Ou estou doidão demais com esse álcool ou não sei... Alguns pensamentos estão me tirando da sanidade.

— Que pensamentos?

Al tirou os óculos de sol e guardou no bolso para olhar-me melhor.

— Eu não sei, Al. É difícil dizer essas coisas.

Peguei um dos sanduíches para ocupar minha boca com alguma coisa antes que falasse alguma besteira.

— Olha só... — ele encarou meus olhos, e parecia realmente sério — Sou seu melhor amigo. Não vou te julgar. Pode dizer o que você quer dizer.

— Posso usar metáforas?

— Você adora metáforas, não é? — ele riu. Um riso mais do que doce — É claro que pode.

— Tudo bem. Okay.

Quase prendi o ar ao começar a falar:

— Algumas pessoas são rock, outras blues, outras pop. Algumas gostam de pop, outras de blues. Eu gosto de rock.

— Bom, eu também gosto de rock. Qual o problema com isso?

Na hora, eu não sabia se ele tinha entendido a metáfora. Mais tarde, soube que sim. Al era inteligente demais. Por isso caiu na Corvinal.

— O problema é que nem todos acham maneiro ver outras dançando rock.

— Por que não?

— Porque o mundo é assim.

— E o mundo vai te impedir de dançar num festival de rock?

Havia um sorriso escondido nos lábios dele. Mas eu não diria nada sobre isso.

— Ora, vamos, cara. Ninguém está olhando pra você. Ninguém nunca olha. Nem somos famosos aqui. Quem aqui sabe sobre sua família? Ninguém!

Al, então, levantou-se e me estendeu a mão para que eu o imitasse.

— A banda seguinte já vai começar. E a gente tem que dançar muito!

Al piscou para mim, finalmente libertando o riso antes preso.

Quando As Esquisitonas subiu no palco, olhamos um para o outro e começamos a gritar e a gargalhar. Era a minha chance. A nossa chance.

Além de nós, alguns gatos pingados lá na frente imitavam os animais ditos na famosa música Do The Hippogriff. Al girava como um elfo louco. Eu jogava as mãos para cima como um ogro que não estava nem aí.

Todo mundo estava sim olhando para nós. Mas como mesmo disse, eu não estava nem aí. Compartilhava os risos com Albus. E depois, antes que tivesse consciência do ato, já estava dançando junto com ele.

— É isso aí, roqueiro — ele piscou, divertindo-se com certeza.

Mas eu não diria nada. Não ainda.

Esperei a música acabar.

Al limpava a testa suada com a bandana, e eu tentava recobrar o ar perdido no meio da dança.

— Quando você começou a gostar de rock? — perguntei, como quem não quer nada.

— Desde sempre, eu acho. E você?

— Acho que desde que ficamos amigos. No trem.

— Muito interessante.

Então, Al deu uma risadinha. Meu coração não parava de pulsar. E só piorou quando Albus se aproximou de mim, lentamente.

— Posso fazer uma coisa? Por favor, não culpe a bebida. Só acho que é o certo a se fazer.

— Depende, o que é?

Al torceu a boca, como se estivesse decidindo se prosseguiria ou não. Terminou optando por agarrar minha cabeça e me roubar um beijo de alguns segundos. Quando ele se afastou, minha visão começou a rodar. Eu estava muito tonto.

— Está maluco, Albus?!

— Mais são do que nunca!

Ele voltou a sorrir e colocou a mão em meu ombro.

— Alguns descobrem o gosto musical mais cedo que outros. Eu só não tenho vergonha. Só isso.

E foi aí que vi que ele tinha entendido desde o início.

— Somos amigos, Al — foi tudo que consegui dizer.

— E daí? Tio Rony e tia Mione também eram.

Antes que o silêncio nos engolisse, Al voltou a falar:

— Quer dançar ou não?

Balancei a cabeça, sem acreditar na espontaneidade de meu amigo de infância.

Alguns (muitos) beijos se sucederam àquele durante o restante do festival.

Muitas (centenas) de outras danças também.

Como disse desde o princípio, Al era rock e eu não sabia fazer mais nada senão dançar a sua batida.

Mas agora acho que está na hora de revelar quem eu sou, não é mesmo? Aposto que todos devem estar loucos de curiosidade.

Bem... Eu não passo de mais um perdedor com Malfoy no sobrenome.

Scorpius Malfoy.

Só mais um admirador do rock.


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