O Pior Tipo de Amor Platonico que Existe escrita por Saah Insane


Capítulo 1
Capítulo único - Do alto de um prédio




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Agora é a hora em que você pula.

 

Dá vontade de mandar minha consciência calar a boca. Mas infelizmente ela tem razão. Uma queda fatal. Alguns segundos e PAM. Tudo o que me aflige vai acabar. Preocupações, angústias e tal. Talvez ele nem estivesse nem aí pro que vai acontecer.

 

Não deveria ter ido para a Alemanha, nem para aquele show. Não deveria ter me apaixonado por alguém que não liga pros sentimentos femininos. Pena, o tempo não volta. Então, vamos acabar com os problemas com um simples passo.

 

Tudo começou com minha amiga, Andy. Ela é louca por uma banda. E queria que eu fosse a um show deles com ela. Por que logo eu?

 

- Vaamos, Sam! Vai ser legal.

- Mas...viajar para a Alemanha?

- Sim, não vai ser perfeito?

- E sozinhas?

- Melhor ainda. Ah, deixa de ser idiota, vai.

 

Pensei um pouco. Como a minha mãe iria me deixar viajar sozinha com minha best...pra outro continente, em um país que eu não conheço nada? Para minha decepção, ou felicidade, talvez, ela deixou. Achei que ela tinha bebido de novo, então apenas bufei. É sempre assim, quando ela bebe, deixa eu fazer o que eu quero, não tá nem aí para mim.

 

Liguei para Andy, contando que ela havia deixado. Fiquei surda com seu grito do outro lado da linha. Ela compraria meu ingresso pela internet e depois eu daria o dinheiro a ela. Meu deus, ela queria mesmo que eu fosse. Se bem que, nesse meio tempo, eu já havia escutado algumas músicas dessa banda, e havia gostado de uma em particular, 'Don't Jump'. Era bem bonitinha, emo e coisa e tal. Gostava de coisas assim. Refletia bem meu estilo. Totalmente dark, como Andy.

 

Uma semana depois, estávamos dentro do avião, no destino São Paulo – Berlim. Mesmo que não morássemos em São Paulo, nossas mães acharam melhor que fôssemos logo para lá, fazer conexão é chato e demorado demais.

 

Chegamos lá um dia antes do show. Ficamos em um hotel barato, mas arrumadinho. Não consegui dormir à noite, pensando. Por que eu estava ali? Por que eu ia para esse show? Por que eu ia ver a pessoa que eu mais queria ver?

Havia pesquisado mais sobre a tal banda e ao ver um certo integrante, acho que...me apaixonei por ele. Quis saber absolutamente tudo sobre ele. Quanto mais eu o conhecia, mais eu me encantava. O jeito engraçado dele, o estilo fofo e diferente...pra mim, tão idiota, ele era simplesmente o cara com o qual eu queria viver o resto da vida.

 

Amor platônico à parte, quando me dei conta, Andy me puxava pelas ruas daquela linda cidade. Era noite. A noite.  A menina mal cabia em si de felicidade. A todo o momento cantava algum trecho de músicas deles. Isso estava me deixando aflita. Enfim, chegamos a uma casa de shows enorme, assim como a fila. Andy até parecia que era alguém importante, pois foi até o início da fila na maior cara de pau e mostrou um papel para os seguranças, que a deixaram entrar. Olhei para ela, incrédula.

 

- Como você consegue?

- Meu primo patrocina isso aqui.

- Ah...sim...

 

Sim. Ter sorte de ser rica é outra coisa.

 

Olhei em volta. Algumas garotas estavam sentadas no chão, bem abaladas, talvez. Choravam muito. Percebi que usavam a mesma camisa, preta com o símbolo da banda na frente e atrás 'Fã clube oficial TH'. Me perguntei por que choravam, emoção, eu arrisquei, mas continuei a andar, com aquela coisa me puxando.

 

Três, dois, um. Vontade de ir ao banheiro, yeah! Deixei Andy em um canto, secando um garoto não tão bonito para meus padrões e fui em busca da privada encantada. Dei voltas e voltas por aquele lugar, sem sucesso. Ótimo Sam, você vai fazer xixi nas calças. Quase morrendo, achei uma porta. Tinha algo escrito em alemão. Como não entendo nada em alemão, entrei sem bater. Nesse momento, meu coração parou. E a vontade também.

 

Um cara estava olhando para mim. Logo o reconheci. Aquele mesmo cara pelo qual eu me apaixonei estava me olhando. A uns dois metros de distância. Qualquer fã louca pularia e o agarraria. Mas eu não. Não sou tímida nem nada, mas sou antissocial. Quase nenhuma diferença, né? Estranho. Ele sorriu. Sorriu de um jeito tão...único. Disse algo em alemão. Isso é que dá não entender nada, nem trazer um dicionário Alemão-Portugues consigo.

 

- Ahm... – foi o que consegui responder. Ele riu e começou a falar em inglês, ufa.

- Se perdeu, foi?

- ...ah, sim. Estava procurando o banheiro.

- Bem, ler placas ajuda. – apontou para uma, adivinha, em alemão.

- Não entendo, desculpe.

- Quer que eu te leve até lá?

- Se possível...

- Ainda falta muito tempo pro show começar. Vem comigo, linda?

 

Ah, mas como ele era idiota. Linda, eu? Haha. Andy diz que sou bonita, alguns meninos também dizem isso. Mas eu, particularmente não me acho linda. Nem bonita. Muito menos fofinha. 15 anos, cabelos castanhos com mechas loiras, olhos castanhos escuros, pele morena, sem curvas, peitos não tão pequenos, coxas gigantes. Sim, sou muito feia. Sam, a baleia. Sorrindo amarelo, o segui, ignorando a mão estendida dele. Ignorando meu coração batendo cada vez mais rápido. Ignorando seus olhares em minha direção. Ignorando seu sorriso. Ignorando o fato de o cara mais bonito da banda estar ali, na minha frente. Ignorando o desejo de pular em seu pescoço e o beijar. Ignorando o fato de eu o amar demais.

 

Ele parou de repente, indicando uma porta. Entrei, sentei no vaso com a tampa fechada. A vontade passara. Na minha cabeça, nada. O mundo havia parado para mim. Eu, Samantha Kohler. A uma parede de distância de... ah, Tom Kaulitz Trümper. Maldita bexiga. Maldita Andy. Maldita vida. Respirei fundo e abri a porta. Não dava para parar de sorrir não, garoto? Isso me deixava ainda mais aflita. Encostado na parede, com as mãos nos bolsos da calça muito folgada, parecia tão...displicente, como se a vida dele fosse perfeita. E ele estava certo. Ele era perfeito. Aprendi a tocar guitarra influenciada por ele. Havia feito um piercing no canto inferior esquerdo da boca por causa dele. Fiz tanta coisa pensando nele que hoje eu rio.

 

- Ok, como eu saio daqui?

- Tem que pagar um preço. Não é caro, é bem simples, até.

- Pagar para ir ao banheiro? Que absurdo.

- Não é por causa disso. É por ter usado meus serviços.

- Não...entendi.

- Vamos parar de falar. Me pague logo.

 

Ele estava se aproximando de mim. Estranho. Meu coração palpitava. Minhas mãos suavam. Achava que ia desmaiar. Talvez ele tivesse percebido, pois me encostou na parede e simplesmente me beijou. Ao me lembrar disso, eu ri. Puxa. Como fui idiota em retribuir. Como fui idiota em me deixar levar por aquele imbecil. E consequentemente me apaixonar mais e mais.

 

Nos separamos e ele, sorrindo de um jeito tão fofo, me levou até a porta onde havíamos nos encontrado.

 

- Não vem comigo? – perguntei, a voz desafinando por causa da emoção.

- Não posso. Lá fora há perigos, mais conhecidos como fãs loucas. São bichos terríveis. Vá, pequeno gafanhoto. Que a Força esteja com você.

 

Saí de lá rindo. Encontrei-me com uma desesperada Andy, me perguntando onde eu estava e o que tinha acontecido. Omiti a parte de tê-lo encontrado, lógico. Ela não acreditaria em mim. Quem acreditaria?

 

Quando me dei conta, ele já estava no palco. Tocando como se fosse um anjo. E incrível, era minha música preferida. Me perdi em pensamentos novamente, apenas me toquei quando...ele mandou um beijo para mim. Sei que foi para mim porque...apenas sabia. Sorri e corei.

 

Não falei no caminho de volta. Apenas fiquei pensando. Pensar era bom. Me desligava do mundo lá fora.

 

Nosso primeiro encontro foi assim, normal. Por incrível que pareça, houveram outros, até que estávamos juntos. Eu e ele. Juntos. Inacreditável. Uma fã e seu ídolo. Huh, era até bom. Ele fazia tantas juras de amor para mim...dá para acreditar? Um mês, dois, três, um ano...ficamos juntos por um ano. Até ele começar a me trair.

 

Primeiro foi com uma garota chamada Aimée. Francesa, 17 anos. Bonita, claro. Descobri pela internet. Estava em todos os blogs oficiais da banda. Brigamos, mas logo o perdoei. Não suportava ficar longe dele. O amava muito mesmo.

 

Depois, com Rebeka, amiga de infância. Mesma idade que eu na época, 16. Também bonita. Esse foi seu irmão que me contou. Éramos amigos íntimos, eu e Bill. O mais estranho é que ele começara a namorar Andy. Engraçado, não? Mais uma briga, mais uma desculpa, mais um perdão.

 

Mas a gota foi quando eu o vi me traindo. Uma moça loira, muito linda. Não lembro seu nome, e nem quero saber. Tinha tudo o que eu não tenho. Estava em uma festa, não sabia que ele tinha ido. Quando olhei para o lado, eu o vi. Estava beijando aquela vadia. E algo mais. Me senti sem chão quando os vi andando em direção à saída e entrando no carro dele, no qual eu já havia andado. No qual ele havia deixado eu dirigir. No qual, há três meses...não quero nem me lembrar. Foram embora. Para Você-Sabe-Onde, aposto. Típico dele.

 

As lágrimas vieram. Liguei para minhas amigas. Roberta, a mais velha e prima de Andy, veio me buscar. Fui para meu apartamento, dividido com Andy, Brenda e Roberta. Morávamos lá, em Berlim, só por causa deles. A nossa vida tinha mudado em doze meses. Deitei em minha cama e chorei. Chorei tudo o que podia. Chorei por tê-lo perdoado. Por ter acreditado nele. Por ser tão idiota.

 

No dia seguinte, liguei para Bill. Ele não sabia onde seu irmão estava, mas confirmou que ele tinha saído com uma garota. Explodi em lágrimas novamente. Me revoltei. Com raiva de mim mesma, mudei minha aparência. Meus cabelos eram longos, batiam na cintura. Cortei sem dó nos ombros, em um corte bem emo. Pintei algumas partes de rosa. Deixei de ir à praia. Me tranquei em casa. Com o tempo, fiquei pálida. Não comia. Fiquei anoréxica. Me isolei do mundo. Preto prevalecia no meu closet e na minha vida. O lápis de olho estava borrado. Meus olhos, vermelhos. Meu dia, cinza.

 

Minhas amigas tinham pena de mim, mas não tinham como me ajudar. Estavam felizes com seus namorados, todos integrantes da mesma banda. A que fez Andy me arrastar para morar em outro país. A que me fez ficar apaixonada pelo guitarrista. Um nome que eu odeio pronunciar, pois se o faço, dá para sentir o gosto de ódio. Tokio Hotel.

 

Após refletir muito, cheguei a conclusão que Tom realmente não gostava de mim. E que ele não merecia minhas lágrimas. E que se eu desistisse dele, minha vida iria melhorar. Mas eu me sentia muito presa a ele. Então nada disso adiantaria. Continuaria sofrendo, mesmo pouco. Mas ainda haveria sofrimento. Não queria mais viver assim. Qual a solução para uma pessoa que não quer mais se preocupar? Ganha uma taça com meu sangue quem disse a morte. O suicídio.

 

Movida por essa força, me encontro aqui. Na cobertura do prédio onde moro. Quer dizer, morava. O céu está lindo. Estrelado, como na noite em que ele disse que me amava. Quero pedir desculpas a todos. Desculpe se eu fui uma menina má. Desculpe se fiz pessoas chorarem. E o maior pedido de desculpas vai para você, Tom. Desculpe se te amei. Desculpe se te perdoei. Desculpe se te fiz me agüentar por um ano. Desculpe por existir. E desculpe por ter que matar uma pessoa que não tem nada a ver com isso, que está dentro de mim e nunca vai te conhecer. Ah, espero que se você tocar 'Don't Jump' novamente, se lembre de mim. Essa música está tocando no meu mp3, no modo de repetição. Irá tocar até a bateria acabar. Cuide bem dele. É a única lembrança que eu te dou.

 

Como se ele escutasse meus pensamentos, hunf.

 

E é uma pena que você não está aqui para cantar a minha parte favorita.

 

Don't jump, and if all that can't hold you back, I'll jump for you.

 

Adeus.


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Notas finais do capítulo

reviews, plix



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